Identificação Dos Agentes Causadores De Mastite Subclínica Em Propriedades Leiteiras Do Noroeste De Minas
Marcos Augusto dos Reis Nogueira1, Getúlio Neves Almeida2, Noberto Silva Rocha3, Napier João Resende Filho-4, Drausio de Paiva Cunha5
1 - Aluno de Mestrado na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
2 - Médico veterinario pela Faculdade de Ciências da Saúde de Unaí- FACISA
3 - Bolsista De Pós Doutorado na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM
4 - Professor da Faculdade de Ciências da Saúde de Unaí- FACISA
5 - Médico veterinario pela Universidade José do Rosário Velano- UNIFENAS
RESUMO -
O objetivo deste estudo foi identificar os patógenos causadores de mastite subclínica em propriedades da região Noroeste de Minas. A identificação das vacas com mastite subclínica foi realizada por meio do teste de CMT em três propriedades com níveis tecnológicos distintos, em 158 das 392 vacas analisadas resultado foi positivo, sendo, propriedade A (68), B (30) e C, (60). Foram coletadas na ordenha da tarde amostras contendo 50 ml de leite, que foram armazenadas e enviadas ao laboratório Vida Vet – Botucatu SP, onde foram analisadas. De acordo com os resultados, 18,24% das amostras foram negativas na cultura bacteriana, e 70,58% dos casos foram causados por patógenos do gênero Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. O Staphylococcus aureus foi o agente mais encontrado, estando presente em 32,94% das amostras, o Streptococcus agalactiae foi o segundo com maior incidência somente nas fazendas B (18,18%) e C (29,85%). Escherichia coli foi isolada somente em amostras da fazenda A.
Palavras-chave: qualidade do leite, mastite subclínica, Staphylococcus spp, Streptococcus spp
Identification Of Agents Causing Subclinical Mastitis In Dairy Properties In The Northwest Of Minas Gerais
ABSTRACT - The objective of this study was to identify the pathogens that cause subclinical mastitis in properties of the region Northwest of Minas. The identification of cows with subclinical mastitis was carried out using the CMT test on three properties with different technological levels, In 158 of the 392 cows analyzed the result was positive, being A (68), B (30) and C, (60). Samples containing 50 ml of milk were collected at Afternoon milking, which were stored and sent to Vida Vet - Botucatu SP laboratory, where they were analyzed. According to the results, 18.24% of the samples were negative in the bacterial culture, and 70.58% of the cases were caused by pathogens of the genus Staphylococcus spp. and Streptococcus spp., Staphylococcus aureus was the most found agent, present in 32.94%, Streptococcus agalactiae was the second with higher incidence only in farms B (18.18%) and C (29.85%). Escherichia coli was isolated only in samples from farm A.
Keywords: quality of milk, subclinical mastitis, Staphylococcus spp, Streptococcus spp.
Introdução
A mastite bovina é uma doença de grande importância e frequência na pecuária leiteira acarretando em várias perdas por: reduzir a produção e a qualidade do leite, aumentar os custos com mão-de-obra e medicamentos, menor preço pago pelos laticínios, além do descarte precoce dos animais (RIBEIRO, 2014). Com isso ocupa lugar de destaque, por apresentar importância econômica para a indústria, é difícil controle e apresentar riscos para a saúde pública (PYORALA, 2002).
Mastite é um processo inflamatório da glândula mamária, causada por microrganismo (bactérias, fungos, algas e vírus), traumas físicos e agentes químicos irritantes. Ocorre devido a penetração de micro-organismos patogênicos pelo canal do teto, e em seguida a instalação e multiplicação na glândula mamária (SANTOS E FONSECA, 2007). E a identificação do agente causador e de suma importância para o tratamento desta doença.
Na região do noroeste mineiro os desafios climáticos somados aos erros de manejo e uma debilidade no diagnóstico das afecções da glândula mamária, tem colaborado para ampliar a disseminação da mastite. Outro fator que é à realização de tratamentos sem a previa realização da identificação e isolamento do agente causador.
Desta forma objetivou-se no presente estudo identificar os principais patógenos causares da mastite bovina, em vacas diagnosticadas com mastite subclínica, em três propriedades leitaras situadas na região do Noroeste de Minas.
Revisão Bibliográfica
- Mastite clínica e subclínica
A mastite é a inflamação do úbere caracterizado por alterações patológicas no tecido glandular com perdas funcionais quantitativas e qualitativas do leite. As sintomatologias mais observadas comumente são: alteração de coloração, aparecimento de coágulos e presença de grande número de leucócitos (RADOSTITS, 2012).
Visto isso, a mastite se apresenta de duas formas, clínica e subclínica, a forma clínica pode ser diagnosticada pelos sinais clínicos e no teste da caneca de fundo preto, devido à presença de grande número de leucócitos (NETO E ZAPPA, 2011). Agora a mastite subclínica ocorre em números bem maiores do que a mastite clínica, pois apresenta os microrganismos patogênicos no interior da glândula e não produz grumos (MARTINS, 2012). Todos os rebanhos leiteiros há incidência de mastite subclínica, a prevalência varia de 5% -75%, sendo menor em fazendas que tem um controle sanitário mais eficiente, alguns animais podem ter uma infecção crônica, e os sinais clínicos de mastite podem manifestar ocasionalmente, mas este animal tende a apresentar sempre CCS alta (ERSKINE, 2014).
- Agentes causadores de mastite
As causas da mastite são muito variáveis, podendo ser de origem tóxica, traumática, alérgica, metabólica e infecciosa, sendo a última a principal delas, na qual se destacam as bactérias pela maior frequência de infecção, mas também pode ser ocasionada por fungos, algas e vírus (NETO; ZAPPA, 2011).
De acordo com o agente causador, a mastite bovina divide-se em contagiosa e ambiental (TELLES et al., 2006). A contagiosa é provocada por bactérias que sobrevivem na glândula mamária, sendo elas:
S. aureus, S. coagulase negativo, S. agalactiae, S. dysgalactiae e C. bovis e caracteriza-se pela baixa incidência de casos clínicos e alta incidência de casos subclínicos, apresentando alta contagem de células somáticas (CCS) (PINTO, 2009).
As mastites causadas por Staphylococcus (
S. epidermidis, S. simulans, S. chomogenes, S. xylosus e
S. haemolyticus) denominados de coagulase negativo, causam perda da função secretora da mama devido às fibroses interalveolares dos tecidos mamários, redução da quantidade do leite produzido e alteração na qualidade do leite (AIRES, 2010).
A transmissão ocorre comumente entre vacas durante a ordenha, pois, os agentes estão localizados nos quartos mamários infectados, assim o conhecimento sobre a sua distribuição pode ajudar na formulação de estratégias para o controle deste patógeno (OLIVEIRA et al., 2013).
Materiais e Métodos
Foram coletadas 392 amostras de leite das vacas positivas ao Califórnia Mastite Teste (CMT), em três propriedades leiteiras do Noroeste de Minas, no período de janeiro a abril de 2016.
Foi realizada a identificação dos fatores de risco de contaminação pela coleta do perfil tecnológico das propriedades, que correlaciona com o aumento dos casos de mastite subclínica, com isso foram selecionadas três propriedades que apresentam níveis tecnológicos distintos.
O teste de CMT foi realizado em um total de 392 vacas lactantes das três propriedades selecionadas, onde 158 foram positivas, sendo distribuídas nas propriedades A (68), B (30) e C (60), das quais foram coletadas amostras contendo 50ml de leite, no período de janeiro a abril de 2016.
As amostras foram coletadas durante a ordenha da tarde, quando as vacas foram submetidas ao procedimento padrão das propriedades de limpeza e desinfecção, e secagem com papel toalha, posteriormente foram coletadas as amostras de leite em potes plásticos esterilizados com tampas de roscas, para realização do cultivo microbiológico.
As amostras foram armazenadas em caixa isotérmica com gelo, sendo refrigeradas a 4º C antes do envio para o laboratório. Foram transportadas encaminhadas para o laboratório Vida Vet, localizado na cidade de Botucatu– SP, onde foi realizado o cultivo microbiológico. As colônias foram identificadas e submetidas a provas bioquímicas e de diferenciação bacteriana, e identificadas pelas características culturais, morfológicas, tintoriais e bioquímicas.
Resultados e Discussão
De acordo com a tabela 1, alguns dos resultados que foram positivos no CMT, apresentaram resultado negativo na cultura bacteriana (18,24%), esse fato pode ser em decorrência de células epiteliais no leite, provenientes da descamação da glândula de vacas mais velhas ou por estas estarem longos períodos em lactação (BOTARO; SANTOS, 2008).
Podemos observar também que os
Staphylococcus spp. e
Streptococcus spp. representaram juntos neste trabalho cerca de 70,58% dos casos, portanto foram os patógenos de maior importância, por serem altamente disseminados e bastantes comuns nos sistemas de produção de leite, causando percas diariamente para o produtor, em produção e qualidade do leite.
O
Staphylococcus aureus foi o agente de maior representatividade entre as três fazendas, estando presente em 32,94% das amostras. De acordo com Oliveira et al. (2013), esta bactéria é comumente encontrada nos tetos, cama, mãos dos ordenadores, equipamentos de ordenha e se desenvolvem na queratina do esfíncter dos tetos.
O
Streptococcus agalactiae foi o segundo agente infeccioso que apresentou maior incidência nas fazendas B (18,18%) e C (29,85%), entretanto, na fazenda A este agente representou apenas 5,97% dos casos, o que indica que a higienização pré ordenha da fazenda A e mais eficaz do que as demais, pois se trata de um patógeno também de ambiente, mas de colonização lenta, o que agrava a produção de CCS, porem, seu controle é possível, uma vez que é sensível a antimicrobianos mesmo durante a lactação (CASTRO, 2013).
A
Escherichia coli somente foi isolada em amostras de leite da fazenda A, onde as vacas ficam confinadas em sistema aberto, com presença de esterco e barro, justificando o contágio, uma vez que, é uma bactéria de origem ambiental, responsável por causar mamites clínicas, porém, a vaca que apresentou estava com mamite subclínica, o que destaca uma defesa ativa do organismo, Entretanto nas fases de transição, secagem e parto a doença pode se expressar de forma aguda, pela produção de toxinas o que pode levar o animal a óbito, (RIBEIRO et al. 2006).
Conclusões
Os resultados demonstraram uma alta ocorrência dos gêneros
Staphylococcus spp. e
Streptococcus spp. como agentes etiológicos de mastites subclínicas nos rebanhos estudados, destacando o
Staphylococcus aureus como o de maior ocorrência, mostrando a importância destes microrganismos nesta enfermidade.
Gráficos e Tabelas
Referências
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