Retorno econômico da produção de milho grão e boi gordo em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária

Gabriela Geraldi Mendonça1, Jeferson Garcia Augusto2, Pedro Mielli Bonacim3, Leonardo Sartori Menegatto4, Flavia Fernanda Simili5, Augusto Hauber Gameiro6
1 - FMVZ- USP, Pirassununga
2 - Instituto de Zootecnia, Sertãozinho.
3 - Instituto de Zootecnia, Sertãozinho.
4 - Instituto de Zootecnia, Sertãozinho.
5 - Instituto de Zootecnia, Sertãozinho.
6 - FMVZ- USP, Pirassununga

RESUMO -

O objetivo do trabalho foi calcular o retorno econômico da produção de milho grão e pecuária de corte em quatro tipos diferentes de implantação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária. O experimento aconteceu no Instituto de Zootecnia em Sertãozinho SP. Os tratamentos experimentais foram: milho + capim-marandu semeados simultaneamente (MC); milho mais capim-marandu semeados simultaneamente + Nicosulfuron (MCH); milho mais capim-marandu semeado na adubação de cobertura do milho (MCC); e milho mais capim-marandu semeados na linha e entre linha do milho + Nicosulfuron (MCLE). Os tratamentos foram implantados em dezembro de 2015 e avaliados durante um ano. Planilhas eletrônicas do Microsoft Excel® foram utilizadas para a elaboração do fluxo de caixa. Embora o maior custo total (R$/ha) tenha acontecido no tratamento MCLE, esse também obteve a maior receita total, havendo, portanto, melhor retorno econômico, em relação aos demais tratamentos experimentais.

Palavras-chave: custos, análises econômicas, planejamento pecuário

Economic return of corn grain and beef cattle production in integrated crop-livestock systems

ABSTRACT - This study aimed to calculate the economic return of corn grain and beef cattle production in four different type of integrated crop-livestock systems. The experiment was developed at the Institute of Animal Science in Sertãozinho, Sao Paulo State, Brazil. Experimental treatments were: integrated corn and Palisade grass seeded simultaneously (MC); corn and Palisade grass seeded simultaneously plus herbicide (MCH); corn and Palisade grass sown at corn top dressing (MCC); corn and Palisade grass sown at the line and inter-line of corn plus herbicide (MCLE). All experimental plots were installed in December 2015 and were evaluated for a one-year period. Microsoft Excel® were used for the preparation of cash flow. Although the highest total cost (R$/ha) was in the MCLE treatment, it also obtained the highest total revenue. Thus, the MCH was the best experimental treatment at economic point of view.
Keywords: Cost; Economic analyses; Livestock management


Introdução

Os Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), que alternam, na mesma área, o cultivo de pastagens anuais ou perenes destinadas à produção animal e culturas de produção vegetal, representam uma alternativa promissora para a produção racional de proteína animal e vegetal. Pesquisas já demonstraram benefícios ambientais e produtivos obtidos com a implantação de sistemas integrados. A melhoria das qualidades químicas, físicas e biológicas do solo, a ciclagem de nutrientes e o acúmulo de matéria orgânica são apontados como resultados positivos da adoção de sistemas ILP, culminando em produtividades satisfatórias das culturas. Contudo, existe ainda uma lacuna em relação a abordagem desse tipo de sistema pela ótica econômica. É necessário que estudos explorem as diversas opções de sistemas que integram lavoura e pecuária, demonstrando benefícios econômicos, objetivando a adoção desse tipo de sistema em escala comercial. O objetivo do trabalho foi calcular o retorno econômico da produção de milho grão e pecuária de corte em quatro tipos diferentes de implantação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária.

Revisão Bibliográfica

Segundo Salton et al. (2008), no Brasil, os sistemas integrados podem ser arranjados de diversas maneiras, utilizando diferentes espécies animais e vegetais, havendo diferenças em relação aos manejos de implantação, sucessão e/ou rotação. As diversas possibilidades de combinações de espécies forrageiras, culturas anuais, manejos e objetivos em relação às culturas, determinarão a rotina de manejos realizados, bem como custos e retornos financeiros. A integração da cultura do milho junto com gramíneas do gênero Brachiaria é um tipo de integração que tem sido muito explorada em sistemas ILP (MATEUS et al., 2011). O milho pode ser utilizado para diversos fins, como alimentação animal, na forma de grãos ou silagem, além da alimentação humana. O cultivar Marandu se destaca pela alta produção de massa, maior adaptação à seca, resistência à cigarrinha e por proporcional desempenho animal satisfatório. A maior parte dos dados já conhecidos referem-se implantação simultânea do milho para produção de grãos e Brachiaria, sendo a semente do capim misturada ao adubo de plantio (KLUTHCOUSKI et al., 2003). O crescimento inicial da Brachiaria é lento, favorecendo o desenvolvimento inicial do milho (BARDUCCI et al., 2009), que apresenta maior taxa de acúmulo de matéria seca nos estágios iniciais de desenvolvimento, devido a capacidade de interceptar radiação fotossintética ativa (SAWYER et al., 2010). Contudo, existe também a possibilidade de o capim ser semeado na adubação de cobertura do milho, minimizando a competição que pode haver entre a gramínea e a cultura do grão. Borghi et al. (2013) obtiveram maior produtividade de grãos de milho quando a Brachiaria cv. Marandu foi semeada no momento da adubação de cobertura, em comparação à semeadura simultânea das duas espécies. Freitas et al. (2008) alegam que o vigor do desenvolvimento do capim poderia ser prejudicial para o desenvolvimento inicial do milho, destacando a necessidade de aplicação de herbicidas que atrasem o desenvolvimento do capim. Assim, é necessário que pesquisas científicas continuem abordando as técnicas mais promissoras para a implantação dos sistemas integrados e tal abordagem deve acontecer, inclusive, do ponto de vista econômico.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Centro Avançado de Pesquisa em Bovinos de Corte de Sertãozinho - Instituto de Zootecnia, SP. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro tratamentos, semeados em dezembro de 2015: milho + capim-marandu semeados simultaneamente (MC), milho + capim-marandu semeados simultaneamente + Nicosulfuron (MCH), milho + capim-marandu semeados na adubação de cobertura do milho (MCC) e milho + capim-marandu semeados na linha e entre linha do milho + Nicosulfuron (MCLE). A área de cada tratamento foi de 3 ha.  A avaliação econômica se refere ao ano de 2016. O milho utilizado foi um híbrido para produção de grãos. A semente de capim-marandu foi misturada no adubo de plantio, exceto no tratamento MCC. No tratamento MCH e MCLE foi realizada aplicação de 200 ml/ha de Nicosulfuron, após 20 dias da emergência do milho, para controle do capim. Para adubação de plantio foram utilizados 400 kg/ha (fórmula: 8-28-16), bem como na adubação de cobertura (fórmula: 20-0-20).  Em novembro de 2016, todos os tratamentos foram adubados com 400 kg/ha da fórmula 20-5-20. Os custos variáveis (CV) foram compostos por sementes, adubos, herbicidas e inseticidas, compra de boi magro e sal mineral. Os custos fixos (CF) foram compostos pela depreciação e mão de obra. Os CF foram calculados para a área experimental e extrapolados para uma propriedade representativa de 45 há. A tomada de decisão acerca do tamanho da propriedade representativa se baseou no tamanho médio de propriedades com um trator 125 cv, no Estado de São Paulo. O Microsoft Excel® foi utilizado para a elaboração do fluxo de caixa. Foram utilizados dados dos últimos 10 anos do Instituto de Economia Agrícola para a determinação de preços médios, corrigidos do efeito da inflação para o mês de novembro de 2016, usando o INPC do IBGE. As receitas foram compostas pela produtividade do milho (sacas 60 Kg) e boi gordo (@).

Resultados e Discussão

Os CV, CF e custos totais (R$/ha), bem como as receitas (R$/ha), de cada tratamento, estão descritos na tabela 1. As produtividades do milho grão e do boi gordo, utilizadas para o cálculo das receitas, estão descritos na tabela 2. Os tratamentos MC e MCC apresentaram menores custos variáveis (R$ 8.181,20/ha e R$ 7.944,16/ha, respectivamente) quando comparados com os tratamentos MCH e MCLE (R$ 8.389,10/ha e R$ 8.430,70,00/ha, respectivamente). O custo variável mais elevado nesses últimos tratamentos pode ser explicado pela compra do herbicida Nicosulfuron para controle do capim-marandu, que visa evitar a competição inicial entre o milho e a gramínea. Para o cálculo dos CF foi considerado o mesmo número de funcionários para todos os tratamentos, tento variado, portanto, apenas o maquinário e implementos necessários para a implantação e manejos de cada tratamento experimental. O CF de MC e MCH foram iguais (R$ 1.895,55/ha), visto que para o manejo experimental de ambos os tratamentos o mesmo maquinário e implementos foram utilizados. A aplicação do Nicosulfuron, que é a diferença entre os tratamentos MC e MCH, é realizada com o mesmo pulverizador, não sendo necessário, portanto, a compra de implemento extra para a aplicação desse herbicida. Os menores CF dos tratamentos MCC e MCLE (R$ 1.893,29/ha e R$ 1.890.99/ha, respectivamente) também são justificados pelo maquinário e implementos. Embora a mesma semeadora/adubadora (Jumil Modelo JM2580) tenha sido utilizada para MC, MCH e MCC, no tratamento MCC foi necessário um implemento diferente (cultivador Tatu Marchesan Modelo CAC/CPD S-0802), para a implantação das sementes de capim, na adubação de cobertura do milho. Já no tratamento MCLE foi utilizada uma semeadora diferente (Tatu Marchesan Modelo PDCP), visto que a implantação do capim na linha e na entrelinha do milho não poderia ser realizada com a mesma semeadora utilizada nos demais tratamentos. A produtividade do milho entre os tratamentos MCH e MCLE foi bastante semelhante, resultando em receitas, com a venda do grão de milho, muito parecidas. Acredita-se que as maiores produtividades de milho em MCH e MCLE estejam relacionados com a diminuição da competição entre a cultura do grão e a gramínea, já que nesses tratamentos o Nicosufuron foi utilizado. Os animais no tratamento MCLE, ao final do ciclo de pastejo, estavam mais pesados, resultando em maior receita com a venda do boi gordo, o que aconteceu por causa da maior massa de forragem desse tratamento, provavelmente, explicada pelo capim ter sido implantado na linha e entre linha. O tratamento MC foi o que apresentou menor produtividade de milho grão e animais mais leves, ao final do ciclo de pastejo, o que justifica a menor receita (R$ 1.5026,80/ha) obtida, se comparada aos demais tratamentos. Os retornos econômicos para os tratamentos MC, MCH, MCC e MCLE foram, respectivamente: R$ 3.983,94; R$ 4.549,22; R$ 4.633,54; e R$ 4.711,84.

Conclusões

Entre as opções estudadas para a implantação de sistemas ILP, o tratamento experimental MCLE resultou em maior retorno econômico (R$/ha), se comparado aos demais tratamentos. Mais estudos são necessários, com o objetivo de validar a alternativa de implantação de sistemas integrados que seja mais viável economicamente.

Gráficos e Tabelas




Referências

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