Caracterização do mercado de feno de tifton 85 (Cynodon sp.) na Microrregião de Pinhalzinho-SC

Daniel Augusto Barreta1, Alexandre Bernardi2, Mauricio Barreta3, Tamires Rodrigues Reis4, Julia Corá Segat5, Antonio Waldimir Leopoldino da Silva6
1 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, UDESC Chapecó.
2 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, UDESC Chapecó.
3 - Zootecnista, Mestrando em Zootecnia, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, UDESC Chapecó.
4 - Graduanda em Zootecnia, bolsista de iniciação científica, PIBIC/CNPq.
5 - Doutor (a), Professor (a) do Departamento de Zootecnia, UDESC Chapecó.
6 - Doutor (a), Professor (a) do Departamento de Zootecnia, UDESC Chapecó.

RESUMO -

A produção e comercialização de feno é uma atividade em expansão na região Oeste de Santa Catarina. No entanto, não há dados referentes ao comércio e aos critérios de compra adotados pelos pecuaristas. O presente estudo buscou caracterizar os compradores e o comércio de feno de tifton 85 na região. Foram realizadas entrevistas com compradores de feno utilizando um questionário semi-estruturado. Os resultados foram analisados por meio de estatística descritiva. Os resultados mostram que a maioria dos produtores (62,5%) adquirem o feno diretamente de outro produtor, mas que não há fidelidade de compra pois a oferta é irregular em algumas épocas do ano. Quase a totalidade de consumidores adota a qualidade como critério de compra, no entanto, esta verificação resume-se ao aspecto visual e tátil, devido a isto, 87,5% dos entrevistados julgam que seria importante a presença de um laudo químico-bromatológico do feno e pagariam um acréscimo de R$ 0,4 por fardo por isto.

Palavras-chave: comércio, forragicultura, qualidade

Characterization of the tifton 85 hay market (Cynodon sp.) in the Pinhalzinho-SC Micro-region

ABSTRACT - The production and commercialization of hay is an expanding activity in the region West of Santa Catarina. However, there is no data regarding the commercialization and purchase criteria adopted by cattle ranchers. The present study aimed to characterize the buyers and trade of tifton 85 hay in the region. Interviews were conducted with hay buyers using a semi-structured questionnaire. The results were analyzed using descriptive statistics. The results show that most producers (62.5%) buy the hay directly from another producer, but that there is no purchase fidelity because the supply is irregular at some periods of the year. Almost all consumers adopt quality as a criterion of purchase, however, this verification is limited to the visual and tactile aspect, due to this, 87.5% of the interviewees believe that the presence of a chemical-bromatological and report of the would pay an additional R$ 0.4 per bale for this.
Keywords: forage farming, quality, trade


Introdução

Na produção de lácteos, a região Sul do Brasil destaca-se às demais quanto a produção e produtividade de leite (IBGE, 2016). Na região Oeste, principal produtora do estado de Santa Catarina, o município de Pinhalzinho assume papel expressivo, onde é preponderante o sistema de produção de leite à base de pasto com suplementação, mas também é significativo o aumento do uso de sistemas de confinamento, sendo que em ambos os sistemas é comum o uso de forrageiras conservadas. O uso de alimentos conservados, seja ele na forma de feno, feno pré-secado, silagem, entre outros, é uma alternativa para minimizar os efeitos de sazonalidade de produção de forragem e para intensificar o sistema produtivo (Carvalho et al., 2006). Deste modo, o feno vem assumindo destacada importância na atividade leiteira da região e a demanda crescente de produto fomenta um “novo mercado”, de compra e venda de fardos de feno, que na maioria dos casos é oriundo de pastagem de tifton 85. Entretanto, mesmo com a produção de feno bastante difundida na região, não há dados que caracterizem as propriedades que adquirem o material, o comportamento do mercado, bem como os critérios de compra adotados pelos produtores. O objetivo do trabalho foi caracterizar o mercado de feno de tifton 85 na microrregião de Pinhalzinho, sob a perspectiva dos compradores do produto.

Revisão Bibliográfica

Seja como suplemento de uso estratégico em épocas de entressafra ou como base da alimentação é inegável a importância dos fenos nos sistemas de produção de ruminantes. Trata-se de uma prática amplamente difundida na atividade pecuária (Silva et al., 2015). Nos últimos anos, a produção de feno no Brasil recebeu substancial incremento. Ainda que não se tenha dados oficiais a respeito, observa-se uma tendência crescente de emprego deste material na dieta animal (Reis et al., 2013). A técnica também é interessante do ponto de vista econômico, como mostra o trabalho de Mossmann et al. (2016), que compararam a atividade de produção de feno de tifton 85 com a bovinocultura de corte no município de Chapecó (SC) e concluíram que a produção de forragem conservada apresenta 31% de lucratividade, ante 14,6% da atividade de recria e engorda de bovinos. Os autores também concluíram que o custo da mecanização perfaz o maior custo de produção, chegando a 40% do valor da receita. Ribeiro et al. (1999) também observaram que os custos de maquinários são os principais, sendo que, os custos de corte representam 35% dos custos totais, enquanto os custos de enfardamento 41%. Quanto aos critérios de compra, mesmo em mercados mais consolidados, como o dos EUA, os agricultores não verificam a qualidade intrínseca do material, pois o consideram como homogêneo (Dant et al., 2017). Não há dados recentes que caracterizem as propriedades consumidoras de feno, bem como uma caracterização do mercado e a distribuição do preço ao longo do ano.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado na Microrregião de Pinhalzinho, Região Oeste do Estado de Santa Catarina, onde o clima, segundo a classificação de Köppen é considerado subtropical de verão ameno, sem estação seca (Cfb). Foram selecionados 16 produtores de leite que adquirem feno de tifton 85 no comércio local. Os produtores foram escolhidos de forma a representar, na maior amplitude possível, o segmento em questão. As entrevistas aconteceram nos meses de abril e maio de 2016 e compreenderam os municípios de Cunha Porã, Jardinópolis, Modelo, Pinhalzinho, Saltinho, Saudades e União do Oeste. Os pesquisadores realizaram visitas às propriedades selecionadas, nas quais foi aplicado um questionário semi-estruturado, majoritariamente constituído de perguntas abertas. Todos os produtores concordaram em participar do trabalho e de terem suas informações reveladas, ainda que com a preservação de sua identidade individual. Foram coletadas informações referentes ao tamanho da área (ha) e atividades da propriedade, interesse pela atividade de produção de feno, quantidade adquirida, percepção de diferença de qualidade entre os lotes de compra, local da compra e assiduidade, percepção de oferta/demanda do material na região, critérios de compra, preço pago e sua coerência com a qualidade, preço máximo de compra, relevância do laudo químico bromatológico e disponibilidade de pagar um acréscimo por isso. As informações obtidas na entrevista com o público alvo são apresentadas por meio da estatística descritiva, traçando o perfil das propriedades que adquirem o feno e a situação atual do mercado.

Resultados e Discussão

A área média das propriedades que adquirem feno é 29,4 ha, com variação entre 7,5 e 63 ha. Entre os entrevistados, 18,5% também são produtores de feno e, daqueles que não produzem, 23,8% demonstram interesse em ingressar na atividade, o que indica um mercado emergente e promissor. Em média, os produtores adquirem cerca de 1.600 fardos por ano, sendo que a maior parte dos produtores (62,5%) adquire o feno diretamente do produtor que o vende, enquanto 25% realiza a compra em loja agropecuária e 12,5% o faz em ambos. Verificou-se que há total fidelidade quanto à aquisição em estabelecimentos comerciais, devido a praticidade de entrega e a constância de oferta. Por outro lado, quando a compra é feita diretamente com o produtor, apenas 25% dos compradores mantém exclusividade de fornecedor, devido a irregularidade de oferta, o que obriga a aquisição de múltiplos fornecedores. Associado a isto, 75% dos produtores afirmam que há flutuação do preço ao longo do ano, constituindo um valor mais elevado no inverno (entressafra). Este mesmo percentual de produtores também afirma que há falta de produto de qualidade no mercado nos meses de inverno. Desta forma, os produtores poderiam otimizar as compras na “safra” e assim baratear o insumo. Os produtores foram questionados quanto aos critérios que empregam no momento da compra do feno. A maioria (62,5%) indicou a relação qualidade e preço. Três produtores (18,8%) observam apenas a qualidade do produto, dois consideram a qualidade e a confiança no fornecedor e um realiza a aquisição buscando exclusivamente uma fonte de fibra. Ou seja, mais de 93% dos compradores adota a qualidade do feno como um critério relevante na aquisição do produto. No entanto, quanto a determinação de qualidade, esta é exclusivamente visual e tátil, e, portanto, de precisão limitada. Apesar disso, 87,5% dos produtores julgaram que, no momento da compra, seria importante o produto ser acompanhado de um laudo de composição bromatológica, pois apenas 12,5% dos entrevistados informaram já ter tido acesso a um laudo do material adquirido. Dentre os produtores que consideram o laudo importante, cerca de 60% estariam dispostos a pagar um acréscimo no valor do fardo caso o laudo atestasse a “boa” qualidade nutricional do feno, em média o acréscimo é de R$ 0,40 por fardo. Quanto ao preço pago pelo fardo (média de 9 kg), este variou de R$ 6,00 a R$ 8,00, ou seja, uma variação de até 33%, mesmo sendo apenas o aspecto visual utilizado como critério no momento da compra. Contudo, 81,25% dos entrevistados consideram o valor justo. O acréscimo do laudo, valorizaria o fardo em cerca de 6%. O valor máximo que os produtores estariam dispostos a pagar pelo feno que adquirem é, em média, R$ 8,33. Contudo, há produtores que se permitiriam pagar até R$ 10,00, enquanto outros pagariam no máximo R$ 7,00, ou seja, verifica-se a existência de diferentes públicos compradores, dispostos a empregar valores distintos no momento da compra.

Conclusões

O mercado de compra e venda de fardos de feno de tifton 85 é crescente no município de Pinhalzinho, a oferta de produto de qualidade é aquém da demanda em algumas épocas do ano, o comércio é pautado em aspectos visuais e táteis do material, sendo que a inclusão do laudo bromatológico do lote de feno comercializado perfaz uma oportunidade de acréscimo no valor de venda, no caso do produtor de feno, enquanto que para o comprador transparece segurança e confiabilidade.


Referências

CARVALHO, S. et al. Consumo de nutrientes, produção e composição do leite de cabras da raça Alpina alimentadas com dietas contendo diferentes teores de fibra. Revista Brasileira de Zootecnia v.35 n.3 1154-1161, 2006.   DANT, M.; BURDINE, K; MARK, T. Hedonic Price Analysis of Hay Auction Prices in Kentucky. In: Southern Agricultural Economics Association 2017. Mobile, Alabama, 2017.   IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores IBGE: Estatística da Produção Pecuária. Mar. 2016.   MOSSMANN, F. J. et al. Análise comparativa entre a produção de gado de corte e a produção de feno em uma propriedade rural de Chapecó/SC. Revista Científica Tecnológica. v.5, n.2, 2016.   REIS, R. A. et al. In: REIS, R.A.; BERNARDES, T.F.; SIQUEIRA, G.R. (Eds.). Forragicultura: ciência, tecnologia e gestão dos recursos forrageiros. Jaboticabal: Multipress, 2013. p.699-714.   RIBEIRO, S. A. et al.  Avaliação do desempenho operacional e econômico de máquinas para fenação. Cultura de coast-cross. Boletim da indústria animal. v.56, n.2, p.147-151, 1999.   SILVA, A. C. et al., Curva de desidratação de três leguminosas forrageiras tropicais. Caderno de Ciências Agrárias. v.7, n.1, 2015.