Estimativa do peso corporal de equinos da raça Campeiro

Carine Lisete Glienke1, Gabriel Sartor2, Marcos Eduardo Neto3, Thiago Resin Niero4, Andressa Kemer5, Crysttian Arantes Paixão6, Giuliano Moraes Figueiró7
1 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
2 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
3 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
4 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
5 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
6 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos
7 - Universidade Federal de Santa Catarina, Campus de Curitibanos

RESUMO -

O objetivo foi testar modelos preditivos do peso corporal em função do perímetro torácico de equinos da raça Campeiro, em Curitibanos, SC. Foram avaliados 28 equinos, provenientes de 3 propriedades distintas, sendo considerado o peso corporal obtido em balança e o perímetro torácico, medido com fita. Foram testados o modelo linear estimado a partir dos dados da balança, comparado aos valores estimados pelos modelos 1, onde o peso é igual ao perímetro torácico em metros ao cubo e o resultado multiplicado pela constante 80; e pelo modelo 2, onde o peso é igual ao perímetro torácico dividido pela constante 2,5; subtraindo-se 25 do quociente; o restante é dividido por 0,07 e o quociente multiplicado por 0,45. O modelo linear e o modelo 1 apresentaram os melhores ajustes. Recomenda-se a construção de um banco de dados para a geração de um modelo ajustado às características dos equinos da raça Campeiro a fim de viabilizar o desenvolvimento de uma fita de pesagem específica para esta raça.

Palavras-chave: equinos, fita de pesagem, medidas corporais, perímetro torácico

Estimation of Campeiro horses body weight

ABSTRACT - The objective was to test body weight predictive models as a function of the thoracic perimeter of Campeiro horses, in Curitibanos, SC. Were evaluated 28 horses, from 3 different farms, being considered the body weight obtained in weighing scale and the thoracic perimeter, measured with tape. The linear model estimated from the weighing scale data was tested, compared to the values estimated by models 1, where the weight is equal to the thoracic perimeter in cube meters and the result multiplied by the constant 80; And by model 2, where the weight is equal to the thoracic perimeter divided by the constant 2.5; Subtracting 25 from the quotient; The remainder is divided by 0.07 and the quotient multiplied by 0.45. The linear model and model 1 presented the best adjustments. It is recommended the construction of a database for the generation of a model adjusted to characteristics of Campeiro breed horses in order to enable the development of a specific weighing belt for this breed.
Keywords: body measurements, horses, thoracic perimeter, weighing tape


Introdução

O conhecimento do peso corpóreo de um equino, mesmo que aproximado, é de suma importância aos profissionais que trabalham com o cavalo. A precisão obtida em atividades rotineiras como o arraçoamento, a administração de medicamentos, ou mesmo na determinação da capacidade de carga de um animal depende de uma noção de seu peso corporal (Frape, 2015). A maneira mais prática para obter o peso dos animais é com o uso de fitas de pesagem, onde se mede o perímetro torácico em centímetros o qual é convertido para o peso aproximado através de uma fórmula pré-estabelecida. Nota-se uma grande variabilidade nos resultados quando usadas estas fitas, isso porque os animais podem estar em diferentes condições, como éguas prenhes ou animais com alto escore de condição corporal. O Campeiro é uma raça de equinos existente, quase que exclusivamente, na região do Planalto Catarinense. Estes animais podem ter características específicas que os distinguem de outras raças, usadas para construir metodologias indiretas para obtenção do peso corporal, como a fita métrica e outros modelos indicados na bibliografia. Assim, é necessária a conferência de um grupo de animais para ajustar os resultados da fita métrica comercial com o padrão do rebanho, ou se é necessário alguma conversão ou adaptação da fórmula para que a estimativa esteja o mais próximo do valor real possível. O objetivo foi comparar a estimativa do peso corporal de equinos da raça Campeiro obtido a partir de diferentes modelos de predição.

Revisão Bibliográfica

A raça de equinos Campeiro é uma raça naturalizada que se desenvolveu nos campos de altitude no Sul do Brasil a partir de animais oriundos das expedições espanholas nos anos 1500 (Araújo, 1990), e sua criação atualmente restringe-se basicamente entre as cidades de Lages e Curitibanos, ambas no Planalto Catarinense (ABRACCC, 1984). Devido a essa restrição de local e rebanho, tem-se o conhecimento superficial das características da raça. Sabe-se que o cavalo Campeiro pode ser classificado como um cavalo de pequeno ou médio porte, sendo um cavalo intermediário entre o de sela e o de pequenas trações, com aptidão para serviços de sela e de tração ligeira (McManus et al., 2005). O sistema de criação destes animais é o extensivo (Solano et al., 2011), o que indica a rusticidade da raça. Os criadores apresentam uma forte identidade, cultura e tradição familiar na criação do Campeiro, sendo que estes destacam como vantagens da raça docilidade, rusticidade, resistência e comodidade (Solano et al., 2013). Este último atributo relaciona-se à distintiva marcha do Campeiro, expressa pelo deslocamento alternado dos bípedes, em diagonal e lateral, sempre com movimentos de tríplice apoio (ABRACCC, 2017). Essa raça encontra-se em risco de extinção (McManus et al., 2005), sendo premente buscar alternativas para auxiliar os criadores no manejo dos animais, além de investigar características deste rebanho a fim de que o manejo seja ajustado de maneira adequada para a raça. Observa-se que os estudos sobre o Campeiro se restringem aos animais registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Campeiro (ABRACCC), porém, estima-se que há um grande número de animais com características similares aos animais registrados, considerados sem raça definida (SRD). Este rebanho é importante economicamente para a região, pois são animais criados por pequenos produtores rurais, usados para a lida diária nas propriedades, e são animais com origem similar aos animais cadastrados, porém desconhecem-se informações mais completas a esse respeito. Petry et al. (2012) observaram que parte do rebanho de equinos SRD no interior do Paraná apresentam características semelhantes aos animais Campeiro. A atividade exclusiva da equinocultura não depende da existência de uma balança na propriedade. Quando a pecuária de corte está presente na propriedade, normalmente há uma balança disponível. Porém, produtores que trabalham com outras atividades, ou que tem um número reduzido de animais não dispõem de balança e precisam de outro método para a aferição de peso. O peso pode ser estimado indiretamente usando fórmulas baseadas na no perímetro torácico. A fita de pesagem é uma tecnologia de baixo custo e facilmente manuseada, porém sua acurácia depende dos dados usados para gerar a relação entre o perímetro e o peso corporal, o que, geralmente é desconhecido. Podemos obter uma grande variabilidade nos resultados, considerando uma margem de erro média de 5% (Cintra, 2014).

Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido em propriedades rurais conveniadas à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus de Curitibanos, localizadas no município de Curitibanos, SC, latitude 27°17’05’’, longitude 50°32’04’’ e altitude 1096 m. O projeto possui protocolo aprovado pela Comissão de Ética e Uso de Animais da UFSC (Protocolo nº 7667100516). As avaliações foram realizadas após contato com o proprietário e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram coletadas medidas corporais de 28 equinos, sendo 26 fêmeas e 2 machos castrados, oriundos de três propriedades distintas. Destes, 17 animais são registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Campeiro (ABRACCC), 3 animais são da mesma raça, porém sem registro, e oito animais foram considerados sem raça definida (SRD). Foi mensurado o perímetro torácico dos animais com fita métrica comercial padrão, graduada em centímetros, onde se contornou o tórax passando pelo cilhadouro e pelo limite posterior da cernelha. O peso corporal, em quilos, foi obtido em balança para pesagem de bovinos, com capacidade para 2.000 Kg. Foram testados três modelos para a predição do peso corporal dos equinos. Utilizou-se o modelo linear  (Charnet, 2008) ajustado para os dados de peso corporal obtidos na balança e o perímetro torácico mensurado. Foram testados ainda os modelos que estimam o peso corporal do equino a partir do perímetro encontrados na bibliografia (Cintra, 2014). No modelo 1 (M1), considerou-se que o peso é igual ao perímetro torácico, em metros, elevado ao cubo e o resultado multiplicado pela constante 80. No modelo 2 (M2), considerou-se que o peso é igual ao perímetro torácico dividido pela constante 2,5; subtraindo-se 25 do quociente; o restante é dividido por 0,07 e o quociente multiplicado por 0,45 (Bromerschenkel et al., 2013). Os resultados foram organizados em planilha Excel e as análises estatísticas foram desenvolvidas no software R (R Core Tean, 2016).

Resultados e Discussão

Os modelos de predição do peso corporal de equinos foram comparados com os pesos obtidos em balança (Figura 1). O modelo linear obtido ( ; r = 0,96) apresenta um adequado ajuste, sendo o modelo que traz uma resposta mais próxima aos resultados observados, mostrando-se mais preciso na estimativa do peso corporal em função do perímetro torácico. Os modelos 1 e 2 são comumente recomendados como fórmulas preditivas do peso corporal em bibliografias e trabalhos acadêmicos. Estas fórmulas consideram o perímetro torácico e apresentam constantes para ajuste do peso de acordo com determinadas características do animal. Assim, na impossibilidade de usar a balança para aferição do peso, estes modelos podem ser empregados para estimar o peso aproximado do equino, em kg, considerando uma margem de erro de 5% (Cintra, 2014). Na comparação com os dados reais obtidos neste estudo, percebe-se que o peso obtido com uso do modelo 1, de modo geral, subestima os dados reais, porém mantém uma boa aproximação. O modelo 2 gera estimativas, em média, 30% abaixo do valor observado. Esta elevada variação pode ser atribuída ao fato de que as constantes usadas neste modelo foram geradas considerando o peso de potros. Bromerschenkel et al. (2013) recomendam o uso deste modelo para a mensuração do peso de potros com até 12 horas de vida. Para potros de 30 dias, estes autores recomendam a utilização o modelo 1, o qual também é recomendado por Cintra (2014) para uso em animais com mais de 12 meses. Este mesmo modelo (M1) é recomendado para estimar o peso de cavalos de sela adultos por Frape, 2015. Deste modo, percebe-se a importância do estudo de medidas corporais de um rebanho a fim de comparar diferentes metodologias. O rebanho de equinos da raça Campeiro tem um numero limitado e características pouco conhecidas. Sendo assim, a morfologia destes animais pode diferir enormemente das características dos animais usados na definição destes modelos sugeridos. Assim, faz-se fundamental o estudo destes animais a fim de ajustar um modelo a partir de dados reais obtidos à campo, para que se possa construir uma fita de pesagem específica para animais desta raça.

Conclusões

É possível usar modelos de predição para a estimativa do peso corporal de equinos da raça Campeiro, desde que se considere a variação obtida com uso dos modelos. Recomenda-se o uso do modelo linear calculado a partir de dados reais, e o modelo 1, obtido partir do perímetro torácico.

Gráficos e Tabelas




Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAVALOS CAMPEIROS - ABRACCC. Campeiro, o marchador das araucárias. Curitibanos: Panfleto, 1984. 6p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAVALOS CAMPEIROS – ABRACCC. Regulamento da prova de marcha. Disponível em <http://cavalocampeiro.com/regulamentos/regulamento-prova-de-marcha/> . Acesso em 05 mar 2017. ARAÚJO, R.V. Os Jesuítas dos sete povos. Canoas: La Salle, 1990. 467p. BROMERSCHENKEL, I.; FERREIRA, L.; COSTA, M.N.C. et al. Comparação entre fórmulas para mensuração de peso em potros da raça Mangalarga Marchador. In: SECOMV, 12. Anais... Alegre – ES, 2013. CHARNET, R.; FREIRE, C. A. L.; CHARNET, E. M. R.; BONVINO, H. Análise de modelos de regressão linear. Editora Unicamp: Campinas, 2008. 356p. CINTRA, A.G.C. O cavalo; característica, manejo e alimentação. São Paulo: Roca. 2014. 384p. FRAPE, D.L. Nutrição & alimentação de equinos. 3. ed. São Paulo: Roca, 2015. MCMANUS, C.; FALCÃO, R.A.; SPRITZE, A. et al. Caracterização morfológica de equinos da raça Campeiro. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.5, p.1553-1562, 2005. PETRY, ATOJI, K.; SKONIESKI, F.R. et al. Medidas lineares e índices morfométricos de equinos em propriedades rurais na cidade de Francisco Beltrão. In: Congresso de Ciência e Tecnologia da UTFPR Câmpus Dois Vizinhos. 2. ed. 2012. Disponível em: < http://revistas.utfpr.edu.br/ dv/index.php/CCT_DV/article/view/1120> Acesso em 24 fev 2017. R CORE TEAM. R: A language and environment for, statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. 2017. URL https://www.R-project.org/. SOLANO G.A.; SILVA M.C.; SERENO J.R.B. Aspectos sobre o sistema de criação de cavalo Campeiro no sul do Brasil. Actas Iberoamericanas de Conservación Animal, v. 1, p. 405-407, 2011. SOLANO G.A.; SILVA M.C.; ROCHA F.E.C. et al. Análise do discurso de criadores de cavalo campeiro no sul do Brasil: instrumento de diagnóstico para conservação e fortalecimento da raça. Actas Iberoamericanas de Conservación Animal, v.3, p. 8-14, 2013.