Influência das estações do ano nas caraterísticas de carcaça de bovinos criados no Planalto Serrano Catarinense

Influence of the seasons on the carcass characteristics of cattle reared at Planalto Serrano Catarinense

ABSTRACT - The CooperTropas program is carried out in the Serrana region of the Santa Catarina state and has the purpose of produce meat with high quality, from young cattle raised on pasture. The study evaluated the available productive data that cover the period from April 2015 to July 2016, in order to evaluate the influence of the seasons on carcass characteristics of castrated male and female bovines. We used productive data of 701 animals, 531 castrated males and 170 females. Data were submitted to analysis of variance and means were compared by Tukey test at 5% significance level. It is observed that the seasons of the year influence the carcass characteristics of both castrated males and females, since the variables body weight and hot carcass for males and body weight, hot carcass weight and fat deposition for females showed a significant difference according to a season.

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Introdução

Santa Catarina destaca-se na produção de carne, especialmente suína e de aves, e pela produção leiteira de pequenos produtores que compõem a cadeia produtiva deste segmento no estado. Com relação à pecuária de corte, esta possui uma produção insuficiente, exigindo que o déficit seja suprido com a aquisição de carne de outros estados. Localizado na região serrana do estado, o programa CooperTropas foi iniciado em 2012, devido ao aumento da demanda por carne de qualidade, alicerçada ao desejo de produtores rurais inseridos nessa região em produzir e entregar ao mercado uma carne diferenciada, que atenda aos anseios do consumidor final. Este programa é baseado na criação e abate de animais precoces, criados a pasto e recebem, quando necessário, apenas uma suplementação em períodos mais críticos do ano, em que ocorre menor disponibilidade forrageira e acarreta em um menor ganho de peso animal. A produção de bovinos em pastagens enfrenta diversos desafios, uma vez que ocorrem limitações tanto na qualidade quanto quantidade de forragem disponível ao longo do ano devido à estacionalidade forrageira para atender o requerimento animal (REIS et al., 2011). Este efeito na pecuária de corte é evidente, o que implica em uma variação acentuada de ganho de peso, e consequente atraso na idade de abate. Diante disso, o objetivo do estudo foi avaliar os dados produtivos dos animais abatidos por este programa com o intuito de avaliar a influência das estações do ano nas caraterísticas de carcaça de bovinos.

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Revisão Bibliográfica

Segundo Hoffmann et al., (2014) as características intrínsecas relacionadas às plantas forrageiras devem ser levadas em consideração para melhorar o desempenho produtivo dos animais, com o objetivo de garantir a lucratividade do sistema. Conforme o autor o desempenho animal está ligado ao manejo sanitário, a genética, e a alimentação dos mesmos. Sanadas as questões de manejo e genética, o consumo, a oferta e a qualidade do alimento são fatores chaves para o pleno desenvolvimento corporal do animal. A terminação de bovinos a pasto pode promover ao produtor uma produção com menores custos, se for comparado com o sistema de produção em confinamento. Contudo, esses animais terminados a pasto podem necessitar de um período maior para obtenção dos requisitos básicos para serem abatidos como peso de carcaça e acabamento de gordura, sendo abatidos geralmente com uma idade mais avançada que os terminados em confinamento. A pastagem deve ser compreendida como um recurso nutricional basal de elevada complexibilidade, uma vez que sua capacidade de fornecimento de substrato para produção animal sofre com a variação qualitativa e quantitativa durante o ano, em função da influência de variáveis climáticas, como precipitação, temperatura e radiação solar (DETMANN et al., 2010) e isto consequentemente pode afetar o desempenho dos animais. Conforme Pires & Melo (2010), dentro do segmento de carne bovina, observando o aumento de exigência dos consumidores, o varejo passou a exigir dos frigoríficos o fornecimento de carcaças e carnes que apresentem certas características qualitativas como maciez, cor e suculência. Segundo o autor esse fato levou os frigoríficos a procurarem obter junto aos produtores, animais precoces com adequado acabamento de gordura e carne de qualidade. A exigência de acabamento nas carcaças é bem conhecida dos pecuaristas brasileiros, devido ao fato de nos últimos anos a cobertura de gordura ter se tornado um importante indicador de qualidade. E segundo, por afetar diretamente a velocidade de resfriamento da carne, no qual trabalha como um isolante térmico sem interferir no processo de transformação de músculo em carne (PEIXOTO, 2000). Como observado, vários fatores podem influenciar na qualidade do produto final. Fatores estes que podem ser estudados e melhorados com intuito de aumentar a qualidade da carne e a eficiência produtiva.

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Materiais e Métodos

Foram utilizados os dados produtivos obtidos a campo e durante os abates do programa CooperTropas referente a 701 animais, sendo 531 machos castrados e 170 fêmeas, no período de abril de 2015 a julho de 2016. As características avaliadas foram peso corporal ao abate, sendo esta avaliação realizada ainda na fazenda pelos próprios produtores, posteriormente ao abate foram realizadas outras análises como: peso e rendimento de carcaça e acabamento de gordura em milímetros (mm). A espessura de gordura foi mensurada com auxílio de um paquímetro sobre o músculo Longissimus dorsi, entre a 12ª e 13ª costela. Os bovinos foram criados e recriados em campo nativo e campo nativo melhorado seguidos pela terminação que geralmente ocorre em pastagens cultivadas de aveia (Avena sativa) e azevém (Lolium multiflorum) no inverno e milheto (Pennisetum americanum) no verão. A suplementação é realizada geralmente por um período entre 60 e 90 dias conforme a necessidade, e o principal suplemento fornecido é composto por farelo de soja, milho (proporção 3:1) e mineral. Ao atingirem as caraterísticas básicas para o abate (peso e acabamento visual), os animais são encaminhados a um frigorífico comercial que está sediado na cidade de Lages-SC. Os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas e realizada análise de variância em delineamento inteiramente casualizado, quando detectada diferença significativa a comparação de médias foi conduzida pelo Teste de Tukey (p<0,05). Foram considerados no modelo os dias que o produtor suplementou os animais como covariável.

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Resultados e Discussão

As estações do ano apresentaram diferença significativa (p<0,0001) para as características peso vivo e peso de carcaça quente para os machos castrados e fêmeas, além de acabamento em milímetros para as fêmeas (Tabela 1). Machos castrados apresentaram maior peso vivo ao abate no verão com 454,27kg, o qual foi superior a primavera (441,56kg) e inverno (427,47kg). Não houve diferença significativa entre o peso intermediário observado no outono (443,00kg) e o de verão e o da primavera. Essa diferença de peso pode ser explicada pois durante a primavera e verão, os campos nesta região estão, de uma maneira geral, na sua máxima potencialidade de crescimento e qualidade, proporcionando assim bons ganhos de peso. A partir do final do outono, perdem qualidade e os ganhos começam a diminuir. Em relação ao peso de carcaça quente para os machos castrados, se destacou o verão com 236,93kg em relação a primavera (229,14kg), e inverno (225,32kg), mas não apresentou diferença significativa em relação ao de outono (231,89kg). No trabalho de Menezes et al. (2010), os autores destacaram que os novilhos que foram terminados em pastagens tropicais necessitaram de 2 meses a mais do que o grupo terminado em pastagens de inverno para atingirem o peso de abate. Para as fêmeas o verão e primavera obtiveram pesos vivos sem diferenças significativas, que foram superiores ao peso de outono. Apesar de não ter ocorrido diferença estatística para a característica de rendimento de carcaça, esta influenciou o peso de carcaça quente das fêmeas, sendo maiores no verão, inverno e primavera. A característica de acabamento de gordura nas fêmeas foi maior no inverno (3,71mm) comparado ao outono (3,40mm). Contudo, verão (3,44mm) e primavera (3,57mm) não diferiram dos demais. Menezes et al. (2010), observaram acabamento de 4,38mm de espessura de gordura para animais terminados em pastagens temperadas, valor superior ao observado na carcaça dos animais terminados em pastagem tropical (3,20mm). Isso pode ser explicado devido às pastagens temperadas servirem como uma alternativa viável à alimentação de bovinos, principalmente pela alta qualidade e suprimento do déficit alimentar nesse período (LUPATINI et al., 2013). Ao analisar o acabamento entre as duas classes sexuais observa-se a diferença de acabamento entre as mesmas, na qual as fêmeas se destacam com valores superiores para esta característica, como era de se esperar devido seus atributos de maior precocidade para deposição de gordura comparada aos machos. Nota-se que o maior coeficiente de variação foi obtido pela variável acabamento de gordura tanto para os machos quanto para fêmeas, o que demonstra que mesmo com uma média aceitável para essa característica, superior a 3,0mm em todo o período, existe ainda uma grande variação no acabamento de carcaça dos animais.

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Conclusões

As estações do ano interferem diretamente nas características de carcaça dos bovinos machos castrados e fêmeas, assim acarretam diferenças nas variáveis peso vivo, peso de carcaça quente e ainda nas fêmeas no acabamento de carcaça. Observou-se a oscilação do peso corporal e peso de carcaça quente durante determinadas épocas do ano no sistema de produção a pasto, o que evidencia a necessidade de estratégias de suplementação para minimizar os efeitos causados pela variação da oferta de forragem durante o ano.

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Gráficos e Tabelas

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Referências

Detmann, E.; Paulino, M. F.; Cecon, P. R.; Valadares Filho, S. C.;  Zervoudakis, J. T.; Cabral, L. S.; Leão, M. I.; Reis, R. A.; Siqueira, G. R.; Casagrande, D. R. 2010. Suplementação alimentar de bovinos em pastagens. IN: Pires, A. V. Bovinocultura de corte. Piracicaba: Prol Editora Gráfica, v.1, p.219-249. Hoffmann, A.; Moraes, E. H. b. K.; Mousquer, C. J.; Simioni, T. A.; Gomes, F. J.; Ferreira, V. B.; Silva, H. M. 2014. Produção de bovinos de corte no sistema de pasto-suplemento no período seco. Pesquisas Agrárias e Ambientais, doi: 10.14583/2318-7670.v02n02a10. Lupatini, G. C.; Restle, J.; Vaz, R. Z.; Valente, A. V. V.; Roso, C.; Vaz, F. N. 2013. Produção de bovinos de corte em pastagem de aveia preta e azevém submetida à adubação nitrogenada. Ciência Animal Brasileira, doi: 10.5216/cab.v14i2.21068. Menezes, L. F. G.; Restle, J.; Brondani, I. L.; Silveira, M. F.; Freitas, L. F.; Pizzuti, L. A. D. 2010. Características da carcaça e da carne de novilhos superjovens da raça Devon terminados em diferentes sistemas de alimentação. Revista Brasileira de Zootecnia, doi: 10.1590/S1516-35982010000300028. Pires, P. P.; Melo, T. P. O. 2010. Desafios para a cadeia produtiva da carne bovina. IN: Pires, A. V. Bovinocultura de corte. Piracicaba: Prol Editora Gráfica, v.2, p.1253-1261. Peixoto, A. M.; Moura, J. C.; Faria, V. P. 2000. Produção de novilho precoce. p.273. In: Anais IV Simpósio sobre Pecuária de Corte, Piracicaba.

Reis, R. A.; Oliveira, A. A.; Siqueira, G. R.; Gatto, E. 2011. Semi – confinamento para produção intensiva de bovinos de corte. In: Anais I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte, Cuiabá.