Viabilidade econômica da suplementação de novilhas em pasto

Alyce Raiana Monteiro dos Santos1, Giorgo Ferreira Guedes2, Carla Heloísa Avelino Cabral3, João Manoel Portela de Oliveira4, Lareska Caldeira Morzelle5, Sérgio Oliani Júnior6, Carlos Eduardo Avelino Cabral7, Welton Batista Cabral8
1 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
2 - Graduando em Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
3 - Professora do Instituto de Ciências Agrárias e Tecnológicas, curso de Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
4 - Graduando em Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
5 - Graduanda em Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
6 - Graduando em Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
7 - Professor do Instituto de Ciências Agrárias e Tecnológicas, curso de Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.
8 - Professor do Instituto de Ciências Agrárias e Tecnológicas, curso de Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso, Rondonópolis, 78735-910, MT, Brasil.

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a viabilidade econômica da suplementação de novilhas com diferentes quantidades de energia. Os tratamentos consistiram em suplemento mineral (tratamento controle) e três suplementos proteicos que forneceram diferentes níveis de energia e aproximadamente 300 g de proteína bruta (PB) por dia. Utilizou-se 40 novilhas mestiças com predominância de sangue zebuíno com idade e peso médio inicial de 14 meses e 182 kg, respectivamente. As variáveis avaliadas foram o Custo Operacional Variável Total (COpVT), Custo variável total (CVT), Custo Operacional Fixo Total (COpFT), Custo Alternativo ou de Oportunidade (CA), Custo Fixo Total (CFT), Custo Total (CT), Renda Total (RT) e Lucro (L). Os animais que receberam suplementação proteica tiveram viabilidade superior aos não suplementados, com uma diferença mínima de R$ 944,84. A suplementação de médio consumo (1,0kg/dia) mostrou-se mais viável economicamente do que as outras dietas avaliadas.

Palavras-chave: custo alternativo, custo fixo, custo variável, recria

Economic viability of supplementation for grazing heifers

ABSTRACT - The objective of this experiment was to evaluate the performance of grazing heifers supplemented with different amounts of energy. The treatments consisted of mineral supplement (control treatment) and three protein supplements that provide different levels of energy and approximately 300 g of crude protein (CP) per day. Forty crossbred heifers with predominance of Zebu breed with initial age and weight of 14 months and 182 ± 1.13 kg were used. The variables evaluated were the Total Variable Operating Cost, Total variable cost, Total Fixed Operating Cost, Alternative or Opportunity Cost, Total Fixed Cost, Total Cost, Total Revenue, Return. Animals that received protein supplementation had higher viability to unsupplemented, having a minimum difference of R$ 944.84. Supplementation of medium intake (1.0 kg/day) was more economically viable than other diets evaluated.
Keywords: alternative cost, fixed cost, variable cost, growth


Introdução

Um animal criado exclusivamente a pasto apenas com suplementação mineral aumenta o tempo do ciclo de produção até o abate ou início da puberdade, além de se reduzir a taxa de lotação do pasto, baixando a produtividade e a rentabilidade da área em questão. Dessa forma, para encurtar o giro de capital e melhorar os índices zootécnicos e econômicos da bovinocultura de corte tem-se intensificado as práticas de suplementação alimentar para os animais no período da seca, com a finalidade de suprir a falta de pasto e manter o ganho dos animais durante todo o ano (DETMANN et al, 2005). Contudo, sabe-se que mesmo no período das águas, em que não se espera problemas com produção e qualidade do pasto, a suplementação proteica pode cooperar para ganhos adicionais de 200 g/dia (PAULINO et al., 2005; PORTO, 2009). A suplementação de novilhas tem ganhado espaço não só quando se trata em propriedades de recria e terminação, mas também em propriedades especializadas em cria, pois, a melhoria no desempenho dessas fêmeas antecipa a idade ao primeiro parto (IPP) e amplia o seu tempo de serviço. A viabilidade técnica da suplementação pode ser considerada praticamente consolidada, mas os questionamentos quanto a sua viabilidade econômica existem desde longa data (PILAU et al., 2005). O objetivo com este trabalho é a realização da análise de viabilidade econômica da suplementação de novilhas a pasto no período das águas e transição águas-seca.

Revisão Bibliográfica

O Brasil é o quinto maior país do mundo em território, com 8,5 milhões de km² de extensão, sendo que desses cerca de 20% (174 milhões de hectares) são constituídos por pastos. Esta grande extensão territorial proporciona vasta variedade climática com reflexo direto na produção de bovinos, visto que aproximadamente 97% de seu rebanho é criado em sistema extensivo, a pasto (DETMAN et al., 2005). Durante o período da seca a principal limitação dietética para o animal é o baixo teor de PB, e por isso, faz-se necessário uma suplementação proteica. A principal finalidade da suplementação é a correção da proteína degradada no rúmem, e assim, estimular o crescimento microbiano ruminal, o que resulta em aumento de consumo e digestibilidade do volumoso, enquanto os animais suplementados apenas com suplemento mineral podem apresentar uma estagnação do ganho de peso, e em alguns casos até ocorrer a perda de peso (PERUCHENA, 1999). No período das águas que permite o crescimento forrageiro acelerado espera-se grande produção de forragem com composição química superior ao do período seco. Contudo, para este momento ainda não se tem clareza de qual nutriente é limitante ao desempenho animal. A viabilidade técnica da suplementação de bovinos em pastejo está difundida com uma infinidade de trabalhos publicados, contudo deve-se responder um segundo questionamento que é a viabilidade econômica. Segundo Gehbauer (2002) o estudo de viabilidade do empreendimento é a comparação entre as estimativas de custos do mesmo com os lucros que se espera obter por meio de sua comercialização, sendo capaz de compreender todo o planejamento técnico básico necessário, desde a ideia inicial, até a elaboração do anteprojeto e assim se definir o possível sucesso do empreendimento a ser implantado, decidindo se é viável ou não a implantação do mesmo. Pode-se definir que a viabilidade econômica está relacionada com os recursos financeiros existentes para executar um projeto, tendo em conta as receitas que se esperam obter. Dessa forma, consiste em uma análise minuciosa de todos os custos, tanto fixos como variáveis, utilizados para se realizar uma determinada atividade e compara-la com os ganhos obtidos e assim se definir o lucro da atividade em questão. A viabilidade econômica é, portanto, um método eficaz para avaliar os rendimentos que devem ser considerados antes mesmo da implementação de uma dieta aos bovinos, avaliando diretamente o custo benefício (MAYA, 2003).  

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido na Estância Nossa Senhora Aparecida localizada em Rondonópolis-MT. A área experimental era de 7 hectares composta por quatro piquetes para pastejo sob Brachiaria Brizantha cv. Marandu, com lotação contínua. O experimento foi realizado no período de dezembro de 2014 a maio de 2015, durante o período das águas (dezembro de 2014 a março de 2015) e transição águas-seca (março a maio de 2015). Os tratamentos consistiram em suplemento mineral (tratamento controle) e três suplementos com diferentes níveis de energia e aproximadamente 300 g de proteína bruta (PB) por dia. Os suplementos proteicos foram denominados de baixo (0,5 kg), médio (1,0 kg) e alto consumo (1,5 kg) de acordo com o fornecimento diário por . As variáveis de avaliação consideradas foram: o Custo Operacional Variável Total (COpVT), Custo variável total (CVT), Custo Operacional Fixo Total (COpFT), Custo Alternativo ou de Oportunidade (CA), Custo Fixo Total (CFT), custo total (CT), renda total (RT), lucro (L), conforme Ferreira et al. (2004) e Cabral et al. (2011). O COpVT correspondeu aos custos diretos obtidos com os insumos em geral. O CVT consistiu na soma dos COpVT com os custos alternativos, impostos e custo de manutenção de toda a infraestrutura da propriedade. O COpFT foi o custo das depreciações de equipamentos e benfeitorias (CABRAL et al., 2011). O CA foi utilizado para remuneração do capital médio investido, calculado por uma taxa proporcional de 8% ao ano sobre o VT e COpVT para assim se calcular respectivamente o CFT e CVT. Para o Calculo do CA da terra foi utilizado o custo do arrendamento da área durante o período experimental. O CFT foi a somatória do COpFT com o CA. O CT foi determinado através da soma do CFT proporcional ao tempo do experimento e o CVT. A RT foi calculada pelo total arrecadado com a venda dos animais. E para cálculo do L subtraiu-se da RT o CT.  

Resultados e Discussão

Os custos dos suplementos proteicos apresentaram variação devido ao fato de que, apesar dos três terem sido formulados usando os mesmos ingredientes, apresentaram inclusão diferente para a formulação da ração destinada a dieta (Tabela 1). Os custos médios diários de produção de cada quilo dos suplementos foram R$1,50; R$ 0,84; R$ 0,56 e R$ 0,46  e o custo para o fornecimento durante todo o período de realização do experimento foi R$ 198,00; R$693,50; R$ 927,55; R$ 1143,70 para os tratamentos controle, baixo, médio e alto consumo, respectivamente. Considerando apenas o investimento com a aquisição dos suplementos é possível concluir facilmente que o custo para se ter uma suplementação proteica seria mais elevado do que o fornecimento apenas do suplemento mineral. Entretanto, ao se fazer a análise  do CT (Tabela 2) verifica-se uma redução na amplitude entre os tratamentos. Quando se faz a diferença entre CT do tratamento controle e o CT do baixo consumo, por exemplo, tem-se uma diferença de apenas R$ 382,53. Ao considerar que são 10 animais por tratamento, este valor reduz ainda mais, e essa menor diferença com o aumento da tecnificação justifica-se, pois quanto mais se tecnifica uma determinada atividade, mais dilui-se os seus custos operacionais, com a otimização da mão-de-obra e instalações da propriedade. Ao se falar em viabilidade econômica é impossível não avaliar os dados de desempenho produtivo obtidos durante o período experimental, visto que na viabilidade econômica considera-se os lucros obtidos no empreendimento. Foi observado que o ganho de peso corporal médio diário dos animais aumentou com a suplementação proteica, sendo 0,356 kg, 0,562 kg, 0,675 kg e 0,667 kg para os tratamentos controle, baixo, médio e alto, respectivamente. Para a realização da RT foi utilizado o peso corporal final dos animais em cada tratamento (223,7 kg, 252,0 kg, 266,3 kg e 267,4 kg nos tratamentos controle, baixo, médio e alto, respectivamente), e para o preço de venda foi utilizado o valor correspondente do período de venda do experimento sendo R$ 129,50 a arroba. Com isso, foi possível obter a RT demonstrada na Tabela 2 com uma rentabilidade de até 22%. Na análise da viabilidade econômica neste trabalho observou-se que o tratamento de médio consumo foi o que apresentou maior lucro. Ao analisar a RT tem-se a impressão inicial que o tratamento de alto consumo seria o de maior viabilidade, mas quando se faz a diferença entre a RT e o CT tem-se os lucros de R$ 561,74 R$ 1506,59; R$ 1930,00 e R$ 1785,05 para os tratamentos controle, baixo, médio e alto consumo, respectivamente. Assim, fica evidente que apesar da maior RT do tratamento de alto consumo, foi o tratamento com médio consumo que se mostrou de maior viabilidade, isso se explica pelo fato dos animais do alto consumo não terem tido desempenho superior o suficiente, para se viabilizar o aumento dos custos de suplementação.

Conclusões

A suplementação proteica e energética de bovinos é economicamente viável. A oferta de 1 kg de suplemento apresentou melhor viabilidade econômica.

Gráficos e Tabelas




Referências

DETMANN, E. et al. Níveis de proteína em suplementos para terminação de bovinos em pastejo durante o período de transição seca/águas: digestibilidade aparente e parâmetros do metabolismo ruminal e dos compostos nitrogenados. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 4, p. 1380-1391, 2005. GEHBAUER, Fritz. Planejamento e gestão de obras: um resultado prático da cooperação técnica Brasil – Alemanha. Curitiba: CEFET-PR, 2002. MAYA, F. L. A. Produtividade e viabilidade econômica da recria e engorda de bovinos em pastagens adubadas intensivamente com e sem o uso da irrigação. 2003. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. PAULINO, M. F. et al. Fontes de energia em suplementos múltiplos de auto-regulação de consumo na recria de novilhos mestiços em pastagens de Brachiaria decumbens durante o período das águas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 3, p. 957-962, 2005. PERUCHENA, C. O. Suplementación de bovinos para carne sobre pasturas tropicales, aspectos nutricionales, productivos y economicos. REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, v. 36, 1999. PILAU, A. et al. Produção de forragem e produção animal em pastagem com duas disponibilidades de forragem associadas ou não à suplementação energética. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 4, p. 1130-1137, 2005. PORTO, M. O. Suplementos múltiplos para bovinos de corte nas fases de cria, recria e terminação em pastagens de brachiaria decumbens. 2009. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Viçosa.