Análise Físico-química e Nutricional de Resíduos Agroindustriais para a Suplementação na Ração Animal

Luiz Alves Barroso Filho1, Vanessa Costa Alvez Galucio2, Nuriely de Sa Teixeira3, Armando Gomes Prestes4, Rita Brito Vieira5, Thiago de Souza6, Thierry dos Santos Ribeiro7, Carlos Alexandre Goes Farias8
1 - Universidade Federal do Amazonas
2 - Universidade Federal do Amazonas
3 - Universidade Federal do Amazonas
4 - Universidade Federal do Amazonas
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6 - Universidade Federal do Amazonas
7 - Universidade Federal do Amazonas
8 - Universidade Federal do Amazonas

RESUMO -

O Brasil se apresenta como um dos maiores produtores e consumidores de carne bovina do mundo, além disso, é um país de grande atividade agrícola, onde o processo de industrialização gera resíduos que causam sérios problemas como a poluição ambiental. Uma das alternativas para a utilização desses resíduos é o uso na alimentação de ruminantes. Sendo assim, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a composição físico-química e nutricional dos resíduos de cupuaçu (casca) e tucumã (casca), visando sua utilização como suplemento na alimentação de ruminantes. As análises nutricionais realizadas quanto ao teor de umidade, MS, MM, NT, PB, EE, FDN, FDA, pH e SST, demonstraram que importantes características nutricionais da fruta in natura são mantidas nas partes residuais indicando que esses resíduos podem compor dietas suplementares de ruminantes, bem como substituir ingredientes, de custo mais elevado, além de promover redução nos impactos ambientais.

Palavras-chave: Alimentação animal; Aproveitamento de resíduos; Casca de Cupuaçu, Casca de Tucumã, Valor nutricional.

Physical-chemical and Nutritional Analysis of Agroindustrial Residues for Animal Feed Supplementation

ABSTRACT - Brazil is one of the largest producers and consumers of beef in the world. In addition, it is a country of great agricultural activity, where the industrialization process generates residues that cause serious problems such as environmental pollution. One of the alternatives for the use of these residues is the use in feed of ruminants. Therefore, the present study was developed with the objective of evaluating the physicochemical and nutritional composition of cupuaçu (bark) and tucumã (bark) residues, aiming at its use as a supplement in ruminant feed. The nutritional analyzes carried out regarding the moisture content, MS, MM, NT, PB, EE, FDN, FDA, pH and SST, showed that important nutritional characteristics of fresh fruits are maintained in the residual parts indicating that these residues may form supplementary diets of ruminants, as well as to substitute ingredients, of higher cost, besides promoting reduction in the environmental impacts.
Keywords: Animal feeding; Use of residues; Bark of Cupuaçu, Bark of Tucumã, Nutritional value.


Introdução

O Brasil se apresenta como um dos maiores produtores e consumidores de carne bovina do mundo. Os sistemas de produção normalmente se baseiam em sistemas de produção a pasto, entretanto, em grande parte do País, em função do regime sazonal, as gramíneas forrageiras apresentam 80% do seu rendimento, acarretando, uma safra e uma entressafra na produção pecuária baseada em pastagens, sendo essa uma das principais limitações para a máxima produção de animais (CRUZ et al., 2013). Nos tempos atuais, o produtor possui várias alternativas alimentares para suprir as deficiências nutricionais desses animais no período de menor disponibilidade de pasto. Entre essas alternativas, destacam-se o uso de grãos de cereais, normalmente caros, uso de silagem, feno, subprodutos da agroindústria e outros (CRUZ et al., 2013). O Brasil é um país de grande atividade agrícola e produz muitos resíduos agroindustriais, o que influi na busca por alternativas de utilização dessa matéria orgânica, devido esses resíduos representam sérios problemas como a poluição ambiental (SILVA et al., 2013). Uma das alternativas para a utilização desses resíduos é seu uso na alimentação de ruminantes que pode levar ao barateamento dos custos de produção e menor tempo de produção. Sendo assim, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a composição físico-química e nutricional dos resíduos de cupuaçu (casca) e tucumã (casca), visando sua utilização como suplemento na alimentação de ruminantes.

Revisão Bibliográfica

A indústria de polpa de frutas no Brasil tem se destacado, alcançando o mercado mundial, principalmente pela disponibilidade e diversidade de frutas tropicais. Apesar dos benefícios comerciais, este desenvolvimento torna o Brasil um dos países que mais produzem resíduos agroindustriais, principalmente oriundos do processamento de frutas, contribuindo para o acumulo de lixo orgânico agravando os problemas ambientais (ROSA et al., 2011).

Cada vez mais vem crescendo a busca por alternativas de utilização dessa matéria orgânica. Com isso, uma das aplicabilidades dos resíduos agroindustriais é o uso como suplemento na alimentação animal, devido os mesmos serem fontes nutricionais valiosas (NRC, 1998).

As formulações de rações para ruminantes geram altos custos, devido ao alto preço dos ingredientes, no entanto, procurando uma alternativa mais viável economicamente, pesquisadores têm buscado alimentos alternativos. Dessa forma, diversos resíduos agroindustriais estão sendo utilizados ou testados na alimentação de ruminantes. Estudos realizados demonstraram que estes resíduos possuem grande valor nutricional em sua composição importantes para as funções fisiológicas (PIENIZ et al., 2009).

A região Amazônica é rica em frutas nativas, consideradas exóticas, sendo bastante apreciadas por seu sabor e alto valor nutritivo. Entre elas está o cupuaçu (Theobroma sp.) e o tucumã (Astrocaryum sp.) que reúnem as melhores condições de aproveitamento industrial (COSTA et al., 2003), sendo encontrados em grande quantidade no Município de Parintins/AM e processados industrialmente por fábrica instalada no local.

O cupuaçu, fruta nativa da Amazônia (SOUZA et al., 1999) se apresenta como uma das mais significantes atividades agrícolas da região, justificada pela larga comercialização da polpa in natura ou processada. A polpa, principal subproduto na escala comercial da espécie, possui excelente aceitação no mercado e larga escala de uso pela indústria alimentícia, com ramificações no mercado nacional e internacional. Contudo, este segmento industrial geralmente utiliza apenas a polpa do fruto, sendo os demais subprodutos, como a semente e casca, pouco aproveitados pelos produtores de cupuaçu.

O tucumã é uma fonte excepcional de vitamina A, sua polpa tem 3 vezes mais vitamina A que a cenoura, também possui boas quantidades de vitamina B1, vitamina C, proteínas e uma grande quantidade de óleo, por isso é uma excelente fonte de calorias (PRADO, 2004).



Materiais e Métodos

As cascas de cupuaçu foram doadas pela Fábrica de Polpa de Frutas e as cascas de tucumã foram recolhidas nas feiras (ambas da cidade de Parintins/AM), após, foram levadas ao Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Amazonas para serem trituradas, expostas ao sol para secagem e posteriormente moídas para obtenção da gramatura apropriada para as análises descritas a seguir.

Umidade e Matéria Seca: foi determinado pelo método de dessecação da amostra até massa constante, em estufa a 105°C (AOAC, 2012). A umidade foi expressa em %, pela fórmula abaixo e a massa seca foi calculada como sendo MS% = 100 – U.

U% = (Massa inicial da amostra – Massa final da amostra) / Massa inicial da amostra x 100

Matéria Mineral ou Cinzas: foram determinadas após completa carbonização em incineração das amostras em mufla a 550°C por 4 horas. As cinzas foram pesadas e os resultados expressos em porcentagem (AOAC, 2012).

Nitrogênio Total e Proteina Bruta: para análise do nitrogênio total aplicou-se o pelo método de Kjeldahl de acordo com a metodologia proposta por Silva e Queiroz (2002) envolvendo três etapas: digestão, destilação e titulação. O teor de proteína bruta foi calculado através da multiplicação do teor de nitrogênio total pelo fator de correção de 6,25.

Extrato Etéreo: foi realizado por extração contínua em aparelho tipo Soxhlet, seguindo a metodologia descrita por AOAC (2012). A gordura extraída foi calculada pela diferença de peso.

Fibra em Detergente Neutro e Fibra em Detergente Ácido: foi obtido pelo método convencional, sendo a técnica proposta por Silva e Queiroz (2002).

pH: as amostras foram submetidas à agitação por cinco minutos e, após sedimentação, foi realizada a leitura em potenciômetro digital portátil (AOAC, 2012).

Sólidos Solúveis Totais: para medir o índice da solução de açúcar contido nas amostras foi utilizada a refratometria. Os resultados foram expressos em grau BRIX como sólidos solúveis. (AOAC, 2012).



Resultados e Discussão

Os resultados das análises físico-químicas e nutricionais estão descritos na Tabela 1.

Após processo de secagem, a casca do cupuaçu apresentou maior perda de umidade (67,23%) comparada a casca do tucumã (40,55%). Estes resultados indicam a influência do clima da região Amazônica na umidade das frutas, fator este destacado por Abud e Naraim (2009), como sendo de grande importância, uma vez que a umidade presente no material interfere na preservação do alimento. Com relação a matéria seca, a casca do tucumã indicou o maior valor, 59,45% comparada a casca do cupuaçu, 32,77%. Para Rodrigues (2010), o conhecimento do percentual da matéria seca contido nos alimentos é importante, pois é com base nela que se estabelece o cálculo da dieta, já que o consumo do alimento pelos animais é expresso em kg de matéria seca/animal/dia.

A composição das cinzas corresponde à quantidade de substâncias minerais presentes nos alimentos (Chaves et al., 2004), os valores de cinzas encontrados foram de 1,77% para casca do cupuaçu e 4,23% para a casca do tucumã que indicou o maior valor.

Nitrogênio total e proteína bruta estão diretamente relacionados, pois, a proteína é determinada pela quantidade de N% em cada amostra multiplicada pelo fator 6,25. De acordo com a tabela 01, a casca do tucumã obteve a maior quantidade de PB, 9,5%, em relação a casca do cupuaçu com apenas 3,31%, segundo Rostagno et al. (2011) as condições mínimas para satisfazer o bom funcionamento do rúmen varia de 6 a 8% de proteína bruta. Com relação aos alimentos convencionais, o valor de PB da casca do tucumã foi maior aos valores encontrados para o milho com 7,88% de PB e polpa cítrica com 6,77% (Rostagno et al., 2011) indicando que esse resíduo quando devidamente balanceado pode ser uma alternativa prática e econômica para épocas de escassez de forragem.

O extrato etéreo encontrado na casca do cupuaçu foi de 0,68%, muito inferior em relação a casca do tucumã que apresentou 25,42%, esse valor indica a alta quantidade de gorduras presentes, fator este que limita o consumo e pode causar danos ao trato gastrointestinal dos ruminantes.

Os valores de FDN e FDA foram, respectivamente, de 76,82% e 45,99% para casca do cupuaçu e 22,42% e 22,95% para casca do tucumã. Segundo Figueiredo (1996) os alimentos com percentuais de FDN acima de 35% garantem teor normal de gordura do leite e, segundo as recomendações do NRC (1998) para alimentação de vacas em lactação o valor exigido é no mínimo de 21% de FDA.

Segundo Hoffmann (2001) a acidez é um fator de fundamental importância na limitação dos diferentes microrganismos capazes de se desenvolver no alimento, os dois resíduos analisados apresentaram o pH parecidos, sendo de 5,13 para casca do cupuaçu e 5,36 para casca do tucumã.

Os valores de SST expressos em °Brix foram de 0,1 para de casca de cupuaçu e 0,9 para casca de tucumã. O alto suprimento de água diminui a percentagem de açúcares, fator este que é evidenciado pela alta quantidade de umidade na casca do cupuaçu.



Conclusões

Os resíduos do cupuaçu (casca) e do tucumã (casca) podem compor dietas suplementares de ruminantes, bem como substituir ingredientes, de custo mais elevado, além de promover redução nos impactos ambientais.

Gráficos e Tabelas




Referências

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