CONSUMO E DIGESTIBILIDADE DE MATÉRIA SECA E MATÉRIA ORGÂNICA DE CAPRINOS LACTENTES ALIMENTADOS COM GLICERINA BRUTA NA DIETA LÍQUIDA.

Poliana Rodrigues do Nascimento Gonzaga1, Pedro Augusto Dias Andrade2, Iran Borges3, Luciana Freitas Guedes4, Samuel Piassi Teles5, Michelle Cristina Fonseca Silva6, Luana Cristyna de Jesus Silva7, Érica Gonçalves da Fonseca8
1 - Aluno do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí. Dados da tese do segundo autor: crbro87@gmail.com
2 - Professor Substituto EBTT do IFMG-Campus Bambuí
3 - Professor Titular da Escola de Veterinária - UFMG, Belo Horizonte – MG
4 - Professor Titular da FEAD, Belo Horizonte - MG
5 - Aluno do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí. Dados da tese do segundo autor: crbro87@gmail.com
6 - Aluno do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí. Dados da tese do segundo autor: crbro87@gmail.com
7 - Aluno do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí. Dados da tese do segundo autor: crbro87@gmail.com
8 - Aluno do Curso Bacharelado em Zootecnia do IFMG – Campus Bambuí. Dados da tese do segundo autor: crbro87@gmail.com

RESUMO -

Este trabalho teve como objetivo avaliar o consumo e digestibilidade de dietas contendo glicerina bruta (0, 1,75, 3,50 e 5,25) no sucedâneo reconstituído para caprinos lactentes. Utilizaram-se 20 cabritos Saanen, não castrados, não descornados, com peso médio de 14,36 ± 2,85 kg, alojados em gaiolas metabólicas individuais, em delineamento inteiramente casualizado, totalizando 4 tratamentos e 5 repetições cada. Os coeficientes de digestibilidade foram obtidos por coleta total de fezes. A inclusão de glicerina bruta no sucedâneo, nos níveis estudados, não afetou (SNK, P>0,05) o consumo de matéria seca e matéria orgânica pelos animais.

Palavras-chave: cabrito, glicerol, nutrição, sucedâneo

INTAKE AND DIGESTIBILITY OF DRY MATTER AND ORGANIC MATTER OF KID GOATS FED WITH CRUDE GLYCERIN ON DIET.

ABSTRACT - The goal of this work was to evaluate the intake and digestibility of diets containing crude glycerin (0, 1.75, 3.50 and 5.25) in milk replacers for kid goats. Twenty Saanen goats with an average weight of 14.36 ± 2.85 kg were housed in individual metabolic cages, in a completely randomized design, totaling 4 treatments and 5 replicates each. The digestibility coefficients were obtained by total fecal collection. The inclusion of crude glycerin in the milk replacer, at the levels studied, did not affect the consumption of dry matter and organic matter by the animals (SNK, P> 0.05).
Keywords: young goat, glycerol, nutrition, milk replacer


Introdução

Entre os fatores que contribuem para os baixos índices de produção e desempenho no crescimento de caprinos, na fase de cria, destaca-se a baixa qualidade de nutrientes dos alimentos utilizados na fase em questão, levando o animal a uma subnutrição (DIAS et al., 2008). Com o propósito de viabilizar os custos de alimentação, é comum à utilização de coprodutos da agroindústria na composição das dietas, uma vez que o custo com alimentos é responsável por grande parte dos gastos nestes sistemas. Dentre estes coprodutos utilizados a glicerina bruta aparece como uma opção na formulação de dietas, podendo substituir o milho, quando o preço representar até 70% do preço deste grão (LAGE et al..2014). Nesse sentido, objetivou-se avaliar o uso de glicerina bruta como ingredientes de sucedâneos na dieta de caprinos como alternativa energética de alto valor biológico e de custo acessível, para favorecimento do consumo e digestibilidade de matéria seca e matéria orgânica.

Revisão Bibliográfica

A busca por alternativas alimentares que possam garantir as necessidades nutricionais de mantença e crescimento dos animais, e que possuam baixo custo são bem vindos para o sistema produtivo como um todo, sendo um constante desafio aos nutricionistas. Os co-produtos originados do biodiesel, tal como a glicerina bruta, e dextroses derivadas do amido, são alternativas cada vez mais pesquisadas pelos nutricionistas para obtenção de melhores resultados a custo favorável, em sistemas de produção (HULL, 2010). De acordo com PARSONS et al. (2009), a inclusão de pequena proporção de glicerina bruta, até 5% da matéria seca, pode ser benéfica ao crescimento dos animais, porém, quando utilizada acima disso, esta pode criar um ambiente ruminal desfavorável, devido à inibição do crescimento e diminuição da atividade celulolítica das bactérias e fungos ruminais. Além disso, o aumento da produção de lactato e propionato pelo rúmen, devido ao uso da glicerina bruta, pode retardar a fermentação do glicerol e contribuir para a saciedade, o que pode alterar o consumo. Para Terré et al. (2011), a inclusão de glicerina até 10% em concentrados para cordeiros não afetou os parâmetros de desempenho entre 15 e 25 kg de peso vivo. Anteriormente, Gunn et al., (2010) observaram melhoras no crescimento e consumo quando incluíram 20% de glicerina. Entretanto, estudos com maiores inclusões de glicerina (30 e 45%), mostraram efeitos negativos no crescimento e no consumo (MUSSELMAN et al., 2008). Gomes et al., (2011) realizaram estudo utilizando glicerina na dieta de cordeiros confinados e concluíram que a glicerina pode ser utilizada em dietas para cordeiros em terminação até os valores de 30% da matéria seca, sem haver efeitos negativos.

Materiais e Métodos

O ensaio experimental foi conduzido na Fazenda Capril Tri-Queda, Coronel Pacheco-MG, sob protocolo do CETEA 197/10. Foram utilizados 20 cabritos da raça Saanen, em aleitamento, 2 meses de idade e peso entre 14,36 ± 2,85kg. Os animais foram pesados, identificados, vermifugados e alojados aleatoriamente em gaiolas metabólicas individuais. Os animais foram divididos em quatro grupos de cinco cabeças, sendo destinados a receber glicerina bruta adicionada ao sucedâneo Lacthor® (Controle, Glicerina 1,75, 3,25 e 5,25% da inclusão no sucedâneo reconstituído). A dieta experimental foi formulada para ganho de 200g/dia (NRC, 2007), sendo ajustada semanalmente de acordo com o consumo dos animais para garantir 20% de sobra, e o fornecimento de sucedâneo fixo em 1 litro por animal/dia (tabela 1). As dietas foram compostas por feno (30,00%), Farelo de Milho (52,50%), Polpa cítrica (5,08%), Farelo de Soja (10,50%), Sal branco (0,35%), Suplemento Mineral (0,70%), Fosfato Bicalcio (0,17%), Bicarbonato de sódio (0,35%) e Calcário calcítico (0,35%), para garantir uma Matéria seca de 98,18%, Proteína Bruta de 12,93%, Energia Bruta de 4122,95Kcal/g, FDN de 32,22%, FDA de 14,92%, Extrato Etéreo de 4,43%, Cálcio de 1,56% e Fósforo de 1,81%. O início do experimento se deu 45 dias após o nascimento dos animais. Estes foram então submetidos a mais 15 dias de adaptação experimental, gaiola e dietas, e posterior cinco dias de coleta. Consumo e Digestibilidade procederam conforme descrito por Silva e Leão (1979). Para as determinações da matéria seca, matéria mineral e matéria orgânica do material analisado, seguiu-se a metodologia proposta por AOAC (1997). Desta forma, formou-se um delineamento inteiramente casualizado utilizando-se o teste SNK a nível de 5% de probabilidade na análise de variância, empregando-se o programa estatístico SAEG 9.1 (2007).

Resultados e Discussão

Os resultados para consumo de matéria seca (MS) e matéria orgânica (MO), bem como seus valores de digestibilidade estão apresentados na tabela 2. A inclusão de glicerina, independente da quantidade utilizada no sucedâneo, não alterou as ingestões de MS e MO (p>0,05). Abassi et al. (2012), trabalhando com cabritos Kamori, observaram ligeiro aumento da ingestão de MS com o decréscimo da energia da dieta. Em contraste, Sayed (2009) observou baixos níveis de ingestão com maior ganho de peso vivo em cabritos alimentados com dietas com alto teor de energia. Segundo Parsons et al. (2009) a saciedade é atingida quando ocorre elevação de um ou mais metabólitos na corrente sanguínea em uma concentração maior do que eles podem ser removidos. O efeito de saciedade química pelo aumento da densidade energética da dieta não influenciou o consumo de matéria seca e matéria orgânica dos animais, dentro dos níveis de inclusão estudados. Este fato pode ser explicado através da inversão metabólica do uso da glicose para o propionato em ruminantes. Talvez pelo desenvolvimento ruminal tardio desses animais, os mecanismos quimiostáticos para regulação do consumo ainda não estavam desenvolvidos de forma eficiente a influenciar na ingestão alimentar.

Conclusões

A inclusão de glicerina bruta no sucedâneo, nos níveis estudados, não afeta o consumo e digestibilidade da matéria seca e da matéria orgânica pelos animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

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