COMPORTAMENTO INGESTIVO DE VACAS DE LEITE EM PERÍODOS DE OCUPAÇÃO DO PASTO E NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO
Amanda Gabriele de Lima1, Danilo Pereira da Silva2, Nádia Nobrega Valdo3, Bruno Emerick Anacleto4, Matheus Abinel Calado5, Gisele Morato Cortez6, Amandio de Oliveira da Silva Junior7, Frank Akiyoshi Kuwahara8
1 - Universidade do Oeste Paulista
2 - Universidade do Oeste Paulista
3 - Universidade do Oeste Paulista
4 - Universidade do Oeste Paulista
5 - Universidade do Oeste Paulista
6 - Universidade do Oeste Paulista
7 - Universidade do Oeste Paulista
8 - Universidade do Oeste Paulista
RESUMO -
A pastagem é o principal alimento dos ruminantes e um dos que apresentam melhor custo benefício ao produtor, quando escolhida e manejada corretamente. Com base nesse contexto o estudo foi realizado a fim de analisar o comportamento ingestivo dos animais a pasto em diferentes tempos de ocupação e níveis de suplementação. Foram empregados dois períodos de ocupação por piquete (dias.piquete-1), e dois níveis de suplementação (ração em kg.animal-1.dia-1), sendo estes na quantidade de 1,5 kg e 3,0 kg. A gramínea utilizada no experimento foi Urochloa brizantha cv. Convert. Dessa forma os tratamentos ficaram compostos de tal maneira: P1S1, um dia + 1,5 kg; P1S2, um dia + 3,0 kg; P2S1, dois dias + 1,5 kg e P2S2, dois dias + 3,0 kg. As observações foram realizadas em 4 etapas, com duração de 48 horas cada. Foram observados 12 animais em intervalos de 15 minutos. Ao se comparar os comportamentos de cada tratamento realizado foi observada diferença significativa (p<0,05) apenas para a variável Pastejando, onde nos tratamentos P2S1 e P2S2, o período foi maior que nos tratamentos P1S1 e P1S2.
Palavras-chave: bovino de leite, comportamento, consumo, pastagem.
INTAKE BEHAVIOR OF DIARY COWS IN OCCUPATIONS TIME OF PASTURE AND SUPPLEMENTATION LEVELS
ABSTRACT - The pasture is the main feed of the ruminants and the best benefit cost to the producer, when chosen and cultivated correctly. On this context, the study was developed in order to analyze the intake behavior of the animals on pasture in different occupation times of pasture and supplementation levels. Two periods of paddocks occupation were used (days.paddock-1), and two levels of supplementation (ration in kg.animal-1.day-1), these being in the amount of 1.5 kg and 3.0 kg. The grass used in the experiment was Urochloa brizantha cv. Convert. In this way the treatments were composed in such a way: P1S1, one day + 1,5 kg; P1S2 one day + 3.0 kg; P2S1, two days + 1.5 kg and P2S2, two days + 3.0 kg. The observations were carried out in four stages, lasting 48 hours each. Twelve animals were observed at intervals of 15 minutes. The animals behaviors of each treatment was observed significant difference (p<0.05) for the variable grazing, where P2S1 and P2S2 treatments, the period was greater than in P1S1 and P1S2 treatments.
Keywords: dairy cow, behavior, intake, pasture.
Introdução
A produção de leite no Brasil cresceu em média 4,4% ao ano segundo dados da Embrapa emitidos no ano de 2011, esse número foi a segunda maior taxa registrada em nível mundial de produção de leite por países. Segundo a COOPEAVI (2014) a produção de leite no ano de 2013 foi significativamente 35% maior que a registrada em 2007 no país.
O sistema de produção extensivo, caracterizado pela alimentação dos animais a pasto é o mais adotado no país, o problema no entanto, segundo Pereira e Cóser (1998) é que geralmente os produtores adeptos a esse sistema utilizam forrageiras de má qualidade e não realizam um manejo adequado das pastagens. Apesar desse fato, é um dos sistemas que pode apresentar melhor custo benefício, uma vez que a pastagem é o principal alimento dos ruminantes e um alimento de baixo custo se comparado a outras opções existentes na tabela de necessidade nutricional dos animais.
O conhecimento dos padrões de comportamento do animal são de fundamental importância para se estabelecer as práticas de manejo (Zanine et al., 2007). Segundo Trevisan (2004), a relação planta animal é de grande importância para obtermos um feedback da situação da pastagem que está sendo consumida pelo rebanho. Através dessas análises de comportamento ingestivo aliadas às análises coletadas das forrageiras que iremos chegar à uma resposta se a pastagem está ou não atendendo às exigências do rebanho.
Diante desse contexto, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar as observações de comportamento ingestivo dos animais a pasto e suplementados, a fim de identificarmos quais melhorias podem ser adotadas no manejo e fornecimento dessas forrageiras.
Revisão Bibliográfica
O conhecimento dos padrões de comportamento, de escolha, localização e ingestão a pasto pelo animal são de fundamental importância quando se pretende estabelecer práticas de manejo (Zanine et al., 2007). Essa investigação de comportamento tem ganhado uma maior notoriedade aos olhos dos produtores, uma vez que a relação planta-animal é um determinante fator da quantidade de alimento consumida pelo animal, levando-se também em conta que essa relação é capaz de nos revelar até mesmo aspectos qualitativos do vegetal consumido.
Esses estudos refletem ao produtor a possibilidade de melhorias em sua pastagem e manejo adotado, que por sua vez apresentam seus resultados nos próprios animais, favorecendo uma produção de melhor qualidade. Para a obtenção de nutrientes necessários e superar condições limitantes, sabe-se que o animal é capaz de alterar seu comportamento ingestivo (Forbes,1988). Segundo Stobbs (1978), fatores como a capacidade seletiva dos bovinos em alimentar-se prioritariamente de folhas mais novas, seguidas das mais velhas e dos caules, influenciam o consumo da forragem. Fatores como a disponibilidade do alimento e suas condições afetam diretamente no consumo.
Como se sabe, a medida que a idade da planta aumenta a massa ingerida diminui. Com a maturidade, essas plantas tem seus tecidos lignificados aumentados para melhor comportar o crescimento de sua folhagem, e essa camada fibrosa dificulta a sua ingestão pelos animais. Essa dificuldade também se dá com pastagens totalmente degradadas, reduzindo a disponibilidade de forragem, impedindo a seleção de folhas e contribuindo para um baixo desempenho animal (BORGES; GONÇALVEZ; GOMES, 2009).
Segundo Trevisan (2004), a relação planta-animal se dá pelo número de bocados interagido à facilidade com que o animal apreende a folhagem. Penning em sua pesquisa em 1986 demosntrou que a medida que diminui a massa de forragem nas pastagens, consequentemente a massa de cada bocado também diminui, e nestas condições o animal aumenta o seu tempo de pastejo junto ao número de bocados.
Ao considerar esses dados e informações podemos levar em conta que a observação e estudo a cerca de medidas produtivas de maior precisão são fundamentais para o melhor conhecimento da atividade. Desta forma, possibilitando a adoção de métodos que se encaixem às prioridades e avanços de mercado, e que sobretudo, atendam às necessidades de animais e produtores.
Materiais e Métodos
O presente trabalho foi desenvolvido na Universidade do Oeste Paulista, UNOESTE, em Presidente Prudente/SP
. Para avaliar a resposta da suplementação dos animais e manejo de pastagens, em sistema rotacionado, em virtude da quantidade de animais o delineamento experimental foi na forma de quadrado latino, em esquema 4x4, totalizando 48 animais. Foram utilizados animais cruzados Holandês X Gir, com mais de 60 dias após o parto, com média de produção de leite de 10,50 litros/dia (cv. 19,39%) e média de 490,42 quilos de peso vivo (cv. 7,52%), sendo 12 vacas por tratamento (três vacas/repetição). Para homogenização de cada bloco foram utilizadas as seguintes variáveis: produção de leite, idade, peso vivo e número de partos.
Foram empregados dois períodos de ocupação por piquete (dias.piquete
-1), onde nos tratamentos denominados P1 os animais permaneceram um dia em cada piquete, e nos tratamentos denominados P2 os animais permaneceram em cada piquete por dois dias, e dois níveis de suplementação (ração em kg.animal
-1.dia
-1), sendo estes na quantidade de 1,5 kg e 3,0 kg. A gramínea utilizada no experimento foi
Urochloa brizantha cv. Convert. Dessa forma os tratamentos ficaram compostos de tal maneira: P1S1, um dia por piquete com suplementação de 1,5 kg; P1S2, um dia por piquete com suplementação de 3,0 kg; P2S1, dois dias por piquete com suplementação de 1,5 kg e P2S2, dois dias por piquete com suplementação de 3,0 kg. Os animais foram arraçoados duas vezes ao dia, contendo 18% de proteína bruta, sendo 400g para todos os animais na ordenha e o restante de acordo com cada tratamento no período da manhã e a tarde (50:50).
As observações de comportamento ingestivo aconteceram em 4 etapas após 20 dias de adaptação dos animais em cada tratamento, cada uma no período de 48 horas. Os intervalos de observação foram de 15 minutos, sendo avaliado as seguintes variáveis de comportamento: Andando; Pastejando; Deitado; Deitado pastejando; Deitado ruminando; Em pé ruminando; Em pé e Bebendo água. Quando os animais se encontravam pastejando foi avaliado a taxa de bocados por minuto. Para análise dos dados, foi utilizado o pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System) versão 8.2 para Windows (SAS Institute, 2004), e o nível de significância utilizados nas comparações foi de 5%.
Resultados e Discussão
De acordo com a tabela 1, foi observado diferença significativa (p<0,05) apenas para a variével Pastejando. Os animais que permaneceram nos tratamenos aos quais tiveram acesso a um novo piquete por dia permaneceram menos tempo pastejando que os animais que tiveram acesso a um piquete a cada dois dias. As demais variáveis tiveram resultados semelhantes (p>0,05) entre os tratamentos.
A variável Ruminando Deitado obteve média maior que a váviavel Ruminando em pé, resultado este que vai de acordo com o trabalho realizado por Zanine et al. (2007) no qual diz que os animais têm preferência por ruminar deitados principalmente nas horas mais frescas do dia, dado este que foi observado na análise de comportamento. As duas váriáveis somadas ficam dentro do período de tempo citado em literatura por Van Soest (1994) referido por Olivo (2006) na qual diz que o tempo médio de ruminação é de 4 a 9 horas diárias.
Somando as váriáveis Deitado e em Pé temos o período em que os animais se encontravam em ócio, ou seja, sem realizar qualquer outro comportamento analizado, e ao observarmos esse período é possível perceber que o tempo de ócio nos tratamentos P1S1 e P1S2 foram um pouco menores que nos tratamentos P2S1 e P2S2, o que nos remete ao fato de que nesses últimos tratamentos os animais passaram mais tempo em pastejo devido a menor oferta de forragem. No entanto as variáveis Deitado e em Pé não diferiram estatisticamente para nenhum dos tratamentos, mas os resultados ficaram semelhantes aos obtidos por Olivo (2006).
A variável Andando também não apresentou diferença entre os tratamentos e representou um período bem curto de tempo em relação às demais, fato este que pode ser relacionado à observação ter sido realizada em uma estação quente do ano. Apesar de ter mostrado diferença (p<0,05) no tempo de pastejo, a média do número de bocados por animal dia não demostrou diferença significativa entre os tratamentos. O número de bocados por minuto ficou abaixo do observado por Zanine et al. (2007) que foi de 42 bocados para vacas, enquanto obtivemos a taxa de 28 a 30 bocados por minuto neste experimento.
A diferença no período de pastejo entre os tratamentos P2S1, P2S2 para os tratamentos P1S1 e P1S2 pode ser explicada pela menor oferta de forragem nos tratamentos em que os animais tiveram acesso a um piquete a cada dois dias, comprovando que a medida que a oferta de forragem diminui, o animal tende a ficar mais tempo pastejando para atender à sua exigência de forragem.
Conclusões
A adequada oferta de forragem diária, em quantidade e qualidade suficiente para atender as exigências do animal, promove menor tempo de pastejo, sem alterar a media diária para o tempo de ruminação e a taxa de bocado, onde promove menor gasto energético melhorando índices produtivos e auxiliando em tomada de decisão em manejo da forragem
Gráficos e Tabelas
Referências
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