Comportamento diurno de novilhas das raças Holandesa e Girolando em pastos de capim Marandu com suplementação protéica

Fabio Pinese1, Mauricio Gomes de Sousa2, Thiago Perez Granato3, Claudeci Quirino de Souza4, Beatriz Cristina dos Santos5, Enilson Geraldo Ribeiro6, Flávia Maria de andrade Gimenes7, Alessandra Aparecida Giacomini8
1 - Instituto de Zootecnia
2 - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
3 - Instituto de Zootecnia
4 - Instituto de Zootecnia
5 - Instituto de Zootecnia
6 - Instituto de Zootecnia
7 - Instituto de Zootecnia
8 - Instituto de Zootecnia

RESUMO -

O objetivo deste trabalho foi identificar se o uso de suplementos protéicos interfere no comportamento diurno das raças Holandesa e Girolando em pastos de capim Marandu em lotação intermitente. Os tratamentos consistiram das raças de novilhas leiteiras Holandês e Girolando, dois suplementos protéicos (100 e 140% da necessidade de proteína degradável –PDR- no rúmen), e duas condições de pastejo do capim Marandu, pré-pastejo (25 cm) e pós-pastejo (15 cm), em delineamento inteiramente casualizado com três repetições e esquema fatorial 2x2x2, de fevereiro a março de 2017. No pré-pastejo as novilhas Girolando suplementadas com 100% PDR pastejaram por mais tempo. No pós-pastejo, as novilhas Girolando suplementadas com 140% PDR pastejaram por mais tempo. A PDR influencia no tempo de pastejo nas situações de pré e pós-pastejo. Em situações de pós-pastejo o suplemento 140% PDR aumenta o tempo de pastejo, independente da raça, podendo aumentar também o consumo de forragem.

Palavras-chave: Brachiaria brizantha, ócio, pastejo, proteína degradável no rúmen, ruminação

Daytime behavior of Holstein and Girolando heifers in Marandu palisadegrass pastures with protein supplementation

ABSTRACT - This research was aimed at identify if protein supplementation interfere in daytime behavior of Holstein and Girolando breeds on Marandu palisadegrass pastures with intermittent defoliation. Treatments consisted in Holstein and Girolando dairy heifers, two supplements (100% and 140% of rumen degradable protein requirement), and different canopy heights, pre-grazing (25cm) and post-grazing (15cm), according to a completely randomized design and a 2x2x2 factorial arrangement, with 3 replications, from February to March 2017. In pre-grazing, Girolando heifers using 100% of rumen degradable protein, grazed longer. In post-grazing, Girolando heifers using 140% of rumen degradable protein, grazed longer. The rumen degradable protein had influence on grazing time in pre and post-grazing. In post-grazing situations the 140% supplement increased the grazing time, independently of breed, so it may also increase forage consumption.
Keywords: Brachiaria brizantha, idling, grazing, rumen degradable protein, rumination


Introdução

A produção de bovinos no Brasil baseia-se principalmente no uso do pasto como principal fonte de nutrientes. O consumo de forragem pelos animais em pastejo é um dos fatores que melhor explica a produção de leite e de carne em bovinos (National Research Council – NRC 2001) e por isso sua quantificação e identificação de condições favoráveis são os principais objetivos em sistemas pecuários (Sousa Junior, 2011). Com base nessa premissa, a suplementação aliada ao correto manejo do pasto, tem sido uma das principais ferramentas de manejo para otimizar a produção animal, almejando índices sustentáveis. Adicionalmente, entender como o animal ajusta seu comportamento ingestivo, determinando-se os tempos despendidos com alimentação, ruminação e ócio e as eficiências de alimentação, diante mudanças ambientais e nutricionais é parâmetro fundamental para desenvolvimento de estratégias de manejo nutricional (Krysl e Hess, 1993).

Revisão Bibliográfica

O consumo, em condições de pastejo, é influenciado pela integração de muitos fatores inerentes ao animal, à planta, ao ambiente e ao manejo adotado, e constitui o primeiro ponto determinante da aquisição dos nutrientes necessários para o atendimento das necessidades nutricionais e, consequentemente, do desempenho animal. Poppi et al., (1987) descreveram a ingestão de forragem como sendo determinada por fatores nutricionais e não-nutricionais. Os fatores não-nutricionais seriam associados com o comportamento ingestivo dos animais em pastejo, já os fatores nutricionais seriam relacionados a aspectos inerentes à digestibilidade, composição química da forragem e fatores metabólicos. Por outro lado, o fornecimento de concentrado pode determinar mudanças na quantidade de alimento ingerido (Berchielli et al., 1989), modificando o comportamento ingestivo dos animais (Bürger et al., 2000). No entanto, não é conhecido até que ponto essas mudanças são eficazes para manter o consumo de alimento e energia. O comportamento ingestivo de um animal em pastejo pode ser descrito por variáveis que compõem o processo de pastejo (Carvalho et al., 2001). Segundo Penning et al. (1991), a altura do dossel, dentre as demais variáveis estruturais existentes, é aquela que mais influencia o animal a decidir por um bocado, sendo considerado o principal determinante do seu volume, o que reflete em alterações em consumo e desempenho animal. Em situações onde a estrutura do pasto é semelhante (altura do dossel) o maior tempo de pastejo pode resultar em maior consumo de forragem, o que é desejável para aumento do desempenho animal. Deste modo, objetivou-se identificar alterações no comportamento diurno das raças Holandesa e Girolando recebendo suplementos protéicos que atendem 100 e 140% da necessidade de proteína degradável no rúmen (PDR), nas condições pré (25 cm) e pós-pastejo (15 cm), em pastos de capim Marandu manejados em sistema de lotação intermitente com base no controle da altura do dossel forrageiro de acordo com resultados de Trindade et al. (2007).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado em fevereiro e março de 2017 no Instituto de Zootecnia (Nova Odessa/SP). Os tratamentos consistiram de duas raças de novilhas Holandesa e Girolando (peso inicial de 250 kg), dois suplementos proteicos que atendem 100 e 140% da necessidade diária de proteína degradável no rúmen (PDR), e duas condições de pastejo do capim Marandu, pré-pastejo com 25 cm de altura do dossel e pós-pastejo com 15 cm. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições (piquete de avaliação), em esquema fatorial 2x2x2. Havia 6 unidades de manejo rotativo auto-contidas, cada uma constituída de módulo com três piquetes (1 deles de avaliação) de 4.000 m2 cada Foram fornecidos 1,0 kg de suplemento/animal/dia, contendo 100% das necessidades de PDR em 3 unidades de manejo e 140% de PDR nas outras 3 unidades (Tabela 1). Após período de adaptação de 14 dias, das 6:30 às 18:30, foram observadas as atividades de três animais-teste por raça, no piquete de avaliação cada unidade auto-contida. A primeira avaliação foi feita no dia em que os animais entraram no piquete (altura pré-pastejo de 25 cm), e a segunda no último dia de permanência dos animais no piquete (de aproximadamente 16 cm até o rebaixamento para o resíduo pós-pastejo de 15 cm). As atividades dos animais-teste foram observadas a cada 10 minutos (Jamieson e Hodgson, 1979), e identificadas como pastejo, ruminação em pé e ruminação deitado. A análise de variância foi realizada utilizando-se o PROC MIXED do pacote estatístico SAS® (SAS, 2013). As médias dos tratamentos foram estimadas utilizando-se o “LSMEANS” e a comparação entre elas realizada por meio do teste “t de Student” (P<0,05).

Resultados e Discussão

Houve interação raça x suplemento x condição de pastejo dentro de cada atividade (P=0,0013, Tabela 2). De forma geral, o tempo de pastejo foi superior no pós-pastejo em relação ao pré-pastejo. Segundo Breem et al. (2008) um menor tempo pastejando está relacionado com maior proporção de lâminas foliares no pasto. Assim quando as lâminas foliares foram menos disponíveis (pós-pastejo) houve aumento do tempo de pastejo, em razão do maior deslocamento à procura por lâminas foliares. Entretanto, comportamento oposto foi observado quanto ao tempo de ruminação, que foi maior no pré-pastejo, o que denota que os animais alteraram o tempo de pastejo e ruminação de acordo com a disponibilidade de forragem, maior com a altura de 25 cm em relação à de 15 cm.  Na situação de pós-pastejo com altura do dossel de 15 cm, o período que os animais gastam pastejando é maior, provavelmente devido ao fato de que o tempo gasto procurando por estações alimentares aumenta e há menor quantidade de forragem apreendida por bocado, sendo necessário portanto mais tempo para suprir suas necessidades de consumo, havendo assim menos tempo para outras atividades como a ruminação. No pré-pastejo, as novilhas Girolando suplementadas com 100% PDR pastejaram por mais tempo do que as Girolando suplementadas com 140% PDR e do que as Holandesas, independente do suplemento utilizado. O maior tempo em pastejo das novilhas Girolando recebendo 100% PDR em relação às que receberam 140% PDR, pode ser explicado pela maior concentração de amônia no ambiente ruminal com o suplemento 140% PDR, acarretando em maior síntese de ácidos graxos voláteis, levando à diminuição do pH, prejudicando a ação das bactérias fibroliticas, aumentando assim o tempo de repleção ruminal. Porém no pós-pastejo as novilhas Girolando suplementadas com 100% PDR pastejaram por tempo semelhante às Holandesas suplementadas com 140% PDR, o que pode ser explicado pela maior adaptabilidade da raça Girolando aos ambientes tropicais, com influência diretamente no comportamento de pastejo (Brandl, 2009). Houve diferenças no tempo de pastejo entre as Holandesas conforme o suplemento fornecido. As novilhas Girolando suplementadas com 140% PDR pastejaram por mais tempo em relação às demais categorias. Para ambas as raças o suplemento de 140% PDR aumentou o tempo de pastejo em relação aqueles que receberam 100% PDR, possivelmente pela maior eficiência bacteriana sobre o material consumido, visto que, no pós-pastejo os animais consomem maior quantidade de colmos, diminuindo a disponibilidade de N proveniente da forragem, mas que nesta situação foi suprido pelo excesso de N proveniente do suplemento. O comportamento ingestivo de novilhas das raças Holandesa e Girolando em pastos de capim Marandu variam de acordo com as características do dossel forrageiro e a suplementação oferecida, provavelmente devido a alterações na disponibilidade de N no rúmen, no pH ruminal e tempo de repleção ruminal, influenciando no tempo de pastejo.

Conclusões

O fornecimento de proteína degradável no rúmen influencia no tempo de pastejo nas situações de pré e pós-pastejo. Em pré-pastejo, com melhor qualidade da forragem, o suplemento de 100% PDR mostrou-se suficiente, enquanto em pós-pastejo o suplemento 140 % poderia ser utilizado para aumentar o tempo de pastejo, e possivelmente o consumo de forragem.

Gráficos e Tabelas




Referências

BERCHIELLI, T.T.; ANDRADE, P.; PINOTTI, R.F. et al. Níveis de concentrado e uréia na alimentação de bovinos nelore com bagaço de cana-de-açucar hidrolizado. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.18, n.3, p.205-211, 1989. BREMM, C.; SILVA, J.HS.; ROCHA, M.G., et al. Comportamento ingestivo de ovelhas e cordeiras em pastagem de azevém sob níveis crescentes de suplementação. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.12, p.2097-2106, 2008. BÜRGER, P.J.; PEREIRA, J.C.; QUEIROZ, A.C. et al. Comportamento ingestivo em bezerros holandeses alimentados com dietas contendo diferentes níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.1, p.236-242, 2000. CARVALHO, P.C.F. et al. Importância da estrutura da pastagem na ingestão e seleção de dietas pelo animal em pastejo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 2001, Piracicaba, SP. Anais... Piracicaba: FEALQ, 2001. p. 853-871. JAMIESON, W.S.; HODGSON, J. The effect of variation in sward characteristics upon the ingestive behavior and herbage intake of calves and lambs under continuous stocking management. Grass and Forage Science, v.34, p.273-281, 1979. KRYSL, L.J.; HESS, B.W. Influence of supplementation on behavior of grazing cattle. Journal of Animal Science, v.71, p.2546-2555, 1993. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requeriments of dairy cattle. 7.rev.ed. Washinton, D.C.: 2001. 381p. POPPI, D.P., HUGHES, T.P., l’HUILLIER, P.J. Intake of pasture by grazing ruminants. In: NICOL, A.M. (Ed.). Livestock feeding on pasture. Hamilton: New Zealand Society of Animal Production, 1987, p.55-64. (Occasional publication, no 10). PENNING, P.D.; ROOK, A.J.; ORR, R.J. Patterns of ingestive behavior of sheep continuosly stocked on monocultures of rygrass or white clover. Applied Animal Behavior Science, v. 31, p. 237-250. 1991 SOUZA JÙNIOR, S.J. Modificações na esturtura do dossel, comportamento ingestivo e composição da dieta de bovinos durante o rebaixamento do capim-mulato submetido a estratégias de pastejo rotatativo. 2011. 181p. Tese (Doutorado em Ciência Animal e Pastagens)-Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2011. TRINDADE, J.K.; Da SILVA, S.C.; SOUZA-JÚNIOR, S.J. et al. Composição morfológica da forragem consumida por bovinos de corte durante o rebaixamento do capim-marandu submetido a estratégias de pastejo rotativo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.42, n.6, p.883-890, 2007.