CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDOS ORGÂNICOS DA SILAGEM DE MILHO E CAPIM-PAIAGUÁS EM DIFERENTES SISTEMAS FORRAGEIROS E ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO

Lucas Nazário Silva dos Santos1, Wender Ferreira de Souza2, Kátia Aparecida de Pinho Costa3, Analu Guarnieri4, Itamar Pereira de Oliveira5, Jessika Torres da Silva6, Daniel Augusto Alves Teixeira7, Millena de Moura Aquino8
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RESUMO -

A utilização de silagens é uma alternativa para os períodos de baixa produção de forragens, proporcionando alimento de boa qualidade. Diante disso, objetivou-se avaliar a concentração de ácidos orgânicos das silagens de milho e capim-paiaguás em diferentes sistemas forrageiros e estádios de maturação. O experimento foi conduzido em Rio Verde, no delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições, em esquema fatorial 5 x 3, sendo cinco sistemas forrageiros: milho e capim-paiaguás em monocultivo; milho consorciado com o capim-paiaguás na linha; entrelinha e na sobressemeadura, e três estádios de maturação (leitoso, pastoso e farináceo). A silagem de capim-paiaguás em monocultivo apresentou maiores concentrações dos ácidos orgânicos, com exceção do ácido lático. Silagens produzidas em sistemas integrados, no estádio farináceo apresentaram maior teor de ácido lático, evidenciando os benefícios dessa consorciação.

Palavras-chave: Brachiaria brizantha, conservação de forragem, fermentação, integração lavoura-pecuária, Zea mays.

CONCENTRATION OF ORGANIC ACIDS OF CORN SILAGE AND CAPIM-PAIAGUÁS IN DIFFERENT FORAGE SYSTEMS AND MATURATION STAGES

ABSTRACT - The use of silages is a alternative for the periods of low production of forages, providing good quality food. The objective of this study was to evaluate the organic acids concentration of corn and Paiaguas palisadegrass silages in different forage systems and maturation stages. The experiment was conducted in Rio Verde, in a randomized block design, with four replications, in a 5 x 3 factorial arrangement, with five forage systems: corn and Paiaguas palisadegrass monocropped; corn intercropped with Paiaguas palisadegrass in the row, inter-row and oversown; and three corn maturity stages (milky, soft dough and hard dough). The silage of Paiaguas palisadegrass in monoculture showed higher concentrations of organic acids, except for lactic acid. Silages produced in intercropping systems, in the farinaceous stage presented higher lactic acid content, evidencing the benefits of this integration.
Keywords: Brachiaria brizantha, crop-livestock integration, forage conservation, fermentation, Zea mays.


Introdução

   Baixos índices zootécnicos refletem à falta de alimento e a perca de valor nutritivo da forragem, assim é necessário buscar alternativas para se produzir alimento com baixo custo e alta qualidade com sustentabilidade.       Desse modo, a produção de sistemas consorciados de culturas anuais com forrageiras tropicais possibilita o aumento da disponibilidade de volumoso.

    Recentemente, foi desenvolvido um novo sistema de integração lavoura-pecuária, denominado Sistema Santa Ana, destinado principalmente aos pecuaristas que precisam reformar pastagens e, ao mesmo tempo produzir silagem (Embrapa, 2016). Nesse aspecto, a produção de silagem de alta qualidade torna-se alternativa viável à manutenção dos sistemas forrageiros, por restringir o período de carência alimentar e contribuir para a melhoria dos índices zootécnicos do rebanho bovino (Machado et al., 2012).

    Além do milho, dentre as culturas disponíveis ou recomendadas para a ensilagem, as gramíneas do gênero Brachiaria vêm apresentando vantagens com resultados positivos (Costa et al., 2011). Com isso, o consórcio do milho com forrageiras tropicais pode aumentar a produção da silagem e melhorar o processo fermentativo, proporcionando maior quantidade de alimento para ser utilizado na entressafra, onde se tem baixa disponibilidade de forragem.

     Sendo assim, objetivou-se avaliar a concentração de ácidos orgânicos das silagens de milho e capim-paiaguás em diferentes sistemas forrageiros e estádios de maturação, na safrinha.



Revisão Bibliográfica

   O cultivo do milho tem grande importância econômica e social dentro dos sistemas de produção agrícola, sendo uma das principais culturas no complexo agroindustrial e cultivo nas propriedades agrícolas brasileiras (Brambilla et al., 2009), sendo também a mais recomendada para a ensilagem, por conter alta concentração de carboidratos solúveis, favorecendo a fermentação.

   Adicionalmente, a cultura do milho está em destaque entre as forrageiras indicadas para a produção de silagem e vem sendo ampliada nos últimos anos no período da safrinha, em sistemas de integração lavoura-pecuária (Garcia et al., 2013), por apresentar alta qualidade bromatológica e nutricional, no qual, preenche as exigências para confecção de um bom volumoso suplementar, como baixo teor de fibra, alta produção de massa seca, facilidade de colheita mecânica, bons padrões de fermentação microbiana, elevado valor energético, sem a necessidade de utilização de aditivos ou pré-secagem (Carvalho et al., 2016).

    Mesmo não sendo uma prática recente, o uso de silagem de gramíneas tropicais vem ganhando espaço nos últimos anos, por ser uma alternativa viável para atender a demanda de qualidade e para utilização durante o período da seca, devido sua elevada produtividade, perenidade, baixo risco de perda e maior flexibilidade de colheita (Costa et al., 2011).

     Além disso, um dos principais parâmetros utilizados para determinar do perfil fermentativo é a concentração dos ácidos orgânicos (ácido acético, propiônico, butírico, e lático) que contribuem para a acidez final da massa armazenada. O ácido lático, em face de sua maior constante de dissociação (pKa de 3,86), ou seja, maior tendência para perder prótons (Lehninger et al., 2002), possui papel preponderante no processo fermentativo da silagem, pois é responsável pela redução do pH a valores inferiores a 4,20. Nesse valor ocorre a inibição das bactérias do gênero Clostridium, responsáveis pelas fermentações indesejáveis no produto (Carvalho et al., 2016).

    Assim como a alta umidade prejudica a obtenção de silagem de qualidade, devido à multiplicação de bactérias indesejáveis e à produção de efluentes, altos teores de matéria seca também não são desejáveis, pela dificuldade de compactação e expulsão do oxigênio, levando ao aumento da fase aeróbica no processo de ensilagem (Machado et al., 2012; Rabelo et al., 2014). Diante disso é necessário estratégias para confecção adequada da silagem, priorizando o estádio de maturação adequado.



Materiais e Métodos

   O experimento foi realizado no município de Rio Verde, Goiás, na safrinha de 2015, no delineamento em blocos casualizados, com quatro repetições, em esquema fatorial 5 x 3, sendo cinco sistemas forrageiros: milho em monocultivo (MM); capim-paiaguás em monocultivo (PM); milho consorciado com o capim-paiaguás na linha (MPL); milho consorciado com o capim-paiaguás na entrelinha (MPE) e milho consorciado com o capim-paiaguás em sobressemeadura (MPS), e três estádios de maturação (leitoso, pastoso e farináceo), com quatro repetições, em delineamento de blocos casualizados, totalizando 60 parcelas experimentais. O híbrido foi o de duplo propósito AS 1581 para produção de grãos e silagem.

    O milho foi semeado em linhas espaçadas em 0,5 metros usando três plantas por metro linear. Foram aplicados 150 kg/ha de N, 240 kg/ha de P2O5, 75 kg/ha de K2O e 20 kg/ha de FTE – BR 12.

     As forrageiras foram colhidas aos 80, 90 e 110 dias para a ensilagem, se encontrando no estádio leitoso, pastoso e farináceo, respectivamente. O material foi picado em ensiladora estacionária, em partículas de aproximadamente 10 mm. E este material foi armazenado em silos experimentais de PVC, medindo 10 cm x 40 cm. Posteriormente, foram compactados e lacrados com tampas de PVC.

    Após 50 dias de fermentação, os silos foram abertos, descartando-se a porção superior e inferior. A porção central do silo foi homogeneizada e colocada em bandejas de plástico.

     Após esse procedimento, retirou-se uma amostra da silagem que foi congelada. Para determinação dos ácidos orgânicos foram determinados em cromatógrafo líquido de alto desempenho (HPLC), marca Shimadzu, modelo SPD-10A VP, acoplado ao detector ultravioleta (UV), com comprimento de ondas de 210 nm, de acordo com o método descrito por Kung Jr. e Shaver (2001).

     Para comparação das silagens, os dados foram submetidos à análise de variância e médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software SISVAR (Ferreira, 2011).



Resultados e Discussão

    Avaliando os ácidos orgânicos das silagens, observa-se na Tabela 1, que houve interação significativa (P<0,05) entre sistemas forrageiros e estádios de maturação para o ácido lático, acético, propiônico e butírico.

   Dentre os ácidos orgânicos, o ácido lático possui papel preponderante no processo fermentativo da silagem, pois é responsável pela redução do pH a valores inferiores a 4,20. Nesse valor ocorre a inibição das bactérias do gênero Clostridium, responsáveis pelas fermentações indesejáveis no produto (Carvalho et al., 2016).

    Em relação aos sistemas forrageiros observa-se que a silagem de capim-paiaguás em monocultivo apresentou maiores concentrações dos ácidos orgânicos, com exceção do ácido lático, que obteve menor concentração, com valor médio de 19,8 g kg-1 (Tabela 1). Assim vale ressaltar que, quando comparada aos demais sistemas forrageiros a menor concentração de ácido lático resultou nos maiores valores de pH da silagem de capim-paiaguás (Tabela 1).

   Entretanto, a silagem de milho em monocultivo (Tabela 1) apresentou maior concentração de ácido lático seguida das silagens dos sistemas consorciados. Estes resultados evidenciaram os benefícios da consorciação do milho com o capim-paiaguás para produção de silagem, uma vez que as silagens produzidas consorciadas apresentaram valores de ácido lático superiores quando comparadas com a silagem de capim-paiaguás em monocultivo.

   Em relação aos estádios de maturação, para a silagem de milho em monocultivo e consorciada, as maiores concentrações de ácido lático foram obtidas no estádio farináceo. Esses resultados são decorrentes da maior concentração de carboidratos solúveis. De acordo com Filya e Sucu (2010) relataram que a maior concentração de carboidratos solúveis disponíveis nos grãos do cereal possibilita uma rápida acidificação da massa ensilada.

   Para a concentração de ácido acético, propiônico e butírico, a silagem de capim-paiaguás em monocultivo apresentou o maior valor, diferindo-se do milho em monocultivo e consorciado (Tabela 2). Entretanto, as concentrações de ácido acético estão dentro da faixa preconizada pela literatura, apresentando concentrações adequadas mesmo a silagem de capim-paiaguás em monocultivo, inferiores ao limite de 20,0 g kg-1 que de acordo com Roth e Undersander (1995), é o referencial para classificar as silagens como de “boa qualidade”. Assim, por apresentar valores inferiores aos preconizados, as silagens possuem fermentação adequada à conservação da massa ensilada.

     Em relação aos estádios de maturação, em todos os sistemas forrageiros, o estádio farináceo proporcionou as menores concentrações de ácido propiônico e butírico. Esse resultado é devido ao maior teor de matéria seca no momento do corte, pois quando há excesso de umidade, as condições são propícias para obtenção de ácido butírico, obtendo uma silagem de baixa qualidade, podendo contribuir na queda do valor nutritivo do volumoso conservado.



Conclusões

Silagens produzidas em sistemas integrados, no estádio farináceo apresentaram maior teor de ácido lático, evidenciando os benefícios dessa consorciação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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