A repercussão da equoterapia na qualidade de vida da pessoa com deficiência
AMÁLIA REGINA CAMPOS TAQUES FONSECA1, JULIANA ALINE MASCARENHAS DE GEUS2, JANAINA SOCOLOVSKI BIAVA3
1 - Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
2 - Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais - CESCAGE
3 - Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais - CESCAGE
RESUMO -
Este trabalho trata-se de um estudo de caso com validação clínica com o objetivo de avaliar a influência da equoterapia na qualidade de vida de um homem, com 28 anos de idade, paralisia cerebral com seu cognitivo preservado. Realizou-se um total de 96 sessões, uma vez na semana com duração de 30 minutos. O praticante apresentou melhores resultados no domínio de aspecto social, com maiores índices nos aspectos físicos e na capacidade funcional, mostrando que a equoterapia auxilia o desenvolvimento biopsicossocial e reabilitação de pessoas com deficiência, podendo ser utilizada como um recurso terapêutico na área da saúde.
Palavras-chave: Equinos, Tratamento, Praticante.
The repercussion of therapeutic riding in quality of life of people with disabilities
ABSTRACT - This paper is a case study with clinical validation in order to evaluate the influence of therapeutic riding on the quality of life of a man, with 28 year old, cerebral palsy with its preserved cognitive. A total of 96 sessions, once a week for 30 minutes. The practitioner had better results in the field of social aspect, with highest rates in the physical aspects and functional capacity, showing that the therapy supports the psychosocial development and rehabilitation of people with disabilities, and can be used as a therapeutic resource in the health area.
Keywords: Equine, Treatment, Practitioner
Introdução
A pessoa portadora de paralisia cerebral (PC) adota posturas e padrões que interferem na evolução motora limitando suas atividades e funções de vida. A PC é um distúrbio no desenvolvimento do controle motor e da postura, não é uma lesão progressiva, mas causa limites na atividade. Como consequência da lesão há falta do controle muscular seletivo e nas atividades musculares e desequilíbrio corporal (NASCIMENTO, CLEMENTINO e DANTAS, 2007).
Segundo a ANDE-BRASIL, as sessões de equoterapia devem preceder a definições dos programas a ser conduzida por equipe técnica multidisciplinar e de atuação interdisciplinar constituída por profissionais das áreas de saúde, educação e equitação, sendo indispensável que sejam habilitados em cursos reconhecidos pela ANDE-BRASIL. A equipe deve ser constituída, no mínimo, por um equitador, um fisioterapeuta e um psicólogo. Pode, ainda, contar com a participação de médico, educador físico, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagoga, médico veterinário e profissionais de outras áreas da saúde e educação.
Este trabalho tem como objetivo avaliar a possível influência da equoterapia na qualidade de vida do portador de paralisia cerebral com o cognitivo preservado. Trata-se de um estudo de caso de validação clínica que utiliza medidas de avaliação pré e pós-intervenção que valida o uso do cavalo em programas de equoterapia, segundo princípios de Equoterapia pela Associação Nacional de Equoterapia, ANDE-BRASIL.
Revisão Bibliográfica
A palavra equoterapia foi criada pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), órgão responsável pela equoterapia no Brasil, que caracteriza todas as atividades que utiliza o cavalo com a finalidade de reabilitação, educação ou reeducação. A equoterapia “
é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar aplicada nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou necessidades especiais.”
Esta terapia é indica para pessoas com lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular, doenças ortopédicas congênitas ou adquiridas, disfunções sensório-motoras, além de distúrbios: evolutivos, comportamentais, de aprendizagem e emocionais. É necessário um laudo médico e dependendo da enfermidade exames complementares para realização de equoterapia (MENDEIROS e DIAS, 2002).
Dada a necessidade da formulação de programas individualizados de atendimento em considerações às demandas de cada indivíduo, Deutsches Kuratorium (1986) criou programas básicos da equoterapia: Hipoterapia, Educação e Reeducação, Pré-Esportivo e Esportiva Paraequestre:
- Programa Hipoterapia: voltado para pessoas com deficiência física e mental, sem condições de conduzir um cavalo, sendo necessário o auxiliar guia, mediador (terapeuta responsável pela sessão) e auxiliar lateral. O cavalo tem sua ação cinesioterapêutica, terapia através do movimento.
- Programa Educação e Reeducação: há uma maior interação entre cavalo, praticante e meio, o praticante deve exercer alguma atuação sobre o cavalo. E tem como aplicabilidade na habilitação, reabilitação e educação. Sendo menor a importância do auxiliar lateral. O cavalo atua como agente pedagógico.
- Programa Pré-Esportivo: Incentivo ao esporte, o praticante deve ter boas condições de conduzir o cavalo, iniciando modalidades esportiva, com participação mais intensa do equitador e o cavalo é utilizado como agente de inserção social.
- Programa Prática Esportiva Paraequestre: O praticante exerce total controle sobre o cavalo e deve ter o prazer em realizar os treinamentos, o mediador no caso o equitador deve oferecer condições física e emocional de fazer da equitação o esporte de sua escolha. Utiliza o cavalo e os esportes equestres como facilitadores na habilitação e reabilitação física e mental, auxiliando na inserção social.
Materiais e Métodos
Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso de validação clínica do atendimento em equoterapia para portador de paralisia cerebral que utiliza medidas de avaliação pré e pós-intervenção. Participou desta pesquisa um homem, com 28 anos de idade, portador de paralisia cerebral, o qual realizava desde criança fisioterapia como terapêutica com queixa principal da época da avaliação a falta de equilíbrio. A aplicação dos instrumentos avaliativos e os atendimentos foram realizados segundo regulamentação da ANDE-BRASIL, por um fisioterapeuta e uma psicóloga. O fisioterapeuta foi o mediador nas sessões iniciais de equoterapia. Os atendimentos foram feitos no Centro de Equoterapia dos Campos Gerais – Horse Life em Ponta Grossa/PR. As sessões foram realizadas em um picadeiro coberto de piso com areia e ao ar livre. Foi utilizado um equino sem raça definida devidamente adestrado para a equoterapia com características aprovadas pela ANDE-BRASIL. Para a montaria utilizou-se manta própria para equoterapia, cabeçada, rampa para acesso ao cavalo.
Realizou-se a avaliação inicial com a aplicação da anamnese e do questionário de medidas de avaliação pré-intervenção e logo após agendou-se o início dos atendimentos. Foram realizadas sessões semanais de equoterapia, com trinta minutos em média, durante dois anos e um mês resultando em um total de 96 sessões e, após a última sessão, realizou-se uma avaliação pelo questionário de medidas de avaliação pós-intervenção, porém nesta, solicitou-se ao praticante o depoimento sobre as possíveis alterações percebidas tanto físicas quando psicológicas, observadas durante e após a intervenções equoterápicas.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos da avaliação pré e pós intervenção foram promissores, obteve-se melhora no domínio de aspecto social, com maiores índices nos aspectos físicos e na capacidade funcional. O estado geral de saúde, após os atendimentos, apresentou melhora para o praticante. E após as 96 sessões equoterápicas observa-se sua evolução clínica, com seu comprometimento e alegria em poder montar os cavalos o praticante entra no programa de prática paraesportiva equestre, assim tornou-se um atleta da modalidade paraenduro. Como resultado o atleta descreve:
“... Falar da equoterapia para mim é uma alegria pois eu amo andar a cavalo, comecei a fazer equoterapia em 2009, como iniciante na terapia em cavalo, tive uma grande melhora nos meus movimentos de pernas e braços, minha passada ou seja caminhada teve melhoras na minha postura de coluna com várias correções, hoje mais ereta onde já estava se encurvando. Até a minha escrita está mais legível. No meu desenvolver fui passando para um estágio mais evoluído onde em 2011, iniciei na modalidade esportiva na categoria do paraenduro onde a prova é feita de uma trilha, onde cavaleiro e cavalo precisam chegar bem, o cavalo que chegar com batimentos mais baixos em um tempo certo nunca antes nem muito além do tempo determinado acaba se classificando melhor. Minhas primeiras provas foram de 5 km e hoje faço 10km. Tenho uma coleção de troféus e medalha...”
Quando ao domínio de aspecto social, aspectos físicos e na da capacidade funcional, o praticante supera-se ao torna-se um atleta paraequestre demonstrando melhora e evolução. Segundo Nascimento, Clementino e Dantas (2007) a equoterapia proporciona maior consciência corporal, melhora da função motora, proporciona simetria e diminuição da hipertrofia, possibilitando uma marcha mais adequada o que ressalta a participação motivadora do praticante na reabilitação. O praticante deve ser orientado e estimulado, mesmo durante seu programa de reabilitação, a alcançar os benefícios tanto físicos quanto psíquicos que o esporte, competivivo ou não, pode oferecer visando a uma melhor qualidade de vida (CICONELLI, 2003). A equoterapia trás vários benefícios como simetria muscular dos membros inferiores, habilidades motoras, equilíbrio, força muscular, andadura, coordenação, além dos aspectos sociais e motivacionais (BARBOSA e VAN MUNSTER, 2011).
Conclusões
A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o movimento tridimensional do cavalo em terapias de algumas enfermidades clínicas, físicas e comportamentais. Trabalha de forma multidisciplinar com uma equipe interdisciplinar que deve ser composta por profissionais das áreas da saúde, educação e equitação, habilitados pela ANDE-BRASIL. Essa terapia tem mostrados grandes resultados de melhoras na qualidade de vida tanto psicológico quanto motora para seus praticantes. A equoterapia é reconhecida pelo conselho federal de medicina, o que impulsiona esta prática para pessoas com lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular, doenças ortopédicas congênitas ou adquiridas por acidentes diversos, disfunções sensório-motoras, além de distúrbios evolutivos, comportamentais, de aprendizagem e emocionais.
Referências
ANDE BRASIL. Disponível em: http//www.equoterapia.org.br/acesso em: 10 out. 2016.
BARBOSA, G. O.; VAN MUNSTER, M. A. A equoterapia como estratégia de reabilitação em distúrbios neurológicos. Revista Brasileira de Equoterapia. Brasília, v. 23, p. 21-26, 2011.
CICONELLI, R. M. Medidas de avaliação de qualidade de vida. Revista Brasileira de reumatologia, v. 43, n.2, p. 9-13, 2003.
DEUTSCHES KURATORIUM für Therapeutisches Reiten e. v. Therapeutic riding in
Germany. Insued by DK ThR, September, 1998.
MENDEIROS, M.; DIAS, E. Equoterapia Baeses & Fundamentos. 1.ed. Niterói: Editora Revinter, 2002.
NASCIMENTO, R. M. B.; CLEMENTINO, A. C. C. R.; DANTAS, M. P. D. P. Análise comparativa das habilidades motoras em uma criança com dislexia espástica antes e pós equoterapia. Equoterapia, Brasília, v. 15, p.19-24, 2007.