Utilização de Mentha spicata e Cymbopogon citratus como antihelmínticos para ovinos

Lucas Mendes Vieira1, Mariana D'Angelo Moreno2, Verônica Galvão Queiroz Gomes3, Dionísia Campos Soares4, Flávio Moreno Salvador5, Catiúcia Oliveira Miranda6, Paula Maria Pires do Nascimento Penido7
1 - Faculdades Associadas de Uberaba - Fazu
2 - Faculdades Associadas de Uberaba - Fazu
3 - Instituto Federal do Triangulo Mineiro - IFTM
4 - Faculdades Associadas de Uberaba - Fazu
5 - Instituto Federal do Triangulo Mineiro - IFTM
6 - Instituto Federal do Triangulo Mineiro - IFTM
7 - Faculdades Associadas de Uberaba - Fazu

RESUMO -

A região sudeste brasileira conta com aproximadamente 782 mil cabeças de ovinos direcionados para raças de corte, sendo a parasitose um dos principais problemas encontrado na produção desta espécie. Buscando medidas alternativas no controle de verminose, a utilização de produtos fitoterápicos vem sendo cada vez mais estudada. Objetivou-se avaliar o efeito redutivo de Mentha spicata e Cymbopogon citratus na contagem de ovos de helmintos em ovinos naturalmente infestados por meio de aplicação de chá fitoterápico. Foram utilizadas 40 fêmeas da espécie ovina de idades entre um a três anos. O chá foi administrado durante cinco dias consecutivos, e os exames de contagem de ovos realizados de sete em sete dias completando no total vinte um dia de coleta de dados. Não foi identificada diferença entre os grupos tratados e o grupo controle, durante o período de avaliação experimental.

Palavras-chave: fitoterapia; ovinos; redução parasitária; antiparasitário.

Use of Mentha spicata and Cymbopogon citratus as anthelmintic for sheep

ABSTRACT - The Southeast brazilian region has approximately 782,000 sheep heads targeted for cutting races, being the one of the main problems parasite found in the production of this species. Seeking alternative measures in the control of parasitic diseases, the use of herbal products has been increasingly studied. Objective to evaluate the reductive effect of Mentha spicata and Cymbopogon citratus on egg count of helminthes in sheep naturally infested through application of phytotherapeutic tea. We used 40 females of the ovine species of ages ranging from one to three years. The tea was administered for five consecutive days, and the egg count tests performed every seven days completing a total of twenty one day of data collection. Unidentified difference between treated groups and the control group during the evaluation period.
Keywords: phytotherapy; sheep; parasite reduction; antiparasitary


Introdução

A região nordeste possui um rebanho ovino efetivo de 782 mil cabeças, com destaque para a produção familiar, nas quais os ovinos constituem a principal fonte de alimento e de geração de renda dos agricultores e suas famílias (COSTA e BARBOSA 2014). Há vários fatores que limitam a produção de ovinos, sendo a principal delas, as endoparasitoses. (VIEIRA, 2012). Destacando-se o quadro de verminose, que pode acarretar em morbidade e mortalidade dos animais, levando assim aos produtores prejuízos econômicos (VIEIRA, et. al., 2014). O tratamento comumente empregado para o controle de verminose são os vermífugos químicos de distintos grupos (CHAGAS et al, 2013), porém o uso dos mesmos em alta quantidade pode causar prejuízos à saúde humana. Por outro lado, tratamentos alternativos vem sendo utilizados (VIEIRA, et. al., 2014). No Brasil, há muitas plantas reconhecidas com ação antihelmíntica (GIULIETTI e FORERO, 1990) embora muitas vezes pouco utilizadas (LORENZI e MATOS, 2002). Desta forma, objetivou-se avaliar o efeito de Mentha spicata (hortelã) e de Cymbopogon citratus (capim santo) na forma de chá fitoterápico sobre helmintos em ovinos infectados.

Revisão Bibliográfica

A exploração de ovinos é uma atividade largamente realizada nos países tropicais para a produção de carne, leite e pele. No Brasil, a produção da lã historicamente concentrada na região sul do país, foi prejudicada em face do surgimento dos produtos sintéticos na década de 1990, de tal forma que, atualmente a criação de ovinos têm sido mais direcionada à produção de carne (GUIMARÃES e SOUZA, 2014). A produção de leite ainda é recente no Brasil e somente nos últimos anos os produtores vem investindo em tecnologias e genética (ROSSI, 2017) É importante enfatizar na região sudeste os estados de São Paulo e Minas Gerais, nos quais a ovinocultura originou-se nas raças de corte, sendo o rebanho de cria formado predominantemente por ovelhas deslanadas cruzadas com carneiros de raças lanadas para a produção de cordeiros para o abate (COSTA e BARBOSA 2014). Um dos fatores limitantes para produção destes animais, especialmente nas regiões tropicais são as endoparasitoses (VIEIRA, 2012). Para o controle de verminose os vermífugos químicos mais utilizados são: benzimidazóis, imidotiazóis e organofosforados (CHAGAS et al, 2013). Entretanto, podem causar prejuízos à saúde humana. Em contrapartida, uma estratégia alternativa estudada é a utilização de produtos fitoterápicos, que apresenta baixo custo e encontra grande aceitação entre os pequenos produtores (VIEIRA, et. al., 2014). A fitoterapia é o tratamento e profilaxia de doenças e distúrbios através de plantas, como folhas, flores, raízes, frutas ou sementes e pelas suas preparações (FINTELMANN e WEISS, 2014). As plantas consideradas medicinais contêm substâncias bioativas com propriedades terapêuticas, profilática e paliativa, conhecidas desde os tempos remotos. Essas plantas são utilizadas pela medicina atual, chamada fitoterapia e suas propriedades são estudadas nos laboratórios farmacêuticos, a fim de isolar as substâncias que lhe conferem propriedades curativas (MEIRA, 2007). No Brasil, muitas plantas são reconhecidas como medicinais, fazendo parte do arsenal terapêutico nacional (GIULIETTI e FORERO, 1990) embora, muitas vezes desconhecidas, desacreditadas ou simplesmente, não aceitas como alternativa pelos médicos, são consumidas pela população (LORENZI e MATOS, 2002).

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado na cidade de Uberaba, no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, onde 40 fêmeas da espécie ovina com idade entre um a três anos foram selecionadas. Os animais foram mantidos no sistema de pastejo rotacionado com capim Tanzânia e Tamari durante o dia, e sendo ofertado silagem de sorgo com concentrado pela tarde. Sal mineral e água ad libitum. Os animais permaneceram no mesmo piquete durante a realização do experimento, devido ao manejo da propriedade. Inicialmente realizou-se diagnóstico através de contagem de ovos por grama (OPG), após coleta das fezes. As fezes foram coletadas introduzindo-se os dedos indicador e médio devidamente enluvados no reto do animal e armazenadas em caixa de isopor com gelo, impedindo assim que os ovos eclodissem antes da contagem. Para o acompanhamento da redução da infestação parasitária, o diagnóstico utilizado foi o de OPG (Gordon; Whitlock, 1939) realizado nos 7 dias, 14 dias e 21 dias após o início dos tratamentos. O diagnóstico foi realizado no laboratório de Parasitologia das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu). Os animais foram divididos em quatro grupos homogêneos, observando-se o peso e infestação por endoparasitas, onde: grupo controle (Gc) recebeu água; grupo um (G1) tratamento com chá Mentha spicata associada ao Cymbopogon citratus; grupo dois (G2) chá de Mentha spicata e grupo três (G3) chá de Cymbopogon citratus. As ervas foram obtidas no setor de orgânicos da Fazenda Escola da Fazu e também pela doação de colaboradores. A preparação pelo método de infusão dos tratamentos foi realizada 1 horas antes da administração dos mesmos aos animais. A quantidade da erva utilizada variou de acordo com o tratamento, sendo no G1 50g de Mentha spicata + 50g de Cymbopogon citratus. Já para os G2 e G3 foi utilizado 100g de Mentha spicata e 100g de Cymbopogon citratus, respectivamente. Todos as infusões foram diluídas em 750ml de água. Os tratamentos foram realizados durante cinco dias consecutivos. Os animais receberam 60 mL do tratamento (infusão das ervas) via oral, após contenção mecânica e auxílio da pistola de vacinação acoplada ao bico dosador Posteriormente foram soltos no piquete onde permaneciam durante o dia. Os dados foram submetidos a análise de qui-quadrado, através do programa SPSS 22, versão para Windows 10.

Resultados e Discussão

De acordo com os resultados demonstrados pela análise estatística, não observou-se diminuição na carga parasitária frente ao OPG, entre os tratamentos estudados (G1, G2 e G3) e o grupo controle (Gc), ao longo dos dias avaliados (D0, D7, D14 e D21). Logo, os chás fitoterápicos à base de Mentha spicata (hortelã), Cymbopogon citratus (capim santo) ou a associação dos dois não influenciaram na ocorrência dos parasitas identificados. Almeida et al. (2009) e Bolzan (2015) utilizando os mesmos métodos para preparação do chá fitoterápico e via de administração, porém com Chenopodium ambrosioides (erva de santa maria) durante cinco dias e Mentha piperita (hortelã) associada ao extrato de Allium sativum (alho) durante três dias, respectivamente, também não observaram redução nos valores do OPG. Ambas as espécies de plantas já foram descritas por outros autores, como sendo fitoterápicas anti-parasitárias, porém Vieira (1999) descreveu que em caprinos a Mentha piperita (hortelã) não induz a redução de nematoides adultos, podendo ocorrer o mesmo em ovinos. Sousa (2009) ao avaliar o efeito anti-helmíntico do extrato de Solanum paniculatum (jurubeba) e Cymbopogon citratus (capim santo) sobre os ovos, nos tempos de leituras de 24h, 48h e 72 horas, observou que o extrato que apresentou melhor efeito na redução do percentual de ovos viáveis foi o extrato de jurubeba. Todavia, o capim santo também demonstrou efeito sobre os ovos, 25% de ovos viáveis caiu de 72,77% após 48 horas de exposição para 32,87% na concentração de 50%. Almeida et al (2003) ao estudarem in vitro os extratos aquosos de Cymbopogon citratus (capim-santo) e Digitaria insularis (capim-açu) sobre culturas de larvas de nematóides gastrintestinais de caprinos revelaram uma redução de 97,79% do número de larvas de H. contortus, na concentração de 224 mg mL-1 para o extrato de capim santo e de 98,94% para o extrato de capim-açu, na concentração 138,75 mg mL-1 (ALMEIDA et al., 2003). Em estudo realizado in vitro com diferentes concentrações de Mentha villosa (hortelã) o efeito ovicida sobre nematoides gastrintestinais de bovinos foi positivo, sendo esse efeito dose-dependente (NASCIMENTO et al, 2009). Tanto o capim santo (Cymbopogon citratus) (ALMEIDA et al., 2003) como a hortelã (Mentha x vilosa Hudson) possuem efeito medicinal, como inseticida, diurético, analgésico, antifúngico, antibacteriano, anticarcinogênico, tendo também atividades farmacológicas (Brito et al., 2008), como principais indicações a ação vermífuga (DIAS et al., 2011). Entretanto, para que estas plantas tenham o efeito medicinal esperado, há necessidade de seca-las, extraindo o extrato e posteriormente diluí-las em uma solução hidro alcóolica, preferencialmente (DIAS et al, 2011; SOUSA, 2009). Metodologia que não foi adotada neste estudo, podendo estar relacionada a ineficiência das plantas medicinais sobre a diminuição dos parasitas frente ao OPG. Salienta-se, a importância de seguir com novos estudos. Primeiramente na busca pela a identificação de plantas fitoterápicas para a profilaxia e tratamento anti-parasitário, no estudo de novas metodologias para a extração dos princípios ativos e finalmente, no ajuste de doses para que ocorra efetivamente uma resposta. Objetivando desta forma, a redução de custos, assim como a presença de resíduos no leite e carne de ovinos de produção e também no ambiente.

Conclusões

A administração oral de chás fitoterápicos a base de Mentha spicata (hortelã), Cymbopogon citratus (capim santo) e a associação de ambos, durante cinco dias consecutivos não foram eficientes para a redução da carga parasitária nos animais mantidos a pasto. Entretanto, novos estudos devem ser realizados, utilizando a metodologia correta para a extração dos princípios anti-helmínticos das plantas.


Referências

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