Características morfogênicas da aveia preta sob diferentes níveis de irrigação no norte de minas gerais

Raquel Gonçalves Oliva1, Lorena Emanuelle da Mata Terra2, Ana Claudia Corrêa Vieira e Silva3, Matheus Almeida Alves4, Moisés de Aguiar Maia5, Kamila Daniele de Resende Ferreira6, Thiago Gomes dos Santos Braz7, Mário Henrique França Mourthé8
1 - Universidade Federal de Minas Gerais
2 - Universidade Federal de Minas Gerais
3 - Universidade Federal de Minas Gerais
4 - Universidade Federal de Minas Gerais
5 - Universidade Federal de Minas Gerais
6 - Universidade Federal de Minas Gerais
7 - Universidade Federal de Minas Gerais
8 - Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO -

Objetivou-se avaliar as características morfogênicas da aveia preta para o norte de Minas Gerais, de acordo com os níveis de reposição da evapotranspiração do solo de 30%, 60%, 90%, 120% e 150%. O delineamento foi em blocos casualizados. As variáveis morfogênicas avaliadas foram a taxa de alongamento de colmo (TALC), taxa de taxa de alongamento de folha (TALF), taxa de aparecimento de folhas (TAPF), duração de vida das folhas (DVF) e taxa de senescência foliar (TSEF). Somente a TAPF não foi afetada, indicando que essa é uma característica priorizada no déficit hídrico. As variáveis TALC, TALF e DVF, apesentaram valores crescentes e a TSEF, apresentou valores decrescentes, para os maiores níveis de reposição da evapotranspiração. As características morfogênicas da Aveia preta são influenciadas pelo nível de reposição da evapotranspiração, à exceção da TAPF e FIL. A adaptação da Aveia ao cultivo na região Norte de Minas é dependente de adequado nível de reposição da água perdida.

Palavras-chave: alongamento, forrageira de inverno, lisímetro, senescência.

Morphogenic characteristics of Black Oats under different levels of irrigation in northern Minas Gerais

ABSTRACT - The objective of this work was to evaluate the morphogenic characteristics of black oats in northern Minas Gerais, according to the levels of replacement of soil evapotranspiration of 30%, 60%, 90%, 120% and 150%. The design was in randomized blocks. The morphogenic variables evaluated were stem elongation rate (SER), leaf elongation rate (LER), leaf appearance rate (LAR), leaf life span (LLS) and leaf senescence rate (LSR). Only LAR was not affected, indicating that this is a prioritized characteristic in the water deficit. The variables SER, LER and LLS, showed increasing values according to the increase of the replacement levels and the LSR, presented decreasing values, for the highest levels of evapotranspiration replacement. The morphogenic characteristics of Black Oat are influenced by the level of reposition, in exception of LAR and PHI. The adaptation of Black Oat to North of Minas Gerais is extremelly dependent of adequate reposition of evapotranspiration.
Keywords: lysimeter, senescence, stretching, winter forage.


Introdução

A produção de ruminantes em pasto é uma das principais atividades pecuárias do Brasil e é favorecida pela extensão territorial e pelo baixo custo de produção. Porém, as forrageiras têm sua produção e qualidade afetadas nos períodos de entressafra, que são caracterizados por redução nos fatores de crescimento. Diversas alternativas têm sido testadas para suprir a deficiência de alimentos durante este período e, entre elas, o uso de forrageiras de inverno. A Aveia preta (Avena strigosa Schreb.) é uma das espécies mais utilizadas em pastagens de inverno, devido a sua adaptação à maior amplitude térmica, bom valor nutritivo e produtividade. A Aveia preta adapta-se bem a condições de clima subtropical e temperado, sendo necessários estudos para avaliar o seu potencial de resposta aos locais com climas megatérmicos e sujeitos períodos com distribuição irregular de chuvas, como o Norte de Minas. Nessas condições, estudos com as características morfogênicas de gramíneas forrageiras são opções para avaliar a adaptação das plantas às condições de deficiência hídrica e também ao uso de irrigação. Desta forma, o objetivo com o presente trabalho foi avaliar as características morfogênicas da aveia preta sob diferentes lâminas de irrigação de acordo com a evapotranspiração diária para o Norte de Minas Gerais.

Revisão Bibliográfica

A falta de planejamento da pastagem quando associada a estacionalidade da produção, dificulta o suprimento da exigência alimentar dos animais criados a pasto, devido à baixa disponibilidade de forragem (POLI; CARVALHO, 2001). A Aveia preta (Avena strigosa Schreb) é uma planta forrageira, muito utilizada na produção grãos mas que também tem potencial no fornecimento de forragem, cobertura morta e adubação verde (LUZ et al,2008). Como forrageira, pode ser cultivada sob sistema de monocultivo ou consorciada, colhida para fornecimento no cocho ou conservada na forma de fenos e silagens (FONTANELI; DOS SANTOS; FONTANELI, 2012). Sua rusticidade e maior tolerância à seca quando comparada as demais forrageiras de inverno, indica a possibilidade de cultivo em regiões de clima tropical (ALBERNAZ, 2015). Durante a entressafra, o déficit hídrico e a temperatura são os fatores que mais oneram a produção e o uso de plantas forrageiras, porém o uso da irrigação é capaz de suprir essa deficiência, sobretudo em locais com maiores temperaturas no inverno. Desta forma, em regiões de clima tropical e temperado recomenda-se associar a cultura de aveia ao uso da irrigação por permitir o aumento na produção de matéria seca (LUZ et al,2008). A avaliação do processo morfogênese, representado pela dinâmica de formação de novos tecidos e órgão da planta no tempo e espaço (CHAPMAN; LEMAIRE, 1993) é uma das estratégias mais utilizadas em pesquisas que avaliam a resposta das plantas ao manejo, ambiente e condições de estresse (SILVA; NASCIMENTO JÚNIOR, 2007). Tornando esta uma forma importante para se estudar a resposta da Aveia preta à irrigação em ambientes tropicais.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido durante período de junho a setembro de 2016, em lisímetro presente na Estação Agrometeorológica do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais, localizada na cidade de Montes Claros. O clima da região é do tipo Aw, denominado tropical de savana, apresentando inverno seco e verão chuvoso, segundo classificação de Köppen. O lisímetro utilizado, era constituído por 20 caixas de polietileno com volume de 1000 L, 1,56 m2 de base e 0,7 m de altura, enterradas no solo. Os tratamentos consistiram dos níveis de irrigação de 30%, 60%, 90% 120% e 150% da reposição da evapotranspiração e 4 repetições em blocos casualizados. O plantio foi realizado manualmente, utilizando-se taxa de semeadura equivalente a 70 kg/ha de sementes puras e viáveis. Antes do estabelecimento, o solo das caixas foi saturado para atingir a capacidade de campo e, durante o estabelecimento da cultura, foi mantido o nível de 100% de reposição da evapotranspiração do solo para todos os tratamentos. Cerca de 30 dias após o plantio, quando as plantas apresentavam em média 15 cm de altura, o manejo da irrigação passou a ser realizada de acordo com os níveis de reposição preconizados pelos tratamentos, sendo realizado três turnos de irrigação por semana. As análises das características morfogênicas foram realizadas identificando-se 2 perfilhos por tratamento. Foram avaliadas duas leituras por semana da taxa de alongamento de colmo (TALC), alongamento de folha (TALF), aparecimento de folha (TAPF) e senescência de folha (TSEF) e a duração da vida das folhas (DVF). O manejo foi realizado utilizando-se as metas de 40 cm pré-desfolhação e 15 cm pós-desfolhação. Após cada corte, os perfilhos foram substituídos para dar continuidade às avaliações. Os dados coletados foram submetidos a análise de variância e regressão adotando-se 5% como nível crítico de probabilidade. As análises foram realizadas no software estatístico SAS (Statistical Analysis System, 2002).

Resultados e Discussão

Foi observado efeito significativo de nível de reposição da evapotranspiração sobre as taxas de alongamento de colmo (TALC), alongamento de folha (TALF), senescência de folha (TSEF) e duração da vida da folha (DVF) (P<0,05). Já a taxa de aparecimento de folha (TAPF), não foi afetada pelos tratamentos (P>0,05) (Tabela 1). A ausência de resposta da TAPF foi relatada por Morales et al. (1997), que afirmam que esta característica é a última a ser afetada pelo déficit hídrico, ao passo que o perfilhamento e a TALF, são uma das primeiras. O FIL corresponde ao inverso da TAPF e também exibiu o mesmo resultado. A TALC respondeu de forma linear e positiva aos níveis de reposição, sendo registrados alongamentos de 0,088 cm/dia e 0,376 cm/dia para as plantas irrigadas com 30 e 150% da evapotranspiração diária, respectivamente (Tabela 1). Esses resultados representam aumento de 427,6% na resposta das plantas indicando a importância da umidade para o crescimento dos colmos. A TALF também respondeu de forma linear ao aumento nos níveis de reposição variando de 0,62 cm/dia a 1,58 cm/dia nos tratamentos com 30 e 150% de reposição, respectivamente (Tabela 1). Nessa variável, o aumento foi de 235,8%, evidenciando a importância da água para o adequado crescimento e desenvolvimento do dossel da Aveia preta e que o alongamento de folha é menos afetado que o de colmo. A DVF também respondeu de forma linear e positiva ao aumento na lâmina de irrigação (Tabela 1). Nessa variável, o aumento foi de 12,6 para 63,5 dias, evidenciando o efeito do estresse hídrico na morte dos tecidos da Aveia preta. Esse aumento representou 504,0%, sendo esta a variável a mais afetada pela mudança no nível de reposição. Segundo Coutinho et al. (2015), as forrageiras usam mecanismos como a senescência de folhas para reduzir a área foliar e o consumo de água em situações de déficit hídrico. Esse resultado é confirmado pelo efeito linear negativo da irrigação sobre a TSEF, que reduziu sobremaneira nas plantas repostas com aumento no nível de reposição. Para a TSEF, os dados foram de 2,3 cm/ dia e 0,5 cm/dia nos tratamentos de 30 e 150%, respectivamente. Essa redução representou queda de 78,3% na senescência dos tecidos. O balanço entre o alongamento e a senescência de folhas evidenciou que apenas no nível de reposição de 104,1% seria possível equilibrar ambos processos. Essa resposta indica que a adaptação da Aveia preta às condições do Norte de Minas é extremamente dependente de adequado nível de reposição da água.

Conclusões

As características morfogênicas da Aveia preta são influenciadas pelo nível de reposição da evapotranspiração, à exceção do aparecimento de folhas e filocrono. O aumento no nível de reposição estimula o alongamento de folhas e de colmos e a longevidade das folhas, ao passo que reduz a senescência. A adaptação da Aveia ao cultivo na região Norte de Minas é extremamente dependente de adequado nível de reposição da água perdida.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALBERNAZ L.F.F. Produção e qualidade da forragem de quatro variedades de aveia (Avena sp.) cultivadas no Distrito Federal. 2015. 24p. Monografia (Graduação em Engenhahia Agronômica) - Universidade de Brasília, Brasília, 2015. CHAPMAN, D.F.; LEMAIRE, G. Morphogenetic and structural determinants of plant regrowth after defoliation. In: BAKER, M.J. (Ed.) Grasslands for our world. Wellington:SIR Publishing, 1993. p.55-64. COUTINHO, M.J.F. et al. Características morfogênicas, estruturais e produtivas de capim-buffel sob diferentes turnos de rega. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 45, n. 2, p. 216-224, 2015. FONTANELI, R. S, DOS SANTOS, H. P., FONTANELI, R. S. Forrageiras para integração lavoura-pecuária-floresta na região Sul-brasileira. 2. Ed. Brasília: Embrapa Trigo, 2012. 544p. LUZ, P.H.C. et al . Resposta da aveia preta (Avena strigosa Schreb) à irrigação por aspersão e adubação nitrogenada. Acta Scientiarum, Agronomy, Maringá , v. 30, n. 3, p. 421-426,  Sept.  2008. MORALES, A.S., et al. Efeito da disponibilidade hídrica sobre a morfogênese e a repartição de assimilados em L. corniculatus L. cv. São Gabriel. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 34, Juiz de Fora, 1997. Anais... Juiz de Fora: SBZ, p.124-126, 1997. POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C de F. Planejamento alimentar de animais: proposta de gerenciamento para o sistema de produção à base de pasto. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v. 7, n. 1, p. 145-156, 2001. SAS - STATISTICAL ANALYSES SYSTEM. SAS/STAT user’s guide. Cary: SAS Institute, 2002. SILVA, S.C.; NASCIMENTO JÚNIOR, D. Avanços na pesquisa com plantas forrageiras tropicais em pastagens: características morfofisiológicas e manejo do pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, supl. espec., p. 122-138, 2007.