Efeito da inclusão do resíduo úmido de cervejaria sobre a biometria testicular de ovinos.

Adriana Castro1, Sônia de Sousa Silva Lima2, Carlos Eduardo Martins de Lima3, Danilo Rodrigues Barros Brito4
1 - IFMA
2 - UFMA
3 - UFMA
4 - IFMA

RESUMO -

O resíduo úmido de cervejaria tem sido cada vez mais utilizado na alimentação animal. Objetivou-se estudar a biometria testicular de ovinos alimentados com níveis de 10, 20 e 30% de inclusão de resíduo úmido de cervejaria. Foram utilizados 20 ovinos machos inteiros, submetidos a 0%; 10%; 20% e 30% de inclusão de resíduo úmido de cervejaria na dieta por 60 dias. Foram aferidos o peso, o perímetro escrotal, o comprimento e a largura testicular. O volume testicular foi calculado empregando-se a fórmula do cilindro. Os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. A inclusão de 10, 20 e 30% de resíduo úmido de cervejaria na dieta de ovinos não influenciou as características da biometria testicular e como não apresentaram efeito negativo sobre estas características podem ser usadas na alimentação de ovinos atendendo ao critério melhor custo benefício.

Palavras-chave: cordeiro, desenvolvimento sexual, reprodução, ruminantes.

Effect of the inclusion of different levels of barley on the testicular biometry of sheep.

ABSTRACT - Wet brewery has been increasingly used in animal feed. The objective of this study was to study the testicular biometry of sheep fed with levels of 10, 20 and 30% inclusion of wet brewery residue. Twenty male sheep were used, submitted to 0%; 10%; 20% and 30% inclusion of wet brewery residue in the diet for 60 days. The weight, scrotal circumference, length and testicular width were measured. The testicular volume was calculated using the cylinder formula. The results were submitted to analysis of variance and the means were compared by the Duncan test at 5% probability. The inclusion of 10, 20 and 30% of wet brewery residue in the sheep diet did not influence the characteristics of the testicular biometry and since they did not present negative effect on these characteristics can be used in the feeding of sheep according to the criterion of best cost benefit.
Keywords: Feeding, lamb, sexual development, reproduction, ruminants.


Introdução

O resíduo úmido de cervejaria tem sido cada vez mais utilizado na alimentação animal por produtores que já perceberam o grande potencial desse ingrediente promovendo bom desempenho dos animais e reduzindo consideravelmente os custos de produção, devido ao seu melhor preço em comparação aos ingredientes tradicionalmente utilizados na pecuária. Por outro lado, este uso tem acontecido de maneira empírica, quando cada produtor usa a quantidade que considera adequada ou disponível, sem uma base técnica ou cientifica para tal (VIEIRA & BRAZ, 2009). Objetivou-se estudar a biometria testicular de ovinos alimentados com níveis de 10, 20 e 30% do resíduo úmido de cervejaria e contribuir para o entendimento mais preciso dos aspectos reprodutivos e melhor aproveitamento dos ovinos que recebem subprodutos como parte da dieta.

Revisão Bibliográfica

Uma das opções para alimentação de pequenos ruminantes são os subprodutos da agroindústria, como o resíduo de cervejaria também conhecido como bagaço de cevada, que é um subproduto com alto teor proteico, rico em fibra em detergente neutro (FDN), carboidratos totais (CT) e extrato etéreo (EE) (GERON et al., 2008). No carneiro, o desenvolvimento sexual está mais intimamente relacionado com o peso corporal do que com a idade (SKINNER et al. 1968; DYRMUNDSSON & LEES, 1972). O peso ao nascimento indica o vigor e o desenvolvimento intrauterino do animal, sendo também a primeira informação importante para acompanhar o seu desenvolvimento. O peso dos testículos é a medida testicular mais correlacionada com todos os aspectos da produção de espermatozoides em animais jovens e adultos (CAMERON et al, 1984).  No entanto, é difícil avaliar com precisão o peso dos testículos no animal vivo. Cavaleiro (1977) observou que outros indicadores de tamanho testicular (perímetro escrotal, o volume escrotal e diâmetro médio dos testículos) foram significativamente correlacionados com o número de espermatozoides nos testículos e epidídimo e com peso dos testículos. Nos três primeiros meses de vida o desenvolvimento dos órgãos sexuais é lento, mas, com o início da espermatogênese, o peso dos testículos, epidídimos e glândulas vesiculares aumentam rapidamente (SKINNER et al. 1968). Para estes autores, o crescimento dos testículos, mostra duas fases distintas: a primeira é lenta, e vai do nascimento até o início da espermatogênese e a segunda, de crescimento rápido que vai do início do espermatogênese até a maturidade sexual. Maturidade sexual e fertilidade estão intimamente ligadas a outras funções do corpo relevantes, tais como crescimento e homeostase energética. Notavelmente, o eixo reprodutivo sofre alterações funcionais significativas durante o tempo de vida, que incluem o despertar do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal e a obtenção da capacidade reprodutiva na puberdade (ROA & TENA-SEMPERE, 2010).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Setor de Ovinocaprinocultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Campus Maracanã, no município de São Luís. Foram utilizados 20 ovinos machos inteiros, oriundo do cruzamento entre animais da raça Santa Inês e de animais sem padrão de raça definida (SPRD) com aproximadamente 8 (oito) meses de idade, previamente desverminados e alojados individualmente em baias, localizadas no galpão, onde permaneceram por 60 dias, após um período de adaptação de 14 dias. Os cordeiros foram submetidos a 0%; 10%; 20% e 30% de inclusão de resíduo úmido de cervejaria na dieta. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas e isoenergéticas, calculadas de acordo com as exigências prescritas pelo NRC (2007) para ovinos de maturidade tardia, com 20 kg de peso vivo e com um ganho de peso diário de 150 g/dia. As dietas foram divididas em duas refeições iguais e oferecidas aos ovinos, às 9 h e às 16 h, buscando-se deixar uma sobra média (em matéria seca) entre 10 e 20% por dia. Água e sal mineralizado ficaram disponíveis à vontade durante todo o período experimental. Em três momentos distintos do período experimental (inicial, intermediária e final) foram aferidos o perímetro escrotal (MARTINS FILHO, 1991; SOUZA, 2003), utilizando fita métrica de fibra de vidro de 1,5 m de comprimento e 16 mm de largura (Vonder®); o comprimento e a largura testicular, empregando-se um paquímetro plástico com capacidade de 150 mm e graduação de 0,05 mm (Vonder®). O volume testicular foi calculado empregando-se a fórmula do cilindro (FIELDS et al., 1979): VOL=2[(r2) × π × h], onde r = raio (DIÂM/2), h = comprimento ou altura (COMP) e π = 3,14. Os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

As medidas testiculares e o peso corporal não foram influenciadas pelos níveis de resíduo úmido de cervejaria na dieta nos diferentes tratamentos, mas houve evolução significativa do peso e das medidas dos animais de todos os tratamentos no final do período experimental (tabela 1). Essa evolução nas medidas dos animais se deve ao fato da inclusão do resíduo úmido de cervejaria na dieta de ovinos não alterar significativamente os parâmetros bioquímicos do sangue (BRITO et al., 2016) e de ocorrer um aumento do tamanho testicular e do peso corporal conforme a idade em ovinos (PACHECO et al., 2010). Os níveis de inclusão de 10%, 20% e 30% não foram prejudiciais a biometria testicular dos ovinos, quando comparados ao grupo controle (tabela 1), sendo sugerido por outro estudo o uso de 20% de inclusão por apresentar melhores indicadores econômicos, tendo como margem bruta da atividade kg/peso vivo maior (SILVA et al., 2016). Embora, recentemente pesquisadores (CANABARRO et al., 2016) tenham observado que a inclusão dos níveis de 20 e 40% de resíduo úmido de cervejaria na dietas de ovinos Santa Inês influenciam negativamente as variáveis de comprimento testicular, largura testicular, perímetro escrotal, volume testicular e consistência testicular, quando comparadas com animais alimentados com feno moído de capim-tifton 85 (Cynodon spp). No mesmo estudo foi observado um retardamento do desbridamento peniano no tratamento com 40% de inclusão do resíduo, e ainda, maior volume testicular e adiantamento da puberdade dos ovinos alimentados com 60% de inclusão. Outros estudos, com animais da mesma raça, demonstraram que as características biométricas testiculares foram maiores em animais alimentados com alto teor de proteína (LOUVANDINI et al,, 2008), e com rações com menos fibra de origem forrageira, isto é, com maiores quantidades de energia (MACEDO JUNIOR et al., 2014). A resíduo úmido de cervejaria é um subproduto com alto teor proteico, mas rico em fibra em detergente neutro (FDN) (GERON et al., 2008), o que pode ter contribuído para a não diferença das medidas testiculares entre os grupos dos diferentes níveis de inclusão e o grupo controle.

Conclusões

A inclusão de 10, 20 e 30% do resíduo úmido de cervejaria na dieta de ovinos oriundo do cruzamento entre animais da raça Santa Inês e de animais sem padrão de raça definida não influenciou as características da biometria testicular e como não apresentaram efeito negativo sobre estas características podem ser usadas na alimentação de ovinos atendendo ao critério melhor custo benefício.

Gráficos e Tabelas




Referências

BRITO, D. R. B.; ROCHA, V. D. N. C.; ALVES, J. A.; JÚNIOR, C.; CHAVES, D. P.; SILVA, E. C. V.; SARAIVA, I. C. Revista Brasileira de Higiene E Sanidade Animal, 572–586, 2016. CAMERON, A.W.N.,  FAIRNIEL I.J.,  CURNOW,  D.H.,  KEOGH,  E.I.  AND LINDSAY,  D.R.,  The effect of frequency of semen collection and testicular size on the output of spermatozoa by ram. Proceedings, Tenth International Congress on Animal Reproduction and Artificial In-semination, University of Illinois U-C, Vol. II, p. 267. 1984. CANABARRO, L. O; VILELA, C. G.; COSTA, P. B.; GRUNEVALD, D.; CASSAROTO, L.; SILVA, Y. L. da C. C. e A. M. P. Características biométricas testiculares e idade à puberdade de carneiros Santa Inês submetidos a diferentes concentrações de resíduo de cervejaria na dieta. XXVI CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2016. Santa Maria - RS, 2016. DYRMUNDSSON, A.R. AND LEES, J .L. Puberal development of Clun Forest ram lambs in relation to time of birth. J. Agric. Sci., 79: 83-89. 1972. GERON, L.J.V.; ZEOULA, L.M.; ERKEL, J.A. Coeficiente de digestibilidade e características ruminais de bovinos alimentados com rações contendo resíduo de cervejaria fermentado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.9, p.1685-1695, 2008. SKINNER, J.D. AND ROWSON, L.E.A. Puberty in Suffolk and cross-bred rams. J. Reprod. Fert., 16: 479-488. 1968. LOUVANDINI, H.; MCMANUS, C.; MARTINS, R. D.; LUCCI, C. M.; CORRÊA, P. S. Características biométricas testiculares em carneiros santa inês submetidos a diferentes regimes de suplementação protéica e tratamentos anti-helmínticos. Ciência Animal Brasileira, 9, 638–647, 2008. MACEDO JUNIOR, G. DE L.; ASSIS, R. M.; PEREZ, J. R. O.; PAULA, O. JOSÉ; FRANÇA, P. M.; ALMEIDA, T. R. V. Biometria testicular de cordeiros em diferentes idades e alimentados com níveis crescentes de fibra em detergente neutro oriunda da forragem. Ciencia Animal Brasileira, 15(4), 384–399, 2014. PACHECO, A.; MADELLA-OLIVEIRA, A. F.; QUIRINO, C. R. Biometria e formas dos testículos em cordeiros da raça Santa Inês explorados em regime de manejo intensivo. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, 5(1), 123–128, 2010. ROA, J.; TENA-SEMPERE, M. Energy balance and puberty onset: emerging role of central mTOR signaling. Trends in endocrinology and metabolism: TEM, v. 21, n. 9, p. 519-28,  2010. SILVA, E. M.; ALVES, A.; JUNIOR, C.; ERICEIRA, J.; FILHO, M.; VIEW, B.; TOCOFEROL, A. Avaliação Econômica de Confinamentos de Ovinos Alimentados com Níveis Crescentes de Inclusão de Bagaço de Cevada na Dieta, XXV Congresso Brasileiro de Zootecnia Zootec. Fortaleza – CE, 2015. SOUSA, W. H.; LOBO, R. N. B.; MORAIS, O. R. Ovinos Santa Inês: Estado de Arte e Perspectivas. In: SINCORTE, 2, João Pessoa. Anais...João Pessoa: Governo do estado da Paraíba., p. p.501-522,  2003. VIEIRA, A. A.; BRAZ, J. M. Bagaço de cevada na alimentação animal. Revista Eletrônica Nutritime. V.6, nº6, p.973-979 Maio/Junho, 2009.