Análise comportamental em macacos-prego (Sapajus nigritus) criados em cativeiro

Matheus Montanari1, Leandro Polato Lazari2, Adriele de Souza Gomes3, Aline de Oliveira Santos4, Lilian Francisco Arantes de Souza5
1 - Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
2 - Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
3 - Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
4 - Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE
5 - Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE

RESUMO -

Há extrema importância em aplicar a etologia profissionalmente para que haja compreensão e interpretação do comportamento animal. O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de macacos-prego bem como discutir padrões comportamentais para dialogar sobre a importância do bem-estar em indivíduos mantidos em cativeiro. O estudo foi realizado com 5 indivíduos da espécie Sapajus nigritus, a fim de verificar os comportamentos com auxílio de um etograma elaborado. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e apresentados em frequência percentual. A presença de movimentos estereotipados nos animais foi frequente em mais de uma característica, como auto-catação (11,83%), masturbação (1,61%) e perambular (38,17%). Sugere-se que o estresse presente no cotidiano destes animais deve ser combatido com auxílio de ferramentas de enriquecimento ambiental, que asseguram a procura por novos estímulos e gasto de energia em simulação à realidade natural dos indivíduos.

Palavras-chave: Primatas, Silvestres, Etograma, Bem-Estar.

Behavioral analysis of capuchin monkeys (Sapajus nigritus) raised in captivity

ABSTRACT - It is extremely important to apply ethology professionally so that there is understanding and interpretation of animal behavior. The objective of this work was to evaluate the behavior of monkey-nails as well as to discuss behavioral patterns to dialogue the importance of well-being in individuals kept in captivity. The study was carried out with 5 individuals of the species Sapajus nigritus, in order to verify the behaviors with the aid of an elaborated etogram. The data were analyzed by means of descriptive statistics and presented in percentage frequency. The presence of stereotyped movements in the animals was frequent in more than one characteristic, being: self-cata- tion (11.83%), masturbation (1.61%) and wandering (38.17%). It is suggested that stress present in the daily lives of these animals should be combated with the aid of environmental enrichment tools, which ensure the search for new stimuli and energy expenditure in simulation to the natural reality of individuals.
Keywords: Primates, Wild, Ethogram, Welfare.


Introdução

A pesquisa que auxilia a compreensão do comportamento de animais em cativeiro visa adequar as principais necessidades de cada espécie em relação a padrões sociais, reprodutivos e alimentares, obtendo-se maior grau de adaptação dos indivíduos a esses ambientes artificiais e manejo adequado para as espécies. As evidências de que muitas espécies se encontram ameaçadas por motivos de fragmentação de habitats, faz com que a compreensão do comportamento dos primatas seja uma importante ferramenta para a preservação das espécies (Carrol, 1991). Os primatas são indivíduos com grandiosa capacidade cognitiva e manipulativa, e por conta destes fatores fisiológicos, mantê-los em cativeiro é uma atividade considerada como agente estressor. Assim surgem as estereotipias, padrões comportamentais repetitivos e invariáveis relacionados à exposição de altos níveis de estresse, sem função aparente (Manson, 1991). Como solução deve-se considerar o aumento das atividades relativas àquelas do cotidiano comportamental da espécie em ambiente natural e também atividades relacionadas à introdução do enriquecimento ambiental, sugerindo a redução de comportamentos ociosos ou deletérios e uma possível redução do estresse (Duncan, 1998). O objetivo do presente trabalho foi analisar o comportamento de macacos-prego mantidos em cativeiro, bem como quantificar e discutir os padrões comportamentais da espécie.

Revisão Bibliográfica

Os macaco-prego, indivíduos da espécie Sapajus nigritus, são nativos da Mata Atlântica e ao entorno, ocupando as regiões sul e sudeste do Brasil (Vilanova et al., 2005; Ludwig et al., 2005). Entre 2010 e 2012, Sapajus nigritus. anteriormente classificado como Cebus apella nigritus, deixou de ser subespécie e passou a ser espécie Cebus (Sapajus) nigritus (Silva Junior, 2001; Rylands et al., 2000), após isto, ainda foi mudado sua nomenclatura taxonômica, se tornando gêneros individuais Cebus Sapajus. Ficando da seguinte forma taxonômica: Sapajus nigritus (Lynch Alfaro et al., 2012; Guimarães, 2012). Atualmente muitos destes primatas são apreendidos de contrabandistas e criadores ilegais, e por não poderem ser reintroduzidos na natureza, acabam vivendo em parques zoológicos e santuários por todo o país. Quando grupos artificiais são formados em ambientes não adequados e sem qualquer forma de enriquecimento ambiental, vários problemas surgem, como brigas entre os indivíduos, que acabam terminando em mutilações severas. Desta forma, estes animais acabam sendo separados, não possibilitando o convívio social necessário para qualquer espécie primata. Esta solução imediata acaba por gerar dificuldades, como a ausência de espaços para a manutenção destes (Furtado, 2006). O bem-estar é um termo utilizado para animais, incluindo-se o ser humano. Sendo considerado de importância por muitos. Análises comportamentais têm grande valor na avaliação do bem-estar. O fato de um animal evitar ou não apresentar comportamentos expressivos da espécie, fornece a informação para identificar o que é demonstrado pelo indivíduo como sentimento bem como sobre seu bem-estar. Quanto menos diferenciação entre a frequência de comportamentos observados, mais pobre será o bem-estar. Comportamentos fora de normatividade como estereotipias, atos excessivamente agressivos de um indivíduo, lesões corporais feitas por ele mesmo e canibalismo, indicam que este se encontra em condições onde o bem-estar poderá estar presente em baixos níveis (Broom e Molento, 2004). É através da expressão por comportamentos que os animais indicam as condições adequadas ou inadequadas do cativeiro que lhe é sujeito, justificando que análises observacionais são de extrema importância para esta conclusão (Kiley-Worthington, 1994).

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado no criadouro conservacionista localizado na UNOESTE, Presidente Prudente, SP. Os animais permaneceram em recinto de 15m x 15m x 4,5m, construído de tela de ferro galvanizado sobre uma base de alvenaria, contendo um bebedouro e dois locais para dispor a alimentação que também foram utilizados como abrigo. O recinto conta com 5 macacos-prego (Sapajus nigritus) sendo 1 fêmea e 4 machos. Para a análise comportamental utilizou-se etograma para primatas adaptado de Furtado (2006). A análise comportamental foi realizada com auxílio de imagens de vídeo, por um período de 12 horas, à cada 10 minutos das 07:00h às 19:00h seguindo as seguintes condutas observadas: repouso, locomoção, observação, alimentação regular, manipulação de objetos, autocatação, catação, ameaçar ou atacar, brincadeira social, fugir, sacudir grade, morder a si proprio, girar a cabeça, manipular rabo, coçar, display sexual, face contra a grade, masturbação, perambular, arrancar pelos, cambiamento e outros, tais como descritos na Tabela 1. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e apresentados em frequência percentual (%).

Resultados e Discussão

A Tabela 2 mostra que houve maior frequência no comportamento de perambular, seguido por alimentação regular e por autocatação. O comportamento perambular foi o mais expressivo (38,17%) e segundo Boinski et al. (1999) este é considerado um comportamento estereotipado, que pode provir de uma série de exposições à altos níveis estresse em função do atual manejo à qual os indivíduos estão sujeitos. Para diminuir o grau de estereotipias observadas, Shepherdson (1998) afirma que a atividade dos indivíduos em contato com instrumentos dedicados à enriquecimento ambiental seja benéfica, de modo que aumente a gama e diversidade das oportunidades comportamentais no recinto. De acordo com o manejo alimentar, os animais distribuíram o período de maior concentração de alimentação regular durante os períodos de início da manhã e final da tarde, totalizando 15,59%, em função da oferta de alimentos sincronizada à ação de seu consumo.  Monteiro et. al. (2011), mostraram que a aplicação de enriquecimento ambiental resultou em  melhorias consideráveis, com significativa redução de comportamentos anormais de 6,94%, além de maior frequência na alimentação que aumentou de 16,25% para 22,42%. O comportamento de catação é a interação social mais comum entre os primatas e consiste de uma inspeção feita no pelo de outro indivíduo, removendo sujeiras e ectoparasitas com as mãos, línguas ou dentes. Porém verificou-se que nesta análise, catação apresenta apenas 3,76% do total de ações, enquanto autocatação, comportamento também definido por Boinski et al. (1999) como anormal ou estereotipado, se deu por 11,83%. Ou seja, apresenta uma frequência 3 vezes maior do que o comportamento natural da espécie. Entre outros comportamentos analisados estão: observação que ocupa 2,69% das atividades realizadas, repouso que apresenta 7,53%, justificando que primatas possuem hábitos diurnos e são muito ativos durante grande parte do dia, sendo que os animais do gênero Sapajus dedicam cerca de 80% do seu tempo ao forrageamento e locomoção (Robinson e Jason, 1987), que no presente trabalho acaba apresentando apenas 4,84% das atividades. Já os comportamentos de manipulação de objetos (8,06%), coçar (3,23%), face contra a grade (0,54%) e masturbação (1,61%), apresentaram-se com baixa frequência.

Conclusões

A análise comportamental mostra que os macacos-prego analisados apresentaram alta frequência de comportamentos de perambulação e auto-catação, sugerindo a necessidade de enriquecimento ambiental no cotidiano destes animais.

Gráficos e Tabelas




Referências

BOINSKI, S.; SWING, S. P.; GROSS, T. S & DAVIS, J. K. Environmental enrichment of brown capuchins (Cebus apella): Behavioral and plasma and fecal cortisol measures of effectiveness. American Journal of Primatology, v. 48, p. 49-68, 1999. BROOM, D. M. MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: Conceito e questões relacionadas – Revisão. Archives of Veterinary Science v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004. CARROL, J.B. The captive breeding of the genus Callithrix at the Jersey Wildlife Preservation Trust. In: Rylands, A.B., Bernardes, A.T. 17-23 pp, 1991. DUNCAN, A. E. Recognizing and balancing the benefits and risks of environmental enrichment. p. 380-382, 1998. FURTADO, O. M. Uso de Ferramentas Como Enriquecimento Amebiental Para Macacos-Prego (Cebus apella) Cativos, 2006. 92p. Dissertação de Mestrado – Universidade de São Paulo. GUIMARÃES, M. Ramificações Ancestrais. Revista Fapesp, São Paulo, n.196, p.18-23, jun. 2012. Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/ramificacoes-ancestrais/. Acesso em: 02. fev. 2013). KILEY-WORTHINGTON, M. 1994. Behavioural restriction, animal welfare, and choice experiments. Bahavioural and brain science, v. 17, n.4, p. 748-749. LUDWING, G; AGIAR, L. M; ROCHA, V.J. Uma Avaliação da Dieta, da área da vida livre e das estimativas populacionais de Cebus nigritus (Goldfuss, 1809) em um fragmento florestal no norte do estado do Paraná. Neotropical Primates, Belo Horizante, v. 13, n. 3, p. 12 – 18, 2005). LYNCH-ALFARO, J. W., SILVA-JR, J. S. & RYLANDS, A. B. (2012). How different are robust and gracile capuchin monkeys? An argument for the use of Sapajus and CebusAmerican Journal of Primatology, p. 1-14. MANSON, G.J. 1991. Estereotypies: a critical review. Animal Behavior, v.41, n.6, p.1015-1037. MONTEIRO, M. S.; ARAUJO, N. C.; NASCIMENTO, C. C.; CARMAGO, N. J. Enriquecimento Ambiental com Cebus kaapori Mantido em Cativeiro no Centro de Triagem de Animais Selvagens - Refúgio Mata Atlântica –LELLO UNIMONTE. Revista Ceciliana Dez 3(2): 31-34, 2011. ROBINSON, J. G.; JANSON, C. H. Capuchins, squirrel monkeys and atelines: Socioecological convergence with Old Word Monkeys primates. In: PRIMATES Societies, 1987. p. 69-82. RYLANDS, A. B.; SCHNEIDER, H.; LANGGUTH, A.; MITTERMEIER, A. R.; GROVES, C. P. & RODRÍGUEZ-LUNA, E. 2000. An Assesment of the Diversity of New World Primates. Neotropical Primates 8(2): 1-93). SHEPHERDSON, D. J. Tracing the Path of Environmental Enrichment in Zoos. In:. SHEPHERDSON, D. J., MELLEN, J. D. & HUTCHINS, M. (Eds.) Second Nature: environmental enrichment for captive animals, p. 01-12, 1998. SILVA JÚNIOR, J. S. 2001. Especiação nos macacos-prego e caiararas, gênero Cebus Erxleben, 1777 (Primates, Cebidae). Tese de Doutoramento, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. VILANOVA, R.; SILVA JUNIOR, J. S.; GRELLE, C. E. V.; CERQUEIRA, G. M. R. Limites climáticos e vegetacionais das distribuições de Cebus nigritus Cebus robustus (Cebinae, Platyrrhini). Neotropical Primates, v. 13, n. 1, 2005).