Efeito da proporção amilose/amilopectina do amido na atividade da amilase e no desempenho do pacu Piaractus mesopotamicus.

Carolina Vasconcelos Tavares de Farias1, Amanda Miyuki Oshiro2, Renata Akemi Tanaka3, Luana Camargo Sousa4, Jaqueline Dalbello Biller Takahashi5, Leonardo Susumu Takahashi6
1 - CAUNESP Jaboticabal
2 - Unesp Campus Dracena
3 - CAUNESP Jaboticabal
4 - CAUNESP Jaboticabal
5 - Unesp Campus Dracena
6 - Unesp Campus Dracena

RESUMO -

A atividade da amilase é essencial para a digestão do amido presente nas rações animais. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de dietas com diferentes quantidades de amilose e amilopectina na atividade da amilase e desempenho de juvenis de Piaractus mesopotamicus. O experimento foi conduzido em um delineamento em blocos casualizados com seis tratamentos (T1: 0,5/38,7; T2: 6,9/32,6; T3: 10,3/29,5; T4: 20,4/18,6; T5: 27,3/11,0 e T6: 28,4/9,8 % de amilose/amilopectina) e quatro blocos. Os resultados foram submetidos a ANOVA e as médias comparadas pelo teste Tukey 5%. A atividade amilásica foi menor nos peixes que receberam dietas com 28,4% de amilose. Melhor taxa de crescimento especifico e taxa de eficiência proteica foram observadas nos peixes que receberam dietas com até 6,9% de amilose. De forma geral, dietas com mais de 74% de amilopectina resultaram em melhores índices zootécnicos e maior atividade da amilase, sugerindo melhor aproveitamento do carboidrato amiláceo da dieta.

Palavras-chave: amido, amilase, desempenho, nutrição, peixe.

Effect of amylose / amylopectin ratio of starch on amylase activity and growth performance of pacu Piaractus mesopotamicus

ABSTRACT - Amylase is essential for the starch digestion of animal feed. The objective of the work was to evaluate the effects of diets with different levels of amylose and amylopectin on amylase activity and productive performance of juvenile Piaractus mesopotamicus. The experiment was conducted in a randomized block design with six treatments (T1: 0.5/38.7; T2: 6.9/32.6; T3: 10.3/29.5; T4: 20.4/18.6; T5: 27.3/11.0 and T6: 28.4/9.8 % amylose and amylopectin) and four blocks. The results were submitted to ANOVA and Tukey's test 5% for means comparisons. Amylase activity was lower in fish fed diets with 28.4% of amylose. Better specific growth rate and protein efficiency were observed in fish receiving diets with up to 6.9% amylose. In general, diets with more than 74% amylopectin resulted in better growth performance and higher amylase activity, suggesting a better use of the dietary starch.
Keywords: starch, amylase, performance, nutrition, fish.


Introdução

Os animais necessitam de energia para atender as demandas energéticas de manutenção, crescimento e reprodução. Esta é obtida a partir do metabolismo de aminoácidos, lipídios e carboidratos presentes no alimento consumido. Proteínas são fontes de energia, mas são mais caras do que os carboidratos e as gorduras. Uma dieta balanceada de baixo custo deve conter suficientes quantidades de gorduras e carboidratos para reduzir o uso de proteínas como fonte de energia, destinando os ingredientes proteicos principalmente para crescimento dos peixes (BOSCOLO et al., 2011). O composto carbono de maior importância na nutrição animal é o amido, um polissacarídeo composto por cadeias de amilose e amilopectina, e atenção deve ser dada à esta constituição, pois a proporção adequada de amilose e amilopectina, dependendo da espécie a ser estudada, pode representar redução de custos, melhoria na digestão e no desempenho produtivo dos animais (MELO et al., 2016). O pacu é um dos peixes de grande valor comercial na piscicultura brasileira. Entretanto, pouco se avalia a respeito da atividade de enzimas digestivas. Por este motivo, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito das características estruturais do amido na atividade da amilase e no desempenho de juvenis de pacu alimentados com dietas contendo níveis crescentes de amilose e decrescentes de amilopectina.

Revisão Bibliográfica

A fauna brasileira é representada por grande número de espécies de peixes, a maior parcela que chega aos consumidores é proveniente da pesca extrativa. No entanto, o represamento dos rios, a poluição (urbana e agrícola) e o desmatamento, contribuem para a redução dos estoques pesqueiros, sendo preconizada cada vez mais a produção em grandes escalas de larvas e alevinos (FURUYA, 2001). A nutrição de espécies nativas está em desvantagem quando comparada com espécies exóticas devido, entre outras razões, à escassez de conhecimentos na elaboração de rações de baixo custo que respondam as exigências nutricionais destas espécies (RESENTE, 2009). Existem algumas diferenças em relação as atividades enzimáticas que degradam carboidratos nos peixes. Peixes herbívoros apresentam maior atividade de carboidrases quando comparados com peixes carnívoros. Peixes carnívoros concentram a maior digestão no estômago, pois o intestino é reduzido em tamanho, quando comparado com os peixes de hábito onívoro e herbívoro (MELO et al., 2016). O interesse em conhecer o comportamento fisiológico do pacu, fundamenta-se no contexto de que ele se alimenta preferencialmente de frutas e apresenta requisitos nutricionais ligados à utilização de elevadas quantidades de carboidratos além de exibir uma grande capacidade para armazenar gordura (METÓN et al., 2003). O número de carboidrases é muito grande, uma vez que são muito específicas em suas ações. O amido é desdobrado sob ação das α-amilases em oligossacarídeos ou também até maltose. As α-amilases se encontram nos peixes por todo o intestino (KUZMINA, 1977).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Aquicultura da Unesp, Campus de Dracena. Foram utilizadas 24 caixas de polietileno de100 L. As dietas experimentais eram isocalóricas, isoprotéicas com níveis de amido de 34%, variando a fonte de amido. Os diferentes níveis de amilose e amilopectina foram proporcionados pela inclusão de amido de milho (ARGO® CS 3400; 27,8% amilose e 72,2% amilopectina, AMISOL® 4000; 1,8% amilose e 98,2% amilopectina e HYLON® VII; 71% amilose e 29% amilopectina). Realizada a biometria inicial os animais foram distribuídos nas 24 caixas (9 animais/caixa). Para evitar efeito do peso individual nas respostas produtivas, os juvenis foram divididos em faixas de peso (1: 23,6 g; 2: 29,2 g; 3: 33,6 g e 4: 41,7 g). Durante 90 dias os peixes foram alimentados com as dietas experimentais e tinham o consumo controlado. Para coleta de dados os peixes foram anestesiados com eugenol e pesados. Com os dados foram calculados: Taxa de crescimento específico: (% dia-1) = 100 x [(ln peso final – ln peso inicial) / período experimental]; Consumo de alimento (g) e Taxa de eficiência proteica: (%) = 100 x (ganho em peso / proteína bruta consumida). A atividade da amilase foi determinada pela metodologia de Metais e Bieth (1968). As amostras foram homogeneizadas em tampão Tris HCl 10 mM, pH 7,0, em um homogeneizador do tipo Potter. Foi utilizado kit comercial e leitura em espectrofotômetro cinético de microplacas. Com os homogenatos utilizados nas determinações enzimáticas da amilase foi determinada a concentração de proteína total pelo método descrito por CAIN e SKILLETER (1987) utilizando o reagente Biureto, com albumina de soro bovino sendo utilizada como padrão e leitura em espectrofotômetro. O experimento foi conduzido num delineamento em blocos casualizados com seis tratamentos e quatro blocos. Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA), sendo as médias comparadas pelo Teste de Tukey 5%, através do programa SAS v.9.0 (2002).

Resultados e Discussão

Foi observada menor atividade amilásica no intestino dos juvenis de pacu alimentados com dietas menos de 26% de amilopectina (P<0,05), indicando que a característica estrutural do amido afeta a atividade desta enzima digestiva (Tabela 1). O hábito alimentar e a composição da dieta oferecida podem alterar a atividade da amilase no trato digestório. Moraes e Bidinotto (2000) verificaram o aumento da amilase no trato gastrintestinal de pacu (P. Mesopotamicus) alimentados com níveis crescentes de amido de trigo (de 0,5 a 7%), em dietas com 40% de extrativo não nitrogenado, encontrando a máxima atividade com 3% de inclusão. As características estruturais do amido de milho das dietas com mais de 80% de amilopectina resultaram em juvenis de P. mesopotamicus com numericamente melhor taxa de crescimento específico e taxa de eficiência proteica. No consumo de alimento não foram observadas diferenças (P>0,05). Esta resposta no consumo sugere um melhor aproveitamento do amido da dieta, uma vez que estas possuíam os mesmo nutrientes com diferença apenas nas quantidades de amilose e amilopectina. A resposta da atividade da amilase as diferentes relações pode estar associada as melhores respostas encontradas nos índices zootécnicos avaliados neste trabalho (taxa de crescimento específico e taxa de eficiência proteica), relatando melhor desempenhos nas dietas com maior atividade da amilase (Tabela 2). Semelhante ao observado neste trabalho, em juvenis da tilápia do Nilo Oreochromis niloticus alimentados com dietas contendo diferentes relações amilose/amilopectina (0,11; 0,24; 0,47; 0,76 e 0,98) foram observadas melhores respostas produtivas nos peixes que receberam a dieta com a relação de 0,24 (Chen et al., 2013).

Conclusões

O estudo demonstrou que conforme se aumenta a amilopectina a atividade da amilase aumenta e os valores de taxa de crescimento especifico e taxa de eficiência proteica melhoram.

Gráficos e Tabelas




Referências

BOSCOLO, W.R.; SIGNOR A.; FREIRAS, J.M.A.; BITTENCOURT F.; FERIDEN A. Nutrição de peixes Nativos. Revista Brasileira de Zootecnia. v. 40, p. 145-154, 2011. CAIN, K.; SKILLETER, D.N. Preparation and use of mitochondria in toxicological research. In: SNELL, K., MULLOCK, B. (Eds.) Biochemical Toxicology.RL Press, Oxford, p. 217-254, 1987. CHEN, M.Y.; YE, J.D.; YANG, W.; WANG, K. Growth, feed utilization and blood metabolic responses to different amylose-amylopectin ratio fed diets in Tilapia (Oreochromis niloticus). Asian-Australasian Journal of Animal Sciences. v. 26, p. 1160-1171, 2013. FURUYA W.M; Espécies Nativas. Fundamentos da Moderna Aquicultura. v. 1, p. 83-90, 2001. KUZMINA, V. V. Peculiarities of membrane digestion in freshwater teleosts. J. Ichthyol. Athens: v. 17, p. 99-107, 1977. LOCHMANN, R.; CHEN, R. Effects of carbohydrate-rich alternative feedstuffs on grwth, survival, body composition, hematology and nonspecific immune response of black pacu, Colossoma macropomum, and red pacu, Piaractus brachypomus. Journal of the World Aquaculture Society. v. 40, n. 1, p.33-44, 2009. MELO J.F.B; SOUZA, A.M.; ALVES, A.P.P., CAMARGO, A.C.S.; LUNDSTEDT M.L.; MORAES G.; Alguns Aspectos da digestão e do metabolismo de nutrientes em peixes. In: CAMARGO A.C.S.; NOGUEIRA W.C.L.; TORRES A.F.B; ALMEIDA A.C.; STEFANELLO C.M. (Ed.). Piscicultura. Aspectos Relevantes. cap. VIII p. 199-223, 2016. METÓN, I.; FERNÀDEZ, F. e BAANANTE, I.V. (). Short-and long-term effects of refeeding on key enzyme activities in glycolysis-gluconeogenesis in the liver of gilthead seabream (Sparus aurata). Aquaculture. v. 225, p. 99-107, 2003. MORAES, G.; BIDINOTTO, P.M. Induced changes en the amylohydrolitic profile of the gut of Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1885) fed different levels of soluble carbohydrates its correlation with metabolic aspects. Revista de Ictiologia. v. 8, p. 47-51, 2000. RESENTE E.K. Pesquisa aquicultura: bases tecnológicas para o desenvolvimento sustentável da aquicultura no Brasil. Aquabrasil Resvista Brasileira de Zootecnia. v.38, p.52-57, 2009.