ESTUDO ALOMÉTRICO DA DEPOSIÇÃO DE CÁLCIO NA GLÂNDULA MAMÁRIA E ÚTERO DE CORDEIRAS SANTA INÊS EM CRESCIMENTO

Gabriela Almeida Bastos1, Cimara Gonzaga Vitor2, Matheus Lima Corrêa Abreu3, Luiz Felipe Martins Neves4, Cecília Melo Vasconcelos5, Ana Flávia Faria Resende6, Júlio César Braga Ribeiro7, Iran Borges8
1 - Universidade Federal de Minas Gerais
2 - Universidade Federal de Minas Gerais
3 - Universidade Federal de Minas Gerais
4 - Universidade Federal de Minas Gerais
5 - Universidade Federal de Minas Gerais
6 - Universidade Federal de Minas Gerais
7 - Universidade Federal de Minas Gerais
8 - Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO -

Objetivou-se com este trabalho avaliar, a partir de estudos alométrico, a composição corporal e a retenção do cálcio na glândula mamária e útero de cordeiras Santa Inês em crescimento. Foram utilizados 50 animais, distribuídos em delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 3 x 2, três pesos de abate e dois manejos nutricionais. Após o abate dos animais, amostras das glândulas mamárias e úteros foram separadas, pesadas e quantificadas quanto ao teor de cálcio. Utilizou-se o modelo alométrico para o escalonamento da massa do cálcio nos compartimentos e foram estabelecidas a relação entre a massa do mineral e massa corporal. Os valores obtidos mostraram que não houveram efeito dos regimes alimentares impostos sobre a concentração do cálcio na glândula mamaria e útero e está deposição foi caracterizada como tardia e precoce respectivamente. Cordeiras Santa Inês em crescimento apresentam deposição tardia de cálcio na glândula mamária e precoce no útero.

Palavras-chave: crescimento alométrico, macromineral, ovinocultura, Santa Inês

ALOMETRIC STUDY OF CALCIUM DEPOSITION IN THE MAMMARY GLAND AND UTERUS LAMBS OF SANTA INÊS IN GROWTH

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate, from studies allometric, body composition and the retention of calcium in mammary gland and uterus of ewe lambs Santa Inês in growth. Fifty animals were distributed in a completely randomized experimental design in factorial 3 x 2, three slaughter weights and two distinct nutritional factors. After the slaughter of animals, samples of the mammary glands and uterus were separated, weighed and quantified with the contents of calcium. The allometric model was used to scale the calcium mass in the compartments and the relationship between mineral mass and body mass was established.The values obtained showed that there was no effect of the dietary regimes imposed on the concentration of calcium in the mammary gland and uterus and this deposition was characterized as late and early, respectively. Lambs Santa Inês in growth feature late deposition of calcium in the mammary gland and in the uterus.
Keywords: Allometric growth, macromineral, sheep production, Santa Inês.


Introdução

Entre as raças nativas a Santa Inês destaca-se no cenário nacional pela sua rusticidade e, portanto, tem sido muito utilizado em cruzamentos com raças alóctones para produção de carne a pasto. No entanto, em relação a essa raça, há carências de informações sobre retenção corporal de componentes químicos, como os minerais, para diferentes categorias animais. Essa informação é importante para determinação das exigências. O cálcio é mineral mais abundante no corpo, principalmente, devido sua presença no esqueleto. Fatores como a idade, raça, manejo alimentar, condições climáticas, situação fisiológica e sistema de produção adotado interferem na composição corporal do cálcio. Ademais, o estudo do comportamento da retenção de cálcio nos diferentes componentes corporais (glândula mamária e útero) auxilia para compreensão da deposição desse mineral ao longo da idade do animal, concomitantemente, colabora na determinação da sua exigência pelos animais. Portando objetivou-se com esse trabalho avaliar, a partir de estudo alométrico, a composição corporal e a retenção do cálcio na glândula mamária e útero de cordeiras Santa Inês em crescimento.

Revisão Bibliográfica

Os minerais estão envolvidos em quase todas as vias metabólicas do organismo animal, com funções importantes na reprodução, no crescimento, no metabolismo energético entre outras tantas funções fisiológicas vitais. A variação das quantidades requeridas para minerais pode ser afetada tanto pelos aspectos dietéticos como por fatores intrínsecos ao animal (Baião, et al., 2003; Guedes, 2012) O cálcio é o elemento mais abundante no corpo dos animais. Dentre as funções destacam-se atuação como mensageiro intracelular para transmissão de impulsos nervosos, contração muscular, constrição e relaxamento dos vasos sanguíneos entre outros (Silva, 2012). Conforme Guedes, (2012) consumos abaixo do nível recomendado de cálcio pode causar nos animais enfraquecimento dos ossos, crescimento retardado, baixa produção de leite, além de poder ocasionar hipocalcemia puerperal em fêmeas no pré-parto e raquitismo em animais jovens. As deficiências de cálcio podem ser prevenidas diretamente através da suplementação da dieta com suplementos minerais (Guedes, 2012). No Brasil o balanceamento das dietas é feito em base nas recomendações preconizadas pelos comitês internacionais, os quais são obtidos com ovinos lanados em ambientes temperados e, muitas vezes, extrapolados de dados obtidos com outras espécies animais. A adoção destes dados na formulação de rações para ovinos deslanados pode não proporcionar os resultados esperados, pela falta ou pelo desperdício de nutrientes, o que afeta a produtividade e/ou o custo de produção. Diante desse relato, torna-se necessário estabelecer os padrões alimentares de ovinos deslanados nas condições brasileiras, para obtenção de um sistema nutricional mais eficiente e econômico (Guedes, 2012). Dentre as raças ovinas, no Brasil destaca-se a Santa Inês, originária do cruzamento de ovelhas Morada Nova com carneiros Bergamácia, foi selecionada no Nordeste e começou a ser criada por todo o país com grande aceitação (Guedes, 2012; Silva, 2012). No entanto, há pouca informação relacionada às exigências nutricionais dos minerais, em especial durante o crescimento.

Materiais e Métodos

Foram utilizadas 50 fêmeas distribuídas conforme o peso de abate (20,30 ou 40 kg) e regime alimentar (ad libtium ou restrito). As cordeiras restantes foram divididas em três grupos e para cada faixa de peso foi abatido um grupo de animais compondo o grupo referência. As dietas foram formuladas baseada em estimativa de ganho de 300g/dia. O suplemento mineral e água foram oferecidos à vontade. Manteve-se a relação de concentrado:volumoso de 55:45. O fornecimento da ração foi feito duas vezes ao dia, de maneira que a quantidade fornecida aos animais em restrição foi ajustada de acordo com o consumo do grupo ad libitum. O abate foi realizado quando o animal alimentado em regime ad libitum alcançaria sua meta de peso, simultaneamente, procedia-se o abatede um animal do grupo restrito. A glândula mamária e útero foram retirados. A solução mineral foi preparada por via úmida segundo método 935.13 (AOAC, 2000). O mineral foi determinado por espectrofotometria de absorção atômica. O modelo alométrico (Huxley e Teissier, 1936) foi adotado para o escalonamento da massa (g) de cálcio nos compartimentos em relação à massa corporal (MC), como demonstrado na equação 1 ( μYt =αXβ). Onde  é a média esperada para a variável, , é estimada como massas dos macrominerais nos compartimentos. A variável  é a MC. O parâmetro  é o intercepto no eixo y e  é o coeficiente alométrico. A variância  foi modelada com as funções 2 e 3, respectivamente:   σ2Yt20exp(δXt) e  σ2Yt20Yt|, em que o parâmetro  é a variância do erro aleatório. A função 2 assume um aumento exponencial da variância  em função de  a uma taxa crescente (δ); a função 3 é a variância escalonada. Os parâmetros δ e ψ são adimensionais. Foram ajustados modelos aos dados com as combinações entre o modelo alométrico (μYt) e as funções de variância. Para tanto, utilizou-se para as análises o PROC NLMIXED (SAS, versão 9), bem como o critério de informação de Akaike corrigido (AICc) para seleção do modelo.

Resultados e Discussão

Na seleção do melhor modelo, a combinação das Eqs (1) - (2) foi a melhor escolha para a massa de cálcio na glândula mamária. Para a massa de cálcio no útero, a melhor escolha foi a combinação das Eqs (1) - (3), conforme descrito na Tabela 1. Não foi observado efeito (p>0,05) dos regimes alimentares sobre o comportamento alométrico da massa do cálcio na glândula mamária, e a deposição foi considerada tardia, ou seja, β>1 (Tabela 1) (Figura 1). É sabido que o desenvolvimento da glândula mamária ocorre durante toda a vida do animal, contudo, é na puberdade e posterior gestação que esse componente estará em maior atividade, ou seja, após o animal ter atingido a sua massa corporal máxima. Com isso, há maior retenção de cálcio, que por sua vez é altamente requerido para a proliferação dos ductos secretores, das células de contração e para a futura produção de leite da ovelha. Isso pode explicar em parte o comportamento tardio para a massa de cálcio nesse local. Outra possível explicação é que durante o processo de desenvolvimento da glândula mamária há aumento de tecido conjuntivo e de deposição de gordura (Akers, 2002), o que foi constatado por Silva (2014). A massa de cálcio no útero apresentou comportamento alométrico negativo, ou seja, β<1(Tabela 1). Isto demonstra que a deposição foi precoce em relação à massa corporal do animal e atingiu seu ponto máximo antes que o animal atingisse sua massa corporal máxima (Figura 1).Esse resultado está de acordo com aqueles obtidos por Berg e Butterfield (1976), que indicam que o animal atinge a maturidade fisiológica antes de alcançar o máximo desenvolvimento da massa corporal, ou seja, o desenvolvimento dos órgãos é mais acelerado em relação ao todo, i.e., a massa corporal. O modelo ajustado para o comportamento alométrico da massa de cálcio do útero apesar dos melhores modelos ajustados terem incluído os coeficientes alométricosβ1 eβ2 (o que indica que houve separação das variáveis obtidas quanto aos regimes alimentares), não foi observado efeito da alimentação adlibitum e restrita. Isso pode ser confirmado pelos resultados observados por Silva (2014), que avaliou a composição química corporal das mesmas cordeiras aqui utilizadas, e concluiu que a restrição nutricional imposta aos animais não foi suficiente para promover alteração na composição química (água, gordura, proteína, minerais e energia) do útero. Esta resposta demonstra que a restrição nutricional imposta não foi severa o bastante para alterar a composição química depositada nesses componentes corporais.

Conclusões

O modelo alométrico explica de forma satisfatória o comportamento do cálcio em relação a glândula mamáriae útero de cordeiras da raça Santa Inês. Ambos regimes alimentares não influenciam na deposição de cálcio, sendo está deposição tardia para a glândula mamária e precoce para o útero em relação a massa corporal.  

Gráficos e Tabelas




Referências

AKERS, R. M. Lactation and the mammary gland. 1st ed ed. Ames, Iowa: Iowa State University Press, 2002. AOAC (ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY), 2000. Official Methods of Analysis, 17th ed, Washington, D.C. USA. BAIÃO, E. A. M.; PEREZ, J. R. O.; BAIÃO, A. A. F.; GERASEEV, L. C.; OLIVEIRA, A. N.; TEIXEIRA, J. C. Composição corporal e exigências nutricionais de cálcio e fósforo para ganho em peso de cordeiros. Ciência e Agrotecnologia, v. 27, n. 6, p. 1370-1379, 2003. BERG, R.T.; BUTTERFIELD, R.M. New concepts of cattle growth. Sidney: Sidney University, 1976. 240p. GUEDES, L.F. Composição corporal de minerais em ovelhas gestantes da raça Santa Inês. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 105p., 2012. HUXLEY, J.S.; TEISSIER, G. 1936. Terminology of relative growth. Nature, v.137, p. 780-781. SILVA, V.L. Composição corporal de minerais em borregas da raça Santa Inês durante a gestação. Dissertação (Mestrdo em Zootecnia) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 126p., 2012. SILVA, V.L. Composição corporal e exigências nutricionais de energia de cordeiras Santa Inês durante o crescimento: uso das técnicas do abate comparativo e respirometria. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 204p., 2014.