Grandes campeões e reservados grandes campeões da raça de equinos Campolina: número de progênies, andamento e ocorrência de pelagem por sexo e distribuição por estados do Brasil

Lis Lorena Melúcio Guedes1, Philipe Ferreira Alcici2, Ludmilla de Fátima Leal Pereira3, Laydiane de Jesus Mendes4, Hanna Gabriela Oliveira Maia5, Lorena Fernandes Costa6, Neide Judith Faria de Oliveira7, Raphael Rocha Wenceslau8
1 - Universidade Federal de Minas Gerais
2 - Universidade Federal de Minas Gerais
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RESUMO -

Objetivou-se quantificar progênies por sexo e marcha, frequência de pelagem e distribuição por estado em equinos grandes campeões e reservados grandes campeões da raça Campolina. Utilizaram-se dados da Semana Nacional do Campolina Marchador de 2011 a 2015. Para estimar o número de progênies consideraram-se animais nascidos até agosto de 2016. As comparações por sexo e andamento foram feitas e calculou-se dispersão das pelagens e proporção de vencedores por estado. Machos Campolina obtiveram maior número de progênies se comparados às fêmeas e animais de marcha batida geraram mais produtos se confrontados com indivíduos de marcha picada. Observou-se predomínio da pelagem baia em ambos os sexos e o estado do Rio de Janeiro apresentou maior quantidade de animais premiados.

Palavras-chave: descendentes, produção, progenitores

Great champions and reserved great champions of the Campolina horses breed: progeny number, gait and occurrence of coat by gender and distribution by States of Brazil

ABSTRACT - The aim of this study was to quantify progeny by gender and gait, coat color frequency and distribution by state of the great champions and reserved great champions Campolina horse breed. Were used data from the competitions of the Semana Nacional do Campolina Marchador from 2011 to 2015. To estimate the number of progenies were considered animals born until 2016, August. The comparisons by gender and gait have been made and was calculated coat colors dispersion and proportion of winners by State. Campolina males showed higher number of progenies compared to females and Marcha batida animals resulted in more descendants when considered Marcha picada individuals. There was a predominance of buckskin coat color in both genders and the state of Rio de Janeiro presented greater number of animals awarded.
Keywords: descendants, parents, production


Introdução

Originada em 1870 na região da Serra da Mantiqueira, Minas Gerais, a raça Campolina foi desenvolvida visando a produzir equinos fortes, ágeis, de porte alto e andamento marchado (ABCCCAMPOLINA, 2016). Essas características a difundiram no Brasil e tornaram o rebanho Campolina o segundo maior desse estado (VIEIRA et al., 2015). Espera-se que machos e fêmeas premiados da raça produzam mais filhos, se comparados aos não campeões, pois esses possuem melhores aspectos morfológicos e funcionais dentre os indivíduos julgados (PEREIRA, 2012) e poucos estudos de raças equinas nacionais foram realizados. Assim, objetivou-se verificar entre grandes campeões e reservados grandes campeões nacionais de equinos Campolina, o número de progênies geradas por sexo, tipo de marcha, além da distribuição dos premiados por pelagem e estados da federação.

Revisão Bibliográfica

Mediante a seleção dos animais é possível obter indivíduos considerados de alto valor genético com melhor expressão das características desejadas para cada rebanho. Porém, ao contrário de outras espécies, para os equinos os objetivos econômicos não são bem definidos, uma vez que a avaliação é feita por criadores, técnicos e árbitros de associações a partir das considerações subjetivas e por vezes individualizadas (GONÇALVES et al., 2011; PEREIRA, 2012). Apesar disso, nos criatórios normalmente ocorrem separações entre animais de beleza relevante em contraposição aos animais funcionais, os quais são julgados em diferentes categorias nas competições, priorizando os melhores indivíduos direcionados para cada aptidão (BERBARI NETO, 2009). Ao avaliar a população Campolina, Procópio et al. (2003), observaram média de filhos por machos e fêmeas de 22,1 e 3,1, respectivamente. Contudo, os autores ainda relataram que dois garanhões produziram mais de 300 filhos e isso sugere uso de acasalamentos preferenciais na raça, além de possível supervalorização de animais premiados em exposições. Na espécie equina, os resultados de competições se tornam importantes no momento de escolha dos indivíduos melhoradores de planteis. Sendo os animais consagrados campeões e reservados amplamente utilizados na reprodução e, dessa maneira, podem contribuir com maior número de descendentes gerados (GONÇALVES et al., 2011). De acordo Gonçalves et al. (2011), para a raça Mangalarga Marchador foi possível observar que garanhões com progênies de bom desempenho para marcha e/ou morfologia eram destinados para reprodução com maior frequência mesmo após a morte, por meio de biotecnologias reprodutivas como inseminação artificial. Conforme registros na raça, verificou-se que alguns exemplares contribuíram de maneira significativa quanto ao número de descendentes para constituição da população, como O.P. de Santa Rita, classificado como o maior reprodutor Campolina, com total de 1.680 progênies registradas, seguido por Desacato da Maravilha, com 936 e Geodo do Oratório, do qual contabilizaram-se 552 produtos (FERREIRA; MAIA FILHO, 2011). Assim, é possível compreender a importância que indivíduos consagrados campeões para os planteis, visto que podem ser considerados animais padrão para a raça (BERBARI NETO, 2009).

Materiais e Métodos

Os dados avaliados foram concedidos pela Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Campolina (ABCCCampolina). Para a pesquisa utilizaram-se 40 animais com títulos de Grandes Campeões(ãs) e Reservados(as) Grandes Campeões(ãs) da raça, participantes da Semana Nacional do Cavalo Campolina Marchador, referentes ao período de 2011 a 2015, distribuídos igualmente entre sexo e tipo de macha, sendo batida e picada. A quantidade de progênies foi estimada por meio do número de filhos dos animais campeões e reservados nascidos até agosto de 2016. Para a geração parental calculou-se o número de proles geradas em função do andamento, ou seja, marcha batida ou picada e a ocorrência de pelagens por sexo. Além disso, entre os campeões foi contabilizada a proporção de vencedores por estado. As informações de progênies e andamentos por sexo dos pais foram analisadas por meio do pacote estatístico do Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG, 2007) e as médias, comparadas pelo teste t de Student a 5% de probabilidade. As dispersões das demais variáveis foram estimadas empregando-se Microsoft Office Excel® 2007.

Resultados e Discussão

Machos obtiveram maior número de filhos (p<0,05) quando comparados às fêmeas, com total de 176 produtos e média de 8,8 filhos por ano para garanhões e para matrizes, 106 produtos, com média de 5,3 filhos por ano. Procópio et al. (2003) ao avaliar equinos Campolina constataram média por garanhões de 22,2 produtos e para éguas número igual a 3,1 filhos. Dois garanhões obtiveram total de 40 e 39 descendentes enquanto para fêmeas foram 35 e 17. Segundo Costa (2002), o garanhão pode se prestar à coleta de sêmen ou acasalar com múltiplas matrizes, possibilitando-o emprenhar várias fêmeas por ano, diferente das éguas, cujo número máximo de partos é um ao ano. Porém, o número elevado de filhos gerados por poucas matrizes mesmo em competições pode vincular-se ao emprego de biotécnicas reprodutivas como a superovulação induzida e a transferência de embriões (BORTOT; ZAPPA 2013; COSTA 2002). Para o tipo de andamento verificaram-se 238 filhos (p<0,05) de marcha batida "versus" 44 de marcha picada (Tabela 1). Indicando preferência na seleção de animais quanto rendimento, regularidade e comodidade da marcha batida (Hussni et al. 1996). Para o número de filhos dentro de cada tipo de marcha, pode-se observar similaridade (p>0,05) quanto às proles geradas por machos e fêmeas. O sexo dos pais não influenciou a distribuição das progênies quanto às marchas batida e picada (Tabela 1). Entre os campeões a pelagem mais frequente em machos e fêmeas foi a baia, com 55 e 70%, respectivamente. Isso pode ser justificado por seleção para esta pelagem desde a origem da raça (BERBARI NETO, 2005). A segunda pelagem de maior ocorrência foi a lobuna com 15% nas fêmeas e a alazã, equivalente a 40% dos machos. Berbari Neto (2005) relatou prevalência por pelagens baia e alazã nos garanhões Campolina em frequências de 45% e 26,28%. Os fenótipos dos indivíduos consagrados grandes campeões e reservados da raça contribuem para a manutenção da pelagem baia na população Campolina, por meio da maior atividade reprodutiva desses exemplares em acasalamentos direcionados. Para a criação de animais da raça destinados à competição, 50% referiu-se ao Rio de Janeiro, 27,5% Minas Gerais e 12,5% São Paulo. Os resultados obtidos confirmam a convergência dos equinos registrados na região Sudeste, apesar da distribuição entre 22 estados do país (PROCÓPIO et al., 2003; VIEIRA et al., 2015). Bahia, Distrito Federal e Pernambuco criaram campeões na proporção de 5% para o primeiro e 2,5% aos demais. De acordo com os autores supracitados, há dispersão da raça, justificando menores proporções em outros estados.

Conclusões

Entre os grandes campeões e reservados grandes campeões da raça Campolina, os machos originaram maior número de progênies. Quanto ao tipo de andamento, indivíduos de marcha batida produziram número superior de descendentes. A pelagem de maior dispersão entre os animais premiados nos campeonatos da raça foi a baia. O estado com relevância no número de indivíduos nascidos consagrados grandes campeões da raça foi o Rio de Janeiro. Dessa forma, de 2011 a 2015, pode-se concluir que o cavalo Campolina grande campeão e reservado grande campeão foi muito utilizado na reprodução, sendo de pelagem baia, marcha batida e predominantemente criado no Rio de Janeiro. Esses resultados podem auxiliar aos direcionamentos futuros de acasalamentos, dependendo das necessidades e preferências dos criadores em cada plantel.

Gráficos e Tabelas




Referências

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