NITROGÊNIO UREICO NO LEITE E SANGUE DE VACAS LEITEIRAS COM NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO E PERÍODOS DE OCUPAÇÃO DO PASTO

Nadia Nobrega Valdo1, Danilo Pereira da Silva2, Bruno Emerick Anacleto3, Matheus Abinel Calado4, Amanda Gabriele de Lima5, Matheus Luis Vieira Silva6, Amandio de Oliveira da Silva Junior7, Frank Akiyoshi Kuwahara8
1 - Universidade do Oeste Paulista
2 - Universidade do Oeste Paulista
3 - Universidade do Oeste Paulista
4 - Universidade do Oeste Paulista
5 - Universidade do Oeste Paulista
6 - Universidade do Oeste Paulista
7 - Universidade do Oeste Paulista
8 - Universidade do Oeste Paulista

RESUMO -

No Brasil, grande parte da produção de leite no pais é dada em sistema de pastagem, onde a suplementação faz-se necessário em razão da sazonalidade de produção e qualidade da forragem. No entanto, manejo inadequado comete no aumento do custo de produção e na qualidade do leite. Dessa maneira, o objetivo do experimento foi avaliar o nitrogênio ureico no leite (NUL) e no sangue (NUS). Foram utilizadas 12 vacas leiteiras mestiças (Holandes x Gir) em um delineamento experimental quadrado latino com esquema fatorial 4×4. Os tratamentos foram, dois períodos de ocupação por piquete: um e dois dias de ocupação; e dois níveis de suplementação de ração concentrada: 1,5 e 3,0 kg.animal-1.dia-1, compondo quatro tratamentos. Para pastejo dos animais utilizou-se uma área de Urochloa brizantha cv. Convert. Para determinação de NUL e NUS, foi retirava a cada 15 dias uma amostra de leite no momento da ordenha e de sangue, logo após a ordenha em dois dias consecutivos, por animal. Não houve efeito significativo (p>0,05) em nenhuma das variáveis analisadas. Os altos níveis de NUS refletem a alta ingestão de proteína bruta (PB), principalmente da pastagem tropical.

Palavras-chave: nitrogênio ureico no leite, nitrogênio ureico no sangue, Urochloa brizantha, bovino de leite

UREA NITROGEN IN MILK AND BLOOD OF DAIRY COWS WITH SUPPLEMENTATION LEVELS AND PERIODS OF PASTURE OCCUPATION

ABSTRACT - In Brazil, much of the milk production in the country is from grazing system, where supplementation it is necessary due to the seasonality of production and quality of forage. However, inadequate management commits in the increase in the cost of production and quality of milk. In this way, the objective of the experiment was to evaluate the levels of urea nitrogen in milk (NUL) and in the blood (NUS). Twelve 12 crossbred dairy cows (Holandes x Gir) were used in a latin square experimental design with a 4x4 scheme. The experimental treatments used were two periods of occupation per picket: one and two days of occupation; and two levels of concentrated feed supplementation: 1.5 and 3.0 kg.animal-1.day-1, composing four treatments. For the grazing of the animals an area of Urochloa brizantha cv. Convert. For the determination of NUL and NUS, a milk sample was taken every 15 days at the time of milking and blood, immediately after milking on two consecutive days per animal. There was no significant effect (p>0.05) on any of the analyzed variables. High levels of NUS reflect high intakes of crude protein (CP), principally in tropical pasture.
Keywords: urea nitrogen in milk, urea nitrogen in the blood, Urochloa brizantha, dairy cow


Introdução

O sistema de produção animal em pastejo é a forma mais econômica e prática de alimentação. Contudo, em períodos do ano as forrageiras tropicais apresentam baixa qualidade e quantidade, aliada a este aspecto, o inadequado manejo das pastagens e suplementação comprometem a dieta dos animais e como consequência o seu desempenho produtivo, reprodutivo e a viabilidade econômica do sistema. Apesar das condições ambientais favoráveis, do elevado potencial genético e da alta qualidade e produção de matéria seca (MS) das forrageiras tropicais, existe uma grande necessidade de técnicas e estratégias que visem a constante oferta de MS com alta qualidade para alimentação de vacas leiteiras, com a implementação de novas tecnologias no sistema, visando melhorias na qualidade, produtividade, manejo alimentar e no custo da produção de leite. A compreensão de que a dieta do animal é o principal fator de eficiência do processo de conversão dos alimentos em leite, é fundamental direcionar e orientar técnicas de manejo de pastagem e manejo nutricional adequados, fornecendo uma dieta equilibrada, de alta qualidade, aliando o consumo de pastagem ao concentrado, de maneira que não haja limitações de nutrientes para síntese do leite. Nesse contexto, o presente projeto de pesquisa, teve como objetivo comparar os níveis de nitrogênio ureico no leite e no sangue, de vacas mestiças em lactação mantidas em pastejo rotacionado com dois períodos e ocupação e dois níveis de suplementação.

Revisão Bibliográfica

No Brasil, os sistemas de produção de leite tem o pasto como a base da alimentação dos animais, devido a isso, necessitam de estratégias para contornar a inconstante produção de forragem durante o ano, em consequência das variações climáticas provenientes das estações do ano (SILVA, 2015). Desse modo, para melhor desempenho na produção de leite por animal e por área, é fundamental que se tenha conhecimento da qualidade e quantidade da forragem fornecida, que muitas vezes deve ser aliada ao fornecimento de concentrado (MELLO; PEDREIRA, 2004). Por esse motivo, no terço inicial da lactação é comum o fornecimento de altos teores de proteína na dieta das vacas leiteiras (ELROD; BUTLER, 1993). A qualidade nutricional dos alimentos proteinados para vacas lactantes esta correlacionada com o balanço energético e proteico absorvidos da vaca em comparação às suas necessidades nutricionais (BUTLER, 1998). Segundo Canfield, Sniffen e Butler (1990), a proteína dietética é um dos motivos que alteram a fertilidade de bovinos. Assim, Erold e Butler (1993), afirmam que o excesso da fração de proteína degradável no rúmen (PDR) pode acarretar em prejuízos à fertilidade. De acordo com a literatura, o aumento na ingestão de PDR elevam os teores de amônia (NH3) no rúmen e de ureia no sangue (GUSTAFSSON; PALMQUIST, 1993) e no leite (OLTNER; WIKTORSSON, 1983 apud LUCCI et al., 2006). Segundo Hammond (1997), ocorre maximização da proteína microbiana quando aumenta a relação energia:proteína. Em dietas contendo energia fermentável limitante ou proteína bruta em excesso ou proteína altamente degradável em elevada quantidade poderá haver produção em excesso de NH3. O excesso é absorvido pelas papilas ruminais, cai na corrente sanguínea, é transportado para o fígado, onde é convertido em ureia (RAJALA-SHULTZ; SAVILLE, 2003), essa ureia e lançada no sangue, podendo ter vários destinos (BACH et al., 2005). O teor de ureia no sangue (BRODERIK; CLAYTON, 1997) e no leite (PEIXOTO JR., 2003) podem ser utilizados para verificar a ingestão de proteína bruta, devendo essa corresponder similarmente às necessidades nutricionais do animal, devido aos seguintes motivos: a utilização exacerbada de N na dieta pode acarretar em prejuízos reprodutivos; o excesso de N aumenta as necessidades energéticas, devido ao elevado gasto de energia para excreção desse N;  geração de impactos ambientais negativos em consequência da grande quantidade de N eliminado através das fezes e urina; alto custo dos suplementos proteicos (BRODERIK; CLAYTON, 1997).  

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na Universidade do Oeste Paulista/UNOESTE, em Presidente Prudente, SP. Foram utilizados animais cruzados Holandês X Gir, com mais de 60 dias após o parto, média máxima de produção de leite de 10,50 litros/dia (cv. 19,39%) e média de 490,42kg de peso vivo (PV) (cv. 7,52%), sendo 12 vacas por tratamento, homogêneas quanto à produção de leite, idade, PV e número de partos. O delineamento experimental foi realizado na forma de quadrado latino, em esquema fatorial 4x4. Os tratamentos experimentais utilizados foram dois períodos de ocupação por piquete: um e dois dias de ocupação; e dois níveis de suplementação: 1,5 e 3,0 kg.animal-1.dia-1, sendo, quatro tratamentos. Todos os animais recebiam 400g de ração (18% PB e 72% de NDT) no momento da ordenha e o restante em duas partes iguais de acordo com cada tratamento, fornecido no cocho no período da manha e da tarde. Utilizou-se uma área de Urochloa brizantha cv. Convert manejada em sistema rotacionado. Para os tratamentos com um dia de ocupação, aplicou-se um módulo de 28 piquetes com 250 m2, já para os tratamentos com dois dias de ocupação por piquete, usou-se um módulo de 14 piquetes com 500 m2, ambos com área de descanso com bebedouro e sombra. O fornecimento de ração era realizado separadamente para cada lote, logo após ficavam juntos para o pastejo, em seus respectivos tratamentos. A mudança para um novo piquete era realizada no período da tarde, de acordo com cada tratamento. Toda a pastagem foi adubada com 200 kg de nitrogênio ha/ano, realizada em condições favoráveis de luz, temperatura e água. Para determinação do NUL e NUS, retirava-se a cada 15 dias uma amostra de leite no momento da ordenha e de sangue, logo após a ordenha em dois dias consecutivos, por animal. As amostras de sangue foram encaminhadas para análise no Hospital Veterinário da UNOESTE e analisadas pelo meio do Kit comercial Doles® (Labtest) e as de leite, enviadas para Clínica do Leite da ESALQ/USP. Para a análise dos dados coletados, utilizou-se o modelo tradicional de blocos casualizados, realizando-se a análise de variância pelo procedimento GLM do SAS (2002), e as médias comparadas por meio do teste de Tukey, com nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão

As médias dos teores de nitrogênio ureico no sangue/plasma (NUS/NUP) e NUL nos diferentes tratamentos estão apresentadas na tabela 1. Considerando as médias por período (manhã e tarde) de todos os tratamentos, não foi observado efeito significativo (p>0,05) para as concentrações de NUS e NUL, por esse motivo, os dados de cada período em cada tratamento foram somados, desconsiderando os períodos manhã e tarde. As concentrações de NUS do presente trabalhado mostraram-se acima dos níveis médios aceitáveis que devem ser ≤19,0 mg/dL (BUTLER et al., 1996). Esses resultados podem ser explicados pelo excesso de PB na dieta. Howard et al. (1987), verificaram maiores níveis de NUP em dietas contendo PB de elevada degradabilidade. Lucci et al. (2006), também observaram aumentos lineares nos teores de NUP nos períodos pré e pós-parto de vacas, porém estas eram alimentadas com equivalente de PDR (ureia). Entretanto, no presente trabalho, diferentemente das concentrações de NUS, os teores de NUL mostraram-se dentro dos níveis normais com médias entre 11,88mg/dL e 12,59mg/dL como apresentado em alguns estudos. Segundo Jonker e Khon (1998), os valores normais de NUL, devem estar entre 12 e 16mg/dL. Sabendo-se disso, Doska (2010), afirma que números acima ou abaixo dos mencionados anteriormente podem indicar manejo nutricional inadequado. Estudos realizados por Meyer et al. (2006), confirmaram que rebanhos de maior produtividade podem apresentar maiores valores de NUL. Fato que também foi confirmado por Doska (2010), com correlação linear entre NUL e produção de leite moderada e positiva (r=0,34). Dessa forma, uma possível justificativa para as menores taxas de NUL em relação ao NUS do presente trabalho pode estar relacionada à produtividade do rebanho, uma vez que os animais utilizados no experimento eram de baixa produtividade, logo, apresentaram menores concentrações de NUL. Outro fator que pode ser usado como justificativa, seria a idade dos animais, pois, segundo estudos realizados por Doska (2010), vacas mais jovens apresentaram maiores valores de NUL quando comparadas a vacas mais velhas. Isso pode ocorrer devido ao excesso de NH3 absorvido pelo rúmen em relação a menor produção de leite das vacas de primeira cria se comparadas a vacas mais velhas, dessa forma, há menor diluição do nitrogênio ureico no leite. Tabela 1. Médias das concentrações de NUP e NUL (mg/dL) Segundo Butler et al. (1996), níveis de NUP acima de 19 mg/dL estão associados a diminuições nas taxas de fertilidade. De acordo com Doska (2010), essa diminuição ocorre devido a influência da ureia no pH uterino, pois compromete gravemente o desenvolvimento embrionário, alterando também as secreções uterinas, consequentemente, influenciando negativamente as taxas de prenhez desses animais. Fergunson et al. (1993) afirmam que a taxa de níveis de NUS acima de 20 mg/dL diminuem a taxa de concepção das vacas. Em contrapartida Carroll et al. (1998), dizem não ter encontrado prejuízos na taxa de concepção com níveis de NUS entre 15, 24 e 26 mg/dL.

Conclusões

Altas quantidades de PB na dieta proveniente de dietas forragem tropicais ricas em nitrogênio não-proteico e quantidade de concentrado acima do ideal, mostram níveis de NUS acima dos limites aceitáveis, já as concentrações de NUL apresentam valores abaixo do limite máximo.

Gráficos e Tabelas




Referências

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