Custos operacionais e totais de implantação de três gramíneas forrageiras Brachiaria brizantha cv. Piatã; Panicum maximum cv. Mombaça; Cynodon spp. Tifton 85 sob diferentes níveis de adubação no município de Porto Velho, Rondônia.

Elisa Köhler Osmari1, Denis Cesar Cararo2, Alaerto Luiz Marcolan3, Jucielton Hítalo da Silva4, Vanessa Lemos de Souza5
1 - Embrapa Pecuária Sul
2 - Embrapa Rondônia
3 - Embrapa Rondônia
4 - Faculdades Integradas Aparício Carvalho
5 - Faculdades Integradas Aparício Carvalho

RESUMO -

O estudo foi conduzido para avaliar os custos de implantação de três gramíneas (ESP): Brachiaria brizantha cv. Piatã; Panicum maximum cv. Mombaça; Cynodon spp. Tifton 85; dois níveis de parcelamento anual: 4 e 6 vezes ao ano; sob três níveis de adubação: 200-160, 400-320, 600-480 kg N-K2O ha-1. O custo unitário da matéria seca (MS) anual foi obtido com custeio por absorção integral. Os custos operacionais (COE e COT), o custo total (CT) por ha e por kg MS ha-1 produzida foram proporcionais à produção e ao nível de adubação, independente do parcelamento. O CT por kg-1 MS foi menor para 200-160 N-K2O ha-1 em todas ESP. Menores COE, COT e CT por ha foram observados para o Mombaça devido ao menor preço da semente. Menores custos unitários por kg-1 MS foram observados para o Piatã, maiores CT por ha e por kg foram obtidos para o Tifton. Ocorrem maiores produções anuais para os níveis médio e alto de N-K2O ha-1, enquanto o custo unitário aumenta com o nível de adubação em Porto Velho.

Palavras-chave: adubação, custo operacional, forrageiras tropicais, forragem, nitrogênio

Operational and total costs of implantation of Brachiaria brizantha cv. Piatã; Panicum maximum Jacq. cv. Mombaça; Cynodon spp. Tifton 85 forage grasses under different levels of fertilizer in Porto Velho, Rondônia.

ABSTRACT - The study was conducted to evaluate the tropical grasses establishment costs, in three species (ESP): Brachiaria brizantha cv. Piatã; Panicum maximum cv. Mombaça; Cynodon spp. Tifton 85; two fertilization fractioning: 4 and 6 times a year and three fertilization annual levels: 200-160, 400-320, 600-480 kg N-K2O ha-1. The annual unit cost of dry matter (DM) was obtained by total absorption costing. The effective and total operational costs (EOC and TOC), the total cost (TC) per ha and per kg DM ha-1 increased with yield and fertilization level, independent of parceling. The TC per kg-1 DM was lower using 200-160 N-K2O ha-1 in all ESP. The lowest EOC, TOC and TC per ha were observed for the Mombaça due to the lower price of the seed. Lower unit costs per kg-1 DM were observed for Piatã, higher CT per ha and kg were obtained for Tifton. The highest annual yields occur for medium and high levels N-K2O ha-1, but the unit cost increases with the level of fertilization in Porto Velho.
Keywords: fertilization, operating cost, tropical grasses, forage, nitrogen


Introdução

O estado de Rondônia ocupa a quarta posição no ranking da exportação de carne bovina do país e é o principal produtor de leite da região norte (Anualpec, 2014; IBGE, 2015). Porém devido à baixa produtividade das pastagens degradadas, são necessárias tecnologias para aumento da produtividade para proporcionar aumentos na capacidade de suporte da pastagem e desempenho animal. Pesquisas com estratégias de adubação de pastagens permitem aumentar a produtividade ao intensificar a pecuária na Amazônia sem abrir novas áreas de floresta, desde que vinculadas às diferentes perspectivas de custos. A escolha das gramíneas a serem implantadas deve considerar a sua produtividade e qualidade nutritiva, além dos custos para cada região e nível tecnológico. Desse modo, este estudo objetivou descrever o levantamento dos custos operacionais e o custo unitário de matéria seca produzida na implantação de três espécies forrageiras Brachiaria brizantha cv. Piatã, Panicum maximum cv. Mombaça e Cynodon spp. Tifton 85 submetidas a diferentes níveis de adubação e parcelamentos ao longo do ano.

Revisão Bibliográfica

Para melhorar a produção de bovinos na região da fronteira agrícola do norte do país devido à baixa produtividade das pastagens degradadas, novas alternativas de forrageiras na alimentação dos animais necessitam ser pesquisadas para evitar a monocultura e consequente suscetibilidade às pragas e doenças. Para melhoria da produtividade também deve ser considerado o manejo das pastagens conforme cada variedade, com alturas de entrada e saída ou de corte baseados na tecnologia da régua da Embrapa (Costa & Queiroz, 2013; Souza et al, 2014) acima de 20 cm para Piatã, cerca de 40 cm para Mombaça, e de 15 cm para Tifton 85 (Vilela et al, 2005). Aliado ao manejo, a correção do solo e adubação pode proporcionar aumentos aumento da produtividade das pastagens, o que acarreta aumento na capacidade de suporte do pasto e no desempenho animal. Pesquisas com estratégias de adubação de pastagens permitem aumentar a produtividade e intensificar a pecuária na Amazônia sem abrir novas áreas de floresta, mas necessitam de estratégias vinculadas à perspectiva econômica, pois para a tecnologia ser devidamente propagada, faz-se necessário o levantamento de custos regionais. O nitrogênio (N) é um dos principais nutrientes para manutenção da produtividade das gramíneas forrageiras e as suas fontes são as que apresentam maior custo (Bacelar et al, 2014), necessitando de apurações de custo. Para Bornia (2002), os princípios de custeio (ou critérios de custeio) tem como preocupação básica analisar quais seriam as informações importantes e relevantes que deveriam ser fornecidas às necessidades gerenciais de cada empresa. Lopes e Carvalho (2006) afirmam que o custeio por absorção é a expressão utilizada para designar o processo de apuração de custos que se baseia em dividir ou ratear todos os elementos do custo, de modo que, cada centro ou núcleo absorva ou receba aquilo que lhe cabe por cálculo ou atribuição, quando a totalidade dos custos fixos e variáveis é alocada ao produto (Bornia, 2002), mas ampla, visto que Santos e Lopes (2014) compilaram metodologias do custo operacional (Matsunaga et al, 1976) e custo total (Lopes e Carvalho, 2006). O presente trabalho foi efetuado para levantamento dos custos operacionais e o custo unitário de matéria seca produzida na implantação de três espécies forrageiras Brachiaria brizantha cv. Piatã, Panicum maximum cv. Mombaça e Cynodon spp. Tifton 85 submetidas a diferentes níveis de adubação e parcelamentos ao longo do ano na Amazônia.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Rondônia, em Porto Velho, em 0,3 ha de Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico e clima tropical úmido do tipo Aw com estação seca. A área foi dessecada com glifosato, seguida de calcário (PRNT 78%), aração e duas gradagens. Procurou-se elevar saturação por base (V) a 60%, conforme análise de solo (0-20 cm) de pH (água)=5,4 e V=17%. No plantio a lanço para Piatã e Mombaça e no plantio manual do Tifton após uso de sulcador, usaram-se 30 kg N ha-1, 101 kg P2O5  ha-1, 33 kg FTE ha-1 e 30 kg K2O ha-1. Usou-se o 2,4-D na pós-emergência, com reaplicação para o Tifton 85, devido a maior competição de ervas-daninhas.  Nos tratamentos aplicou-se N (ureia) e 80% da dose em  K2O (KCl) (Vilela et al, 2005). Calculou-se custo unitário por kg de matéria seca (MS ha-1) da Brachiaria brizantha cv. Piatã; Panicum maximum cv. Mombaça; Cynodon spp. Tifton 85; dois parcelamentos anuais (FRA): 4 em março, abril, outubro e dezembro; 6 em março, abril, junho, agosto, outubro e dezembro; e 3 níveis de adubação N-K2O (DOSE): baixo (200-160 kg de N-K2O ha-1), médio (400-320 kg de N-K2O ha-1) e alto (600-480 kg de N-K2O ha-1). As produções e alturas de cortes estão descritas em Souza et al (2014). A cerca elétrica foi de Itaúba (Mezilaurus itauba) com 2 fios de arame, eletrizador modelo PMX 120, 12V. Para os custos de insumos e serviços de implantação foram usados o Anualpec (2014) e preços regionais, com análise exploratória e por absorção integral, compilando custo operacional efetivo (COE) e total (COT) (Matsunaga et al, 1976) e custo total (Lopes e Carvalho, 2006). Assumiu-se imposto territorial rural (ITR) em 2,3% do preço regional de R$ 2800,00 ha-1 (Anualpec, 2014), despesas administrativas e demais impostos em 5% do COE. Somou-se depreciação (9 anos), manutenção (7%) da cerca e seguro sobre capital sem impostos (0,65% aa) no COT. Usou-se remuneração da terra, do capital investido e do capital de giro (6% aa) para custo total.

Resultados e Discussão

Os custos operacionais efetivo (COE) e total (COT) ha-1, o custo total ha-1 relativos à implantação anual de cada espécie subiram com o aumento da produção de forragem, além de aumentarem de acordo com o nível de adubação para todos os capins, independente do parcelamento, como esperado. O custo total kg-1 MS e o custo total por ha foram menores para o menor nível de adubação em todas as espécies. Em avaliação preliminar (Osmari et al, 2014; Souza et al, 2014), a produção anual foi superior para níveis de 400-320 e 600-480 kg de N-K2O ha-1, enquanto os custos por ha e por kg MS ha-1 aumentam com o nível de adubação na região de Porto Velho. O COE e COT kg MS ha-1 também foram menores à medida que diminui a adubação, ou seja, a escala estudada não diluiu muito os custos, mas para a tomada de decisão o produtor deve considerar que o aumento da produção forrageira diminui gastos com manutenção de áreas maiores, melhora a segurança alimentar com menor dependência de suplementos. Santos e Lopes (2014) relataram 50% da receita do leite gasto com concentrado. As maiores contribuições no COE foram da adubação nitrogenada, potássica, calcário, adubo fosfatado, aplicação de herbicidas e preparo do solo. Menores custos operacionais e totais por hectare foram observados para o Mombaça devido ao menor preço da semente, os menores custos unitários por kg-1 MS foram observados para o Piatã devido a diferença numérica na produção de massa, mesmo sem diferir na produção de matéria seca anual do Mombaça (Souza et al, 2014), já maiores custos totais por ha e por kg foram obtidos para o Tifton. O rápido desenvolvimento afeta o estádio fenológico do Mombaça no intervalo de 28 dias pós corte, pois seu ápice de fotossíntese através do índice de clorofila foliar (IFC) após a aplicação de N-K2O (Bacelar et al, 2014) de 18 dias pós corte, é atingido antes do Piatã, ou seja, o intervalo favoreceu  mais o crescimento do Piatã do que do Mombaça neste estudo. São necessárias mais pesquisas com Mombaça na região amazônica para comparar cortes entre 18 e 28 dias, pois a produção poderia ser potencializada com mais cortes, o que diluiria o custo unitário sem alocar mais insumos. O COE unitário no estabelecimento do Piatã variou de R$ 0,24-R$ 0,36 kg MS ha-1, para 200-160 N-K2O ha-1 em quatro aplicações e 600-480 kg N-K2O ha-1 em seis aplicações, respectivamente. O COE unitário para o Mombaça variou de R$ 0,27-R$ 0,36 por kg MS ha-1 nos respectivos tratamentos, equiparando-se ao Piatã nos maiores N-K2O e parcelamento, logo, as duas gramíneas são promissoras para custos unitários de massa produzida no primeiro ano de avaliação. Os COE unitários da implantação do Tifton foram maiores, de R$ 0,31-0,52 kg MS ha-1, devido a propagação via mudas e menor produtividade pelas dificuldades no estabelecimento e competição com ervas-daninhas, acarretando maior custo com aplicação e herbicidas que demais gramíneas, sinalizando menor potencial produtivo na região de Porto Velho.

Conclusões

O capim Mombaça (Panicum maximum) acarreta menor desembolso para implantação enquanto menores custos unitários por quilo de matéria seca disponível ocorrem para o capim Piatã (Brachiaria brizantha), com maiores valores de custos totais e unitários para implantação de Cynodon spp. Tifton 85, em Porto Velho, Rondônia. Apesar das produções anuais superiores para os níveis de 400-320 e 600-480 kg de N-K2O ha-1, o custo por área e unitário de implantação aumentam proporcionalmente ao nível de adubação na região de Porto Velho, independente do parcelamento.

Gráficos e Tabelas




Referências

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