Determinação da Composição bromatológica e fitoquímica do Extrato metanólico de Urochloa humidicola para emprego como aditivo fitogênico em dietas de ruminantes

João Carlos de Carvalho Almeida1, Rafaela Scalise Xavier de Freitas2, Delci de Deus Nepomuceno3, Débora Ramos de Oliveira4, Leonardo Fiusa de Morais5
1 - UFRRJ
2 - UFRRJ
3 - UFRRJ
4 - UFRRJ
5 - UFCE

RESUMO -

Objetivou-se neste trabalho determinar a composição químico-bromatológica do extrato metanólico da Urochloa. Para isto, a amostra da parte aérea da U. humidicola foi seca à sombra, moídas em moinho tipo Willey em partículas de 2 mm e submetidas à extração por maceração a frio com metanol, a solução obtida foi concentrada em rotaevaporador e posto para terminar a secagem sob fluxo de ar. O extrato metanólico bruto seco foi submetido a análises de composição bromatológica e a prospecção fitoquímica. O extrato apresentou 10,2% de PB e 35% de EE e traços dos constituintes fibrosos, e, pela prospecção fitoquímica apresentou saponina, tanino e alcaloides. O que sugere que pode ser utilizado como aditivo fitogênico na alimentação de ruminantes.

Palavras-chave: Extrato de plantas, Fermentação ruminal, Metano, Saponina

Determination of the bromatological and phytochemical composition of the Urochloa humidicola methanolic extract for use as a phytogenic additive in ruminant diets

ABSTRACT - The objective of this work was to determine the chemical-bromatological composition of the methanolic extract of Urochloa. For this, U. humidicola aerial sample was dried in the shade, ground in Willey type mill in 2 mm particles and subjected to extraction by cold maceration with methanol, the solution obtained was concentrated in a rotary evaporator and placed to finish drying under air flow. Dry crude methanolic extract was submitted to analyzes of bromatological composition and phytochemical prospection. The extract presented 10.2% of PB and 35% of EE and traces of the fibrous constituents, and, through the phytochemical prospection, showed saponin, tannins and alkaloids. This suggests that it can be used as a phytogenic feed additive in ruminants.
Keywords: Methane, Plant extract, Ruminal Fermentation, Saponin


Introdução

A busca por alimentos naturais para animais tem sido primordial para segurança dos seus produtos, pois cada vez mais são requeridos ausência de resíduos químicos em alimentos que possam afetar a saúde humana e o ambiente. Para isto um dos produtos naturais utilizados são os extratos de plantas, que por sua vez são ricos em metabólitos secundários (MSec), compostos estes que apresentam funções específicas nos vegetais, tais como: proteção contra herbivoria e infecção por microrganismos patogênicos (NEPOMUCENO et al., 2013), metabólitos estes que presentes na alimentação de ruminantes possuem a capacidade de induzir a fermentação ruminal com efeito direto sobre o desempenho animal e sobre o ambiente, uma vez que, reduz a produção de metano, o que viabiliza seu emprego em substituição aos antibióticos ionóforos (WANAPAT et al., 2013). Tanto as gramíneas, quanto as leguminosas forrageiras possuem metabolitos secundários tais como: saponinas, taninos, entre outros (SIROHI et al., 2014) o que propicia o uso da própria forragem como meio de alterar a fermentação ruminal, bastando para isto, realizar sua extração e concentração. Devido ao exposto objetivou-se neste trabalho avaliar a composição químico-bromatológica e a presença de metabólitos secundários do extrato metanólico de Urochloa humidicola.

Revisão Bibliográfica

Segundo Codognoto et al. (2014), os antibióticos ionóforos, ácidos orgânicos e extrato de plantas são os aditivos que interferem na fermentação ruminal e consequentemente reduzem a perda de energia nos sistema de produção de ruminantes. No entanto, a banalização do uso de antibióticos na alimentação animal tem proporcionado aumento da demanda por extratos de plantas, que possuem metabólitos secundários que possuem efeito sobre a microbiota ruminal (ANANTASOOK et al., 2013). Cardoso et al. (2005) verificaram efeito os extratos de alho (Allium sativum), pimentão (Capsicum annuum), canela (Cinnamomum cassia), orégano (Origanum vulgare), erva doce (Pimpinella anisum) como indutores da fermentação ruminal in vitro para bovinos de corte alimentados com alta quantidade de concentrado, entretanto estes extratos são de plantas utilizadas como alimentos humanos, o que pode gerar conflitos relacionados com o aumento de preços destes produtos. As gramíneas e leguminosas forrageiras possuem metabólitos secundários ativos, tais como: alcaloide, glicosídeos, esteroides, triterpenoides, saponinas, taninos, polissacarídeos e óleo essencial, e óleo essencial, sendo que alguns destes compostos são capazes de promoverem a mitigação de metano e aumento do desempenho animal devido a manipulação do ecossistema ruminal (SIROHI et al., 2014), o que propicia o uso da própria forragem como meio de alterar a fermentação ruminal. Segundo Goel e Makkar (2012) taninos e saponinas são principais metabólitos secundários citados como indutores da fermentação ruminal,estes autores citam ainda uma variedade de plantas que contem taninos e saponinas utilizadas na alimentação de ruminantes como mecanismo de manipular a fermentação ruminal. No entanto, trabalhos que utilizam gramíneas, como fontes destes metabólitos secundários com este objetivo ainda são escassos, apesar de ser relatada a existência de saponinas em gramíneas do gênero Urochloa (BARBOSA et al., 2006). O que propicia sua extração e concentração. O que pode ser realizado utilizando solventes orgânicos conforme descrito por (GIL CHAVEZ et al., 2013).

Materiais e Métodos

Amostra de U. humidicola foi colheitada quatro meses após rebrotação, no mês de outubro de 2013, em uma área de pastagem já estabelecida no Setor de Caprinocultura do Instituto de Zootecnia (IZ), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (IZ/UFRRJ), localizada no município de Seropédica, RJ, a uma Latitude: de 22°46’59’’ S e Longitude: 43°40’45’’ W e altitude de 33 m. Foi selecionado a parte aérea da planta a  5 Cm acima da superfície do solo, classificado como Planossolo Háplico (EMBRAPA, 1999). A U. humidicola foi seca sob sombreamento durante 7 dias e posteriormente triturada em moinho tipo Willey (modelo Tecnal TE 680) em partículas de 2 mm. Parte do material foi acondicionada em frascos de vidros embebidos com metanol no Laboratório de Química de Produtos Naturais, do Instituto de Ciências Exatas (LQPN-ICE) da UFRRJ. A solução obtida foi filtrada utilizando papel filtro e concentrada em rotaevaporador sob pressão reduzida, sendo o resíduo da concentração colocado em recipiente aberto para completar a remoção do solvente utilizando secadores de fluxo de ar contínuo. O extrato metanólico bruto da U. humidicola foi submetido à análise bromatológica para determinação dos teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), matéria mineral (MM), carboidratos não fibrosos (CNF), lignina, celulose e hemicelulose no Laboratório de Nutrição animal do IZ/UFRRJ, de acordo com a metodologia descrita na AOAC (2000) e de extrato etéreo (EE) segundo a metodologia descrita por Bligh & Dyer (1959), utilizando clorofórmio, metanol, água destilada e sulfato de sódio a 1,5% nas proporções 1:1:0,8:0,5, respectivamente, em relação a massa da amostra. A submissão do extrato à prospecção fitoquímica para determinação de saponinas, taninos e alcaloides seguiu-se a metodologia por descrita em Matos (1988).

Resultados e Discussão

Os resultados da análise bromatológica do extrato metanólico bruto e da Urochloa humidicola in natura estão apresentados na Tabela 1. O extrato apresentou 10,20% de PB, 35% de EE e 16,14% de MM e traços dos constituintes fibrosos (FDN, FDA, HEM, CEL e LIG), o que pode ser explicado pelo método de extração que foi por maceração a frio com metanol, que extraiu somente os constituintes solúveis, carreando somente compostos nitrogenados, lipídeos e minerais. O extrato etéreo tem sua importância na nutrição de ruminantes, pois em alta concentração está relacionando à baixa degradabilidade da fibra, pois possuem efeito tóxico sobre as bactérias celulolíticas e/ou formam uma barreira que impedem a sua adesão ao alimento (MEDEIROS et al., 2015). O teor de CNF foi obtido segundo a equação CNF= 100 – (%FDN + %PB + %EE + %MM) proposta pelo NRC (2001). O extrato apresentou 39,92% de CNF. O resultado da prospecção fitoquímica do extrato metanólico bruto da U. humidícola foi positivo para taninos e saponinas e alcaloide. Taninos e saponinas são relatados pelos seus efeitos na indução da fermentação ruminal (WENCELOVÁ et al., 2014), por alterar a população de microrganismos ruminais. Já Aguilar-Hernández et al. (2016) citaram o efeito da suplementação com alcaloide sobre a fermentação ruminal e o aproveitamento dos constituintes nitrogenados em bovinos holandeses confinados. O resultado referente à qualidade nutricional e química do extrato da U. humidícola obtido neste trabalho, demostrou que este possui características que permite sua utilização como aditivo fitogênico na alimentação de ruminantes. Tal qual foi demostrado por Wanapat et al. (2013) que utilizaram extratos de plantas contendo taninos condensados e saponinas como aditivos na alimentação de ruminantes, como modulador da fermentação ruminal, em oposição ao uso de aditivos químicos.

Conclusões

O extrato metanólico bruto de Urochloa humidicola possui características nutricionais e presença de metabolitos os quais permitem seu emprego como aditivo fitogênico em alimentação de ruminantes.

Gráficos e Tabelas




Referências

AGUILAR-HERNÁNDEZ, J. A.; URÍAS-ESTRADA, J. D.; LÓPEZ-SOTO, M. A.; BARRERAS, A. PLASCENCIA, A.; MONTAÑO, M.; GONZÁLEZ-VIZCARRA,V. M.; ESTRADA-ANGULO, A.; CASTRO-PÉREZ, B. I.; BARAJAS, R.; ROGGE, H. I.; ZINN, R. A. Evaluation of isoquinoline alkaloid supplementation levels on ruminal fermentation, characteristics of digestion, and microbial protein synthesis in steers fed a high-energy diet. Journal of Animal Science. v. 94, n. 1, p. 267-274, 2016.   ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. 2000. Official Methods of Analysis. 17th ed. A.O.A.C. Gaithersburg, Maryland. BARBOSA, J.D., C.M.C. OLIVEIRA, C.H. TOKARNIA, e P.V. PEIXOTO. Fotossensibilização hepatógena em equinos pela ingestão de Brachiaria humidicola (Gramineae) no Estado do Pará. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 26, n. 3, p. 147-153, 2006.   BLIGH, E.G., AND W.J. DYER. A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian Journal Biochemistry and Physiology, v. 37, n. 8, p. 911-917, 1959. CODOGNOTO, L.C; PORTO, M.O.; CAVALI, J.; FERREIRA, E.; STACHIW, R.  Alternativas de mitigação de emissão de metano entérico na pecuária. Revista Brasileira de Ciências da Amazônia, v. 3, n. 1, p. 81-92, 2014.   EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Brasil, 412 p., 1999. GIL-CHAVEZ, G.J.; VILLA, J.A.; AYALA-ZAVALA, J.F.; HEREDIA, J.B.; SEPULVEDA, D.; YAHIA, E.M.; GONZALEZ-AGUILAR, G.A. Technologies for extraction and production of bioactive compounds to be used as nutraceuticals and food ingredients: an overview. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, v. 12, n. 1, p. 1-19, 2013. GOEL, G.; MAKKAR, H. P. S. Methane mitigation from ruminants using tannins and saponins. Tropical Animal Health Production, v. 44, n. 4, p. 729-39, 2012. MATOS, F. J. A. Introdução a fitoquímica experimental. Fortaleza: Edições UFC, 1988. 124p. MEDEIROS, S. R.; GOMES, R. C.; BUNGENSTAB, D. J. Nutrição de bovinos de corte: fundamentos e aplicações, Brasília, DF: Embrapa, 176 p., 2015. NATIONAL RESEARCH COUNCIL. NUTRIENT REQUIREMENTS OF DAIRY CATTLE. NRC. 7 ed. Washington, D.C.: National Academic Press, 381 p., 2001. NEPOMUCENO, D.D., ALMEIDA, J.C.C.; CARVALHO, M.G.; FERNANDES, R.D.; CATUNDA JÚNIOR, F.E.A. Classes of secondary metabolites identified in three legume species. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 42, n. 10, p.700-705, 2013.   SAEG - Sistema para Análises Estatísticas, 2007. versão 9.1: Fundação Arthur Bernardes – UFV – Viçosa. SIROHI, S.K.; GOEL, N.; SINGH, N. Utilization of saponins, a plant secondary metabolite in enteric methane mitigation and rumen modulation. Annual Research and Review in Biology, v. 4, n. 1, p. 1-19, 2014.   WANAPAT, M.; S. KANG, AND S. POLYORACH. Development of feeding systems and strategies of supplementation to enhance rumen fermentation and ruminant production in the tropics. Journal of Animal Science and Biotechnology, v. 4, n. 32, p. 1-11, 2013. WENCELOVÁ, M.; VÁRADYOVÁ, Z.; MIHALIKOVÁ, K.; JALČ, D.; KIŠIDAYOVÁ, S. Effects of selected medicinal plants on rumen fermentation in a high-concentrate diet in vitro. The Journal of Animal & Plant Sciences, v. 24, n. 5, p. 1388-1395, 2014.