EFEITO DO FORAGGE® SOBRE PARÂMETROS METABÓLICOS EM OVINOS

Marco Túlio Santos Siqueira1, Thauane Ariel Valadares de Jesus2, Gilberto de Lima Macedo Júnior3, Karla Alves Oliveira4, Carolina Moreira Araújo5, Débora Adriana de Paula Silva6, Adriana Lima Silva7, José Victor Dos Santos8
1 - Universidade Federal de Uberlândia
2 - Universidade Federal de Uberlândia
3 - Universidade Federal de Uberlândia
4 - Universidade Federal de Uberlândia
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6 - Universidade Federal de Uberlândia
7 - Universidade Federal de Uberlândia
8 - Universidade Federal de Uberlândia

RESUMO -

Objetivou-se avaliar os parâmetros metabólicos proteicos e energéticos de ovinos alimentados com silagem de milho e Foragge®. Para isso utilizou-se 18 ovelhas com mais de três anos, alocadas em gaiolas metabólicas, distribuídas em delineamento ao acaso em dois tratamentos: silagem de milho e Foragge®. O sangue foi obtido de coleta de sangue por venopunção jugular, centrifugado e separado o soro para posterior análise em laboratório. Para os metabólitos energéticos observou-se menor concentração de colesterol e triglicerídeos abaixo do valor de referência para os animais alimentados com o Foragge®. Para os metabólitos proteicos houve maior concentração de ureia para os animais do tratamento Foragge®. As proteínas totais, albumina e relação albumina:globulina se encontraram acima dos valores de referência, e a creatinina abaixo destes valores. Conclui-se que o uso do Foragge® pode alterar a concentração dos metabólitos energéticos e proteicos sem prejudicar o animal nutricionalmente.

Palavras-chave: energético, extrusão, nutrição, proteico, ruminantes.

EFFECT OF FORAGGE® ON METABOLIC PARAMETERS IN SHEEP

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the protein and energy metabolic parameters of sheep fed with corn silage and Foragge®. For this purpose, 18 ewes older than three years of age were allocated to metabolic cages, distributed in a randomized design in two treatments: corn silage and Foragge®. The blood was obtained from blood collection by jugular venipuncture, centrifuged and separated the serum for later analysis in the laboratory. For energy metabolites, a lower concentration of cholesterol and triglycerides was observed below the reference value for the animals fed with Foragge®. For protein metabolites there was a higher concentration of urea for the Foragge® treatment animals. The total proteins, albumin and albumin: globulin ratio were above the reference values, and the creatinine below these values. It is concluded that the use of Foragge® can alter the concentration of energetic and protein metabolites without damaging the animal nutritionally.
Keywords: energetic, extrusion, nutrition, protein, ruminants


Introdução

A nutrição animal é um dos principais pilares que sustenta o sistema de produção, sendo responsável pela expressão e funcionamento de rotas metabólicas que permitirão que o animal expresse todo seu potencial produtivo e reprodutivo. Uma das formas de saber se esta nutrição está adequada e atende às exigências nutricionais dos animais é avaliando o perfil metabólico dos mesmos, uma vez que em algumas situações de desbalanço nutricional podem ocorrer alterações nas concentrações de alguns metabólitos sanguíneos (GONZÁLEZ et al., 2000). A composição da dieta, o manejo alimentar, a qualidade e digestibilidade dos nutrientes são de grande importância para o estabelecimento de uma boa nutrição, e estes fatores podem ser influenciados pela origem dos ingredientes e tipo de processamento que são submetidos. O processo de extrusão é um tipo de processamento físico dos alimentos que é eficiente em conservar a composição bromatológica do alimento e aumentar a digestibilidade dos nutrientes, sendo que, o uso deste alimento para ruminantes ainda não é comum. Objetivou-se então, avaliar os parâmetros metabólicos energéticos e proteicos de ovinos alimentados com silagem de milho e Foragge®, uma ração na forma extrusada, que busca semelhança com a silagem de milho.

Revisão Bibliográfica

Os principais objetivos que se pretende alcançar com o processamento físico dos alimentos são aumentar a digestibilidade dos nutrientes pelos animais e conservar a qualidade dos mesmos na matéria prima por mais tempo. O processo de extrusão é um exemplo de processamento físico dos alimentos, e é caracterizado por transformar a matéria prima através de uma combinação de calor, umidade e trabalho mecânico. De acordo com Andrigueto et al. (2002) os alimentos extrusados promovem melhor ganho de peso e eficiência alimentar, podendo melhorar também a palatabilidade do alimento pelo animal. Outras vantagens que o alimento extrusado oferece são: os produtos possuem longa vida de prateleira sem refrigeração, apresentando-se com uma baixa contagem total de microrganismos e livres de patógenos; melhora do manejo alimentar; devido o fato de ser um processo de alta temperatura e curto tempo de processamento, as perdas de nutrientes são menores e o cozimento melhora a digestibilidade do produto, devido à desnaturação das proteínas e gelatinização do amido; fatores antipalatáveis são destruídos e inibidores de crescimento e enzimas são inativados durante o processo, tornando este produto uma ótima alternativa para o sistema de produção de ruminantes. Existem diversas formas de se avaliar se a nutrição ofertada ao animal está adequada e atende às exigências nutricionais dos mesmos, uma delas é através da avaliação do perfil metabólico do animal, onde são quantificadas as concentrações sanguíneas de alguns metabólitos, que, se aumentam ou diminuem podem indicar excesso ou deficiência de um nutriente na dieta, e ainda, segundo Contreras (2000) também podem diagnosticar alterações bioquímicas que diminuem a produção, a fertilidade ou são ainda responsáveis por doenças ou levar a morte desses animais. Dentre os metabólitos mais utilizados para avaliação do perfil nutricional de um ruminante, estão os energéticos e os proteicos. Os metabólitos energéticos auxiliam na avaliação da fermentação dos carboidratos no rúmen, principalmente no que se refere à parte fibrosa da dieta. Os metabólitos proteicos ajudam a identificar se a quantidade de proteína ofertada na dieta está adequada, uma vez que é o nutriente de maior peso econômico utilizado. Vale ressaltar que além de considerar o perfil metabólico na avaliação nutricional do animal, também deve-se levar em consideração aspectos de manejo, saúde e estado fisiológico.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Uberlândia, nos meses de junho e julho de 2016. Foram utilizadas 18 ovelhas da raça Santa Inês, não gestantes, com peso médio de 42 kg, idade superior a três anos e alocadas em gaiolas metabólicas (provida de comedouro, bebedouro e saleiro). Foram utilizadas duas dietas, uma com silagem de milho e outra com Foragge® (composição na Tabela 1), fornecidos duas vezes ao dia (08:00hrs e 16:00hrs). O Foragge® é um produto que busca semelhança com a silagem de milho, na forma extrusada, composto pela parte aérea da cana de açúcar. A ele é adicionado amido, ureia e minerais. As colheitas de sangue para avaliação dos componentes bioquímicos foram por venopunção jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-coagulante. Todas as colheitas de sangue foram realizadas no período da manhã, antes do fornecimento da primeira alimentação. As amostras de sangue coletadas foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados em microtubos e armazenados em freezer a -5ºC para posterior análise laboratorial. Os componentes bioquímicos para determinação do metabolismo energético foram: triglicerídeos, colesterol e VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade); e, para determinação do metabolismo proteico foram: proteína total, albumina, ácido úrico, ureia, creatinina e relação albumina:globulina. Todas as amostras foram processadas em analisador bioquímico automatizado (Bioplus® 2000), usando kit comercial da GT Lab®. Utilizou-se delineamento ao acaso com dois tratamentos e nove repetições. As médias dos tratamentos foram avaliadas pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

Os valores de colesterol (Tabela 2) se encontram abaixo do valor de referência, porém, pode-se observar que para o tratamento com a silagem de milho o colesterol foi maior, uma vez que, alimentos volumosos são responsáveis pela maior produção de ácido acético no rúmen que é um dos ácidos graxos voláteis (AGV’s) precursor da síntese de gordura em ruminantes. O mesmo pode-se inferir para a concentração de triglicerídeos, que também se manteve fora do valor de referência apenas para o tratamento com o Foragge®. A concentração de VLDL apresentou comportamento semelhante à de triglicerídeos devido o fato da VLDL ser uma lipoproteína que transporta os triglicerídeos. Dentre os metabólitos proteicos, as proteínas totais e albumina se apresentaram acima dos valores de referência e a creatinina abaixo destes valores para os dois tratamentos, sendo que, estas alterações não foram o suficiente para prejudicar nutricionalmente os animais. A relação albumina:globulina também se encontra acima do valor de referência, devido a maior concentração de albumina encontrada. Os metabólitos ácido úrico, ureia e globulina se encontram dentro dos valores de referência preconizados, e, para o tratamento com o Foragge® observa-se maior concentração de ureia em relação à silagem de milho. A concentração sanguínea de ureia possui relação direta com o aporte proteico da ração, podendo então indicar o excesso ou a deficiência do nutriente na dieta (GONZÁLEZ et al., 2000). Neste caso, o processo de extrusão pelo qual o Foragge® é submetido faz com que a proteína sofra desnaturação, voltando a sua forma primária, consequentemente aumentando sua digestibilidade e fermentabilidade no rúmen, o que pode explicar o maior valor da ureia para este tratamento. Tal acontecimento pode ter influência negativa no sincronismo entre o nitrogênio e carboidratos no rúmen, ou seja, a liberação de NH3 proveniente da hidrólise da ureia não teve energia fermentescível suficiente para formação da proteína microbiana. O excesso de NH3 foi convertido em ureia através do ciclo da ureia no fígado o que ocasionou altas concentrações desse composto na corrente sanguínea (WITTER, 2000).

Conclusões

Conclui-se que o uso do Foragge® para ovinos diminui a concentração dos metabólicos energéticos e aumenta a concentração dos metabólitos proteicos no sangue, porém sem prejudicar nutricionalmente estes animais.



Gráficos e Tabelas




Referências

ANDRIGUETO, J. M.; PERLY, L.; MINARDI, I.; GEMAEL, A.; FLEMMING, J. S.; SOUZA, G. A.; BONA FILHO, A. Nutrição animal: as bases e os fundamentos da nutrição animal. São Paulo: Nobel, 2002, v .1, 395 p.   CONTRERAS, P. Indicadores do metabolismo proteico utilizados nos perfis metabólicos de rebanhos. In: GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. (Eds.). Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto Alegre, 2000. p. 23-30.   GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto Alegre, 2000. 108 p.   KANEKO, J. J.; HARVEY, J. W.; BRUSS, M. L. Clinical Biochemistry of Domestic Animals. 5. ed. San Diego: Academic Press, 1997. 932p.   WITTER, F. Diagnóstico dos desequilíbrios metabólicos de energia em rebanhos bovinos. In: GONZÁLEZ, F. H. D.; BARCELLOS, J.; PATIÑO, H. O.; RIBEIRO, L. A. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição e doenças nutricionais. 1. ed. Porto Alegre, 2000. 108 p.