Efeito do estado produtor sobre a qualidade do milho utilizado em uma agroindústria do estado de Santa Catarina

Rafael Alan Baggio1, Mayla Regina Souza2, Renato Augusto Conte3, Georgia Cristina de Aguiar4, Aline Zampar5, Diovani Paiano6, Marcel Manente Boiago7
1 - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC. Bolsista FAPESC/Capes.
2 - Acadêmica do Curso de Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC. Trabalho de Conclusão de Curso deste autor.
3 - Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC. Bolsista Capes.
4 - Acadêmica do Curso de Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC.
5 - Professora do Departamento de Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC.
6 - Professor do Departamento de Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC.
7 - Professor do Departamento de Zootecnia da UDESC Oeste, Chapecó/SC.

RESUMO -

O milho é uma das matérias primas mais importantes para a produção de rações por compor a maior parcela das mesmas e fornecer grande parte do seu valor energético. Em virtude disso, o ideal é que não ocorra variação de sua composição bromatológica em agroindústrias. As coletas dos milhos foram realizadas no período de janeiro de 2015 até agosto de 2016 em uma agroindústria do município de Chapecó, para posterior análises de umidade, extrato etéreo, proteína bruta, fibra bruta, aminoácidos (treonina, valina, metionina, isoleucina, leucina, fenilalanina, lisina, histidina, arginina, cistina, triptofano e metionina + cistina). A proteína bruta e os aminoácidos foram as variáveis de maior importância neste trabalho. A variação da qualidade do milho foi evidente na variável proteína bruta e consequentemente aminoácidos entre os estados.

Palavras-chave: Aminoácidos, composição bromatológica, proteína bruta.

Effect of the producer state on the quality of maize used in an agroindustry in the state of Santa Catarina

ABSTRACT - Maize is one of the most important raw materials for the production of feed because it makes up the largest portion of them and provides a large part of its energy value. As a result, the ideal is that there is no variation of its bromatological composition in agroindustries. Harvesting of corns was carried out from January 2015 to August 2016 in an agroindustry of Chapecó, for further analysis of moisture, ethereal extract, crude protein, crude fiber, amino acids (threonine, valine, methionine, isoleucine, leucine, phenylalanine, lysine, histidine, arginine, cystine, tryptophan and methionine + cystine). Crude protein and amino acids were the most important variables in this study. The maize quality variation was evident in the variable crude protein and consequently amino acids between the states.
Keywords: Amino acids, chemical composition, crude protein.


Introdução

A produção brasileira de milho foi estimada em 70 milhões de toneladas na safra de 2015/2016, diminuindo em relação à safra anterior. Com isso o Brasil se destaca na produção mundial, com a terceira maior produção de milho (FIESP, 2016). Este fato ocorre basicamente devido ao grande território agricultável do Brasil e o milho ser produzido em todos os estados do país. Essa matéria prima é de suma importância para a produção animal, segundo dados de Abimilho (2008), aproximadamente 82% da produção nacional de milho são direcionados à alimentação animal, com a maior parte direcionada aos setores avícola e suinícola. Essa importância se dá pelos seus ótimos valores energéticos e um custo relativamente baixo em comparação as demais espécies agrícolas (ANDRADE, 2015). Devido à grande inclusão nas rações, é essencial que o milho possua ótima qualidade. Segundo Rostagno et al., (1993), grãos com qualidade inferior tendem a ter valor nutritivo inferior aos demais e menor disponibilidade de alguns nutrientes, além de fatores antinutricionais e proliferação de fungos, os quais podem ou não apresentar produção de micotoxinas. O objetivo dos autores foi avaliar se ocorre variação na qualidade do milho produzido em diferentes estados brasileiros e em diferentes períodos do ano.

Revisão Bibliográfica

O milho é a segunda maior produção de grãos do país, perde apenas para a produção de soja (CONAB, 2016). Com isso o Brasil se destaca na produção mundial. Este grão pode ser dividido em primeira safra e segunda safra (safrinha), em que primeira safra a semeadura pode ser feita desde agosto até novembro, o mês correto para isto vai depender muito da região produtora. Alguns estudos mostram que o atraso da semeadura (após setembro/outubro) pode resultar em um decréscimo do ciclo da planta, assim como uma menor produção de grãos (CRUZ et al., 2010). Já o milho da segunda safrinha é semeado após a cultura de verão, por isso a plantação anterior é que vai determinar a época de plantio, em que geralmente acontece nos meses de fevereiro até abril. Para o sucesso de ambas as épocas de produções são necessárias condições favoráveis para a plantação, essas condições são umidade do solo, temperatura, radiação solar e fotoperíodo (CRUZ et al., 2010). Outros fatores influenciam a qualidade do milho, entre eles estão os cuidados necessários durante o crescimento da cultura e após a colheita. Cuidados esses que são: o tipo da semente utilizada, as condições ambientais, as práticas utilizadas, como adubação e irrigação. A temperatura e umidade relativa do ar são dois fatores que para muitos autores são os cruciais para o sucesso da produção, pois interferem no processo de sorção e dessorção, logo interfere na deterioração do material (ANDRADE, 2015). Ao realizar uma pesquisa de dados referentes a qualidade do milho utilizado em diversos trabalhos de autores como Nascimento et al., (1998), Zambom et al., (2001), Vieira et al., (2007), Rostagno, (2011), Troni et al., (2016), pode-se observar uma variação considerável na composição bromatológica. Esta variação se dá muito pelo tipo de hibrido utilizado e a prática utilizada durante o crescimento (VIEIRA et al., 2007). De acordo com Albino (1980), a composição nutricional dos alimentos está relacionada diretamente a fatores como o clima, a fertilidade do solo, variedade, armazenamento, processamento e amostragem. Por isso é tão importante a realização de análises de várias amostras de milho antes da utilização, pois a sua qualidade nutricional pode variar bastante. Como já citado por Bath et al. (1999) os valores encontrados em tabelas devem ser utilizados como orientação. É necessário a utilização correta da composição química do milho para assim conseguir ter uma formulação precisa e com maiores ganhos de produtividade.  

Materiais e Métodos

Este trabalho foi realizado na fábrica de rações de uma agroindústria da cidade de Chapecó, Santa Catarina. Foram utilizadas amostras de milho em grão com origem de diferentes estados do Brasil. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado (DIC) desbalanceado para comparar seis estados. O estado do Paraná (PR) possui sete repetições; Rio Grande do Sul (RS) - cinco repetições; Santa Catarina (SC) – seis repetições; Mato Grosso (MT) – cinco repetições; Tocantins (TO) – quatro repetições e Mato Grosso do Sul (MS) – 22 repetições.  As amostras para a comparação da composição bromatológica do milho produzido em diferentes estados foram coletadas de janeiro de 2015 até agosto de 2016. As coletas do milho foram feitas aleatoriamente entre as cargas recebidas, em 12 pontos da carreta, em formato de zig zag com auxílio de um calador hidráulico. Após a coleta as amostras foram quarteadas, colocadas em sacos específicos para amostras e identificadas com a data, em sequência foram enviadas para o laboratório para realização das análises de umidade (UM), extrato etéreo (EE), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB) e aminoácidos (treonina, valina, metionina, isoleucina, leucina, fenilalanina, lisina, histidina, arginina, cistina, triptofano e metionina + cistina) através do equipamento NIRS, modelo FOSS DS2500. Para a comparação da qualidade do milho entre os estados foi realizado um teste de normalidade de resíduo dos dados e em casos positivos os mesmos foram submetidos à análise de variância. Quando ANOVA significativa foram submetidas ao teste de Tukey (P<0,05).

Resultados e Discussão

Ao avaliar a qualidade do milho produzido em diferentes estados, foi observado que as variáveis umidade e extrato etéreo não apresentaram diferença significativa (Tabela 1). Os valores encontrados neste trabalho para umidade e extrato etéreo são semelhantes aos preconizados por Rostagno et al., (2011), que são de 12,5% de umidade e 3,65% de extrato etéreo. Segundo Luchesi, (2014), a variação na umidade do milho pode resultar em mudanças nos valores energéticos do mesmo, em cerca de 30 kcal/kg para cada 1% a mais ou a menos de umidade no milho. O mesmo não aconteceu para os valores de proteína bruta em que o milho produzido nos estados de TO e SC apresentaram valor de PB maior (P<0,05) em relação ao estado do MT. Para os estados do PR, RS e MS a qualidade não se diferiu (P>0,05) dos demais estados avaliados. Essa diferença entre os níveis proteicos do milho pode ser explicada pelo nível de adubação na cultura, de acordo com Almodares et al., (2009), que encontraram resultados positivos para os valores de proteína com o aumento da adubação nitrogenada. Algumas fábricas mais modernas e mais equipadas utilizam a proteína ideal para formular rações, em contrapartida fabricas com menores recursos utilizam a proteína bruta para formulação e muitas delas não realizam a análise da qualidade bromatológica do milho recebido, possibilitando maiores variações e problemas de formulações, pois essa variável é muito importante para a deposição de proteína corporal. A variação encontrada neste trabalho pode resultar em problemas no desempenho dos animais, pois como citado (Tabela 1) a variação entre estados para essa variável existe, podendo ser de 7,21% até 7,92% ficando semelhante e/ou abaixo do preconizado por Rostagno et al., (2011) de 7,88% de PB. Para a variável fibra bruta o estado de SC apresentou maior concentração (P<0,05) sendo diferente do estado de TO, porém não se diferindo dos estados do PR, RS, MT e MS, os quais também são iguais ao do estado de TO (Tabela 1). Em relação aos aminoácidos analisados, apenas a Leucina e a Cistina apresentaram diferença significativa nos valores encontrados (P<0,05) quando comparado a qualidade do milho produzido em diferentes estados brasileiros. Para os dois aminoácidos a relação foi a mesma, MS apresentou maior concentração (P<0,05) em relação ao estado do MT, os demais estados PR, RS, SC e TO não foram diferentes do MS e nem do MT (Tabela 2). Mesmo havendo diferença significativa entre esses aminoácidos os principais para produção de aves e suínos (Lisina, Metionina e Treonina) não apresentaram diferença significativa, o que é bom pois são eles os principais aminoácidos sintéticos a serem adicionados em uma ração. A vantagem de se formular uma dieta com proteína ideal é que não haverá excesso de aminoácidos que poderiam prejudicar principalmente o desempenho de aves devido ao desbalanço dos mesmos, causando um gasto adicional de energia para a excreção dos excessos (LUCHESI, 2014).

Conclusões

A variação da qualidade do milho foi evidente na variável proteína bruta e consequentemente aminoácidos entre os estados, por isso é de extrema importância a analise bromatológica desta matéria prima para possibilitar formulações mais precisas, com menores perdas de nutrientes e com maiores ganhos de produtividades animal.  

Gráficos e Tabelas




Referências

ABIMILHO. Associação Brasileira das Indústrias do Milho, 2008. ALBINO, L.F.T. Determinação de valores de energia metabolizável e triptofano de alguns alimentos para aves em diferentes idades. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1980. 55p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 1980. ALMODARES, A. et al. The effects of nitrogen fertilizer on chemical compositions in corn and sweet sorghum. American-Eurasian Journal Agricultural &Environmental Sciences, v. 6, p, 441-446, 2009. ANDRADE, J. C. de. Qualidade do milho safrinha em função do tempo de transporte após colheita. 70 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agrônomia, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2015. BATH, D. et al. Byproducts and unusual feedstuffs. Feedstuffs, v.71, n.31, 1999. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB (2016). Acompanhamento da safra brasileira – grãos 2015/2016 (Décimo primeiro levantamento). V.3, n.11. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_08_09_12_08_19_boletim_graos_agosto_2016.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2016. CRUZ, J. C. et al. Cultivo do Milho. 6. ed. Embrapa, 2010. Disponível em: <http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_6_ed/manejomilho.htm>. FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – FIESP. Safra mundial de milho 2016/2017 – Quarto levantamento do departamento de agricultura dos Estados Unidos. Informativo do Departamento de Agronegócio. LUCHESI, J. B. Programas de alimentação de frangos de corte. In: MACARI, M. et al. Produção de Frangos de corte. 2. ed. Campinas: Facta, 2014. p. 411-433. NASCIMENTO, A. H. do et al. Valores de Composição Química e Energética de Alimentos para Frangos de Corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 27, n. 3, p.579-583, 1998. ROSTAGNO, H.S. Disponibilidade de nutrientes em grãos de má qualidade. In: CONFERÊNCIA APINCO 1993 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, Santos, 1993. Anais... Campinas: FACTA, 1993, p.129-39. ROSTAGNO, H.S. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2011. 252p. TRONI, A. R. et al. Composição química e energética de alimentos para frangos de corte. Revista Ciência Agronômica, v. 47, n. 4, p.755-760, 2016. VIEIRA, R. de O. et al. Composição química e energia metabolizável de híbridos de milho para frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 4, p.832-838, 2007. ZAMBOM, M. A. et al. Valor nutricional da casca do grão de soja, farelo de soja, milho moído e farelo de trigo para bovinos. Acta Scientiarum, v. 23, n. 4, p.937-943, 2001.+