Eficiência de ingestão e ruminação de cordeiros alimentados com dietas com torta de algodão

Carla Suele Semim1, Fagton de Mattos Negrão2, Anderson de Moura Zanine3, Marinaldo Divino Ribeiro4, Daniele de Jesus Ferreira5, Alexandre de Lima Souza6, Amorésio Souza Silva Filho7, Luis Fernando Castro de Souza8
1 - UFMT-Rondonópolis
2 - UFMT-Cuiabá
3 - UFMA-Chapadinha
4 - UFGO-Goiânia
5 - UFMA-Chapadinha
6 - UFMT-Rondonópolis
7 - SECITEC-Canarana
8 - UFMT-Rondonópolis

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a eficiência de ingestão e ruminação de ovinos alimentados com níveis de torta de algodão. Os tratamentos consistiram da substituição de 0, 14, 28 e 42% do farelo de soja pela torta de algodão na matéria seca (MS) da ração concentrada. As dietas foram compostas por silagem de milho (50%) e ração concentrada (50%) na base da MS. Trinta e dois cordeiros, machos não castrados, da raça Santa Inês, com idade média de 12 meses e peso médio de 27,48 kg, foram distribuídos em delineamento em blocos inteiramente casualizados, com oito repetições. Os resultados foram submetidos à análise variância e de regressão, sendo a escolha dos modelos baseadas na significância dos parâmetros de regressão, testada pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Não se recomenda a substituição do farelo de soja pela torta de algodão na dieta de cordeiros confinados, pois reduz a eficiência de ingestão e ruminação da matéria seca e da fibra em detergente neutro.

Palavras-chave: consumo, fibra em detergente neutro, mastigação, matéria seca

Intake and rumination efficiency of lambs fed with diets with cottonseed cake

ABSTRACT - This study aimed to evaluate the intake and rumination efficiency in lambs fed cottonseed cake levels. Treatments consisted of replacing 0, 14, 28 and 42% of soybean meal by cottonseed cake on dry matter (DM) of concentrated feed. The diets were composed of corn silage (50%) and concentrate (50%) in the DM. Thirty-two lambs, uncastrated male, Santa Inês, with an average age of 12 months and average weight of 27.48 kg were allotted to a completely randomized block design with eight repetitions. The results were subjected to analysis variance and regression, the choice of models based on the significance of the regression parameters tested by Tukey test at 5% probability. Not recommended the replacement of soybean meal by cottonseed cake in the diet of lambs, because it reduces the intake efficiency and rumination of dry matter and neutral detergent fiber.
Keywords: chew, dry matter, intake, neutral detergent fiber


Introdução

Os pequenos ruminantes têm a capacidade de adaptação às diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar o nível de consumo compatível com as exigências nutricionais. Nesse contexto, a torta de algodão pode ser utilizada na dieta de cordeiros, principalmente em regiões onde se tem o cultivo do algodão e a agroindústria de processamento de algodão. Sob tal aspecto, estudos que avaliem a substituição do farelo de soja pela torta de algodão e sua influência sobre o comportamento ingestivo de ovinos que recebem dietas contendo tal coproduto são incipientes, o que justifica a realização dessa pesquisa. Logo, este experimento foi conduzido como objetivo de avaliar a eficiência de ingestão e ruminação de ovinos alimentados com níveis de torta de algodão. Os pequenos ruminantes têm a capacidade de adaptação às diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar o nível de consumo compatível com as exigências nutricionais. Nesse contexto, a torta de algodão pode ser utilizada na dieta de cordeiros, principalmente em regiões onde se tem o cultivo do algodão e a agroindústria de processamento de algodão. Sob tal aspecto, estudos que avaliem a substituição do farelo de soja pela torta de algodão e sua influência sobre o comportamento ingestivo de ovinos que recebem dietas contendo tal coproduto são incipientes, o que justifica a realização dessa pesquisa. Logo, este experimento foi conduzido como objetivo de avaliar a eficiência de ingestão e ruminação de ovinos alimentados com níveis de torta de algodão.

Revisão Bibliográfica

O comportamento ingestivo de animais possibilita a definição de estratégias adequadas de manejo alimentar do animal, proporcionando habilidade para interferir de forma positiva nos resultados de produção (Brem et al., 2008). As atividades diárias dos ovinos compreendem períodos que alternam alimentação, ruminação e ócio (Figueiredo et al., 2013), os ruminantes adaptam-se às diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar e manter determinado nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais Hodgson (1990). Segundo Van Soest (1994), o tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta e parece ser proporcional ao teor da parede celular dos volumosos. Alimentos concentrados e fenos finamente triturados ou peletizados reduzem o tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a elevar o tempo de ruminação. Assim o tempo de ruminação está altamente correlacionado ao consumo de FDN Mertens. (1997). O comportamento alimentar dos ruminantes, como consumo de ração, tempo de ruminação e número de mastigações variam de acordo com o tipo de alimentação e com as características físicas dos alimentos, que podem afetar a fisiologia digestiva dos ruminantes (Miranda et al., 1999). No comportamento ingestivo de ovinos confinados, a ingestão de forragens depende do seu valor nutricional, palatabilidade, tamanho da partícula e forma física da dieta, sendo a fibra em detergente neutro (FDN) o primeiro fator que afeta essa atividade, pois interfere diretamente no funcionamento ruminal (Yang et al., 2001).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no galpão de Desempenho Animal do setor de Ovinocultura do curso de Zootecnia, na Universidade Federal de Mato Grosso - Campus de Rondonópolis - MT, no período de agosto a outubro de 2014. O período experimental foi de 7 dias para a adaptação às dietas, ao ambiente e ao manejo e 60 dias de avaliações. Os tratamentos consistiram da substituição de 0, 14, 28 e 42% do farelo de soja pela torta de algodão na matéria seca (MS) da ração concentrada. As dietas foram compostas por silagem de milho (50%) e ração concentrada (50%) na base da MS. Trinta e dois cordeiros, machos não castrados, da raça Santa Inês, com idade média de 12 meses e peso médio de 27,48 kg, foram distribuídos em delineamento em blocos inteiramente casualizados, com oito repetições, sendo os blocos formados em função do peso corporal dos animais. As dietas foram fornecidas duas vezes ao dia, em horários pré- estabelecidos, às 07:30 e 15:30 horas. Os animais foram submetidos à avaliação visual a cada 15 dias, durante 24 horas, em intervalos de dez minutos, para determinação do tempo despendido em ingestão, ruminação e ócio, segundo metodologia proposta por Johnson e Combs (1991), adaptado para um período de 24 horas. As observações iniciaram-se às 7:00 horas de cada dia de observação com término no mesmo horário do dia seguinte. A observação noturna dos animais foi realizada mediante o uso de iluminação artificial de lâmpadas fluorescentes, que foram mantidas acesas nas noites de todo o período experimental. As eficiências de ingestão (EI) e ruminação (ERU) da matéria seca e da fibra em detergente neutro foram calculados conforme a metodologia descrita por Burger et al. (2000). As variáveis foram avaliadas por meio de análise de variância e regressão, aplicando-se o teste Tukey a 5% de probabilidade pelo, utilizando-se o software SAS (2001).

Resultados e Discussão

Houve diferença (P<0,05) sobre a eficiência de ingestão e ruminação da matéria seca (MS/hora), com redução de 1,983 e 1,054 unidades porcentuais para cada 1% de inclusão da torta de algodão na dieta de cordeiros terminados em confinamento (Tabela 1). Foi verificado por Macome et al. (2012) comportamento quadrático à medida que se adicionou torta de dendê (0; 6,5; 13,0 e 19,5%) na dieta sobre a eficiência de ingestão de matéria seca, com um valor máximo de 302,59 g de MS/hora para um nível de 4,01% de torta de dendê. Azevedo et al. (2013) não observaram influência das dietas contendo torta de macaúba (0, 10, 20 e 30%) sobre a eficiência de ingestão da matéria seca, com média de 530,66 g MS/hora. Houve diferença (P<0,05) sobre a eficiência de ingestão e ruminação da fibra em detergente neutro (FDN/hora), com redução de 0,662 e 0,181 unidades porcentuais para cada 1% de inclusão da torta de algodão, que pode ser explicado pela influência do efeito no consumo de fibra em detergente neutro, em gramas/animal/dia (Tabela 1). Macome et al., (2012) observaram efeito linear crescente de 0,842 unidades porcentuais para cada 1% de torta de dendê sobre a eficiência de ruminação da fibra em detergente neutro. Adicionalmente, outro fator que pode estar relacionado com essa redução é a aproximação entre a composição química das dietas, mesmo com a crescente quantidade de fibra em detergente neutro à medida que inclui a torta de algodão nas dietas e semelhança no tamanho das partículas dos alimentos, o que acarretou trânsito normal da fibra no trato digestório desses animais e não promoveu repleção rumino-reticular.

Conclusões

Não se recomenda a substituição do farelo de soja pela torta de algodão na dieta de cordeiros confinados, pois reduz a eficiência de ingestão e ruminação da matéria seca e da fibra em detergente neutro.

Gráficos e Tabelas




Referências

AZEVEDO, R.A.; RUFINO, L.M.A.; SANTOS, A.C.R.; RIBEIRO JÚNIOR, C.S.; RODRIGUEZ, N.M.; GERASEEV, L.C. Comportamento ingestivo de cordeiros alimentados com torta de macaúba. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.2, p.490-496, 2013. BREMM, C.; SILVA, J.H.S.; ROCHA, M.G.; ELEJALDE, D.A.G.; OLIVEIRA NETO, R.A.; CONFORTIN, A.C. Comportamento ingestivo de ovelhas e cordeiras em pastagem de azevém anual sob níveis crescentes de suplementação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.12, p.2097-2106, 2008. BURGER, P.J., PEREIRA, J.C., QUEIROZ, A.C., SILVA, J.F.C., VALADARES FILHO, S.C., CECON, P.R. e CASALI, A.D.P. Comportamento ingestivo em bezerros holandeses alimentados com dietas contendo diferentes níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, 29:236-242, 2000. FIGUEREDO, M.R.P.; SALIBA, E.O.S.; BORGES, I.; REBOUÇAS, G.M.N.; AGUIAR e SILVA, F.; SÁ, H.C.M. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com diferentes fontes de fibra. Revista Brasileira de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.2, p.485- 489, 2013. JOHNSON, T.R.; COMBS, D.K. Effects of prepartum diet, inert rumen bulk, and dietary polyethylene glycol on dry matter intake of lactating dairy cows. Journal of Dairy Science, 74: 933-944, 1991. HODGSON, J. Grazing management: science into practice. Inglaterra: Longman Handbooks in Agriculture, 1990. 203 p MACOME, F.M.; OLIVEIRA, R.L.; ARAUJO, G.G.L.; BARBOSA, L.P.; CARVALHO, G.G.P.; GARCEZ NETO, A.F.; SILVA, T.M. Respostas de ingestão e fisiológicas de cordeiros alimentados com torta de dendê (Elaeis guineensis). Archivos de Zootecnia, Córdoba, v.61, n.235, p.335-342, 2012. MERTENS, D.R. Creating a system for meeting the fiber requirements of dairy cows. Journal of Dairy Science, v.80, p.1463-1481, 1997. MIRANDA, L. F.; QUEIROZ, A. C.; VALADARES FILHO, S. C.; CECON, P. R.; PEREIRA, E. S.; CAMPOS, J. M. S.; LANNA, R. P.; MIRANDA, J. R. Comportamento ingestivo de novilhas leiteiras alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 28, n. 3, p. 614-620, 1999 NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats, cervids, and new world camelids. Washington, DC, 2007. 384p. SAS. Institute Inc. Statistical Analysis System Introductory Guide for Personal Computers. Release. Cary, (NC: Sas Institute Inc.), 2001. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca. NY: New York: Cornell University Press, 1994. 476p. YANG, W.Z.; BEAUCHEMIM, K.A.; RODES, L.A. Effects of grain processing, forage to concentrate ration, and forage particle size on rumen pH and digestion by dairy cattle. Journal of Dairy Science, v.84, p. 203–2216, 2001.