Uso de extratos de plantas sobre parâmetros sanguíneos de ovinos

Bruna Kuhn Gomes1, Laion Antunes Stella2, Nilson Júnior da Silva Nunes3, Ênio Rosa Prates4, Stella de Faria Valle5
1 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
3 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
5 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os efeitos do uso de extrato de plantas sobre os parâmetros sanguíneos de ovinos. Foram utilizados 16 ovinos machos Ile de France, castrados, com cinco meses de idade e peso vivo médio inicial de 21,68 + 2,00 kg. Os tratamentos aplicados foram: T1- Controle (CON), T2- Óleo de Borragem (BOR, Borago officialis), T3- Óleo de Cártamo (CAR, Carthamus tinctorius L.) e T4- Óleo de Gergelim (GER, Sesamum indicum L). Foram analisados os parâmetro albumina, globulina, colesterol, triglicerídeos, proteína total, aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), ureia, glicose, enzima Gama Glutamil Transferase (GGT) e fibrinogênio. Houve diferença significativa no parâmetro ureia (P<0,05) no tratamento BOR, porém está diretamente correlacionada com o teor de proteína na dieta. Conclui-se que dietas contendo óleo de Borragem alteram os valores de ureia nos parâmetros sanguíneos dos animais.

Palavras-chave: metabolismo, pH sanguíneo, ruminantes

Use of plant extracts on sheep blood parameters

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effects of the use of plant extract in replacement of monensin sodium on the blood parameters of sheep. Sixteen female castrated Ile de France male sheep at five months of age and initial mean live weight of 21.68 ± 2.00 kg. The treatments applied were: T1- Control (CON), T2- Borage Oil (BOR, Borago officinalis), T3- Cartamo Oil (CAR, Carthamus tinctorius L.) and T4- Sesame Oil (GER, Sesamum indicum L). The parameters of albumin, globulin, cholesterol, triglycerides, total protein, aspartate aminotransferase (AST), alkaline phosphatase (FA), urea, glucose, gamma Glutamyl Transferase enzyme (GGT) and fibrinogen. There was a significant difference in the urea parameter (P <0.05) in the BOR treatment, however it is directly correlated with the protein content in the diet. Concludes that diets containing Borage oil alter the urea values in the blood parameters of the animals.
Keywords: metabolism, blood pH, ruminants


Introdução

O uso de aditivos moduladores da fermentação ruminal, visando o aumento da eficiência alimentar em ruminantes, é alvo de estudos da pesquisa há bastante tempo. Um dos aditivos mais utilizados é a monensina, pelo fato de melhorar o aproveitamento de nutrientes e reduzir a incidência de distúrbios metabólicos nos animais. Contudo o seu uso está sendo questionado pela possibilidade de deixar resíduos nos produtos de origem animal (Russel & Houlihan, 2003). Novas alternativas de aditivos antimicrobianos que apresentam resultados satisfatórios no desempenho animal e que associem a imagem de produto saudável e natural estão sendo pesquisados. Os extratos de plantas estão entre os principais produtos destinados a substituição dos antibióticos tradicionalmente utilizados. Em relação aos metabólitos sanguíneos, os extratos de plantas, assim como a monensina sódica, proporcionam mudança no perfil plasmático de ruminantes, principalmente no metabolismo energético pela glicose, ácidos graxos não-esterificados e β-hidroxibutitato. Além disso, ocorre efeito também no metabolismo proteico no nível plasmático (Duffield et al. 2008). Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos do uso de extrato de plantas sobre os parâmetros sanguíneos de ovinos.

Revisão Bibliográfica

A avaliação do perfil hematológico é um exame complementar que serve como ferramenta auxiliar para várias informações sobre o estado de saúde dos animais, portanto o perfil em ovinos pode ser usado para monitorar a adaptação metabólica e diagnosticar desequilíbrios metabólico-nutricionais. Os dados fornecidos pelo hemograma são essenciais dentro da investigação das doenças hematológicas (Hendrix & Sirois, 2007). As amostras sanguíneas podem ser coletadas com ou sem anticoagulante. Sem o anticoagulante, o sangue irá coagular e será formado um líquido sobrenadante denominado soro. Muitas análises podem ser realizadas tanto em soro quanto em plasma, porém para determinação em eritrócitos, o sangue deverá ser coletado com anticoagulante. Dentre os anticoagulantes mais utilizados estão o ácido etilenodiamina tetra-acético (EDTA), heparina e citrato, sendo o EDTA considerado o melhor anticoagulante para determinação do hemograma. Deve-se cuidar para não haver ruptura das células no momento da coleta, transporte ou processamento das amostras sanguíneas. Elementos presentes no interior das células podem interferir com inúmeras análises bioquímicas, podendo resultar em valores falsamente elevados (Grotto, 2009). Portanto, o perfil sanguíneo é uma ferramenta útil no auxílio da avaliação do status nutricional dos animais, bem como no diagnóstico de problemas metabólicos. Entretanto para que este seja utilizado adequadamente é necessária a utilização de valores de referência, de variáveis de estudo conhecidas, além de equipamentos e métodos corretos e economicamente viáveis.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no laboratório de ruminantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no período de 7 de maio até 6 de julho de 2016, em dois períodos experimentais de 23 dias cada, sendo que os 14 dias inicias foram para adaptação dos animais aos tratamento. Foram usados 16 ovinos machos Ile de France, castrados, com cinco meses de idade e peso vivo médio inicial de 21,68 + 2,00 kg. Os animais foram alocados em baias individuais, suspensas do chão e comedouros separados para o fornecimento de alimento e água. Os animais foram divididos em 4 tratamentos: T1- Controle (CON), T2- Óleo de Borragem (BOR, Borago officialis), T3- Óleo de Cártamo (CAR, Carthamus tinctorius L.) e T4- Óleo de Gergelim (GER, Sesamum indicum L.). Para os animais dos tratamentos que ganhavam óleo eram administrados 1 ml por dia de seu correspondente óleo. A dieta foi fornecida em duas refeições diárias, em comedouros individuais sendo composta por: 58% de milho grão inteiro, 10,9% de farelo de soja, 30% de feno de alfafa, 1% de sal mineral e 0,1% de calcário.  O sal e a água eram fornecidos ad libitum. As coletas de sangue foram realizadas no último dia de cada período experimental, onde amostras de 15 foram obtidas por venipuntura jugular, utilizando-se agulhas e seringas descartáveis e aliquotadas em frações de 3 ml de sangue, com anticoagulante fluoretado. Os 9 ml restantes foram utilizados para dosagem de glicose, e, sem anticoagulante, para obtenção do soro e posteriores análises bioquímico-séricas. A concentração de fibrinogênio foi determinada pelo método de precipitação pelo calor (Kaneko & Smith, 1997). As amostras destinadas à dosagem de glicose foram centrifugadas imediatamente após as coletas, e aquelas destinadas à obtenção do soro, até 30 minutos após a coleta. As leituras dos parâmetros bioquímicos foram realizadas em espectrofotômetro, com comprimento de onda específico para cada constituinte. O sangue coletado para a hemogasometria era inserido no cartucho (modelo CG4+, Abbott Park, IL, USA) o qual foi então introduzido no analisador sanguíneo portátil (i-STAT, Abbott Park, IL, USA) e, após alguns instantes, os resultados foram gerados. Foram analisados o parâmetro albumina, globulina, colesterol, triglicerídeos, proteína total, aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), ureia, glicose, enzima Gama Glutamil Transferase (GGT) e fibrinogênio.

Resultados e Discussão

Conforme os resultados (Tabela 1), houve diferença significativa no parâmetro ureia (P<0,05), sendo o maior teor no tratamento BOR e o menor no tratamento CON. Houve tendência de alterações nos tratamentos para os parâmetros: albumina (P=0.07), globulina (P=0.06), proteína total (P=0.06), TCO2 (P=0.07) e fibrinogênio (P=0.09).  Não houve interação entre tratamento e período para os parâmetros analisados. De acordo com Meyer & Harvey (2004) os valores de referência da ureia para ovinos estão entre 17 e 43 mg/dL. Desta forma o tratamento BOR apresentou 40% maior teor que o tratamento CON e 30% acima do máximo valor de referência. A ureia sanguínea tem correlação positiva com a concentração de amônia ruminal e com o uso de aminoácidos (alanina, glutamina e glicina) precursores gliconeogênicos no fígado (Kozloski, 2002).  A amônia formada no rúmen quando não é capturada pelos microrganismos ruminais para a síntese proteica é absorvida por meio da parede ruminal e levada pela corrente sanguínea até o fígado, onde é convertida novamente em ureia por meio do processo conhecido como "ciclo da ureia". Portanto, o maior teor de ureia no tratamento BOR está diretamente correlacionada com o teor de proteína na dieta, o aporte energético da ração e a interação entre esses fatores (Contreras et al., 2000). A acidose lática fica caracterizada quando o nível de lactato sanguíneo excede a 5 mmol/L. Os valores normais de lactato sanguíneo para as diferentes espécies, em geral, estão em torno de 1,2 mmol/L. Os valores de albumina não podem ser maiores que 38 g/L média=36 g/L), o pH sanguíneo não deve ser inferior a 7,2 (média=7,44) e o bicarbonato (HCO3) não pode ter valores menores que 15 mM (média=26,5) (González et al. 2000).  Desta forma, todos os tratamentos estavam de acordo para a não ocorrência deste distúrbio durante o experimento. A inclusão de 30% de volumoso na dieta promove adequada fermentação ruminal. Segundo Kaneko et al. (1997) os valores de globulina (média=30.56 g/L) estão moderadamente abaixo das recomendações (35-57 g/L), e os valores de fosfatase alacalina (média=455,60 UI/L) e GGT (média= 36,81 UI/L) estão acima das recomendações para ovinos (0-387 UI/L e 0-32 UI/L; respectivamente). Uma menor concentração de glubulina pode ser devido ao teor elevado de proteína na dieta, o que pode ser pela inclusão de farelo de soja e feno de alfafa que estavam presente na dieta dos animais.  

Conclusões

Dietas contendo óleo de Borragem alteram os valores de ureia nos parâmetros sanguíneos dos animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

CONTRERAS, P.A. et al. Uso dos perfis metabólicos no monitoramento nutricional dos ovinos. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. Porto Alegre, 2000. DUFFIELD, T.F.; RABIEE, A.R.; LEAN, I. J. A meta-analysis of the Impact of monensin in lactating dairy cattle. Journal of Dairy Science. v.91, p.1334–1346, 2008. GROTTO H.Z.W. O hemograma: a importância para a interpretação da biópsia. Revta Bras. Hematol. Hemoterap. 31:178-182, 2009. HENDRIX, C. M.; SIROIS, M. Laboratory procedures for veterinary technicians. v.5, p. 400, St. Louis, 2007. KANEKO, J.J.; HARVEY, J.W.; BRUSS, M.L. Clinical biochemistry of domestic animals. 5 edição New York: Academic Press, 1997. KOZLOSKI, G. V. Bioquímica dos ruminantes. Santa Maria: UFSM, p. 140, 2002. MEYER, D. J. & HARVEY, J. W. Veterinary laboratory medicine: interpretation & diagnosis. 2. ed. Philadelphia: Saunders, p. 351, 2004 RUSSELL, J.B.; HOULIHAN, A.J.. The ionophore resistance of ruminal bacteria and its potential impact on human health. Microbioliology Review, v.27, p.65–74, 2003.