Consumo e produção do capim Mombaça pastejado por novilhos consumindo diferentes níveis de concentrado

Andrei Pereira Neves1, Alysson Martins Wanderley2, Marcus Vinícius Moraes de Oliveira3, Luís Carlos Vinhas Ítavo4, Rodrigo Gonçalves Mateus5, Rodrigo da Costa Gomes6, Luiz Carlos Pereira7
1 - Universidade Estadual de Londrina
2 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
3 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
4 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
5 - Universidade Católica Dom Bosco
6 - Embrapa Gado de Corte
7 - Universidade Católica Dom Bosco

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a suplementação com concentrado, fornecidos ad libitum, 0,0; 0,3; 0,6; 0,9 e 1,2% do peso corporal sobre o consumo de matéria seca da forragem (CMSF), consumo de matéria seca total (CMST) e acúmulo da forragem (AF). Foram utilizados 5 bovinos da raça Jersey castrados com peso de 438 ± 32 kg distribuídos em 5 piquetes de capim Mombaça de 0,5 ha. O CMSF reduziu 15,5 e 21,1% nos animais que receberam 0,9 e 1,2% respetivamente. O CMST aumentou com a inclusão de concentrado chegando a ser 35% maior comparando animais que receberam 0,6% e animais não suplementados. O acúmulo de forragem aumentou com a suplementação chegando a ser, no pasto onde os animais foram suplementados com 1,2% do peso corporal, 521% que o não suplementado. A suplementação a pasto é interessante, no entanto é necessária atenção ao nível de suplementação para que não haja efeito negativo sobre o pastejo.

Palavras-chave: efeito aditivo, efeito substitutivo, forragem, suplemento

Intake and production of Mombaça grass grazed by steers consuming different levels of concentrate

ABSTRACT - The objective was to evaluate the supplementation with concentrate, provided ad libitum, 0,0; 0.3; 0.6; 0.9 and 1.2% of body weight on dry matter intake forage (DMIF), dry matter intake total (DMIT) and accumulation forage (AF). Five castrated Jersey cattle weighing 438 ± 32 kg were distributed in five paddocks of Mombaça grass. DMIF reduction of 15.5 and 21.1% in the animals that received 0.9 and 1.2% respectively. DMIT increased with the inclusion of concentrate reaching 35% higher when compared to animals that received 0.6% and animals not supplemented. The accumulation of forage increased with supplementation, in the pasture where the animals were supplemented with 1.2% of body weight, 521% of that not supplemented. Pasture supplementation is interesting, however attention is needed at the level of supplementation so that there is no negative effect on grazing.
Keywords: additive effect, forage, substitute effect, supplement


Introdução

O fornecimento de suplementos para os animais criados em regime de pastoreio pode alterar seu comportamento ingestivo, influenciando o consumo de forragem, e também causar alteração na produção de biomassa e na estrutura da pastagem (Carvalho et al., 2007). A utilização de suplementos para animais a pasto pode resultar em efeitos associativos em relação ao consumo da forragem, podendo ser tanto positivos quanto negativos, ocorrendo de maneira aditiva quando aumenta o consumo de forragem (aditivo) e também negativa quando ocorre a redução (substitutivo) (Silva et al., 2009). Observa-se que o fornecimento de suplemento para animais a pasto gera na maioria das vezes resultados positivos gerando melhor aproveitamento da forragem e desempenho do animal, porém, é necessário ter cuidado com o nível de suplementação para que haja o melhor aproveitamento da forragem (Goes et al., 2010). O manejo alimentar dos animais em pastejo deve levar em consideração o desenvolvimento da planta, seu aparecimento e alongamento foliar assim como a duração de vida da folha, pois esses fatores, juntamente com número e densidade de perfilhos determinam a estrutura da forragem (Costa et al., 2011) e a capacidade de resiliência. Objetivou-se com esse estudo avaliar o efeito do nível de concentrado na dieta de bovinos sobre o consumo total de matéria seca, o consumo de forragem e o acúmulo de forragem do capim Mombaça.

Revisão Bibliográfica

O capim Mombaça é uma planta ereta e cespitosa, com altura média de 1,60 a 1,65 m, alta porcentagem de folhas quebradiças (cerca de 80%) com 3,0 cm de largura, apresentando de 10 a 40% da produção anual durante a seca e proporcionando uma cobertura no solo entre 60 e 80%. São menos flexíveis que as gramíneas do gênero Brachiaria por apresentarem limitações e/ou dificuldades para serem manejadas sob lotação contínua, prevalecendo, de modo geral, o seu uso na forma de pastejo rotacionado (Jank et al., 2010). O potencial genético dos animais criados em regime de pastejo não é totalmente expresso, devido à restrição na ingestão de nutrientes oriundos das pastagens de baixa qualidade. Para Reis et al. (1997), a suplementação resultará numa maior resposta animal em pastagens que apresentam menor quantidade de forragem. A suplementação de animais criados a pasto pode gerar interações pasto-suplemento, podendo promover a diminuição do tempo gasto pelo animal com o pastejo, reduzindo assim o consumo de forragem. O consumo de energia proveniente da forragem pode ser reduzido, quando ocorre um efeito substitutivo. Quando o efeito apresentado for aditivo o consumo de forragem permanece inalterado, ocorrendo um aporte de energia proveniente do concentrado. Moore et al. (1999), em revisão sobre o efeito do suplemento no consumo voluntário de forragem, verificaram efeito de substituição variando de -1 a +1% do peso corpóreo, sendo esta substituição maior em forragens mais nutritivas. Para Rocha et al. (2003), esse efeito substitutivo pode ser desejável em alguns casos, pois possibilita um maior número de animais por área, sem que se reduza o ganho individual, proporcionando assim uma maior produtividade por área. O efeito associativo é uma junção dos efeitos aditivo e substitutivo. Neste caso, o efeito aditivo foi definido pelo aumento do consumo de energia digestível oriunda do incremento do concentrado à dieta, permanecendo o consumo de forragem inalterado. Já o efeito substitutivo ocorre quando o consumo de energia digestível permanece o mesmo, mas, ocorre a redução da energia proveniente da forragem e aumenta a ingestão de energia oriunda do concentrado, ou seja, a ingestão de suplemento substitui a do pasto. No efeito associativo ocorre acréscimo do total de energia digestível consumida e da quantidade de concentrado, ocorrendo redução do consumo de forragem.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Setor de Bovinocultura de Leite da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), na Unidade Universitária de Aquidauana. A área experimental continha 2,5 hectares cultivados com capim-mombaça dividida em cinco piquetes de 0,5 ha. Foram utilizados cinco bovinos machos castrados com peso médio 438 ± 32 kg e 5 animais reguladores submetidos ao mesmo manejo alimentar, de forma que a carga animal por piquete fosse semelhante, com média de 872 kg e uma taxa de lotação de 3,9 UA ha-1. Os tratamentos consistiam na suplementação dos animais com cinco níveis de concentrado 0,0; 0,3; 0,6; 0,9 e 1,2% do peso corporal; fornecidos duas vezes ao dia, formulado com 59,5% de milho, 39,5% de soja e 1% de sal mineralizado, contendo 23,12 % de proteína bruta e 72,06% de nutrientes digestíveis totais. A coleta de forragem para determinação do acúmulo de forragem (AF) foi realizada a cada 14 dias por meio de retirada total da biomassa de 2 amostras por piquete. Foram utilizadas duas gaiolas de exclusão ao pastejo com 4 m2 cada. Foi realizado o corte da forragem dentro da gaiola e de uma área de igual tamanho fora da gaiola (resíduo). As amostras foram pesadas e processadas para determinação da matéria seca. A estimativa do consumo de matéria seca total (CMST) e consumo de matéria seca da forragem (CMSF) foi mensurada através da utilização de marcadores externos e internos. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com medidas repetidas no tempo. Para as análises estatísticas foi utilizado o software livre R. Os dados obtidos foram submetidos a análise de regressão segundo modelo: Yij=µ+NCi+eij, em que: Yij= Variáveis dependentes; µ=Média geral; NCi=Nível de concentrado; i=0,0; 0,3; 0,6; 0,9 e 1,2; eij=Erro experimental, contando efeitos não controlados.

Resultados e Discussão

Para o CMSF houve efeito quadrático negativo (P=0,021) dos níveis de concentrado (Figura 1). Para animais que não foram suplementados e que consumiram até 0,6 % do peso corporal o consumo de forragem foi estável, em torno de 9,2 Kg dia-1. Para os animais que consumiram 0,9 e 1,2% do peso corporal a redução do CMSF foi de 15,5 e 21,1% respectivamente. Esses resultados são semelhantes aos apresentados por Zinn e Garces (2006) que sugerem haver uma redução mínima do consumo de forragem quando o nível de suplementação é 0,3% do peso corporal e que o decréscimo se torna maior quando a suplementação é feita com níveis acima de 0,8%, pois, o metabolismo do animal para ganho de peso a pasto chega próximo ao limite. Porto et al. (2011) sugerem uma suplementação com 0,2% do peso corporal e altos teores de proteína para que haja um melhor consumo da forragem. Os resultados CMST expresso em kg dia-1 apresentaram efeito quadrático (P<0,001) (figura 1), esse resultado já era esperado devido ao aumento da qualidade da dieta com inclusão crescente de suplementação concentrada. Esse efeito positivo foi mais acentuado nos animais que consumiram de 0,0 a 0,6% do peso corporal de concentrado demostrando um acréscimo de 35%, sendo praticamente estabilizado a partir desse nível. Esse acréscimo pode ter ocorrido em função do aporte de proteína que favorece a ação dos microrganismos ruminais ocasionando melhor digestibilidade da dieta (Goes et al., 2005). Mateus et al. (2011) observaram acréscimo no consumo com o aumento do nível de concentrado mesmo ocorrendo a redução do consumo de forragem. A redução do consumo de forragem foi menor que o aumento do consumo de suplemento, levando a crer que também ouve um acréscimo no consumo de nutrientes. Esses resultados demonstram um efeito aditivo do consumo de forragem e concentrado nos animais que consumiram até 0,6% do peso corporal de concentrado. Efeito substitutivo do concentrado sobre a forragem foi observado nos níveis 0,9 e 1,2%.  Embora o CMST tenha sido ligeiramente maior o CMSF foi reduzido. O AF (figura 1) foi influenciado de maneira quadrática positiva pelo nível de concentrado da dieta (P<0,001). O menor acréscimo ocorreu nos piquetes que os animais consumiram concentrado na proporção 0,6 e 0,9% do peso corporal (26,2%) e o maior entre 0,9 e 1,2 (79%). O acréscimo entre o maior nível e os animais que não receberam suplementação concentrada foi de 521% demostrando um alto efeito substitutivo da forragem pelo concentrado. Esse alto AF se dá pelo aumento do consumo de concentrado e de nutrientes de maior digestibilidade comparados. Hoffmann et al. (2014) afirmam que o fornecimento de altos níveis de concentrado reduz o consumo da forragem em virtude do aporte de carboidratos não fibrosos (CNF), fazendo com que haja uma competição entre os microrganismos fibrolíticos e digestores de CNF por substratos como amônia, peptídeos, enxofre e esqueletos de carbono de cadeia ramificada para seu crescimento.

Conclusões

O fornecimento de 0,6% do peso corporal de concentrado obteve o melhor resultado visando o CMST e o efeito aditivo da forragem. Níveis superiores resultam em maior CMST no entanto ocorre redução do consumo de forragem gerando um maior AF podendo ser utilizados como estratégia para aumentar a carga animal.

Gráficos e Tabelas




Referências

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