Perfil dos programas de inseminação artificial voltados a bovinocultura leiteira no Oeste Catarinense
Diego de Córdova Cucco1, Lucimara Beatriz Simon2, Fabrício Pilonetto3, Thiago Luiz Mattiello4, Guilherme Freiberger5, Aline Zampar6
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RESUMO -
Devido ao aumento da importância da produção de leite na região e o fomento de entes públicos para a realização de inseminação artificial (IA) nos rebanhos, estudamos a situação destes programas. Foi aplicado questionário de pesquisa nos 20 municípios de maior produção de leite do oeste de Santa Catarina. O questionário foi dividido em oito itens, a saber: dados do município; dados de produção das propriedades atendidas; dados dos inseminadores; custos do programa de IA; dados do sêmen; manejo e dados do botijão; problemas reprodutivos. Cerca de 66% dos produtores destes municípios participam dos programas. O número de inseminadores em cada município oscila entre 2 a 73 profissionais e, em alguns casos não conseguem atender a demanda das propriedades. As prefeituras demonstram grande interesse em auxiliar os produtores no melhoramento genético, contudo, em alguns casos são necessários pequenos ajustes técnicos desde a compra do sêmen até a inseminação artificial dos animais.
Palavras-chave: melhoramento genético, produção de leite, sêmen
Profile of artificial insemination programs for dairy cattle in Western Santa Catarina
ABSTRACT - Due to increased importance of milk production in region and the promotion of public entities to the realization of artificial insemination (AI) in the herds, we study the situation of these programs. A research questionnaire was applied in the 20 municipalities of higher milk production of the Western Santa Catarina. The questionnaire was divided into eight items: data of the municipalities; production data of the properties; data of inseminators; cost of the AI; data of the semen; management and data of the container; reproductive problems. About 66% of the properties these municipalities participate in the programs. The number of inseminators in the municipalities varied from 2 to 73 professional; in some cases they can’t answer the demand of the properties. The prefectures demonstrate great interest in assisting producers in genetic improvement, however, in some cases minor technical adjustments are necessary from the purchase of semen to artificial insemination of animals.
Keywords: genetic improvement, milk production, semen
Introdução
A produção de leite cresceu gradativamente nos últimos anos, o Brasil está na quarta posição da produção mundial de leite atrás da União Europeia, Estados Unidos e Índia e, produziu 35,12 bilhões de litros de leite em 2014. No entanto, houve um retrocesso no ano de 2015, com produção de 35 bilhões, 0,4% menor que no ano anterior (IBGE 2015).
No estado de Santa Catarina, a bovinocultura de leite tem ocupado um importante papel econômico e social, principalmente na região Oeste do estado que concentra aproximadamente 73% da produção de leite estadual (HEIDEN, 2013).
Embora a produção de leite uma das bases da economia familiar, muitos produtores encontram dificuldades tecnológicas e necessitam de apoio para a capacitação técnica, que quando bem conduzido, pode proporcionar, principalmente aos pequenos produtores, eficiência e lucratividade.
Nesta região, os produtores contam com a ajuda das prefeituras através dos programas de inseminação artificial (IA), para contribuir no melhoramento genético dos rebanhos. Estes programas fornecem sêmen, materiais para a realização da inseminação e assistência técnica, com isso, têm-se incentivado a permanência dos produtores na atividade e no campo e isto pode influenciar diretamente o desenvolvimento da bovinocultura nos municípios. O objetivo deste trabalho foi obter maiores informações sobre como são realizados os programas de inseminação artificial adotados pelas prefeituras da região do Oeste Catarinense.
Revisão Bibliográfica
A região oeste catarinense é dividida em cinco microrregiões, sendo elas, a microrregião de Chapecó composta por 38 municípios, Xanxerê com 17, Concórdia com 15 e São Miguel do Oeste com 21 municípios (IBGE, 2017).
Diante da importância que a cadeia leiteira tem no estado e na região, as cooperativas e prefeituras atuam como melhoradoras das condições de produção de leite no campo. Isto devido à necessidade de produzir leite que atenda à legislação e à demanda das indústrias, principalmente para a produção de leite com alto rendimento lácteo. Estes objetivos podem ser atingidos com o auxílio da seleção de animais com alto potencial genético para as características produtivas.
Os constituintes do leite (gordura, proteína, lactose e minerais) podem ser modificados pela genética e pelo ambiente. As porcentagens de sólidos são características de herdabilidades medianas, cerca de 0,20 a 0,45 (ANDRADE et al. 2007), assim podem ser melhoradas por meio da seleção de touros com alto valor genético para estas características.
Os órgãos públicos da região têm adotado programas de melhoramento animal, que se tornam importantes na melhoria dos aspectos produtivos, econômicos e sociais da produção leiteira. É essencial que os mesmos sejam avaliados para adequar o desenvolvimento da atividade leiteira e também como um incentivo para a permanência dos produtores na atividade e no campo (Broch, 2016).
Estes programas visam disponibilizar sêmen de touros leiteiros aos produtores rurais. No entanto, em algumas situações não há um controle zootécnico para o direcionamento dos acasalamentos, nem o controle dos materiais para a realização das inseminações, tais como manejo de botijão e nitrogênio. Segundo Lopes et al. (2009), a escrituração zootécnica é uma importante ferramenta para a avaliação da lucratividade, pois esta relacionada com os índices produtivos da propriedade. Assim, produtores e técnicos devem calcular os índices zootécnicos e identificar aqueles que afetam a rentabilidade da atividade, identificando os pontos de estrangulamento, maximizando a produção e minimizando os custos.
Materiais e Métodos
Foram selecionados cinco municípios de maior produção de leite das quatro microrregiões do oeste catarinense, são elas: São Miguel do Oeste, Chapecó, Xanxerê e Concórdia, assim 20 municípios colaboraram com a pesquisa. O ranking dos cinco municípios de cada microrregião de maior produção de leite foram baseados nos dados disponíveis pelo senso agropecuário de 2013, a produção anual entre os municípios variou de 16.842 a 99.011 mil litros ao ano. As entrevistas foram realizadas com os responsáveis pelos programas de IA dos municípios, por meio de visita presencial, contato telefônico e contato via e-mail, sobre informações dos programas de inseminação utilizados pelas prefeituras.
O questionário foi dividido em oito itens, sendo estes: dados do município; dados da produção das propriedades atendidas (número de propriedades atendidas, tamanho do rebanho das propriedades, produção média de leite e o sistema produtivo); manejo do botijão (número de botijões no município, localização, frequência de recarga de nitrogênio, as empresas que fornecem nitrogênio e o custo por litro); dados dos inseminadores (número de inseminadores no município, quantas IA são realizadas por dia, deslocamento médio diário (Km), método de transporte do sêmen até as propriedades e como foi realizada a escolha dos inseminadores); custos do programa de IA (sêmen, deslocamento e inseminador); dados do sêmen (como é realizada a compra de sêmen, de quanto em quanto tempo realiza a compra, entrega e qual a empresa que fornece o sêmen); dados do botijão (quantas raças e quais são os touros); problemas reprodutivos (repetição de cio e aborto). Os dados foram analisados por estatística descritiva, com auxílio de gráficos e tabelas.
Resultados e Discussão
A grande maioria das propriedades rurais atendidas são de pequeno porte, 17 hectares em média, tendo de 20 a 29 animais em média no rebanho conforme a microrregião. Grande parte destas propriedades rurais é atendida pelos programas de inseminação artificial dos municípios (Figura 1). Deste modo, constatamos que em média, na região Oeste, 66% das propriedades participam dos programas de IA oferecidos pelas prefeituras, denota-se assim a importância destes programas para a região.
Todos os municípios entrevistados possuem botijões para atender os programas de IA, sendo que a variação entre os municípios foi de 3 a 73 botijões. Verificou-se que o fornecimento do nitrogênio foi realizado por oito empresas, sendo que duas delas participam com 58% total de nitrogênio demandado pelos municípios. Não foi observada uma relação clara entre o número de botijões e o preço pago pelo litro do nitrogênio. Há uma grande oscilação no preço pago pelos municípios, de R$ 1,20 a R$ 4,69 por litro, diferença de 291%. Uma mesma empresa apresenta variação no preço de R$ 2,00 a R$ 4,69 por litro conforme o município, o que gera grande impacto no custo. Notamos que no extremo oeste do estado, microrregião de São Miguel do Oeste, os preços foram mais elevados (Figura 2).
O número médio de inseminadores por microrregião variou entre 13 a 44 inseminadores. O que pode ter sido influenciado diretamente devido ao número de botijões por municípios e pela localização dos mesmos, nas prefeituras ou nas comunidades. O deslocamento realizado pelos inseminadores variou muito entre os municípios, o que pode ser influenciado pelo número de inseminadores em cada município, número de propriedades, localização e a quantidades de inseminações realizadas. Não há uma relação clara entre número de inseminadores e número de inseminações, muitas prefeituras não têm o controle do número de doses utilizadas por inseminador e/ou propriedades. Os custos atrelados ao procedimentos de IA aos produtores oscilaram de R$ 22,00 a R$ 35,00.
Duas raças de bovinos de leite eram disponibilizadas em 67% dos municípios (Holandês e Jersey), 20% oferecem sêmen de três raças Holandês, Jersey e Gir leiteiro, e 13% dos municípios apresentam sêmen de quatro raças Holandês, Jersey, Gir leiteiro e Pardo-Suíço.
Cerca de 94% dos municípios citaram problemas com repetição de cio, devido problemas relacionados à nutrição, questões sanitárias, manejos na inseminação artificial e demais fatores ambientais (temperatura, água e umidade). Apenas em um município não houve relato de problemas de repetição de cio. Outro problema enfrentado foi em relação aos abortos, 78% dos municípios citaram observar problemas. De acordo com Durães et al. (2001), alguns critérios devem ser adotados na escolha do sêmen de touros, como a escolha dos animais de acordo com as características que se procuram melhorar no rebanho, visto que o ganho genético tende a ser mais lento na medida que se aumenta o número de característica em um programa de seleção.
Conclusões
As prefeituras que adotam o programa de IA demonstram grande interesse em auxiliar os produtores no melhoramento genético dos rebanhos, em busca de maior qualidade e produção de leite. Estes programas são fundamentais para os pequenos produtores que sofrem por barreiras financeiras e tecnológicas para melhorar a sua atividade. Contudo, em alguns casos são necessários pequenos ajustes técnicos que vão desde a compra do sêmen até a inseminação artificial dos animais, bem como maior controle dos dados, para que os programas adotados pelas prefeituras sejam eficientes e garantam retorno econômico para os produtores e para o município.
Gráficos e Tabelas
Referências
ANDRADE, L. M.; FARO, L. E.; CARDOSO, V.L.; ALBUQUERQUE, L. G.; CASSOLI, L. D.; MACHADO, P. F.
Efeitos genéticos e de ambiente sobre a produção de leite e a contagem de células somáticas em vacas holandesas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.2, p.343-349, 2007.
BROCH, V.; CUCCO, D.C.; FERREIRA, R.; PORTES, V.M.; NETO, A.T.
Análise dos critérios de compra de sêmen bovino pelos órgãos públicos do Oeste Catarinense. Agropecuária Catarinense, v.29, n.1, p.37-40, 2016.
DURÃES, M. C.; DE FREITAS, A. F. Regras básicas na escolha de sêmen de touros provados.
Instrução técnica para o produtor de leite - Embrapa Gado de Leite. Juiz de Fora/MG, v. 33, ISSN 1518-3254, 2001.
HEIDEN F.C.
Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina 2013 – 2014. Leite. Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola- Epagri. Florianópolis, 211p. 2005.
IBGE, 2015. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Produção Da Pecuária Municipal. Rio de Janeiro, v.43, p.1-49.
IBGE, 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: < http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=4211405> Acesso em: 23 de Março de 2017.
LOPES, M. A. et al.
Impacto econômico do intervalo de partos em rebanhos bovinos leiteiros. Ciência e Agrotecnologia. Lavras, v. 33, Edição Especial, p. 1908-1914, 2009.