REATIVIDADE DE POTROS FRENTE A OBJETOS DESCONHECIDOS EM REDONDEL ABERTO
Julia David Lourenzon1, Mayra Oliveira Medeiros2, Camila Giunco3, Tamires Romão Nunes4, Amanda Heloisa Dicilio de Alcântara5, Laura Alves Brandi6, Cristiane Gonçalves Titto7, Roberta Ariboni Brandi8
1 - FZEA - USP
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RESUMO -
O presente estudo tem como objetivo avaliar a reatividade de potros frente a objetos desconhecidos em redondel aberto. Houve efeito (p<0,05) da interação do sexo e as variáveis Bufar e Contato com Objeto. A interação do teste com essas variáveis também foi significativa (p<0,05). Observou-se que 77,7% das fêmeas bufaram, enquanto 54,3% dos machos realizaram o mesmo comportamento. Corroborando com o observado, a maioria das fêmeas não entraram em contato com o objeto. Houve efeito (p<0,05) da interação teste e sexo para o escore composto. Fêmeas e machos foram classificados como pouco reativos e se mostraram menos reativos frente ao teste do banco rosa. Para o teste do ventilador, ambos os sexos apresentaram reatividade média de 50%, sendo classificados como reativos. Os potros se interessam pelos objetos diferentes e tiveram interação maior com objetos imóveis, apresentando menor reatividade. As fêmeas foram mais reativas que os machos.
Palavras-chave: cavalos, comportamento, teste de novo objeto.
REACTIVITY OF FOALS ON UNKNOWN OBJECTS IN AN OPEN ROUND PEN
ABSTRACT - The present study aims to evaluate the reactivity of foals to unknown objects in an open round pen. There was an effect (p<0.05) on the interaction of sex and the variables Snorting and Contact with Object. The interaction of the test with these variables was also significant (p<0.05). It was observed that 77.7% of the females snorted, while 54.3% of the males performed the same behavior. Corroborating with the observed, most females did not come in contact with the object. There was an effect (p<0.05) on the interaction of test and sex for the composite score. Females and males were classified as little reactive and were less reactive to the pink bench test. For the fan test, both sexes had an average reactivity of 50% and were classified as reactive. The foals were interested in the different objects and had greater interaction with immobile objects, showing less reactivity. Females were more reactive than males.
Keywords: behavior, horses, new object test
Introdução
Os equinos são animais livres, de comportamento gregário e curiosos, são atraídos por situações inexploradas com intuito de conhecer o ambiente além de potencializar suas chances de sobrevivência frente a desafios futuros.
Assim como em humanos, os cavalos também possuem temperamento individual, o qual é influenciado pelo sucesso frente às experiências vividas, as quais, quando positivas, incentivam esses animais a explorarem as novidades propostas. A reatividade dos equinos frente a um evento é uma resposta que o leva a se comportar com a mesma tendência para uma variedade de estímulos, sendo resultado da interação entre seu comportamento, temperamento, suas experiências passadas, além da sua relação com o ser humano.
Incorporar novos desafios na rotina desses animais diminui sua responsividade frente aos estímulos propostos, preparando-os para situações estressantes, tais como a inclusão de objetos desconhecidos em seu meio.
O presente estudo teve como objetivo avaliar a reatividade de potros frente a objetos desconhecidos em redondel aberto.
Revisão Bibliográfica
Com a finalidade de conhecer melhor o ambiente e otimizar suas chances de sobrevivência diante os obstáculos futuros, o comportamento exploratório dos equinos tem o propósito de aumentar sua interação com o meio após ser motivado pela curiosidade (GUIRRO et al., 2008).
O desenvolvimento do temperamento do animal é influenciado pelo êxito frente às experiências vividas, assim como quando novas situações atribuem caráter lúdico, pois parte das tendências comportamentais e emocionais são consolidadas cedo na vida dos equinos, visto que esses animais tem uma maior interação com o ambiente em seu primeiro ano de vida (GUIRRO et al., 2008). O temperamento do equino consiste em sua relação com os desafios e contínuas mudanças em seu meio, conhecer essa característica implica diretamente na seleção de animais para criação, esporte e manejo, visto que esses animais regem de diferentes maneiras quando confrontados a novas situações (VISSER et al., 2002).
A capacidade de adaptação frente a novos estímulos depende do temperamento individual dos animais (CALVIELLO, 2013). Além disso, o sexo também pode influenciar a reatividade dos equinos, conforme descrito previamente por BUDZNSKA et al. (2014).
A reatividade emocional é designada como uma característica do equino que o leva a reagir com a mesma tendência para uma diversidade de eventos, podendo variar de acordo com as oscilações do animal ou fatores ambientais abióticos e bióticos (SANDI e PINELO-NAVA, 2007). Deste modo, torna-se importante incorporar novos desafios na rotina desses animais preparando-os para situações estressantes (MCDONNELL e POULIN, 2002).
Estudo indica que introduzir objetos desconhecidos em um grupo de potros junto as suas respectivas mães motiva o comportamento exploratório, mesmo que a companhia da mãe pareça encorajá-los, ademais o feedback positivo dos animais frente a novos objetos contribui para explorar as novidades propostas (GUIRRO et al., 2008).
Materiais e Métodos
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo: protocolo número 2673240516.
O trabalho foi realizada no setor de Equideocultura da Prefeitura do Campus USP Fernando Costa, utilizando 11 potros desmamados, seis machos e cinco fêmeas, com idade entre 11 e 13 meses.
Os animais foram alojados a pasto e direcionados diariamente à lanchonete pela manhã, onde foram alimentados. Em seguida, os animais foram conduzidos individualmente para o redondel aberto, disposto de madeiras espaçadas entre si e com raio de 3 metros.
O experimento durou dois dias, em cada dia um objeto era apresentado uma vez ao animal. Os objetos utilizados foram um banquinho cor de rosa e um ventilador branco ligado com fitas plásticas amarradas em sua grade, colocados no centro do redondel. Os animais foram posicionados também ao centro e a guia de condução foi retirada. No fechamento do portão do redondel, iniciou-se a contate de dois minutos para aa observação do comportamento.
Os testes foram realizados pelo mesmo observador treinado e posicionado a dois metros do redondel, sem contato com o animal durante o teste. Para a avaliação da reatividade, utilizou-se uma adaptação de CALVIELLO (2013), para aplicação de escores a sete variáveis comportamentais (Tabela 1). Em paralelo foi realizada a determinação da reatividade dos animais por escore composto (através parâmetros Posição de Olhos, Posição de Orelhas, Vocalização e Bufar) utilizando os conceitos da escala Likert, sendo que o animal com menor pontuação foi considerado o mais calmo, seguindo a classificação: calmo (0-20%), pouco reativo (20-40%), reativo (40-60%), muito reativo (60-80%) e agressivo (80-100%).
Os dados foram analisados por teste de variância com efeito fixo de sexo, escore e dias de observação e interação dia x escore, com comparação múltipla por PDIFF a 5%, analisados pelo programa estatístico SAS (2004).
Resultados e Discussão
Houve efeito (p<0,05) da interação entre sexo e as variáveis Bufar e Contato com o Objeto. Para as variáveis Movimentação, Posição de Olhos, Posição de Orelhas, Vocalização e Defecação não houve efeito (p>0,05) de sexo. A interação do teste com as variáveis Bufar e Contato com Objeto também foi significativa (p<0,05).
Os potros apresentaram diferentes níveis de interesse frente aos objetos apresentados. Foi possível observar uma maior aproximação ao banco, e notou-se maior agitação dos animais frente ao ventilador, que se manteve ligado em constante movimento durante toda observação.
Considerando-se a variável Bufar, foi observado que 77,7% das fêmeas bufaram, enquanto 54,3% dos machos realizaram o mesmo comportamento. Corroborando com o observado, as fêmeas não entraram em contato com o objeto, média de 94,4%, comparado a média de 82,5% nos machos, reforçando a maior reatividade das fêmeas em relação aos os machos neste teste. Discordando do observado, CALVIELLO (2013), obteve maior resposta entre potros machos, pois tratava-se de animais jovens que apresentavam tendências a serem mais reativos.
Dentro da interação teste e a variável Bufar, foi observado para o teste com banco rosa, a predominância do escore 2 com média de 73%, enquanto para o teste do ventilador, o escore 1 se mostrou predominante, com média observada de 92,2%.
Para a interação teste do banco e a variável Contato com o Objeto, houve predominância do escore 1, com ocorrência média de 82,8%, ao mesmo tempo que para o ventilador o escore 2 foi observado em 100% dos animais, o que pode ser atribuído a inexistência de experiências previas a esta determinada situação (CALVIELLO, 2013).
Utilizando-se a avaliação do escore composto, houve efeito (p<0,05) da interação teste e sexo. A média de reatividade observada para as fêmeas foi de 40%, enquanto para os machos foi de 39%, ambos classificados como pouco reativos. Os machos se mostraram menos reativos frente ao teste do banco rosa, com resposta média de 40%, e as fêmeas com 32%, mantendo a mesma classificação de pouco reativos. Para o teste do ventilador, ambos os sexos apresentaram reatividade média de 50%, passando a serem classificados como reativos.
Conclusões
Os potros se interessam por objetos diferentes e tem interação maior com objetos imóveis, apresentando menor reatividade a ele. As fêmeas foram mais reativas que os machos.
Gráficos e Tabelas
Referências
BUDZYNSK, M.
Stress reactivity and coping in horse adaptation to environment. Journal of Equine Veterinary Science, v. 34, n. 8, 9. 935-941, 2014.
CALVIELLO, R. F.
Avaliação da reatividade de equinos durante o manejo e na presença de estímulo desconhecido. Dissertação (Mestrado em Zootecnia). Qualidade e produtividade animal, Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2013.
GUIRRO, E. C. B. P; BARBALHO, P. C; COSTA, M. J. P.
Comportamento exploratório de potros e éguas mediante a introdução de novos objetos em seu meio. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v.46, n.2, p.122-129, 2009.
MCDONNELL, S.M; POULIN, A.
Equid play ethogram. Applied Animal Behaviour Science, v.78, p. 263-290, 2002.
SANDI, C.; PINELO-NAVA, M. T.
Stress and memory: behavioral effects and neurobiological mechanisms. Neural plasticity, 2007.
STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM
– SAS. OnlineDoc. Version 9.1.3. Cary: SAS Institute, 2004.
VISSER, E. K et al.
Heart rate and heart rate variability during a novel object test and a handling test in young horses. Physiology & Behavior, v. 76, p. 289-296, 2002.