Bovinos vivos: uma commodity de destaque na pecuária paraense

Tonilson Cardoso Alves1, Luane Layse dos Santos Lopes2, Gleyce Lopes da Costa3, Ícaro Rainyer Rodrigues de Castro4, Wânia Mendonça dos Santos5, Leonam Nascimento Silva6, Bruno Moura Monteiro7, Rinaldo Batista Viana8
1 - Universidade Federal Rural da Amazônia
2 - Universidade Federal Rural da Amazônia
3 - Universidade Federal Rural da Amazônia
4 - Universidade Federal Rural da Amazônia
5 - Universidade Federal Rural da Amazônia
6 - Universidade Federal Rural da Amazônia
7 - Universidade de São Paulo
8 - Universidade Federal Rural da Amazônia

RESUMO -

O estado do Pará, possui o 3º maior rebanho bovino do Brasil e já foi responsável por 98% da exportação de animais vivos. Com base em um banco de dados extraído da plataforma AliceWeb, foi realizado um estudo retrospectivo descritivo com o objetivo de coligir informações acerca do quantitativo de bovinos vivos exportados a partir do Porto de Vila do Conde, Barcarena, estado do Pará, entre 2012 e 2016. Observou-se uma flutuação no quantitativo de animais exportados, com crescimento considerável de 432.471 animais em 2012 para 508.307 animais exportados vivos em 2013. Todavia, observou-se um decréscimo expressivo entre os anos de 2015 e 2016, ocasionado pela crise no maior consumidor, bem como por problemas de ordem infraestrutural no porto de Vila do Conde. Embora já exista um mercado bem estabelecido para essa commodity, o estado do Pará ainda precisa solucionar problemas de ordem sanitária, logística e infraestrutural, que são essenciais para comercialização, segurança e bem-estar dos animais.

Palavras-chave: rebanho bovino, animais vivos, exportação

Live cattle: a leading commodity in the livestock of Pará

ABSTRACT - The State of Pará, which has the 3rd largest herd in Brazil, was responsible for 98% of the export of live animals. Based on a database extracted from the AliceWeb platform, a retrospective descriptive study was carried out to analyze information on the quantity of live cattle exported from the Port of Vila do Conde, Barcarena, State of Pará, between 2012-2016. During this five-year period there was a fluctuation in the number of exported animals, with a considerable increase from 432,471 animals in 2012 to 508,307 live animals exported in 2013, but a significant decrease between 2015 and 2016. Although there is already a well-established market for this commodity, the State of Pará still needs to solve some health, logistics and infrastructural problems that are essential for the commercialization, safety and welfare of animals.
Keywords: herd of cattle; live animals; export


Introdução

Na Região Norte, especificamente no Porto Vila do Conde, Barcarena, estado do Pará, o número de bovinos vivos exportados chama a atenção e realça a importância socioeconômica dessa commodity. O Pará se destaca como o principal exportador de bovinos vivos do Brasil; commodity que ganhou destaque nos últimos anos e conquistou mercados importantes como o Oriente Médio e a América Latina. Até o momento a influência da exportação de bovinos vivos tem sido bastante regional, com a maioria dos embarques acontecendo ainda no estado do Pará, devido a preparação dos portos em infraestrutura adequada para esse tipo de manejo e exportação. Porém novos mercados nacionais como São Paulo e Rio Grande do Sul também já despontam nesse cenário. Todavia, o porto de Vila de Conde ainda é mais próximo dos mercados consumidores, sobretudo a Venezuela, principal importador de bovinos do Brasil. Esse é apenas um pequeno nicho de mercado e oportunidade para a pecuária, o que em curto e médio prazo não afetará negativamente os demais seguimentos da cadeia produtiva do boi gordo, já que o mercado interno é um grande consumidor de carne in natura. Deste modo, objetivou-se com o presente trabalho coligir informações acerca do quantitativo de bovinos vivos exportados a partir do Porto de Vila do Conde na cidade de Barcarena, Estado do Pará, no período compreendido entre 2012 e 2016 também bem como, elencar quais os principais mercados importadores.  

Revisão Bibliográfica

A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial e o Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. O custo de produção do bovino brasileiro se situa dentre os mais baixos do mundo, o que traz uma grande vantagem competitiva. Maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil, nos últimos sete anos, passou a ocupar também um lugar de destaque como exportador de bovinos vivos para abater. As exportações de gado em pé (como são normalmente chamadas), notadamente a partir do Pará, têm importantes reflexos positivos na economia regional. Uma evidência clara desses benefícios é a valorização relativa do gado bovino paraense, o que gera mais renda para os produtores locais e efeitos multiplicadores sobre os investimentos na bovinocultura de corte. Os preços do gado gordo destinado ao abate no Pará, que, antes das exportações de gado em pé se consolidarem chegavam a ser até 25% menores que os pagos em São Paulo, depois das exportações tiveram a diferença reduzida para 15%, em média. Trata-se de uma diferença que representa renda extra extremamente significativa para os produtores locais. É evidente que a concorrência pelo gado para abater com os exportadores de gado em pé não interessa à indústria frigorífica, que se vê obrigada a pagar mais por sua matéria-prima básica (Jornal Folha de São Paulo, 2010). A exportação de bovinos é uma importante via de escoamento da produção pecuária. O volume embarcado pelo Pará em 2013 equivale a demanda de duas plantas frigoríficas com capacidade estática de abate de 980 cabeças por dia. Os grandes grupos frigoríficos têm aumentado suas capacidades de processamento ao longo dos anos através de ampliações e aquisições, diminuindo o número de compradores em diversas regiões, inclusive no Pará (ABIEC, 2014). O Pará é o maior exportador brasileiro de gado em pé. Em 2013, das 519,5 mil cabeças que o país exportou, 97.8% teve como origem o estado. Em 2014, segundo os números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a participação está praticamente a mesma, sendo que 97,2% das 310.5 mil cabeças comercializadas pelo país, saiu do Pará (ABIEC, 2014). Apesar dessa representatividade, o volume embarcado corresponde a apenas 2,7% do rebanho do estado, participação menor que a observada no Canadá, México e Austrália, os três maiores exportadores de bovinos vivos do mundo (ABIEC, 2014).  

Materiais e Métodos

Optou-se por um estudo retrospectivo descritivo cujos dados foram extraídos da plataforma AliceWeb. Foram considerados os dados de exportações de bovinos vivos a partir do porto de Vila do Conde situado no município de Barcarena, estado do Pará, no período compreendido entre 2012 a 2016.



Resultados e Discussão

Observou-se ao longo desse quinquênio uma flutuação no quantitativo de animais exportados com um decréscimo expressivo nos anos de 2015 e 2016 (Figura 1). Houve um crescimento considerável de 2012 para 2013, passando de 432.471 para um quantitativo de 508.307 animais exportados, respectivamente. Esse crescimento das exportações no Pará no ano de 2013 representaram cerca de 98% do comércio exterior de bovinos no país. Esse incremento se deu devido a melhoria no status sanitário do rebanho de bovinos do estado do Pará, que passou, entre outros fatores, ser considerado livre de febre aftosa com vacinação em quase todo seu território. Além disso, a instalação de grandes empresas exportadoras no território paraense trouxe know how para o fortalecimento da atividade. Já nos anos seguintes houve um decréscimo na exportação. Tal queda deve-se em parte à problemas geopolíticos e econômicos de determinados países importadores, como é o caso do Egito e da Venezuela. Mas também refletem os efeitos da crise gerada pelo funcionamento parcial do Porto da Vila do Conde, em Barcarena após o naufrágio do navio Haidar, que veio a pique com cinco mil bois vivos em outubro de 2015. De acordo com a Companhia Docas do Pará (CDP), órgão que controla os portos do estado, a movimentação mensal do porto de Barcarena caiu 70% desde o naufrágio. O problema comprometeu a circulação de navios de grande porte que não tiveram mais espaço disponível para atracar. Sem vagas, algumas embarcações foram obrigadas a esperar até três dias para acessar o cais do porto. Deste modo, a crise econômica na Venezuela, o maior destino das exportações brasileiras de bovinos vivos, e o naufrágio no Porto de Vila do Conde, afetou o comércio exterior dessa commodity a partir de outubro de 2015. Devido a diminuição das exportações, houve uma queda de 70% na exportação de bovinos vivos no ano de 2016, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA). Entre os países importadores vale destacar Egito, Iraque, Jordânia, Líbano, Turquia e Venezuela (Tabela 1). Ressalta-se que cada país possui exigências sanitárias e comercias próprias, previstas no certificado zoosanitário internacional (CZI) assinado por todos os países citados. Deste modo, para atender as especificidades de cada mercado, o Brasil deve buscar um rigoroso controle sanitário dos animais nas fazendas, nos estabelecimentos de pré-embarque (EPEs) e durante as etapas de transporte dos animais.

Conclusões

Embora já exista um mercado bem estabelecido para a exportação de bovinos, ainda existe potencial para o crescimento dessa commodity no estado do Pará. Para isso, problemas sanitários precisam ser mais bem equacionados para atender à demanda dos mercadores consumidores internacionais. Assim como, adequada logística e infraestrutura, essenciais para comercialização, segurança e bem-estar dos animais.    

Gráficos e Tabelas




Referências

ABIEC. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne. Perfil da carne bovina brasileira. Disponível em: . Acesso em: 10 dezembro. 2016. ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA (ANUALPEC; 2006). São Paulo: Instituto FNP, 2006. ARIMA, E.; BARRETO, P.; BRITO M. Pecuária na Amazônia: tendências e implicações para a conservação ambiental. Belém: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, 2005. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Relação de frigoríficos bovinos do Brasil. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br.br > Acesso em: 25 nov. 2016. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Sistema Aliceweb. Disponível em: < http://www.desenvolvimento.gov.br > Acesso em: 20 nov. 2016. FERRAZ, Vicente José. Jornal Folha de São Paulo. Disponível em: http:// http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2110201031.htm. Acesso em 27 jan. 2017.