Desenvolvimento e produtividade de rebanhos de vacas de cria de diferentes tamanhos corporais

Viviane Garcia Dias da Conceição1, Gustavo Duarte Farias2, João Restle3, Liliane Cerdótes4, Marcia Bitencourt Vaz5, Ricardo Zambarda Vaz6
1 - Universidade Federal de Pelotas
2 - Universidade Federal de Pelotas
3 - Universidade Federal de Goiás
4 - Instituto Federal Sul-rio-grandense campus Bagé
5 - Universidade Federal de Pelotas
6 - Universidade Federal de Pelotas

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a produção, desempenho reprodutivo e eficiência produtiva de vacas e seus bezerros com predominância Charolês de acordo com o seu tamanho corporal ao parto. Foram utilizados 63 pares vaca:bezerro divididos nos Grupos Leves (331,4 kg), Moderadas (385,9 kg) e Pesadas (424,3 kg). Foram avaliados dos pares os pesos corporais ao parto e aos 210 dias. As taxas de prenhez foram similares (P>0,05) entre os grupos de peso. Os bezerros não diferiram (P>0,05) em peso e variação de peso corporal do nascimento aos 210 dias. O índice de produção de bezerro (kg de bezerro/vaca mantida) não diferiu. O tamanho da vaca Charolês não influencia o peso dos bezerros desde o seu nascimento até os sete meses, nem o desempenho reprodutivo. Porém, as Vacas Leves foram mais eficientes ao parto e aos 210 dias, produzindo a mesma quantidade de quilogramas de bezerros quando comparadas as vacas Moderadas e Pesadas, consumindo menos alimento.

Palavras-chave: eficiência produtiva, frame, lactação, produção de bezerro

Development and productivity of herds of cows of different body sizes

ABSTRACT - This study aimed to production, reproductive performance and productive efficiency of predominantly Charolais cows and their calves according to their body size at calving. Sixty-three cow:calf pairs were used and classified into the groups Light (331.4 kg), Moderate (385.9 kg) and Heavy (424.3 kg). For each pair, the body weight was evaluated at calving, at 210 days. Pregnancy rates were similar (P>0.05) between weight groups. The calves did not differ (P>0.05) in weight and body weight gain from calving until 210 days. The calf production rate (kg calf/cow kept in herds) did not differ. The size of the Charolais cow does not influence the weight of calves from calving until seven months of age, nor their reproductive performance. However, Light cows were more efficient at calving and at 210 days, producing the same amount of calves when compared to moderate and heavy cows, consuming less food.
Keywords: calf production, frame, lactation, productive efficiency


Introdução

A determinação da eficiência individual das vacas à desmama, avaliado pela relação percentual entre o peso do bezerro e da vaca, é uma ferramenta importante, uma vez que reflete as vantagens de um determinado tipo animal em ambiente específico (MENDONÇA et al., 2003). Na fase da cria, a eficiência está relacionada à capacidade da vaca em produzir um bezerro/ano e sua habilidade materna se refletirá no peso ao desmame. Entretanto, para analisar a eficiência do rebanho se faz necessário também a relação do peso do bezerro com o peso da vaca e com a sua reprodução subsequente (VAZ et al., 2014). O sucesso na escolha do tipo biológico depende da combinação adequada do potencial de produção e exigência da categoria animal com a disponibilidade de nutrientes e o tipo de ambiente onde o sistema será empregado (CALEGARE et al., 2010). Em situações de alimentação farta e ambiente livre de estresse, podem-se obter melhores respostas produtivas e econômicas com animais de maior porte (BARBOSA, 2006), enquanto que em situação adversa, onde há estresse e os recursos são escassos são preferíveis animais com estrutura corporal mediana (HORIMOTO, 2005). O objetivo do presente estudo foi avaliar a eficiência produtiva de vacas com predominância Charolês durante a lactação de acordo com o seu tamanho corporal ao parto.

Revisão Bibliográfica

A eficiência pode ser definida como característica de alcançar o melhor resultado com o mínimo de erros, dispêndio de energia, tempo, dinheiro ou meios (HOUAISS, 2001). A pecuária de corte está pressionada pelos custos de produção, necessitando a obtenção de melhores resultados econômicos, desafiando a capacidade criativa dos administradores para melhores eficiências dos sistemas produtivos (BARCELLOS, 2011). Segundo Mariano (2007), sistema produtivo eficiente é o que utiliza os recursos disponíveis da melhor maneira possível e aproveita as condições ambientais para obter o maior desempenho. A exigência nutricional pode ser dividida em mantença e produção, sendo a bovinocultura ineficiente. Isso se justifica pela alta demanda de nutrientes para suprir a mantença das funções vitais (71% da energia total da dieta). Ritchie (1995) considera que 70% do custo de manutenção é provindo do rebanho de cria, já Ferrell & Jenkins (1985) vão além afirmando que esse valor chega a 75%. Há fatores que influenciam as exigências dos animais como: peso corporal, estado fisiológico, categoria, fatores ambientais (NRC, 2000). O aumento da eficiência bioeconômica dos animais, são objetivos a serem alcançados quando se almeja melhora na produtividade da bovinocultura. A baixa produtividade é considerada causa, pois esta é baixa pelo inadequado sistema de produção utilizado gerando rentabilidade insuficiente ao produtor, que por fim, não tem estímulo para investir em tecnologias (EMBRAPA, 2001).

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido no Setor de Bovinocultura de Corte do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria - RS. Foram avaliados 63 pares de vacas com predominância Charolês (Puros, ¾ C ¼ N) e seus bezerros desde o parto até os 210 dias. Os grupos foram formados baseados na diferença de peso das vacas em função do desvio padrão da média (42,0 kg). Foram formados três grupos de tamanhos de vacas, sendo os mesmos denominados em “Leves” com peso inferior ou igual a meio desvio padrão abaixo da média (≤ 362 kg), “Moderadas” com peso maior que meio desvio padrão abaixo da média e menor ou igual a meio desvio padrão acima da média (superior 362 kg e menor que ≤ 404 kg) “Pesadas” com peso superior a meio desvio padrão acima da média (> 404 kg). Os pares vacas:bezerros foram mantidos sob as mesmas condições de manejo e meio ambiente durante o período de aleitamento com carga animal de 0,9 U.A/ha. As vacas e bezerros foram pesados nas primeiras 24 horas após o parto, e aos 210 dias. Nos dias das pesagens também foi realizada a avaliação de escore de condição corporal atribuindo valores dentro de uma escala de 1-5 (1 = muito magro, 2 = magro, 3 = médio, 4 = gordo e 5 = muito gordo (MARQUES, 2013). O manejo reprodutivo foi de monta natural, perfazendo 90 dias de acasalamento e o diagnóstico de gestação realizado 60 dias após o final do período reprodutivo (ultrassonografia). Foram avaliadas as eficiências produtivas das vacas e o índice de produção de bezerros segundo Ribeiro et al. (2001) e Vaz et al. (2010), respectivamente. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado. Os dados coletados foram submetidos à análise de variância, incluindo no modelo estatístico os efeitos fixos de tamanho das vacas, sendo a idade da vaca e sexo do bezerro utilizados como co-variáveis. A taxa de prenhez foi analisada pelo método do Qui-Quadrado (GOMEZ & GOMEZ, 1984).

Resultados e Discussão

A formação dos grupos com relação ao desvio padrão da média de pesos dos mesmos determinou grupos com pesos médios de 331,4, 385,9 e 424,3 kg para Leves, Moderadas e Pesadas, respectivamente (Tabela 1). Os pesos corporais das vacas diferiram (P<0,05) entre os grupos de pesos desde o parto até os 210 dias. O desempenho em relação à variação média diária de peso das vacas e dos bezerros, em geral, não foram influenciados (P>0,05) pelo seu tamanho. As taxas de prenhez das vacas não diferiram entre os grupos de pesos com valores de 61,21, 62,18 e 67,63%, para as leves, moderadas e pesadas, respectivamente (Tabela 2). Embora não apresentando diferença (P>0,05), as taxas de prenhez são importantes, pois a eficiência biológica de um rebanho de fêmeas é reflexo da produção de quilos de bezerros produzidos por vaca exposta a reprodução (CALEGARE et al., 2010) e ou mantidas nos rebanhos (VAZ et al., 2010). Ao avaliar o índice de produção de bezerros não verificou-se diferença (P>0,05) entre os grupos de peso. Isso é importante devido, independentemente do tamanho da vaca a produção de quilos de bezerros por vaca mantida no rebanho foi semelhante. Vacas leves consomem menos alimento em relação às moderadas e pesadas produzindo a mesma quantidade de quilos de bezerros. Ao comparar os grupos de pesos e seus prováveis consumos estima-se um acréscimo de 25,0, 20,0 e 17,4% para oferta de forragem, proteína bruta e nutrientes digestíveis totais durante uma lactação de 210 dias ao comparar vacas pesadas comparadas as leves (NRC, 2000). As eficiências produtivas ao parto e aos 210 dias também mostram maiores eficiências (P<0,05) das vacas Leves em relação às demais categorias com acréscimos de 13,07 e 13,38% e de 29,90 e 24,91%, respectivamente, em relação às Moderadas e Pesadas. Somando as exigências de mantença no período do parto aos 210 dias, produção de leite e o ganho de peso das vacas, na média dos três grupos, a exigência foi de 1.044 kg de NDT total e de 68,67 kg de PBm. A maior produção de quilos de bezerros por quilo de vaca nas Leves se deve ao fato da menor exigência de NDT e PBm necessários para a produção destes animais. Albertini et al. (2008) verificaram que o aumento do peso da vaca foi negativamente associado à eficiência do par vaca:bezerro, podendo essa relação ter impacto importante no setor de cria, principalmente ao considerar que vacas mais pesadas são ocasionalmente preferidas por produtor, sendo os resultados biológicos e produtivos dos rebanhos resultantes do desempenho das categorias associadas ao seu consumo (RESTLE et al., 2007). As maiores exigências nutricionais das vacas a medida em que são aumentados os seus pesos corporais, determinam maiores gastos de NDT e PB para a produção de um quilo de bezerro. Ao comparar as vacas Leves com Pesadas verifica-se uma necessidade de 6,9 vs 8,2 kg de NDT, respectivamente, perfazendo um acréscimo de 18,84% a mais de nutrientes não tendo este acréscimo reflexo no peso dos bezerros aos 210 dias.

Conclusões

O tamanho da vaca Charolês não influenciou o peso dos bezerros desde o seu nascimento até os sete meses. O desempenho reprodutivo das vacas Charolês é semelhante nos diferentes tamanhos corporais. Embora quando se associa o desempenho reprodutivo com a produção de bezerros em função de 100 kg de vaca mantida, as vacas Leves são mais eficientes na produção tanto ao parto como aos 210 dias.

Gráficos e Tabelas




Referências

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