Avaliação funcional de equinos grandes campeões e reservados grandes campeões Campolina

Lis Lorena Melúcio Guedes1, Philipe Ferreira Alcici2, Laydiane de Jesus Mendes3, Ludmilla de Fátima Leal Pereira4, Lucas Aparecido Gomes Trindade5, Paulo César Chaves Pinto Filho6, Jaqueline Aparecida Ribeiro7, Neide Judith Faria de Oliveira8
1 - Universidade Federal de Minas Gerais
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar funcionalidade de equinos Campolina consagrados grandes campeões da raça por meio de índices morfométricos. Foram usados dados de 48 indivíduos com títulos de grandes campeões(ãs) e reservados grandes campeões(ãs) de ambos os sexos, de 2011 a 2016. Calcularam-se índices morfométricos por meio das medidas lineares obtidas ao registro dos animais. Machos Campolina apresentaram maior peso aproximado que fêmeas. Por meio do índice de compacidade averiguou-se que garanhões estão aptos a tração pesada e fêmeas classificadas entre tração ligeira e pesada. Assim, equinos Campolina considerados grandes campeões (ãs) e reservados apresentaram biótipo viável a atividades de tração.

Palavras-chave: ABCCCAMPOLINA, índices, medidas lineares

Functional assessment of great champions and reserved great champions of the Campolina horse breed

ABSTRACT - The aim of this study was to evaluate functionality of equines Campolina that achieved great champions of the breed by morphometric indexes. Were used data from 48 individuals with evidence of great champions and reserved great champions of both sexes, from 2011 to 2016. Were calculated morphometric indexes by linear measurements obtained at the animals registration. Campolina males had higher approximate weight than females. Through the compact index it was found that stallions are apt to heavy traction and females classified between traction slightly and heavy. Thus, Campolina horses considered great champions and reserved presented biotype viable activities to traction.
Keywords: ABCCCAMPOLINA, indexes, linear measures


Introdução

O cavalo Campolina, originado no ano de 1870 na região de Entre Rios de Minas, foi idealizado por Cassiano Campolina e criado visando a obter animais de porte alto, andamento cômodo e aptidão para sela, direcionados ao trabalho, lazer e esporte, conforme Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Campolina (ABCCCAMPOLINA, 2017). A raça tem se expandido pelo Brasil e dispõe atualmente do sexto maior plantel, conforme os registros (LIMA; CINTRA, 2016). O uso de índices morfométricos e das relações corporais possibilita avaliar indivíduos de maneira a inferir a habilidade funcional e selecionar equinos com base na estrutura morfológica. Com isso é possível formar rebanhos destinados a lida diária com o gado, ou ainda para melhoria de planteis por meio de seleção dos animais com conformação considerada ideal à essa funcionalidade. Desse modo, conhecer o biótipo funcional dos animais consagrados como grandes campeões e reservados nacionais torna-se fundamental para se constatar a utilidade da raça nas várias atividades. Assim, objetivou-se avaliar a funcionalidade de equinos Campolina machos e fêmeas consagrados grandes campeões e reservados grandes campeões, por meio de índices morfométricos de classificação funcional para animais de trabalho.

Revisão Bibliográfica

Os equinos Campolina encontram-se representados entre as raças naturalizadas e melhoradas geneticamente em território nacional (SANTOS; JULIANO, 2013), tendo sido selecionados primeiro por Cassiano Campolina para a funcionalidade de sela, com atributos zootécnicos diferenciados quanto ao porte elevado, robustez e andamento marchado.  A distinção em relação ao andamento cômodo permite uso amplo dos animais da raça na execução de trabalhos desde a lida, prática esportiva e lazer (ABCCCAMPOLINA, 2017). A funcionalidade nos equinos depende da boa conformação; em consequência à simetria da estrutura óssea e muscular. Contudo, o desempenho dos indivíduos pode ser influenciado por fatores genéticos e ambientais vinculados à nutrição e ao treinamento; além da saúde (SANTOS; JULIANO, 2013). No entanto, em virtude da subjetividade utilizada para avaliar equinos marchadores, como o Campolina, por meio de premiações obtidas em provas de marcha e morfologia; prejuízos para a seleção e evolução funcional da raça podem ser ocasionados.  Assim, animais campeões em eventos regionais ou nacionais passam a servir como modelos ideais de proporcionalidade e aptidão (BERBARI NETO, 2009). Desse modo, os índices morfométricos por considerarem as relações entre as regiões zootécnicas nos equinos, podem ser descritos como métodos relevantes para aferição geral do equilíbrio e adequação funcional dos indivíduos às aptidões, por uso das medidas corporais lineares (RIBEIRO, 1989; TORRES; JARDIM, 1983). Várias raças equinas foram caracterizadas e avaliadas quanto à função por aplicação dos índices, em animais utilizados para trabalho como Pantaneiro (MCMANUS et al., 2008) e Quarto de Milha (REZENDE et al., 2015), tal como para equinos marchadores a exemplo do Mangalarga Marchador (CABRAL et al., 2004), Campeiro (MCMANUS et al., 2005), além do cavalo Campolina (BERBARI NETO, 2009; LUCENA et al., 2016). Assim, apesar da existência de estudos em equinos Campolina, estes ainda são pouco recorrentes com uso das informações dos arquivos zootécnicos e poucas combinações de índices são realizadas (BERBARI NETO, 2009). Porém, conforme Torres e Jardim (1983), quando destinados a compor emprego de seleção, esses devem ser avaliados de modo conjunto, visando a respostas mais acuradas quanto à estrutura morfológica dos animais. E por essa razão, a avaliação funcional por índices a partir de dados obtidos ao registro definitivo torna-se importante, em animais premiados.

Materiais e Métodos

Foram utilizados dados de 48 animais com títulos de Grandes Campões(ãs) e Reservados(as) Grande Campeões(ãs) da raça de ambos os sexos, participantes da Semana Nacional do Cavalo Campolina, referentes aos anos de 2011 a 2016.  Para cálculos dos índices morfométricos foram utilizadas mensurações lineares aferidas no momento de registro dos animais aos 36 meses, contidos nos livros de registro definitivo fechado relativo a machos e fêmeas. Análise exploratória dos dados biométricos foi realizada para obtenção das medidas de posição: média, moda, mediana e desvios-padrão. Os índices utilizados para verificar a classificação funcional dos animais campeões quanto ao trabalho foram descritos conforme Alderson (1999) Ribeiro (1989) e Torres e Jardim (1983) e encontram-se no Quadro 1. As informações foram analisadas por meio de estatística descritiva, em planilha do Microsoft Office Excel® 2010.

Resultados e Discussão

Ao avaliar os grandes campeões(ãs) e reservados(as) grandes campeões(ãs) da raça Campolina, pode-se observar que os garanhões apresentaram valores superiores ao das fêmeas para PCA (Tabela 1). Com isso, é possível inferir a influência do dimorfismo sexual, conforme esperado para a espécie, pois os machos são mais altos que as fêmeas e, em consequência, mais pesados, segundo McManus et al. (2005). Averiguou-se para GC médias de -0,825 e -0,815 para machos e fêmeas, respectivamente, valores distantes do ideal -0,063, caracterizando assim, inclinação no dorso desses equinos inferior ao desejável para acomodação em indivíduos tipo sela, conforme Ribeiro (1989). Por meio do índice de compacidade, os garanhões Campolina classificaram-se em tração pesada e as fêmeas encontram-se entre os tipos tração ligeira e pesada. Na prática, esse índice é considerado indicativo quanto a habilidade do indivíduo e deve não ser utilizado de maneira absoluta, conforme McManus et al. (2005). Em função do cálculo dos índices de carga 1 e 2, machos obtiveram valores elevados quando comparados as fêmeas (Tabela 1). Por meio desses, podem ser observados a capacidade suporte do animal sobre ao dorso quando os equinos são submetidos a diferentes andamentos como passo, trote ou marcha e galope (TORRES; JARDIM, 1983). Quanto ao índice torácico os equinos da raça Campolina foram classificados como longilíneos, pois resultados inferiores a 0,85 foram estimados. Para ICF a média dos garanhões foi superior a ideal, contudo fêmeas encontraram-se próximas do recomendado. De acordo McManus et al. (2005), o ICF deve ser de 2,1125 para cavalos do tipo sela, sendo acima deste animais aptos à tração. O presente estudo corrobora com os resultados obtidos por Lucena et al. (2016) ao avaliar que garanhões, castrados e fêmeas por meio do índice de conformação apresentam aptidão a tração. Com isso, esses indivíduos podem apresentar características aceitáveis para animais com funcionalidade ao transporte de carga, em que morfologicamente apresentam distinção de equinos utilizados para sela (THOMAS, 2005). Os índices de comprimento e inclinação da largura além de serem empregados para obter o índice acumulativo (IA) indicam equilíbrio corpóreo e biótipo dos animais (ALDERSON, 1999). O equilíbrio é usado para estimar o IA. Dessa maneira, para IA obtiveram-se valores médios de 3,128 para machos e 3,131 para fêmeas. Esse índice permite avaliar e distinguir os animais mediante a conformação e torna-se viável se aplicado aos jovens, objetivando estimar o valor funcional precoce e direcioná-los às tarefas mais viáveis de acordo com a estrutura corporal (ALDERSON, 1999). Conforme McManus et al. (2005), as observações encontradas após avaliação dos índices, podem indicar que a raça seja versátil, usando os animais tanto para sela, quanto à atividades agrícolas. Logo, é importante obter IA médio de animais Campolinas adultos para assim proceder seleção com maior acurácia conforme biótipo sela.

Conclusões

Constatou-se perante avaliação funcional dos indivíduos por combinação de índices morfométricos que os animais consagrados grandes campeões e reservados grandes campeões da raça Campolina tem mostrado conformação viável ao tipo tração. Assim, os resultados obtidos no presente estudo, podem contribuir para direcionar acasalamentos futuros, visando a animais com biótipo mais adequado e melhor desempenho funcional ao tipo sela.

Gráficos e Tabelas




Referências

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