Substituição de milho moído por casca de soja em dietas de búfalas leiteiras em pastejo rotacionado de Brachiaria humidicola

Rosimery Menezes Frisso1, Diego Souza Pantoja2, Wériko dos Santos Cursino3, Ronaldo Francisco de Lima4, Ícaro dos Santos Cabral5
1 - Universidade Federal do Amazonas
2 - Universidade Federal do Amazonas
3 - Universidade Federal do Amazonas
4 - Universidade Federal do Amazonas
5 - Universidade Federal do Amazonas

RESUMO -

Objetivou-se com esse trabalho avaliar o consumo e digestibilidade de bubalinos suplementado a pasto contendo diferentes níveis de substituição do milho pela casca de soja. No entanto pesquisas que suportam seu uso na bubalinocultura ainda é escasso. Além disso a criação de búfalos representa uma importante fração da pecuária amazônica e que merece mais estudos. Foram utilizadas 9 búfalas Murrah com média de 62±20 dias em lactação com média de 4,5±1,0 Kg/dia de leite. As suplementações concentradas foram isoproteícas e compostas com base na matéria seca. Para a digestibilidade de DFDN houve efeito linear para os níveis de substituição, sendo que a medida que aumentou os níveis de inclusão de casca de soja no suplemento, houve aumento na digestibilidade do FDN e tendência de aumento na digestibilidade da matéria orgânica não fibrosa. Búfalos suplementados com concentrado a base de casca de soja casca de soja não alterou o consumo, porém melhorou a digestibilidade da fibra.

Palavras-chave: bubalinos, digestibilidade, murrah, matéria seca

Replacement of ground corn by soybean hulls in diets of dairy buffaloes in rotational grazing of Brachiaria humidicola

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the intake and digestibility of buffaloes supplemented the pasture containing different levels of corn replacement by soybean hulls. However research that supports its use in bubalinocultura is still scarce. In addition, the creation of buffaloes represents an important fraction of Amazonian cattle ranching and deserves further studies. A total of 9 Murrah buffaloes averaging 62 ± 20 days in lactation with an average of 4.5 ± 1.0 kg / day of milk were used. The concentrated supplements were isoprotein and composed based on dry matter. For the digestibility of DFDN there was a linear effect for the replacement levels, and as the soybean hull inclusion levels increased in the supplement, there was an increase in the digestibility of the NDF and tendency of increase in the digestibility of the non - fibrous organic matter. The concentrated supplements were isoprotein and composed based on dry matter. For the digestibility of DFDN there was a line
Keywords: Buffaloes, digestibility, dry matter, murrah


Introdução

O Amazonas não é um estado produtor de milho, importando o milho para alimentação animal de outros estados. Sendo assim, encontrar alternativas econômicas e nutricionalmente viáveis para a substituição do milho na dieta de animais tem sido alvo de frequentes pesquisas. Dentre as possíveis alternativas de substituição do milho na dieta de bovinos, têm-se, dentre outros, a polpa cítrica, resíduo de cervejaria, caroço de algodão e casca de soja. A casca de soja já foi objeto de várias pesquisas em bovinocultura de leite e corte. Ela é fonte de fibra solúvel e de alta digestibilidade no rúmen desses animais. No entanto pesquisas que suportam seu uso na bubalinocultura ainda é escasso. A casca de soja, em alguns momentos do ano, chega a preços mais baixos no estado do Amazonas devido a seu principal escoamento da produção da Região Norte pelo porto de Itacoatiara. Além disso a criação de búfalos representa uma importante fração da pecuária amazônica e que merece mais estudos. Os bubalinos são reconhecidos com mais eficientes em digestibilidade de fibra comparado aos bovinos. Então, usar resultados de pesquisas de bovinos na bubalinocultura poder ser um equívoco. Assim, objetivou-se com esse trabalho avaliar o consumo e digestibilidade de bubalinos suplementado a pasto contendo diferentes níveis de substituição do milho pela casca de soja.

Revisão Bibliográfica

A criação de búfalos tem crescido em termos produtivos e em mercado consumidor. O Brasil destaca-se como o maior criador de búfalos do ocidente com três milhões e meio de cabeças e com crescimento anual de 3,0%. (BERNARDES, 2007). O leite e a carne dos bubalinos possuem qualidades peculiares que podem superar as dos bovinos. A produção mozzarella do leite de búfala tem maior percentual de proteínas, gorduras, cálcio e fósforo (AMARAL et al., 2005). Em sua maioria, a criação de búfalos é feita de forma extensiva para produção de carne, e semiextensiva para produção de leite, tendo a forragem como principal alimento, sendo bastante praticado esse sistema de criação na região do Baixo Amazonas. Contudo se faz necessário aprofundar as pesquisas sobre a digestibilidade dos ingredientes no trato digestivo de búfalas leiteiras, para mensurar quanto desse alimento está sendo aproveitado, seguindo esse contexto foi feito a pesquisa de substituição de milho grão moído por casca de soja nas proporções de 0, 50 e 100%. A casca de soja é composta principalmente de fibra altamente digestível, que tem pouco valor na alimentação humana e no uso industrial. A substituição dos grãos de cereais pela casca de soja na alimentação de bovinos de corte, além do aspecto econômico, pode trazer benefícios na eficiência de utilização dos alimentos pelo animal, uma vez que grãos de cereais com alto teor de amido, como os grãos de sorgo e de milho, podem provocar efeito associativo negativo, reduzindo a digestibilidade da fração fibrosa da dieta (VAN SOEST, 1994). Entretanto o conjunto de características físico-químicas deste ingrediente, a torna atraente para uso em rações de vacas leiteiras (IPHARRAGUERRE e CLARK, 2003). A casca de soja é obtida numa das primeiras fases do processamento do grão, quando os grãos são quebrados e as cascas retiradas por aspiração. Logo após, a casca de soja sofre um processo de purificação e tostagem para eliminar a atividade de uréase (BLASI, et al., 2000). De acordo com o NRC (2007), a casca de soja apresenta com base na matéria seca, 13,0% proteína bruta; 77,0% de nutrientes digestíveis totais; 2,6% de extrato etéreo; 62,0% de fibra em detergente neutro e 46% de fibra em detergente ácido. Já em trabalhos compilados sobre a composição química da casca de soja encontraram valores médios de 11,8% de proteína bruta e 65,6% de fibra em detergente neutro na matéria seca, sendo 43% composta de celulose e 17,8% de hemicelulose (IPHARRAGUERRE e CLARK 2003).  

Materiais e Métodos

Foram utilizadas 9 búfalas Murrah com média de 62±20 dias em lactação com média de 4,5±1,0 Kg/dia de leite. Os animais foram manejados em pastejo rotacionado de Brachiaria humidicola e alocados em um de três tratamentos em delineamento experimental do tipo Quadrado Latino 3x3 com três repetições cada. O experimento teve duração de 63 dias com três períodos de 21 dias cada. Os primeiros 14 dias de adaptação e os outros 7 dias de coleta. As suplementações concentradas foram isoproteícas e compostas com base na matéria seca de: T0) 55,17% de milho moído fino (MMF), 27,51% de casca de soja (CS), 12,53% de farelo de soja (FS), 4,0% de mistura mineral e vitamina (MMV) e 0,8% de uréia (U); T50) 27,79% de MMF, 27,50% de CS, 12,52% de FS, 4,0% de MMV e 0,5% de U; T100) 55,78% de MMF, 27,50% de CS, 12,53% de FS, 4,0% de MMV e 0,2% de U. Para determinar o consumo de pastagem, foi determinado a produção fecal (PF), utilizando o marcador externo oxido cromo III fornecido na dose de 5 g/vaca/dia via oral uma vez no dia, durante 7 dias consecutivos, do 15° ao 20° dia. Para determinar o consumo individual diário de MS foi utilizado o método indireto a partir da relação entre as estimativas da PF e o teor do indicador interno fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) descrito por HUHTANEN et al. (1994): Consumo de pasto= % FDNi no pasto x kg de FDNi nas fezes referente ao pasto (FDNi fp). FDNi fp kg = (% FDNi nas fezes x Produção fecal total kg) – (% FDNi no concentrado x consumo de concentrado kg). A digestibilidade aparente da MS, MO, PB e FDN foram calculados como sendo a relação entre a diferença da quantidade consumida e nas fezes pela quantidade consumida, conforme a fórmula: Digestibilidade dos nutrientes = ((kg de MS consumido x % nutriente) – (kg de MS nas fezes x % nutriente) /(kg de MS consumido x % nutriente)) x 100. As análises estatísticas foram feitas no pacote estatístico SAS (LITTEL et al., 1996), considerando efeito de quadrado, período e tratamento.

Resultados e Discussão

Os dados de consumo de pasto, concentrado, matéria seca, matéria orgânica digestível, proteína bruta e fibra detergente neutro não apresentaram diferença entre os tratamentos (Tabela 1). De acordo com Berchielli et al. (2011), a ingestão de matéria seca está positivamente relacionada com a digestibilidade da FDN. Com o fornecimento adicional de nutrientes via suplementação, os animais tornam-se mais eficientes na alimentação da forragem disponível, graças à melhoria das condições do ambiente ruminal, melhorando a digestibilidade da mesma, com possível aumento da taxa de passagem, e por consequência um maior consumo. A depender do nível de oferta do concentrado, podem ocorrer alterações positivas, nulas, ou negativas no consumo e na digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes, bem como no desempenho animal (Pereira et al., 2006). Os dados de digestibilidade aparente da matéria seca (DMS), matéria orgânica (DMO), fibra em detergente neutro (DFDN) e matéria orgânica não fibrosa (DMOnFDN) das dietas estão descritos na Tabela 2. Não houve efeito da substituição de milho por casca de soja nos suplementos alimentares sobre a DMS e DMO. Já para digestibilidade de DFDN houve efeito linear para os níveis de substituição, sendo que a medida que aumentou os níveis de inclusão de casca de soja no suplemento, houve aumento na digestibilidade do FDN e tendência de aumento na digestibilidade da matéria orgânica não fibrosa. Segundo Belyea et al. (1989) e Stern e Ziemer (1993), a maior vantagem na utilização da casca de soja na alimentação de vacas leiteiras está na alta digestibilidade da fibra em detergente neutro (FDN), podendo atingir 95%.  De acordo com Gomes e Andrade (1996), que avaliaram a substituição do milho pela casca de soja (0, 50 e 100%) em dietas para novilhos, não observaram diferença na digestibilidade da matéria seca, matéria orgânica e energia bruta entre as dietas, porém encontraram aumento linear na digestibilidade da FDN e FDA com a inclusão da casca de soja. Em outros trabalhos tem mostrado que a fibra solúvel e a pectina da casca de soja são tão eficientes quanto ao amido para síntese de proteína microbiana e que a pectina, apesar de degradar mais rapidamente no rúmen, proporciona menor redução no pH ruminal (HALL; HEREJK, 2001). Em estudos Restle et al. (2004) relataram que a casca de soja, por apresentar elevado teor de FDN, foi inicialmente estudada como uma opção para substituição da fração volumoso da dieta de ruminantes. A digestibilidade da FDN, é proporcionar elevada produção de ácidos graxos voláteis no rúmen, em razão da excelente fermentabilidade da fibra no rúmen (BACH et al. 1999 citado por SANTOS et al. 2008) e dos benefícios decorrentes da digestão da fibra da dieta total sobre o pH ruminal (LUDDEN et al. 1995; GOMES, 1998 citado por SANTOS et al. 2008), a casca de soja se destaca quanto ao seu potencial de uso na alimentação de ruminantes em substituição aos grãos de cereais.

Conclusões

Búfalos suplementados com concentrado a base de casca de soja casca de soja não alterou o consumo, porém melhorou a digestibilidade da fibra.

Gráficos e Tabelas




Referências

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