Efeito dos níveis de energia da dieta sobre o desenvolvimento corporal de cordeiros Morada Nova – resultados parciais

Andréa do Nascimento Barreto1, Sérgio Novita Esteves2, André Guimarães Maciel e Silva3, Narian Romanello4, Messy Hannear Andrade Pantoja5, Amanda Prudêncio Lemes6, Daniela Botta7, Alexandre Rossetto Garcia8
1 - Universidade Federal do Pará - UFPA
2 - Embrapa Pecuária Sudeste - CPPSE
3 - Universidade Federal do Pará - UFPA
4 - Universidade Federal do Pará - UFPA
5 - Universidade Federal do Pará - UFPA
6 - UNESP Jaboticabal
7 - Universidade Federal do Pará - UFPA
8 - Embrapa Pecuária Sudeste - CPPSE

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o desenvolvimento corporal de 42 cordeiros Morada Nova, distribuídos em dois grupos experimentais: Controle (n=21) com 80% de volumoso e 20% de concentrado e Tratamento (n=21) 20% de volumoso e 80% de concentrado, com base na matéria seca. O peso e as medidas morfométricas corporais foram aferidos quinzenalmente e submetidos à análise de variância e correlação linear. Houve efeito positivo da dieta com maior densidade energética no desempenho dos animais do grupo Tratamento (p<0,05). Isso pode reduzir o tempo necessário para a entrada à puberdade ou para abate dos animais.

Palavras-chave: morfometria, nutrição animal, ovinos, perímetro escrotal, peso vivo

Effect of the energy levels of the diet on body development of Morada Nova lambs –preliminary results

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the body development of 42 Morada Nova lambs, distributed in two experimental groups: Control (n = 21) with 80% roughages and 20% and Treatment (n = 21) 20% roughages and 80% concentrate, based on the dry matter. Body weight and morphometric measurements were biweekly and submitted to analysis of variance and linear correlation. There was a positive effect of the diet with higher energy density in the performance of the animals of the Treatment group (p <0.05). This can reduce the time required for entering puberty or for slaughtering animals.
Keywords: animal nutrition, live weight, morphometry, sheep, scrotal circumference


Introdução

A criação de ovinos no Brasil tem sido estimulada pelo potencial do sistema produtivo e pelo recente aumento da demanda de mercado. Para favorecer o desempenho produtivo desses animais, é necessário suprir suas necessidades de energia. Sabe-se que o balanço energético é o mais importante fator nutricional relacionado à entrada em puberdade (PIRES, 2011), o qual tem grande relevância em machos que serão destinados à reprodução. Portanto, o conhecimento dos efeitos da dieta sobre o desempenho é crucial para a maximização da eficiência de uso dos nutrientes nos diferentes sistemas de produção (MAHGOUB et al., 2000). Ao mesmo tempo, certas práticas de manejo, como a avaliação do peso vivo e das características morfométricas, são importantes para o monitoramento do crescimento dos animais (CARTAXO e SOUZA, 2008). Assim, o objetivo deste estudo foi investigar o efeito de dois diferentes níveis de energia na dieta ofertada a machos jovens da raça Morada Nova sobre seu peso e medidas morfométricas, bem como calcular os índices de correlação entre as mesmas.

Revisão Bibliográfica

A nutrição é o fator mais importante que influencia o crescimento e o desenvolvimento animal, os quais, bem como a produção de carne ovina estão diretamente relacionados com o consumo de alimentos, que possibilitará a manifestação do potencial produtivo dos animais (RODRIGUES et al., 2012), Portanto, a produtividade dos ovinos depende de inúmeros fatores, assim como um adequado manejo alimentar respeitando a qualidade e quantidade da dieta oferecida. O fornecimento de uma dieta desbalanceada de energia influência negativamente no desenvolvimento, no ganho de peso e na reprodução dos animais, ocasionando prejuízo para a eficiência da produção (HUMBERTO; ESTRADA, 2013). O desempenho dos ovinos para produção é avaliado principalmente, pelo seu peso corporal. Recentemente, estudos têm dado atenção às características morfométricas que estão diretamente relacionadas ao peso do animal, que permitem descrever melhor o desenvolvimento de um indivíduo ou população (SILVA e ARAUJO, 2000). Portanto, dentre as ferramentas utilizadas para avaliar a produtividade de pequenos ruminantes, tem-se destacado a biometria corporal, que, quando analisada com outros índices zootécnicos, constitui uma importante base de dados que podem contribuir para evolução do sistema produtivo (YÁÑEZ et al., 2004).

Materiais e Métodos

O ensaio foi conduzido na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos-SP, de julho a outubro de 2016. Foram utilizados 42 machos ovinos da raça Morada Nova, não castrados e recém-desmamados. Os animais foram selecionados dentre um rebanho de 120 cordeiros, para possibilitar formação de grupos experimentais homogêneos, quanto ao peso corporal e idade (16±1,0 kg e 90 dias de vida). Após a seleção, foi procedido o desmame e os animais foram mantidos em regime de confinamento, em galpão coberto. Os animais foram distribuídos em dois grupos experimentais, sendo adotado período de 14 dias para adaptação ao manejo nutricional e às instalações. Os grupos experimentais diferiam de acordo com o nível de energia na dieta. O Grupo Controle (n=21) recebeu dieta com baixa energia (80% de volumoso com 0,77 kg MS/an/dia e 20% de concentrado com 0,2 kg MS/an/dia), enquanto o Grupo Tratamento (n=21) recebeu dieta com alta energia (20% de volumoso com 0,26 kg MS/an/dia e 80% de concentrado com 1,02 kg MS/an/dia). A ração foi formulada de acordo com NRC (2007). A dieta foi fornecida duas vezes ao dia, às 8:00 e 16:00 horas, sendo constituída por silagem de milho e concentrado à base de farelo de milho e farelo de soja, com adição de suplemento mineral e calcário. A cada 15 dias, foram realizadas pesagem e avaliações de morfometria corpórea, após jejum prévio de 16 horas. As variáveis de morfometria monitoradas foram perímetro torácico (PT, cm), comprimento corporal (CC, cm), altura de cernelha (AC, cm), altura de garupa (AG, cm) e perímetro escrotal (PE, cm) (OLIVEIRA et al. 2007). Os dados foram analisados em base mensal, com auxílio do programa BioEstat, versão 5.0 (AYRES et al., 2005). As variáveis que não apresentaram distribuição normal passaram previamente por transformação linear e os dados foram submetidos à ANOVA. As comparações de médias foram realizadas pelo teste de Tukey. O nível de significância previamente adotado foi de 5%.

Resultados e Discussão

Houve diferença significativa (p<0,01) para peso, perímetro escrotal e comprimento corporal, nos três meses avaliados (Tabela 1). Os grupos começaram a apresentar diferenças significativas para altura de cernelha, altura de garupa e perímetro torácico no segundo mês de experimento. O nível de energia na alimentação proporciona um melhor desenvolvimento das medidas corporais, que são importantes indicadores do rendimento da carcaça e da capacidade digestiva e respiratória dos animais (SANTANA; COSTA; FONSECA, 2001). Contudo, o grupo Tratamento apresentou acréscimo significativamente maior para peso e características morfométricas, devido ao maior nível de energia fornecido, dentro de cada mês. A Figura 1 ilustra os valores do perímetro escrotal em função do aumento do peso corporal, para animais alimentados com baixo ou alto níveis de energia. Observou-se que o perímetro escrotal aumentou linearmente à medida que os animais ganharam peso. Ou seja, os animais que consumiram altos níveis de energia (B) possivelmente permitiram-se apresentar um acelerado desenvolvimento corporal e a entrada a puberdade mais cedo do que os animais que consumiram baixos níveis de energia (A). Portanto, o início da atividade gametogênese encontra-se na dependência do desenvolvimento corporal que, geralmente, é estimulado através do peso (PIMENTEL et al., 1984). O peso e as medidas morfométricas apresentaram correlações positivas. As maiores correlações observadas para as medidas morfométricas foram entre altura de cernelha e altura de garupa com 0,91, entre peso e perímetro torácico com 0,88, entre peso e comprimento corporal com 0,84 e entre peso e perímetro escrotal com 0,81. O resultado obtido indica que o peso é uma das medidas mais segura correlacionada com as medidas corporais para obtenção do rendimento animal (FILHO et al., 2010). Além disso, se o desenvolvimento corporal for retardado por condições de baixo consumo de energia, o desenvolvimento testicular também estará prejudicado (PIMENTEL et al., 1984).

Conclusões

Haja vista os resultados obtidos nesse estudo, de forma preliminar é possível concluir que o uso de dietas de alta energia pode melhorar o padrão de ganho de peso dos animais, possibilitando também o desenvolvimento corporal mais acelerado, ocasionando maior eficiência aos sistemas de produção intensivos, por diminuir o tempo necessário para a entrada à puberdade e também a idade de alcance de peso para abate.

Gráficos e Tabelas




Referências

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