Caracterização do manejo alimentar dos estabelecimentos equestres de Pelotas – RS

Paula Moreira da Silva1, Renan da Silva Lopes2, Viviane Garcia Dias da Conceição3, Rômulo Tavarez da Costa4, Isabel Lenz Fonseca5, Ricardo Zambarda Vaz6
1 - Universidade Federal de Pelotas
2 - Universidade Federal de Pelotas
3 - Universidade Federal de Pelotas
4 - Universidade Federal de Pelotas
5 - Universidade Federal de Pelotas
6 - Universidade Federal de Pelotas

RESUMO -

A criação e utilização de equinos ocupa papel de destaque no agronegócio Brasileiro, sendo de grande importância econômica e social. O objetivo deste estudo foi de avaliar os estabelecimentos comerciais de alojamento e manejo nutricional de equinos no município de Pelotas, no RS. O levantamento de dados foi realizado por meio de entrevista aos proprietários de hospedarias e centros de treinamentos de equinos na cidade de Pelotas. Foram avaliados 36 estabelecimentos, totalizando nestes 621 cavalos hospedados. Dos animais hospedados 57% são estabulados e 43% semi-estabulados. Em relação a oferta de concentrado, 58,13% dos equinos recebiam três vezes ao dia e 41,87% duas vezes ao dia. Quanto a oferta de volumoso 24 animais recebiam três vezes ao dia, 367 animais recebiam duas vezes ao dia, 230 animais uma única vez. O fornecimento de concentrado é mais usual que o fornecimento de volumoso, sendo este último ofertado em número de vezes, não ideal.

Palavras-chave: concentrado, equino, estabulado, nutrição, volumoso

Characterization of the food management of equestrian establishments in Pelotas – RS

ABSTRACT - The creation and utilization of horses plays a important role on the brazilian agribusiness, being economically and socially important. The aim of this study was to evaluate the commercial accommodation establishments and food management of horses in Pelotas city, state of RS. Data collection was carried out by interviewing the owners of inns and training centers of horses in Pelotas city. Were assessed 36 establishments, totalizing in these 621 hosted horses. Of the hosted animals 57% are confined and 43% are semi confined. In relation to the concentrate offer, 58.13% of the horses receive three times on the day and 41.87% twice a day. About the forage offer 24 animals receive three times on the day, 367 animals receive twice a day and 230 animals just one time. The supply of concentrate is more usual than the supply of forage, the latter being offered in number of times, not ideal.
Keywords: concentrate, forage, horse, nutrition, stall


Introdução

O Brasil possui o terceiro maior rebanho equino do mundo, com 5,5 milhões de cabeças (IBGE, 2013). Os manejos, nutricional e sanitário, antes esquecidos, têm sido constantemente observados e melhorados, visando cada vez mais o bem-estar dos animais. Este motivo se deve pela espécie ocupar uma posição elevada na sociedade, além de contribuir para a lucratividade do agronegócio (LEAL; FALEIROS, 2012). Desde a domesticação ocorreram mudanças na criação destes animais, na maioria das vezes, desrespeitando uma das principais particularidades evolutiva desta espécie, o complexo anatômico e fisiológico do aparelho digestório (THOMASSIAN, 2005).  Isto desencadeou a simplificação da dieta, em duas classes principais de alimentos, os volumosos (pastos e forragens conservadas) e concentrados (alimentos com alto conteúdo energético e/ou proteico). Estas dietas visam atender as necessidades nutricionais, sem levar em consideração aspectos relacionados às formas de disponibilização destes alimentos e o comportamento alimentar dos equinos (DITTRICH et al., 2010). Sabendo do crescimento progressivo e importância na economia Brasileira, tanto em termos de movimentação financeira, quanto a geração de empregos, bem como as consequências de um manejo nutricional inadequado acarreta nessa cadeia produtiva, objetivou-se com este estudo caracterizar os estabelecimentos comerciais de alojamento e manejo nutricional de equinos no município de Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Revisão Bibliográfica

A espécie equina evoluiu com o decorrer do tempo, substituindo dedos por cascos e aumentando sua altura (JONES, 1987) além, de trocar sua alimentação de frutos e folhas, para pastagens (LAMAS, 2011). Desta forma, a espécie equina é considerada sobrevivente, passando nos últimos 50 milhões de anos por muitas transformações morfológicas e ambientais (JONES,1987). Esta espécie que antes tinha cerca de 60 cm de altura e se apoiava em quatro dedos, transformou-se no decorrer dos tempos, necessitando ter maior velocidade para escapar de predadores. Com isso, o terceiro dedo se desenvolveu e passou a ser sua sustentação (SAMPAIO et al., 2014). Atualmente os equinos em vida livre encontram sua fonte alimentar nas pastagens. Nestas, se alimentam durante a maior parte do tempo, são seletivos frente à diversidade de forragens e suprem totalmente suas necessidades nutricionais e comportamentais  (ZANINE et al., 2006). Porém, com o processo de domesticação e confinamento ocorreram drásticas mudanças. A estabulação visa melhorar a utilização do espaço e facilitar o manejo, porém acarreta na diminuição do tempo disponível para alimentação e diversidade alimentar, para convivência em grupo (FRAPE, 2013). Essa transformação tornou o humano responsável pela formulação da dieta para equinos. Normalmente estas dietas visam atender as necessidades dos animais, através do fornecimento de: água e alimentos que contenham balanceamento correto de fibra e todos os nutrientes necessários para manutenção e trabalho (BIRD; PARELLI, 2004). Porém ao colocarmos o alimento para os cavalos, diminuímos a motivação para o comportamento alimentar natural do mesmo (MILLS; NANKERVIS, 2005). A disponibilidade de pastagens de qualidade é um determinante para a criação, pois manter um equino preso por muitas horas, sem atividades e distrações, além de retirá-lo de sua família ou bando, pode levar o animal a desenvolver certos vícios e comportamentos que não são naturais (KONIECZNIAK, 2014).

Materiais e Métodos

O levantamento de dados foi realizado por meio de visita a propriedades e entrevista aos proprietários de hospedarias e centros de treinamentos de equinos na cidade de Pelotas. O período de visitação e avaliação foi de 15 de agosto a 29 de outubro de 2016, utilizando um questionário padrão com perguntas relacionadas aos dados gerais de identificação animal (sexo, idade, raça, pelagem, finalidade, manejo e proprietário), manejo utilizado, capacidade de animais, número de proprietários, número de funcionários, tipo e quantidade de fornecimento de concentrado e volumoso. Após, realizou-se uma análise estatística descritiva dos dados para identificação do perfil dos estabelecimentos e animais estudados, no qual os dados foram planilhados em tabelas do software Microsoft Excel® 2007, avaliando-se as características que se repetiam e as diferenças obtidas nos resultados de cada propriedade do município.

Resultados e Discussão

Foram analisados 36 estabelecimentos, obtendo um levantamento de 621 cavalos hospedados. O regime de manejo, 57% dos equinos ficam estabulados durante todo dia, os demais 43% permanecem o dia no campo, e retornam as cocheiras ao anoitecer, ficando até o amanhecer. Os animais estabulados, que permanecem o dia na cocheira, geralmente são equinos de alto valor zootécnico e comercial. Já os semi-estabulados permanecem o dia no campo, reduzindo assim, os custos em alimentação. O fornecimento de alimentos varia nos estabelecimentos, mudando conforme o sistema de manejo. Geralmente é a mesma quantidade diária de concentrado fornecida para todos os animais, independente da categoria e finalidade. Este fato é inadequado e pode causar transtornos metabólicos e comportamentais, visto que a exigência nutricional de cada animal é diferente (SANTOS, 1997). Dessa forma, seria coerente o acompanhamento de um profissional especializado em nutrição de equinos para adequar a demanda nutricional dos animais. Com relação a oferta de concentrado (Figura 1), identificou-se que 21 estabelecimentos fornecem concentrado três vezes ao dia e 15 oferecem duas vezes ao dia, correspondendo respectivamente, 58,13 % (361/621) e 41,87% (260/621) dos animais. Sendo o equino um animal herbívoro com aparelho digestório adaptado para consumir grandes quantidades de alimentos volumosos, é recomendável para sua manutenção, o fornecimento mínimo de 1% do peso viso do animal, para animais com algum tipo de atividade, a necessidade é maior, variando conforme algumas características individuais (CINTRA, 2015). É recomendado que se oferte primeiro o volumoso seguido do concentrado para melhor eficiência alimentar. Caso inverta-se essa ordem, deve-se aguardar no mínimo  45 minutos para então, fornecer o volumoso. A sequência alimentar deve ser realizada nos mesmos horários. Os equinos não devem passar longos períodos em jejum, para evitar a ocorrência de gastrites ou úlceras (VILELA et al., 2002). Quanto ao volumoso (Figura 2), observou-se que em 24 estabelecimentos era fornecido duas vezes ao dia, correspondendo a 367 animais. Outros 11 locais, ofertavam uma vez ao dia, totalizando 230 animais e somente um local fornecia três vezes ao dia, o que é considerado o ideal. O principal alimento oferecido durante o ano é o feno de Alfafa (Medicago sativa). No período do inverno, além do feno, a maioria dos estabelecimentos (24), utilizava azevém (Lolium multiflorium) e o restante pastagens naturais (12). Justificável devido a disponibilidade e custo na região. No verão além da alfafa, 21 estabelecimentos forneciam pastagem de campo nativo, totalizando 344 animais, sendo que os demais locais utilizavam pastagem cultivada, destas,10 propriedades com capim-sudão(Sorghum sudanense) para 187 animais e 5 locais  com  milheto(Pennisetum americanum).

Conclusões

O manejo alimentar utilizado em equinos de hospedarias e centros de treinamentos de Pelotas-RS é uma associação de volumoso e concentrado, porém o fornecimento de concentrado para esses animais, ao contrário do que se espera, é o mais usual que o fornecimento de volumoso, na maioria dos casos. O número de vezes, que o volumoso é ofertado, na maior parte dos casos é de maneira inadequada. O estudo apontou que, futuramente, seria necessário aprofundar o tema e identificar as possíveis consequências que esse hábito implica na sanidade dos animais, bem como na relação custo/benefício ao criador.

Gráficos e Tabelas




Referências

BIRD, J; PARELLI, P. Cuidado natural del caballo: Um enfoque natural para su óptimo estado de salud, desarrolo y rendimiento. Acanto, Barcelona, 2004.206p.   CINTRA, A. G. O uso de volumosos para equinos – parte 1. Revista Quarto de Milha, n.220, p.64-67, 2015.   DITTRICH, J. R.; MELO, H. A.; AFONSO, A. M. C. F.; DITTRICH, R. L. Comportamento digestivo de equinos e a relação com o aproveitamento das forragens e bem-estar dos animais. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, p. 130-137, 2010.   FRAPE, D.L. Nutrição e alimentação de equinos.  3 ed. Roca, São Paulo. 2013 616p.   INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Produção da pecuária municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. v. 41, p.1-108.   JONES, W.E. Genética e criação de cavalos. Roca. São Paulo, 1987, p.4-14.   KONIECZNIAK, P.; DIAS, I. F. T.; CALEFFO, T.; SINHORINI, W. A.; DO PRADO GUIRRO, E. C. B. Estereotipias em equinos. Veterinária em Foco, v. 11, n. 2, p.126-136, 2014.   LAMAS, M. Evolução do cavalo–perspectiva dentária. Revista Equitação, n.89, p.78-79, 2011.   LEAL, B. B.; FALEIROS, R. R. Bem-estar de animais de trabalho. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia. n.67, p.62-69, 2012.   MILLS, D.; NANKERVIS, K. Comportamento Equino: Princípios e Prática. Roca. São Paulo, 2005, 224p.  
 
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