Características estruturais da pastagem de amendoim forrageiro sob diferentes critérios de entrada

Pâmela Peres Farias1, Alexsandro Bahr Kröning2, Fabrício Roll Munsberg3, Tierri Nunes Pozada4, Joice Rodal Gruppelli5, Luiza Padilha Nunes6, Rodrigo Chesini7, Otoniel Geter Lauz Ferreira8
1 - PPGZ/FAEM/UFPEL
2 - PPGZ/FAEM/UFPEL
3 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
4 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
5 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
6 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
7 - Curso de Zootecnia/FAEM/UFPEL
8 - DZ/FAEM/UFPEL

RESUMO -

Objetivou-se estudar a distribuição dos componentes estruturais nos estratos de uma pastagem de amendoim forrageiro sob critérios de entrada dos animais para pastejo. O experimento foi conduzido no CAP/UFPEL em área de amendoim forrageiro implantada em 2001. Os tratamentos corresponderam as alturas pré-pastejo de 14 e 18 cm ou 95% de interceptação luminosa, alocados em delineamento inteiramente casualizado com seis repetições. As variáveis avaliadas foram altura do dossel, massa de forragem desaparecida, relação folha:caule no perfil da pastagem e nos estratos superior e inferior. Maior massa de forragem desaparecida foi encontrada no tratamento 18 cm. Na relação folha:caule do perfil houve baixa relação em todos os tratamentos. No estrato superior foi encontrada elevada relação em todos os tratamentos. Maior altura de manejo influencia positivamente a massa de forragem desaparecida do amendoim forrageiro. Maior relação folha:caule é verificada no estrato superior da pastagem.

Palavras-chave: Arachis pintoi, estrutura da pastagem

Structural characteristics of pasture of perennial peanut under different entry criteria

ABSTRACT - The objective of this work was to study the distribution of the structural components of forage peanuts in different pasture strata. The experiment went conducted at CAP/UFPEL in a field of forage peanuts implanted in 2001. The treatments corresponded to pre-grazing heights of 14 and 18 cm or 95% of light interception allocated in a completely randomized design with six replicates. The evaluated variables were canopy height, disappeared forage mass, leaf:stem relationship and pasture profile, and leaf stem ratio of the upper and lower pasture strata. The largest mass of forage was found in the treatment in the 18cm treatment. In the leaf:stem relationship from profile there was low in all treatments. Greater height influences positively the mass of forage disappeared of perennial peanut. Greater leaf:stem relationship is verified in the upper strata of pasture.
Keywords: Arachis pintoi, pasture structure


Introdução

O amendoim forrageiro é uma leguminosa nativa na América do Sul utilizada para alimentação animal e como planta ornamental. A utilização como pastagem traz benefícios ao sistema produtivo devido a fixação biológica de nitrogênio e o elevado fornecimento de proteína para a nutrição animal. Tem como principais características elevada produção de massa de forragem e a resistência ao pisoteio e ao pastejo intenso, devido seus pontos de crescimento encontrarem-se protegidos. A produção de forragem inicia-se no início da primavera na região sul do país quando as temperaturas começam a se elevar. No verão apresenta taxa de acúmulo de forragem com valores de 60kg/ha/dia de matéria seca, suportando carga animal ultrapassando 1800 kg/ha de peso em sistema rotacionado (Kröning, 2017). A utilização como pastagem, no entanto, apresenta certa resistência dos produtores que possuem a base de alimentação dos animais a pasto. Resistência essa, em função da alta produção de caules da espécie, que apresenta proporção acima de 50% da matéria seca produzida. Para que esse fato seja desmistificado, torna-se importante avaliar a distribuição dos componentes estruturais no perfil da pastagem, adequando-se o manejo de desfolha às características da pastagem. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi estudar a distribuição dos componentes estruturais nos diferentes estratos de uma pastagem de amendoim forrageiro sob diferentes critérios de entrado dos animais para pastejo.

Revisão Bibliográfica

O amendoim forrageiro (Arachis pintoi) é uma planta herbácea, perene de trópico e sub trópico úmido, utilizada em vários estados do Brasil para alimentação de ruminantes. Possui elevada plasticidade e capacidade de adaptação a diferentes ambientes e condições de uso, podendo ser utilizado em áreas de pastagem em monocultura ou em consórcio com gramíneas forrageiras. Possui boa produção de matéria seca, sendo observada no Rio Grande do Sul a produção de 7135kg/ha no verão para a cultivar Amarillo (Alonzo et al., 2017) e 9720kg/ha para a cultivar Alqueire no mesmo período no estado de São Paulo (Carvalho, 2014). É uma espécie que apresenta elevados teores de proteína na matéria seca, além de fixação biológica de nitrogênio. Segundo Paulino et al. (2012), os teores de proteína bruta (PB) oscilaram de 23,5 para 19,1 %, com idades de 64 a 142 dias, respectivamente. Os mesmos autores afirmam que há incremento na produção de matéria seca com a idade e uma redução da relação folha:caule, que explicam parcialmente a redução nos teores de PB. Nesse sentido, pode ser feito uma associação entre a relação folha:caule e o valores nutricionais. No manejo de um sistema de pastejo, o amendoim forrageiro pode ser utilizado como banco de proteína. Pode-se então utilizar a pastagem dessa espécie em pastejo controlado, no qual os animais têm acesso diário de forma contínua ou limitada (VILELA, 2011). O amendoim forrageiro possui alta produção de caules devido ao se crescimento estolonífero prostrado. Os estolões crescem lateralmente, próximo ao solo, o que faz com que com que favoreça a persistência da pastagem, mesmo em pastejo intenso (GRIFFITH et al., 2015). Na parte superior do dossel forrageiro apresenta alta produção de folhas, o que é uma característica desejável, pois estas possuem alta capacidade de interceptação luminosa além de serem a porção pastejável pelo animal. Desta forma, a atualização do amendoim forrageiro como pastagem pode trazer elevadas respostas produtivas em diferentes tipos de sistemas de criação, aliando elevada produção de forragem com elevada qualidade.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Centro Agropecuário da Palma (UFPEL), Capão do Leão-RS. O experimento foi realizado em uma área já estabelecida com amendoim forrageiro (Arachis pintoi cv. Amarillo), implantado em novembro de 2001. Na área experimental foi aplicado calcário dolomítico em cobertura na proporção de 1,8 t/ha e 366 kg/ha da fórmula NPK 4-23-18. A área experimental de 2880m2 foi dividida em 32 piquetes (parcelas experimentais) com área de 90m2, onde 14 foram destinados a adaptação dos ovinos e 18 distribuídos aleatoriamente entre os tratamentos. Os tratamentos corresponderam a três manejos de entrada dos animais na pastagem, altura de 14 e 18 cm ou interceptação luminosa de 95% da radiação incidente, em método de pastejo rotacionado em delineamento inteiramente casualizado com 6 repetições. A lotação foi variável, entre 12 e 18 animais, ajustada para que o período de ocupação de cada piquete fosse de um dia (±6 horas), rebaixando a pastagem até a altura 7cm, seguindo recomendação de Alonzo (2016). A duração do experimento foi do dia 81 dias, iniciando em 11/01/2016 e encerrando em 01/04/2016. Como agentes de desfolha foram utilizados 33 cordeiros com peso médio de 26,3±4,2Kg. Em cada piquete os animais tinham acesso a água e sombra. A altura do dossel forrageiro foi mensurada utilizando-se um disco medidor de pastagens e a interceptação luminosa foi medido utilizando-se o SunScan. Os valores da massa de forragem desaparecida foram obtidos pela diferença entre as massas de forragem pré e pós pastejo, proveniente da coleta de amostra em local representativo da altura média da parcela, utilizando-se um aro de mesma área do disco. Para separação de folhas e caules foi coletada amostra de 400 cm2 na altura média da pastagem em dois estratos com o auxílio de uma régua, onde foi obtido a relação folha caule do perfil total e dos estratos da pastagem. Os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas por Duncan a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

A altura de manejo foi significativamente diferente em todos os tratamentos (Tabela 1), onde, do maior para o menor, 18cm, 14cm e 95%IL, respectivamente. Diferentes alturas de manejo da pastagem causam modificações na arquitetura das plantas, fazendo com que o animal em pastejo mude sua estratégia de seleção do alimento. Segundo Kröning et al. (2016), a altura do pasto está diretamente relacionada com o comportamento ingestivo dos ruminantes, de modo que pastos muito altos ou muito baixos podem aumentar o tempo de pastejo devido ao maior tempo para manipulação ou seleção do alimento, com consequências negativas no desempenho animal. Nos tratamentos 18cm e 14cm foram observadas maiores massa de forragem desaparecida. Segundo Braga et al. (2007), a massa de forragem desaparecida sofre efeito da oferta de forragem, onde maiores valores de massa de forragem desaparecida são encontrados em ofertas maiores.  Esse fato comprova os resultados do presente trabalho, onde a altura de entrada de 18 cm, a qual possuía maior massa de forragem, apresentou maior massa de forragem desaparecida. A relação folha:caule no perfil total da pastagem não teve diferenças significativas entre os tratamentos. No entanto, cabe ressaltar que o amendoim forrageiro, quando avaliado o perfil total da pastagem, apresenta baixa relação folha:caule. Fator que concorre para que essa forrageira seja rejeitada por produtores que possuem seus sistemas de produção baseados em pasto de alta qualidade (consumo prioritário de folhas). Ao se dividir o perfil da pastagem em dois estratos, embora sem diferenças significativas entre os tratamentos, o amendoim forrageiro apresentou maior relação folha:caule no estrato superior. Assim, a porção pastejável apresenta alta proporção de folhas, o que proporciona uma dieta de qualidade elevada os animais. Segundo Rodrigues et al. (2008) as variações na relação folha:caule refletem o valor nutritivo das forrageiras, onde uma pastagem com elevada relação apresenta maior valor nutritivo. No estrato inferior, todos os tratamentos apresentaram baixa relação folha:caule. Neste estrato da pastagem, os maiores valores da relação folha:caule foram observados nos tratamentos 95%IL e 14 cm (Tabela 1). A maior proporção de folhas destes tratamentos faz com que após o pastejo permaneça maior área foliar residual, o que favorece o rápido rebrote da pastagem.

Conclusões

Maior altura de manejo influencia positivamente a massa de forragem desaparecida do amendoim forrageiro. Maior relação folha:caule é verificada no estrato superior da pastagem favorecendo a colheita da forragem pelos animais e a persistência da pastagem.

Gráficos e Tabelas




Referências

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