pH DE SILAGEM DE CAPIM ELEFANTE COM INCLUSÃO DE COPRODUTOS

Jan da Vitória1, Mércia Regina Pereira de Figueiredo2, Alice Cristina Bitencourt Teixeira3, Meliza Cristina Pereira de Figueiredo4, Itamara dos Santos Xavier5, Mirella Fernandes Mendes de Souza6, Márcio Henrique Santos da Silva7, Beatriz Coelho da Rós8
1 - FAESA
2 - INCAPER
3 - INCAPER
4 - UFMG
5 - ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR MANOEL ABREU
6 - ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR MANOEL ABREU
7 - ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR MANOEL ABREU
8 - ESCOLA ESTADUAL PROFESSOR MANOEL ABREU

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o efeito da inclusão (0,12,24,36%) dos coprodutos casca de café, cacau ou maracujá na ensilagem do capim elefante cv. Napier sobre o valor de pH. O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do INCAPER de Linhares/ES. Para produção das silagens foram utilizados mini silos experimentais de PVC com 10 cm de diâmetro e 40 cm de altura, adotando-se uma compactação de 600 kg/m³, com quatro repetições por tratamento. Após 60 dias, os mini silos foram abertos e amostras foram coletadas para determinação dos valores de pH das silagens. Houve um aumento dos valores de pH das silagens (P<0,05) com a inclusão de 36 % de casca de café ou cacau. A inclusão de até 36% de casca de maracujá e de até 24% de casca de café ou de cacau na ensilagem de capim elefante cv. Napier não interferiu no processo fermentativo e produziu silagem de capim elefante com qualidade satisfatória.

Palavras-chave: Pennisetum purpureum, Theobroma cacao, ensilagem, casca de café, casca de maracujá

pH OF ELEPHANT GRASS SILAGE WITH INCLUSION OF BY PRODUCTS

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the effect of the inclusion (0.12. 24. 36%) of by-products of coffee hulls, cacao or passion fruit pell in elephant grass silage cv. Napier on the pH value. The experiment was carried out at the INCAPER Experimental Farm of Linhares / ES. For silage production, mini-silos were used in experimental silos of PVC with 10 cm of diameter and 40 cm of height, adopting a compaction of 600 kg / m³, with four replications per treatment. After 60 days, the mini silos were opened and samples were collected to determine the pH values of the silages. There was an increase in the pH values of the silages (P <0.05) with the inclusion of 36% of coffee husk or cacao. The inclusion of up to 36% of passion fruit peel and up to 24% of coffee or cacao peel in the elephant grass silage cv. Napier did not interfere with the fermentation process and produced elephant grass silage with satisfactory quality.
Keywords: Pennisetum purpureum, Theobroma cacao, ensilage, coffee hulls, passion fruit peel


Introdução

A silagem de gramíneas tropicais tem sido utilizada em várias regiões do Brasil, como forma de aproveitamento do excedente da produção forrageira do período chuvoso na época seca do ano. O capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum), cv. Napier é uma planta forrageira que apresenta um alto potencial de produção de matéria seca por área cultivada. Entretanto, apresenta alto teor de umidade na fase em que seu valor nutritivo é considerado ideal, limitando sua utilização na forma de silagem, devido à ocorrência de fermentações pouco satisfatórias, com altas perdas quantitativas e qualitativas. Para melhorar o perfil fermentativo das silagens de capim, o emurchecimento (CARVALHO et al., 2007 a) e o uso de aditivos como a casca de café, cacau ou maracujá podem contribuir para uma fermentação adequada por beneficiar a fermentação lática durante o processo de conservação da forragem (ZANINE et al., 2007; LAVEZZO et al., 1990). A qualidade de silagem é obtida quando o processo fermentativo ocorre de maneira desejável, podendo-se utilizar como indicador o pH, dentre outros. Assim, objetivou-se avaliar diferentes níveis de inclusão dos coprodutos casca de café, cacau ou maracujá (0, 12, 24,36%) como aditivo na ensilagem de capim elefante cv. Napier sobre o valor de pH.

Revisão Bibliográfica

No Espírito Santo a pecuária leiteira está presente em grande parte dos municípios capixabas contribuindo com o desenvolvimento socioeconômico, onde mais de 70% das propriedades envolvidas são de base familiar. No sistema de produção de leite a busca por alternativas que reduzam o custo de produção, principalmente com alimentação, e contribuam para o desenvolvimento do setor e para manutenção do produtor de leite na atividade devem ser priorizadas. Entretanto, na época seca do ano, verifica-se a estacionalidade da produção de forragens, característica peculiar das regiões tropicais, onde ocorre uma queda na disponibilidade das mesmas, gerando entraves relacionados ao fornecimento de alimentos para animais. A ensilagem de forragens tropicais representa uma boa opção para contornar esse problema, apresentando o capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum), características atrativas, como a fácil implantação, elevada produção de matéria seca (mais de 80 toneladas MS/ha/ano) e boa adaptação a regiões tropicais (RÊGO et al., 2010). Entretanto, o alto teor de umidade e as quantidades razoáveis de carboidratos solúveis dessa forrageira é fator limitante e dificulta a obtenção de silagens de qualidade (BERNARDINO et al., 2005). Além disso, o pH mais elevado devido a fermentações secundárias, propicia o crescimento de microrganismos indesejáveis, que conferem odor desagradável, baixo valor nutritivo ao alimento, caracterizando silagem de baixa qualidade (Mc DONALD, 1981). Assim, o uso de técnicas como emurchecimento ou adição de aditivos como casca de café, cacau ou maracujá podem contribuir com melhorias no processo fermentativo. Nas regiões cafeicultoras e cacaueiras, grandes quantidades de casca dos frutos são eliminadas na lavoura, após sua colheita, sem mercado definido para a sua comercialização, sendo na maioria das vezes utilizados na adubação das lavouras.  A casca de café, resíduo proveniente do beneficiamento do grão, por apresentar elevado conteúdo de matéria seca e carboidratos solúveis, pode atuar como aditivo absorvente, melhorando as características fermentativas das silagens (SOUZA et al., 2003). Os coprodutos do cacau e do maracujá desidratados também surgem como uma possível alternativa, pois podem contribuir com o aumento no teor de MS, na concentração de carboidratos solúveis e até mesmo nos níveis proteicos das silagens produzidas. Visto ainda que o estado do Espírito Santo apresenta disponibilidade considerável desses coprodutos, esta alternativa representa um destino economicamente viável e ambientalmente correto para os mesmos. O uso de alimentos enriquecedores da silagem, disponíveis regionalmente, favorecem a adoção da tecnologia pelos pequenos produtores leiteiros e contribuem com a sustentabilidade do sistema. Nesse contexto, objetivou-se avaliar o efeito da inclusão dos coprodutos casca de café, cacau ou maracujá na ensilagem do capim-elefante cv. Napier (0, 12, 24, 36% MN) sobre os valores de pH.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Fazenda Experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares/ES. O clima do município, segundo a classificação de Köppen é do tipo Af, sendo tropical úmido, com inverno seco e chuvas no verão. A precipitação do período foi menor que 800 mm. A área localiza-se em solos aluviais distróficos. O capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum) cv. Napier foi colhido manualmente com 1,50 metros de altura, picado em picadeira estacionária, em partículas de 2 cm e emurchecido a sombra durante 8 horas. Os coprodutos de cacau e maracujá passaram pelo mesmo processo de picagem e secagem. Os coprodutos foram adquiridos de produtores e empresas da região de Linhares/ES. Os tratamentos experimentais consistiram em quatro níveis de inclusão (0, 12, 24 e 36% na matéria natural) dos coprodutos casca de café, cacau ou maracujá na ensilagem do capim elefante cv. Napier, com 4 repetições. A mistura capim-elefante com os aditivos foi feita no momento da ensilagem, nas respectivas proporções de matéria natural estabelecidas para cada tratamento. Após homogeneização, o material picado foi ensilado em mini silos experimentais, confeccionados em canos de “PVC”, com 10 cm de diâmetro e 40 cm de altura, compactado a uma densidade de 600 kg/m3. Os mini silos foram fechados com tampa dotados de válvulas tipo “Bunsen” e lacrados com fita adesiva. Decorridos 60 dias de ensilado, os mini silos foram abertos e procedeu-se a avaliação do pH utilizando potenciômetro digital segundo SILVA e QUEIROZ (2002). Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o software R (Tukey HSD).

Resultados e Discussão

De acordo com a figura 1, observa-se que não houve elevação dos valores de pH para os níveis de inclusão 12 e 24% dos coprodutos avaliados (P<0,05), que variaram de 4,2 a 4,6 respectivamente, quando comparados com a silagem de capim exclusivo. Valores na faixa de pH entre 3,8 e 4,2 são considerados adequados às silagens bem conservadas, com a atuação de microrganismos anaeróbios, que garantem uma silagem de boa qualidade (MC DONALD, 1981; WOOLFORD, 1984). No entanto, os valores de pH apresentados no presente trabalho para silagens de capim elefante com adição dos coprodutos avaliados ao nível de 12 e 24% demonstram o uso promissor desses aditivos por possuírem características que contribuem positivamente para obtenção de um adequado padrão fermentativo, sendo um importante agente absorvente e fornecedor de nutrientes. Ainda segundo JOBIM et al. (2007), silagens de forragem emurchecida como a do presente trabalho, invariavelmente apresentam valores de pH elevados, acima de 4,2. Em adição, analisando os valores de pH encontrados para silagens com adição de casca de café ou de cacau ao nível de inclusão de 36%, verifica-se um aumento nos valores de pH quando comparado à silagem de capim exclusivo ou silagem de capim com inclusão de 36% de casca de maracujá. Nas referidas silagens os valores de pH variaram 4,83 a 5,2 para os coprodutos de café e cacau respectivamente, demonstrando que houve uma fermentação pouco satisfatória.

Conclusões

A inclusão de até 36% de casca de maracujá e de até 24% de casca de café ou de cacau na ensilagem de capim elefante não interferiu no processo de fermentação e produziu silagens com qualidade satisfatória.

Gráficos e Tabelas




Referências

BERNARDINO, F.S.; GARCIA, R.; ROCHA, F.C. et al. Produção e características do efluente e composição bromatológica da silagem de capim-elefante contendo diferentes níveis de casca de café. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.2185- 2291, 2005. CARVALHO, G.G.P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Valor nutritivo de silagens de capim-elefante emurchecido ou com adição de farelo de cacau. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1495-1501, 2007a. JOBIM, C.C.; NUSSIO, L.G.; REIS, R.A.; SCHMIDT, P. Avanços metodológicos na avaliação da qualidade de forragem conservada. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.101-119, 2007 LAVEZZO, W.; LAVEZZO, O.E.N.M.; BONASSI, I.A. et al. Efeito do emurchecimento, formol, ácido fórmico e solução de "Viher" sobre a qualidade de silagens de capim-Elefante, cultivares Mineiro e Vruckwona. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 25, n.1, p.125-134, 1990. McDONALD, P. The biochemistry of silage. New York: John Willey & Songs. 226p. 1981. R 2014 Core Team. 2012 R: A language and environment for statistical computing. Vienna, Austria: R Foundation for Statistical Computing. RÊGO, M. M. T. et al. Chemical and bromatological characteristics of elephant grass silages with the addition of dried cashew stalk. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 39, n. 02, p. 255-261, 2010. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa, MG: Imprensa Universitária, 2002, 235p. SOUZA, A.L.; BERNARDINO, F.S.; GARCIA, R. et al. Valor nutritivo da silagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) com diferentes níveis de casca de café. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.4, p.828-833, 2003. WOOLFORD, M.K. The silage fermentation. New York: Microbiology series. 1984. 350p. ZANINE, A.M.; SANTOS, E.M.; FERREIRA, D.J.; PEREIRA, O.G. Populaçõesmicrobianas e valor nutricional dos órgãos do capim-tanzânia antes e após aensilagem. Semina. Ciências Agrárias, v.28, p.143-150, 2007.