Fornecimento de probiótico sobre o peso de leitões na maternidade

Bruna Kuhn Gomes1, Fernanda de Lucena Gouvêa2, Brenda Santaiana Prato3, Laion Antunes Stella4, Ines Andretta5
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os efeitos do uso de probiótico adicionado à dieta das leitoas e no piso para os leitões. A partir do dia de alojamento na maternidade (em torno de sete dias antes do parto), 87 fêmeas foram divididas em dois grupos: Grupo controle, recebendo apenas a dieta que atendia às exigências nutricionais da fase de lactação; e Grupo suplementado, onde as leitoas recebiam 286 mg de probiótico via ração, uma vez ao dia. Após nascimento, era fornecido probiótico no piso das celas parideiras durante todo período de lactação (21 dias), com o intuito dos leitões entrarem em contato com o aditivo. As variáveis analisadas foram: peso de leitões nascidos vivos e peso de leitões ao desmame. Os dados foram submetidos à análise de variância. Não foram observadas diferenças para as médias dos tratamentos das variáveis peso médio ao nascer (P=0,24) e peso ao desmame (P=0,12). O uso de probiótico não altera o desempenho dos leitões.

Palavras-chave: Bacillus cereus, Bacillus subtilis, Lactococcus lactis

Probiotic effect on the weight of pre-weaning piglets

ABSTRACT - This study was developed to evaluate the effects of using a probiotic in sow feeding and on the floor for piglets. Eighty-seven sows were divided into two treatments: Control group, feeding diets formulated to meet their nutritional requirements during the lactation period; and Supplemented group, in which the animals received 286 mg of probiotic daily in the feed. After birth, probiotic was also provided on the floor of the farrowing crates during the entire lactation period (21 days), in order to induce the contact of the piglets with the additive. Weight of born alive piglets and weight of piglets at weaning were the studied responses. Data were submitted to variance analysis. Treatments did not differ in terms of birth weight (P = 0.24) and weaning weight (P = 0.12). The use of probiotics does not alter the performance of pre-weaning piglets.
Keywords: Bacillus cereus, Bacillus subtilis, Lactococcus lactis


Introdução

O desempenho de crescimento do leitão é economicamente muito importante. A taxa de crescimento dos suínos é um dos principais índices para a avaliação da rentabilidade na suinocultura pela consequente redução dos custos de produção (Shim et al., 2005). Dunshea et al. (2003) afirmam que os fatores determinantes do desempenho logo após o desmame são a idade e o peso ao desmame. Assim, o ponto chave na determinação do desempenho ao longo de toda a vida aparenta ser o peso ao desmame e, por inferência, também o peso ao nascer. As exigências dos consumidores, quanto à qualidade dos alimentos de origem animal e a forma com que são produzidos, têm causado profundo impacto na produção animal em todo o mundo. Devido a isso, começaram a surgir movimentos para o seu banimento em dosagem subterapêutica nas dietas dos animais. Uma das alternativas atuais é a inclusão de probióticos (Saab et al., 2009). Os probióticos são misturas de bactérias e/ou leveduras vivas que são fornecidos nas dietas com objetivo de estabelecer uma microflora desejada para competir com bactérias deletérias no intestino (Bellaver, 2005), sendo assim, neste estudo propôs-se avaliar os efeitos do uso de probiótico adicionado à dieta das leitoas ou no piso para os leitões.

Revisão Bibliográfica

A produção mundial de carne quadriplicou de 78 milhões de toneladas para 311,6 milhões de toneladas de 1950 a 2015, sendo a carne suína a fonte de proteína animal mais consumida, representando 37% do total . No Brasil, o consumo per capita chegou em 2015, pela primeira vez na história, a 15 kg, índice 2,7% superior em relação ao registrado em 2014 (ABPA, 2016). Esse consumo possui ainda maior potencial de crescimento, não apenas devido ao aumento populacional, mas também em função de ações de promoção da carne suína junto a consumidores e redes de varejo, busca de padrões de qualidade, valor nutricional, desenvolvimento de cortes especiais e investimentos em linhas de corte e em logística de frio (MAPA, 2009). A indústria de suínos tornou-se mais eficiente no custo de produção por meio de melhoramentos genéticos, maior capacidade de produção, e aprimoramento no sistema de linha de embalagem. Os cortes são mais magros, com menor teor de calorias e colesterol do que as aves caipiras e de corte (BUDIÑO et al, 2006). No entanto, como qualquer outra produção pecuária, a indústria de suínos tem enfrentado desafios que podem afetar negativamente os produtores. O novo regulamento antimicrobiano, por exemplo, visa proibir a administração de antimicrobianos como promotores de crescimento, que é uma prática generalizada na cadeia da produção, a fim de aumentar a taxa de crescimento, melhorar a conversão alimentar e prevenir surtos de doenças, tornando a produção animal mais eficiente e reduzindo os custos de produção (JUNIOR, 2008). O uso indiscriminado de antimicrobianos tem sido associado ao desenvolvimento de resistência, tanto em animais quanto em humanos. Além disso, as exigências dos consumidores, quanto à qualidade dos alimentos de origem animal e a forma com que são produzidos, têm causado impacto na produção animal em todo o mundo e, como consequência, na legislação que a regulament. Assim, produtores estão buscando alternativas para a utilização de agentes antimicrobianos e de promotores de crescimento, uma vez que a nova regulamentação pode afetar a indústria e gerar consequências negativas para o mercado de exportação de carne. Uma das alternativas atuais é a inclusão de probióticos na dieta, visando melhorar o equilíbrio da microbiota intestinal do animal, aumentar a imunidade, melhorar o desempenho produtivo e a qualidade da carcaça (KREHBIEL et al., 2014).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido em uma Unidade Produtora de Leitões situada no município de Videira, Santa Catarina. Foram utilizadas oitenta e sete leitoas suínas da genética DB, alojadas em celas individuais de piso compacto, com proteção contra esmagamento. As celas possuíam bebedouros tipo nipple, sendo um para a fêmea ao lado do comedouro e outro para os leitões na parte posterior da cela. O comedouro das fêmeas era do tipo automático, enquanto o dos leitões era do tipo concha com alimentação manual. As salas eram equipadas com aparelho para regulagem e controle de temperatura e não tinham comunicação entre si, onde o acesso a cada uma delas era por meio de portas localizadas na lateral da instalação. Havia forro como isolante térmico e cortinas laterais para proporcionar melhores condições de conforto aos animais. A partir do dia de alojamento na maternidade (em torno de sete dias antes do parto), as fêmeas foram divididas em dois grupos, sendo o Grupo controle recebendo apenas a dieta que atendia às exigências nutricionais da fase de lactação e o outro Grupo de leitoas recebiam 286 mg de probiótico via ração, uma vez ao dia. O probiótico, após o nascimento, também era fornecido diariamente 286 mg no piso das celas parideiras durante todo período de lactação (21 dias), com o intuito dos leitões entrarem em contato com o aditivo.  As variáveis analisadas foram: peso de leitões nascidos vivos e peso de leitões ao desmame. O probiótico era composto por culturas microbianas de Lactococcus lactis sbsp. lactis, Bacillus cereus, Bacillus subtilis, Bacillus amyliquefaciens e Bacillus licheniformis. Os dados foram submetidos à análise de variância.

Resultados e Discussão

Não foram observadas diferenças entre as médias dos tratamentos nas variáveis peso médio ao nascer (P=0,24) e peso ao desmame (P=0,12) (Tabela 1). O resultado observado no peso ao nascimento pode ser explicado pelo curto período de tempo (sete dias) em que as leitoas receberam a suplementação de 0,286 mg de probiótico. MORAES (2009) não observou resultados de desempenho, quando forneceu 2 mL de suspensão oral de probióticos a base das bactérias Enterococcus sp e Lactobacillus spp (5x106 UFC/ mL) nas primeiras 24 horas após o nascimento, não apresentando diferença na variável ganho de peso, comparado aos leitões que não receberam probióticos. Porém, o efeito do uso de probióticos também pode estar relacionada à dose e viabilidade do probiótico utilizado. O contato dos leitões com o probiótico, no período do nascimento até o desmame, também não afetou o ganho de peso dos animais ao desmame. Isso se deve, possivelmente, porque a espécie probiótica utilizada não teve uma maior especificidade de hospedeiro, não conseguindo promover um maior estabelecimento de bactérias benéficas na flora gastrointestinal para inibir o crescimento de bactérias patogênicas. Resultados semelhantes foram encontrados por FREITAS (2008) onde as fêmeas e sua leitegada receberam probiótico e outras fêmeas receberam placebo, verificando que não houve diferença entre os tratamentos (P>0,05), tanto em relação aos pesos médios quanto aos ganhos de peso médio diários. Segundo Bellaver (2005), algumas das razões para aparecimento ou não de efeitos produtivos do uso desses microingredientes podem ser: baixa viabilidade de certas culturas utilizadas, doses empregadas, diferenças entre cepas, interação dos microorganismos com nutrientes e outros microingredientes presentes na dieta e falta de continuidade nas pesquisas com determinado probiótico.

Conclusões

Nas condições sob as quais o presente experimento foi realizado, o uso de probiótico não altera o peso médio dos leitões ao nascer e ao desmame.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABPA, Associação Brasileira de Proteína Animal. O talento brasileiro para a suinocultura. Disponível em: <http://abpa-br.com.br/>. Acesso em: 20 fev. 2017. AFONSO, Esther Ramalho et al. Associação de probióticos adicionados à dieta de leitões no aleitamento e na creche: índices zootécnicos e economicidade1. Revista Brasileira de Saúde Produção Animal, Salvador, v. 14, n. 1, p.161-176, mar. 2013. BARROS, Danillo Salgado de et al. Efeito da adição de probiótico e prebiótico sobre o ganho de peso, consumo de ração e ocorrência de diarréia em leitões na fase de aleitamento. Brasileira de Saúde Produção Animal, Cuiabá, Mato Grosso, v. 9, n. 3, p.469-479, jul. 2008.  BELLAVER, Cláudio. UTILIZAÇÃO DE MELHORADORES DE DESEMPENHO NA PRODUÇÃO DE SUÍNOS E DE AVES. Embrapa, Concórdia Santa Catarina, p.1-1, fev. 2005.   BUDIÑO,F.E.L; THOMAZ, N.C.; KRONKA, R.N.; TUCCI, F.M.; FRAGA, A.L.; SCANDOLERA, A.J.; HUAYNATE, R. A.R.; NADAL, A.; CORREIA, R.C. Efeito da adição de probiótico e/ou prebiótico em dietas de leitões desmamados sobre o desempenho, incidência de diarréia e contagem de coliformes totais. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. v.43, p.59-67, 2006. CHAMONE, Julieta Maria Alencar et al. FISIOLOGIA DIGESTIVA DE LEITÕES. Nutritime, Revista Eletrônica, v. 7, n. 05, p.1353-1363, set. 2010. FREITAS, Camila Maria de. Efeito da administração de bactérias ácido-laticas sobre o ganho de peso de leitões na maternidade. 2008. 49 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Nutrição e Produção Animal, Universidade São Paulo, Pirassununga, 2008. JUNIOR, L.D.. Resíduos em carcaças suínas: impacto e limites. I SIMPÓSIO BRASIL SUL DE SUINOCULTURA, p. 120, 2008. KREHBIEL, C. R., RUST, R.; ZHANG, G.; GILLILAND, S.E. Bacterial direct-fed microbials in ruminant diets: performance response and mode of action. Journal of Animal Science, v.81, p.120-132, 2014. MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 15, de 26 de maio de 2009. Disponível <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=consultarLegislacaoFederal>. Acesso em 24 de novembro de 2016.  MORAES, Katia Maria Cano Munhoz Toccheton de. PROBIÓTICOS PARA LEITÕES LACTENTES E NA FASE DE CRECHE. 2009. 43 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, 2009. SHIM, S.; VERSTEGEN, M. W. A.; KIM, I. H.; KWON, J. M. A.;  VERDONK, J. M. A. J Effects of feeding antibiotic-free creep feed supplemented with oligofructose, probiotics o synbiotics to suckling piglets increases the preweaning weight gain and composition of intestinal microbiota. Archives of Animal Nutrition, v. 59, n. 6, p. 419-427, 2005.