GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CAPIM ANDROPOGON EM FUNÇÃO DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO

GENILDO FONSECA PEREIRA1, ANA CAROLINE CARVALHO MELO2, FLAVIANA LUZIA DA SILVA3, JOÃO VIRGÍNIO EMERENCIANO NETO4, ÂNGELA PATRÍCIA ALVES COELHO GRACINDO5, PRISCILA MARIA DE AQUINO PESSOA6
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RESUMO -

Um dos problemas para o cultivo de forrageiras é a falta de informação dos potenciais de germinação destas sementes. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a germinação das sementes do capim-andropogon em função do tempo de armazenamento. O experimento foi realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Apodi, onde foram avaliadas a porcentagem de germinação, o índice de velocidade de germinação e o tempo médio de germinação. O melhor tempo de armazenamento ocorreu ao décimo terceiro mês, com 36,1% de sementes germinadas. Foi observado efeito linear positivo do tempo de armazenamento sobre o índice de velocidade de germinação, com aumento de 754% do terceiro para o décimo terceiro mês de armazenamento. Para o tempo médio de germinação foi observado efeito quadrático, com ponto de mínimo no décimo terceiro mês de armazenamento. Estes resultados indicando um armazenamento de treze meses para o capim-andropogon, como sendo o mais adequado.

Palavras-chave: Andropogon gayanus Kunth, dormência, forrageira, semiárido

GERMINATION OF CAPIM ANDROPOGON SEEDS IN THE TIME OF STORAGE

ABSTRACT - One of the problems for forage cultivation is the lack of information on the germination potentials of these seeds. The objective of this research was to evaluate the germination of the andropogon grass seeds as a function of storage time. The experiment was carried out at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Rio Grande do Norte, Apodi Campus, where the percentage of germination, germination speed index and average germination time were evaluated. The best storage time occurred at the thirteenth month, with 36.1% of germinated seeds. Positive linear effect of storage time on the germination speed index was observed, with a 754% increase from the third to the thirteenth month of storage. For the average germination time, a quadratic effect was observed, with a minimum point in the thirteenth month of storage. These results indicate a storage of thirteen months for the andropogon grass, as being the most appropriate.
Keywords: Andropogon gayanus Kunth, dormancy, forage, semiarid


Introdução

Um dos fatores negativos para o desenvolvimento da pecuária no semiárido é a presença de dormência em algumas das sementes de gramíneas consideradas adaptadas as condições edafoclimáticas da região. A dormência, que embora considerada um mecanismo de sobrevivência, dificulta a emergência das plântulas, limitando o seu desempenho genético e fisiológico, esta pode dificultar a expressão do potencial produtivo e a emergência das plântulas no estabelecimento de pastagens (FEITOSA et al., 2015). Dentre os diferentes sistemas de produção de ruminantes que o país possui, existe uma característica comum presente em todos estes: a utilização de forragem como principal fonte de alimento para os animais (RESENDE, 2011). O capim andropogon é uma gramínea forrageira de origem africana de ciclo perene, que apresenta touceira ereta, sistema radicular profundo e bem desenvolvido, caules com até 2,5 metros de altura, lâminas foliares pilosas e acuminadas e com fotoperíodo crítico para floração entre 12 e 14 horas (ANDRADE et al., 1984). Portanto, esta pesquisa teve como principal objetivo, avaliar a germinação das sementes de capim-andropogon, com diferentes tempos de armazenamento.

Revisão Bibliográfica

Germinação pode ser denominada como o ato de sair do repouso e entrar em atividade metabólica, ou, é o rompimento do tegumento pela radícula, e a retomada do crescimento do embrião, sendo influenciada por fatores ambientais, e intrínsecos da semente (NASSIF et al., 1998). Podem-se dividir os fatores que afetam a germinação em dois grandes grupos, os fatores abióticos (ambientais) e bióticos. A dormência será o fator biótico abordado com maior foco. Dentre os fatores abióticos, a luz e a temperatura, controlam o ciclo de dormência de sementes no solo (BASKIN & BASKIN,1998). A dormência é o fenômeno em que as sementes de determinada espécie, mesmo sendo viáveis e possuindo todas as condições ambientais para iniciar o processo germinativo, não germinam (AZANIA et.al., 2009). Pode ser classificada em endógena, ou exógena, sendo que o primeiro abarca a fisiológica, a morfológica, e a morfofisiológica, ou seja, as que possuem um bloqueio embrionário, e a segunda são divididas em física e química (PRUDENTE,  2008). Na dormência fisiológica operam diferentes mecanismos associados tanto ao embrião como também aos tecidos e estruturas adjacentes, tais como o tegumento e o endosperma. (CARDOSO, 2009). Segundo Vivian et al. (2008), a dormência do capim-andropogon é fisiológica, o desempenho germinativo das sementes pode ser melhorado utilizando giberelinas na concentração de 225 mg L-1, obtendo valores de 26% de germinação (FEITOSA et al., 2015). O capim-andropogon foi introduzido no Brasil no inicio dos anos de 1980, pela Embrapa Cerrados, em parceria com o CIAT, Colômbia (ARONOVICH, 1985). Esta espécie apresenta resistência à seca e adapta-se bem às áreas com pluviosidade de 400 a 1.500 mm anuais, crescendo melhor em áreas com períodos de 3 a 5 meses sem chuvas (NASCIMENTO; 2001). É cultivado em altitudes que variam desde o nível do mar até 1.400 m. Adaptado a solos ácidos e pouco férteis, desenvolvem – se melhor em solos drenados e profundos. Não resistindo a umidade em excesso por muito tempo (HERNANDEZ et al., 1992). O capim-andropogon tolera nove meses de seca, se tornando uma opção segura para regiões onde a estiagem é superior a 120 dias (BOGDAN, 1977).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - Campus Apodi, localizado no município de Apodi, com coordenada geográfica de: Latitude 5°39’51”sul e longitude: 37°47’56” oeste e altitude de 136m. Os tratamentos avaliados foram os tempos de três a treze messes de armazenamento de sementes do capim-andropogon. Durante esse período foram realizados 11 ciclos de 21 dias de análises. As espiguetas contendo as sementes foram colhidas em 30 de junho de 2015, diretamente das inflorescências, após os cachos, visualmente se apresentarem maduros, armazenadas em sacos de papel, procedendo-se as análises até o mês de setembro de 2016. As sementes foram semeadas sobre duas camadas de papel filtro, umedecidas com água destilada, no volume de 2,5 vezes o peso do papel, aplicada diariamente, em placas de petri e mantidas sobre bancadas de granito, com temperatura e umidade ambiente. Foram utilizadas 50 sementes com três repetições, totalizando 150 sementes. As variáveis avaliadas foram: percentual de germinação (G), essa avaliação foi realizada através da contagem diária da emissão de plântulas e radículas em um período de 21 dias, em cada ciclo, durante os quatorze meses de armazenamento das sementes, e o índice de velocidade de germinação (IVG), que foi calculado a partir da soma do número de sementes germinadas a cada dia, dividido pelo respectivo número de dias transcorridos a partir da semeadura, correspondendo ao número de sementes germinadas ao longo do tempo, sendo expresso em semente/dia (MAGUIRE, 1962). Desta forma foi considerada como germinada as sementes que apresentaram emissão de plântula e radícula. O tempo médio de germinação (TMG) foi de acordo com metodologia descrita por Labouriau (1983). O delineamento foi inteiramente ao acaso. Os dados foram submetidos análise de variância e o efeito do tempo de armazenamento verificado pela análise de regressão a 5% (P<0,05).

Resultados e Discussão

Todos os resultados avaliados foram significativos (P<0,05), conforme apresentados na Tabela 1. Observou-se efeito linear positivo (P<0,05) do tempo de armazenamento da semente, sobre o percentual de germinação (%G) e sobre o índice de velocidade de germinação (IVG). O percentual de germinação aumentou à medida que as sementes ficaram mais tempo armazenadas, mostrando que a dormência fisiológica do seu embrião é capaz de ser superada pelo tempo de armazenamento. O máximo percentual de germinação foi de 36,13%, obtido aos 13 meses de armazenamento. Esse resultado permite afirmar que as sementes de capim-andropogon podem ser armazenadas até 13 meses, sem comprometimento do seu potencial de germinação. A germinação mais lenta no início, pode ter sido influenciada pela colheita das sementes diretamente do cacho (inflorescência), neste caso, com o embrião ainda em formação, não estando todas as espiguetas maduras fisiologicamente. Os índices de germinação das sementes de andropogon somente atingiram os valores permitidos para a comercialização pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA/Brasil no décimo mês de armazenamento, tendo em vista que o MAPA exige germinação mínima de 25% para a semente de capim-andropogon (BRASIL, 2013). Feitosa et al., (2015), trabalhando com diferentes concentrações de giberelinas e citocininas nas sementes do capim-andropogon encontraram valores que variaram de 14 a 26% de germinação. O efeito do armazenamento foi verificado, com sementes de Aristida torta, Diectiomis fastigiata, Paspalum stellatum e Schizachyrium  microstachyum, por um período de 17 meses, indicando um aumento na germinação,  superando a dormência das mesmas (CARMONA, 1998). Figueiredo et al. (2012) testaram a germinação de sementes de andropogon, submetidas a tratamentos químicos e físicos, mais o melhor resultado foi de 28%. Para o IVG, também foi observado efeito linear positivo (P<0,05) para o tempo de armazenamento. A velocidade de germinação aumentou em 754% do terceiro para o décimo terceiro mês de armazenamento. O IVG é importante por medir a velocidade em que a semente responde ao estímulo, principalmente da água, quanto mais rápida essa semente emergir, menos susceptíveis estarão as intemperes do tempo, mais sucesso terá de prevalecer na pastagem. Para o TMG foi observado efeito quadrático, com ponto de mínimo no décimo terceiro mês de armazenamento, esse tempo foi estimado em 1,38 dias para germinação de uma semente. O maior tempo médio de germinação no início das avaliações indica redução das atividades enzimáticas no metabolismo das sementes, retardando a germinação, e o menor tempo médio de germinação, indica maior velocidade de absorção de água e das reações químicas que determinam todo o processo de germinação (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000).

Conclusões

Para espiguetas colhidas do cacho da planta de capim-andropogon, são necessários no mínimo 10 meses de armazenamento para se obter sementes viáveis para comercialização, sendo 13 meses o tempo de armazenamento mais adequado para a quebra da dormência das sementes do capim-andropogon.

Gráficos e Tabelas




Referências

ANDRADE, R.P.; THOMAS, D.; ROCHA, C.M.C. et al. Formação e manejo de pastagens de capim andropogon. 3. ed. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1984. 5p. (EMBRAPA-CPAC.Comunicado Técnico, 34). ARONOVICH, S.; ROCHA, G. L. da. Gramíneas e leguminosas forrageiras de importância no Brasil Central pecuário. Informe Agropecuário, v.11, n.132, p.3-13, 1985 AZANIA, A. A. P. M. et al. Métodos de superação de dormência em sementes de Ipomoea e Merremia. Planta Daninha, v. 21, n. 2, p. 203-209, 2003. BASKIN, C.C. & BASKIN, J.M. 1998. Seeds: ecology, biogeography and evolution of dormancy and germination. Academic Press, San Diego. 666p. BOGDAN, A.V. Tropical pasture and fodder plants. New York, Longman, 1977. 475p. BRASIL - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 16, de 25 de janeiro de 2013, DOU de 28/01/2013, n 19, Seção 1, p 2. 2013 CARDOSO, V.J.M. Conceito e Classificação da Dormência em Sementes. Oecologia Brasiliensis 13(4): 619-631, 2009 CARMONA, R.; MARTINS, C.R.; FÁVERO, A.P. Fatores que afetam a germinação de sementes de gramíneas nativas do cerrado. Revista Brasileira de Sementes, vol. 20, no 1, p.16-22, 1998. FEITOSA, F.M. et al. Efeito dos reguladores giberelina e citocinina na quebra de dormência de sementes de capim-andropogon. Revista de Ciências Agrárias, 38(1): 34-40, 2015. FIGUEIREDO, M.A. et al. Germination of native grasses with potential application in the recovery of degraded areas in Quadrilátero Ferrífero, Brazil. Biota Neotropica, vol. 12, n. 12, 2012. HERNANDEZ, M.; MESA, A. R.; REYES, F.; CÁRDENAS, M. Efecto de la fertilización em le estabelecimento de A. gayanus cv. CIAT-621. I. Suelo Oscuro plático Gleyzado. Pastos y Forrajes, v.14, n. 1, p 41-46, 1992. LABOURIAU, L.G. A germinação das sementes. Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. Washington, D.C. 1983. NASCIMENTO, M. P. S. C. B. & RENVOIZE, S. A. Gramíneas forrageiras naturais e cultivadas na região meio-norte. Embrapa Meio-Norte, Teresina, 196p. 2001. NASSIF, S.M.L.; VIEIRA, I.G.; FERNADES, G.D. Fatores externos (ambientais) que influenciam na germinação de sementes. Piracicaba: IPEF/LCF/ESALQ/USP, Informativo Sementes IPEF, 1998. PRUDENTE, D.de O. Produção de sementes e mudas florestais 1° ed. lavras. Ed UFLA; 2008, 175 p. RESENDE, A. J. Jr. Morfogênese, acumulo de forragem e teores de nutrientes de Panicum maximum cv. tanzânia submetido a diferentes severidades de desfolhação e fertilidade contrastantes. Piracicaba, USP, 2011. p. 16-104. VIVIAN, R.; SILVA, A.A.; Gimenes, Jr., et al. (2008) Dormência em sementes de plantas daninhas como mecanismo de sobrevivência –Breve revisão. Planta Daninha, vol. 26, n. 3, p. 695-706.