Milho e Sorgo Hidropônico Submetidos a Diferentes Níveis de Solução Nitrogenada e Dois Cortes

Antonia Dayany Gomes da Silva1, Manuel Florindo Fortuna2, Maria de Lurdes Cicouro Galvão3, Ingrid Rodrigues Sousa4, Débora Gonçala Gomes da Silva5
1 - Graduanda em Zootecnia, Instituto Federal do Ceará, Crateús
2 - Mestre em Agricultura Tropical, Instituto Politécnico de Bragança, Portugal
3 - Porfessora de Engenharia Zootécnica, Instituto Politécnico de Bragança, Portugal
4 - Graduanda em Zootecnia, Instituto Federal do Ceará, Crateús
5 - Graduanda em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do Ceará, Crateús

RESUMO -

O trabalho objetivou-se em avaliar o efeito dos níveis de nitrogênio na composição química da forragem hidropônica de milho e sorgo submetidos a dois cortes. O delineamento adotado foi blocos casualizados, com arranjo fatorial 2×4. O milho e o sorgo foram submetidos a quatro tratamentos: água; ureia 0,22 g/L; ureia 0,44g/L; e NPK nas proporções 0,72g N/L, 0,72 g P2O5/L, 0,72 g K2O/L em substrato de palha de trigo. Os cortes foram aos 13 e 25 dias após a semeadura. Os parâmetros avaliados foram a produção de matéria seca (MS), teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA). Os dados foram submetidos a Análise de Variância e teste Tukey (p<0,05). O sorgo, comparado ao milho, obteve diferença significativa (p<0,05) na produção de matéria seca com 3,19 kg/m² (MS) e 10,3% de proteína bruta (PB). E o tratamento ureia 0,44g/L mostrou-se estatisticamente mais adequado para elevação do nível de proteína bruta (PB).

Palavras-chave: Forragem hidropônica, Solução nitrogenada, Qualidade forrageira

Hydroponic maize and sorghum submitted to different levels of nitrogen solution and two cuts

ABSTRACT - This study aimed to evaluate the effect of nitrogen levels on the chemical composition of hydroponic forage of maize and sorghum submitted to two cuts. Was used the lineation of randomized blocks with factorial arrangement 2x4. Maize and sorghum were submitted to four treatments: water; urea 0.22 g/L; urea 0.44 g/L and NPK in proportions 0.72 g N/L, 0.72 g P2O5/L and 0.72 g K2O/L, on wheat straw substrate. The cuts were at 13 and 25 days after sowing. The evaluated parameters were the production of dry matter (DM), crude protein contents (CP), neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF). The data were submitted to analysis of variance and Tukey test (P<0.05). There was a significant difference (P<0.05) for sorghum, compared to maize, in the production of DM 3.19 kg/m² and CP 10.3%. The urea 0.44 g/L treatment was statistically more adequate for raising the level of CP.
Keywords: Hydroponic forage, Nitrogen fertilization, Forage quality


Introdução

A forragem hidropônica é uma alternativa para produção de volumosos em qualquer época do ano, com bom custo benefício em relação a métodos convencionais e alto valor nutritivo, principalmente proteico e boa quantidade de aminoácidos livres que podem ser absorvidos facilmente devido à fase em que as plantas são disponibilizadas para os animais (ARAUJO et al, 2008; MULLER et al., 2005). Na hidroponia utilizam-se dois tipos convencionais de solução nutritiva, no entanto, Teixeira (1996) afirma que não há uma solução nutritiva única e melhor para o cultivo de uma determinada espécie ou variedade, pois os atributos fisiológicos de absorção, transporte e distribuição dos nutrientes são relativos a espécie, variedade, estação do ano e fase de desenvolvimento da cultura. O substrato também pode interferir na disponibilização dos nutrientes para plantas. A espécie forrageira mais explorada na hidroponia é o milho, devido ao grande acervo de pesquisas relacionadas a soluções nutritivas e produtividade com essa espécie. É necessário conhecer a produção e a composição nutricional de outras espécies exploradas nesse sistema para que possam ser uma opção atrativa para a produção animal. O trabalho teve como objetivo a determinação da produção de matéria seca (MS), determinação proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) do milho e sorgo cultivados em solução hidropônica submetidos a diferentes níveis de solução nitrogenada e a dois cortes.

Revisão Bibliográfica

A hidroponia é uma tecnologia de produção de biomassa vegetal, obtida através da germinação sementes viáveis e o crescimento inicial da planta. A forragem hidropônica possui boa digestibilidade, qualidade nutricional e é adequada a alimentação animal e pode-se fornecer para diferentes espécies ruminantes e não ruminantes (FAO, 2001). A forragem hidropônica requer o conteúdo de nutrientes diretamente na água, pois é essa solução que determina o crescimento do vegetal viável e a sua qualidade final, bem como a é relevante a determinação do momento mais propício a colheita já que o estádio da planta influencia o valor nutritivo da forragem. (MÜLLER et al. 2006). Várias soluções nutritivas já foram propostas na literatura havendo diferenças marcantes com relação às concentrações dos nutrientes minerais (SANTOS et al. 2015). Porém não há uma formulação ideal de solução nutritiva que atenda a necessidade de todas as culturas (COMETTI et al., 2006). Para produção de forragem cultivada em forma hidropônica pode-se utilizar ou não substrato, segundo Santos et al. (2015) o substrato pode influenciar na produção e qualidade da forragem hidropônica, alterando resultados que podem estar mais próximo do real, no que diz respeito a solução nutritiva.  O milho é a espécie forrageira em que se têm maior volume de pesquisas em hidroponia, busca-se então outras espécies que possam ser produtivas e que respondam bem a fertirrigação, o sorgo forrageiro, por exemplo, de acordo com Abadia (2010, apud Silva, 2001) é uma planta resistente possui valor nutritivo em torno de 80-90% do valor energético do milho.  Avaliar a composição dos alimentos é de extrema importância, para se fornecer aos animais alimentação de qualidade e estes possam responder bem à sua nutrição. Os ruminantes geralmente requerem adequada fibra dietética para suas funções normais do rúmen. Efeitos positivos também foram observados para não ruminantes. Acima do nível correto, a fibra não altera o uso da energia digerida. A qualidade dos alimentos e das forragens é enormemente afetada por atributos físicos que podem não ser em tudo associados com as frações químicas ou com as análises químicas. Estas propriedades incluem densidade física, capacidade de hidratação, troca de cátions e taxa de fermentação (VAN SOEST, 1994).

Materiais e Métodos

O experimento realizado de 25 de junho à 20 de julho do ano 2015, na horta da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança, Portugal. Coordenadas geográficas 41°48’ N; 6°12’W. O clima é mediterrâneo com alguma influência do regime atlântico. A temperatura média anual é de 11,9°C e a precipitação anual de 741mm (INMG, 1991). O delineamento adotado foi em blocos casualisados, com arranjo fatorial 2x4, em que o milho e o sorgo foram submetidos a quatro tratamentos. A área utilizada foi de 14 m2, dez sulcos com 2,5 m de comprimento e 0,8 m de largura recobertos com lona de polietileno, uma distância de 0,5 m entre sulcos, dispostas cinco de cada lado na direção Leste-Oeste. A área disposta para semeadura em cada tratamento dispunha 2 m². Para substrato usou-se palha de trigo seca triturada na densidade de 1 Kg/m². As sementes não foram selecionadas e nem receberam tratamentos químico. Antes da semeadura, foram acondicionadas em tabuleiros forrados com filme plástico preto para o processo de pré-germinação, constituído de submersão em água por 24 horas, após retirada da água, repouso por 48 horas (HAUT, 2003). A densidade de sementes utilizadas foi de 1,5 Kg/m2 para o milho e o sorgo. Os tratamentos utilizados foram tratamento testemunha apenas com água (H2O); ureia 0,22 g/L (N1); ureia 0,44g/L (N2); e NPK nas proporções 0,72g N/L, 0,72 g P2O5/L, 0,72 g K2O/L. A irrigação nos primeiros três dias foi feita somente com água e depois com solução nutritiva (NEVES, 2001), com duas regas diárias sendo 10 L/m2.dia. As plantas foram submetidas a dois cortes, o primeiro sendo um raleio no 13º dia após a semeadura, e o segundo no 25º dia após a semeadura onde foi colhido 0,9 m2. O material foi submetido análise da produção de matéria seca (MS), teor proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA). Para análise estatística usou-se programa SYSTAT. Os dados foram explorados com Análise de Variância e teste Tukey (p<0,05).

Resultados e Discussão

O sorgo obteve diferença significativa (P<0,05) na produção apresentando 3,19 kg/m² de MS, em relação ao milho (2,52 kg/m²). A nutrição com nitrogênio não influenciou na produção de MS. O teor de PB entre as duas espécies apresentou diferença significativa expressiva (P<0,05), onde o sorgo obteve 6,3% a mais (10,3%) que o milho (4,0%). Diverge dos resultados de Araújo et al. (2008) em que o milho 11,40% de PB e de Fraga et al. (2009) que avaliando três variedades de milho o menor valor encontrado foi de 10,50%. E de acordo com Santos et al. (2007) o teor de PB do milho cultivado em solução hidropônica é superior ao do sorgo. O valor de 14,7% de PB (Figura 1) apresentada no sorgo é considerado um valor alto, que atesta a qualidade da forragem produzida. Em vista das doses de nitrogênio nos tratamentos N1 e NPK possuírem mesma quantidade de nitrogênio, ambos não diferiram em nível de p<0,05 no sorgo, e NPK mostrou-se menos eficiente no milho (5,05%), mas superior ao tratamento testemunha (3,82%). Observa-se também que ao elevar a quantidade de nitrogênio na solução nutritiva, aumenta o nível de proteína bruta. Resultado que difere do resultado de Santos et al. (2015) em que o tipo de solução nutritiva não influenciou significativamente sobre os teores de PB na parte aérea do milho, nem na parte aérea do sorgo. Não ocorre influência de outros nutrientes na elevação da PB. O sorgo apresentou diferença significativa (p<0,05) no teor de FDN, (0,66%), e FDA, (0,43%), em relação ao milho com 0,57% e 0,32%, respectivamente. Este mostrou menor percentual de carboidratos estruturais e lignina, diferindo dos resultados encontrados por Santos et al. (2015) que avaliando estas mesmas espécies sem substrato não encontraram diferença para esses parâmetros. Os efeitos das espécies e fertilização na variável FDN estão expressos na Figura 2. O tratamento N1 no milho mostrou valor significativo (0,64%) em relação aos demais tratamentos e não diferiu estatisticamente (p<0,05) do sorgo, no qual todos os tratamentos foram estatisticamente iguais. O menor valor de FDN foi encontrado no tratamento controle do milho, mostrando que o as soluções elevaram o teor de fibra em detergente neutro no milho mostraram, para esta variável, efeito negativo. E de acordo com Van Soest (1994) quanto menor o valor de FDN, mais interessante para as gramíneas.

Conclusões

O sorgo como resultado positivo mostrou maior produção de matéria seca e proteína bruta. E o tratamento ureia 0,44g/L mostrou-se mais adequado para elevação do nível de proteína bruta no sorgo e no milho. As soluções nitrogenadas elevaram o teor de fibra em detergente neutro no milho, o tratamento  apenas com água apresentou o menor percentual para esta variável.

Gráficos e Tabelas




Referências

ABADIA, A. M. DA. Fertirrigação Para a Produção de Forrageiras. Curso de Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Jataí, 2010. ARAUJO, V. DA S.; COELHO, F. C.; CUNHA, R. C. V. DA; LOMBARDI, C. T. Forragem Hidropônica de Milho Cultivado em Bagaço de Cana e Vinhoto. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, 2008. COMETTI, N. N.; FURLANI, P. R.; RUIZ, H. A.; FERNANDES FILHO, EI. Soluções Nutritivas: formulação e aplicações. Nutrição Mineral de Plantas. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, Minas Gerais, 2006. FAO. Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacion. Manual técnico forraje verde hidropónico. Santiago, Chile, 2001. FRAGA, T. M. FERRARI, L. GARCIA, A.; LEITE, D. C. TANNOUS, S. Influência de Três Variedades de Milho (Zea Mays, L.) e Dois Substratos na Produção de Forragem Hidropônica Nucleus Animalium, 2009. HAUT, V. Produção de forragem hidropônica de gramíneas. Universidade Federal de Santa Maria, 2003. INMG. Normais Climatológicas da Região de “Trás-os-Montes e Alto Douro” e “Beira Interior” Correspondentes a 1951-1980. Fascículo XLIX, Volume 3, 3ª Região, Lisboa, 1991. MÜLLER, L.; SANTOS, O.S. DOS; MANFRON, P.A.; MEDEIROS, S.L.P.; HAUT, V.; DOURADO NETO, D.; MENEZES, N.L. DE; FAGAN, E.B.; BANDEIRA, A.H. Produção e composição bromatológica da forragem hidropônica de milho, Zea mays L., com diferentes densidades de semeadura e datas de colheita. Zootecnia Tropical, vol. 23, n.2. 2005. MÜLLER, L.; MANFRON, P. A.; MEDEIROS, S. L. P.; SANTOS, O. S. dos; MORSELLI, T. B. G. A.; DOURADO NETO, D.; FAGAN, E. B.; BANDEIRA, A. H.; TONETTO, C. J. Valor Nutricional da Forragem Hidropônica de Trigo Sob Diferentes Soluções Nutritivas. Bioscience Journal, Uberlândia, Sept./Dec, 2006. NEVES, A. L. R. A. Cultivo de milho hidropônico para alimentação animal. Viçosa: CPT, 2001. SANTOS, M. J. DOS; BEZERRA NETO, E.; FRANÇA, Ê. F. DE; SANTOS, M. V. F. DOS; Produção e Composição Bromatológica de Milho e Sorgo Cultivados Hidroponicamente Sem Substrato. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, 2014/2015. TEIXEIRA, N.T. Hidroponia: uma alternativa para pequenas áreas. Guaíba: Agropecuária. 1996. VAN SOEST, P. J. Nutritional Ecology of the Ruminant. 2.ed. New York: Cornell University Press, 1994.