Valores de lisina digestível sobre as características de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados semiconfinados abatidos aos 70 dias de idade

Eduardo Souza do Nascimento1, Cristina Amorim Ribeiro de Lima2, Wagner Azis Garcia de Araújo3, Rooner Joaquim Mendonça Brasil4, Noédson de Jesus Beltrão Machado5, Felipe Dilelis de Resende Sousa6, Cleriston Andrade Machado7, Marcos Antonio Nascimento Filho8
1 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais/IFNMG
2 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
3 - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais/IFNMG
4 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
5 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
6 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
7 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ
8 - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ

RESUMO -

Objetivou-se estimar a exigência de lisina digestível sobre os parâmetros de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em semiconfinamento, abatidos aos 70 dias de idade. Foram utilizados 300 frangos de corte machos, da linhagem EMBRAPA 041, distribuídos em 20 unidades experimentais em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0,586; 0,746; 0,906; 1,066 e 1,226% de lisina digestível), quatro repetições e quinze frangos por unidade experimental. Foram avaliados pesos absolutos e rendimentos de carcaça e cortes, além dos pesos relativos de vísceras. Os diferentes valores de lisina influenciaram o peso absoluto de carcaça, rendimento de peito e peso absoluto e relativo de gordura abdominal. Podem ser recomendados, para frangos de corte de menor potencial genético para crescimento,criados semiconfinados, abatidos aos 70 dias de idade, 1,080 e 0,986% de lisina digestível para o maior peso de carcaça e maior rendimento de peito.

Palavras-chave: aminoácidos, carcaça,exigência nutricional

Digestible lysine values on carcass characteristics of broiler chickens with lower genetic potential for growth in semi-confined systems slaughtered at 70 days of age

ABSTRACT - The objective of this study was to estimate the requirement of digestible lysine on the carcass parameters of broilers with lower genetic potential for growth created in semiconfining, slaughtered at 70 days of age. A total of 300 male broilers of the EMBRAPA 041 lineage were distributed in 20 experimental units in a completely randomized design, with five treatments (0.586, 0.766, 0.906, 1.066 and 1.226% digestible lysine), four replicates and fifteen chickens per experimental unit. Absolute weights and carcass yields and cuts were evaluated, in addition to the relative weights of viscera. The different lysine values influenced absolute carcass weight and breast yield, beyond as absolute and relative abdominal fat weight. For broiler chickens of lower genetic potential for growth in semi-confined systems slaughtered at 70 days of age, 1,080 and 0,986% digestible lysine for the highest carcass weight and higher breast yield.
Keywords: amino acids, Embrapa 041, nutritional requirements


Introdução

A lisina é um aminoácido classificado como essencial para frangos de corte e o segundo limitante para frangos alimentados com rações formuladas a base de milho e farelo de soja (FARIDI et al., 2013). Diversos autores (NASCIMENTO et al. 2009; OLIVEIRA et al. 2013) evidenciam a importância do fornecimento adequado desse aminoácido no desempenho produtivo dos frangos de corte.

Entretanto, são encontrados poucos trabalhos que objetivaram estudar os efeitos da lisina no desempenho e característica de carcaça de frangos com menores potenciais genéticos para crescimento, sendo que em muitas pesquisas os valores estimados para o máximo rendimento de carcaça e cortes não são considerados. Isso leva a utilização de exigências nutricionais estimadas em frangos de linhagens convencionais que são criados confinados, os quais possuem maior potencial genético, o que acarreta em valores extrapolados que influenciarão no desempenho animal.

Partindo do pressuposto, o objetivo deste estudo foi estimar a exigência de lisina digestível para os parâmetros de carcaça de frangos de corte de menor potencial genético para crescimento criados em sistema semiconfinado, dos 35 aos 70 dias de idade.



Revisão Bibliográfica

A lisina é um aminoácido que possui cadeia lateral básica aceptora de prótons, que em pH fisiológico está completamente ionizada com carga positiva (CHAMPE et al., 2009). Segundo o mesmo autor é classificada como aminoácido cetogênico, pois a partir do seu catabolismo produz acetoacetato ou um de seus precursores (acetil-CoA ou acetoacetil-CoA). No processo de degradação da lisina ocorre inicialmente a eliminação do grupo épsilon amino e através da via L-aminoácidos oxidase-catalase há a formação de pequenas quantidades de  a-ceto-lisina, envolvendo desaminação oxidativa e liberação de amônia (BAKER, 1994). A absorção da lisina no organismo ocorre através de canais específicos da membrana apical dos enterócitos e é carreada para o sangue a partir da membrana basolateral dos hepatócitos (MATTEWS, 2000). A síntese de proteína para deposição muscular é a principal função da lisina (LANA et al., 2005). Este aminoácido atua também, na síntese de colágeno, necessário para formação do tecido conectivo da matriz óssea, já que é precursora da hidroxilisina (SANDEL & DANIEL, 1998), desempenha importante papel na constituição da elastina e precursora da carnitina, a qual é responsável pelo transporte intracelular dos ácidos graxos de cadeia longa na mitocôndria para serem catabolizados na b-oxidação (CHAMPE et al., 2009). A lisina também atua como componente estrutural em proteínas especifica como as histonas, proteínas encontradas junto ao código de DNA, sendo constituídas com mais de um quarto pelos aminoácidos lisina e arginina (LEHNINGER et al., 1993). A exigência de lisina para frangos de corte pode variar de acordo com o parâmetro avaliado, como o ganho de peso, rendimento de peito, conversão alimentar, e gordura abdominal (LECLERCQ et al., 1998), e fatores como raça, linhagem, sexo, consumo de ração, teor de proteína e energia da ração, disponibilidade dos nutrientes, condições ambientais, estado sanitário, além da digestibilidade dos alimentos utilizados na formulação das rações (LANA et al., 2005).

Materiais e Métodos

Todos os procedimentos foram aprovados pelo CEUA/UFRRJ, protocolo 23083.011133/2014-48. Inicialmente foram alojados 800 pintos de corte machos (um dia de idade) da linhagem comercial “EMBRAPA 041”, com fornecimento de água e ração a vontade. As exigências nutricionais foram estabelecidas de forma a atender no mínimo as recomendações do manual da linhagem frango de corte– Embrapa 041 (FIGUEIREDO et al., 2006). No período experimental foram utilizados 300 frangos de corte, com peso médio de 987 g. Os frangos foram distribuídos em 20 unidades experimentais em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos (0,586; 0,746; 0,906; 1,066 e 1,226 % de lisina digestível), quatro repetições e quinze frangos por unidade experimental. Os tratamentos foram obtidos a partir da adição de L-lisina HCL (78% de pureza) em substituição ao amido de milho da dieta basal. Os frangos foram alojados em um abrigo de 1,85 X 2,20 m, contendo cama de maravalha, um comedouro tubular, um bebedouro tipo copo e um bebedouro externo tipo cocho, tendo o abrigo acesso a dois piquetes de 10x10 m separados por tela. Foi realizado o rodízio dos piquetes de acordo com as condições de crescimento da forrageira Tifton 85 (Cynodonnlemfuensis x C. dactylon). Os frangos tiveram livre acesso aos piquetes durante todo período experimental. Aos 70 dias de idade foram selecionados três frangos por repetição com peso médio representativo, os quais foram submetidos a um jejum de oito horas, pesados e abatidos, sangrados, escaldados, depenados e eviscerados. As carcaças foram pesadas e posteriormente foram realizados os cortes. Foram avaliados os pesos absolutos e rendimentos de carcaça, cortes, vísceras comestíveis e gordura abdominal. Os resultados foram submetidos à análise estatística utilizando-se o programa SAEG (UFV, 2000). As respostas foram estudadas por análise de regressão, sendo as estimativas de exigências de lisina digestível, quando possível através do estudo do modelo quadrático.  

Resultados e Discussão

Os valores de lisina digestível nas rações influenciaram (P<0,05) os pesos absolutos da carcaça, peito, coxa+sobrecoxa, asa e gordura abdominal. Porém no rendimento, não houve efeito significativo no rendimento de carcaça, encontrando significância apenas nos rendimentos de peito, dorso, moela e gordura abdominal (Tabela 1).

O peso da carcaça apresentou efeito quadrático (Ŷ = 433,32 + 2314,2x - 984,93x2; R2 = 0,99), sendo estimado o valor de 1,08% de lisina digestível para maior peso, entretanto o rendimento de carcaça, que obteve valor médio de 68,81%, não apresentou efeito significativo aos diferentes valores de lisina estudados. Esse comportamento também foi reportado por Rosa et al. (2014), encontrando valores de 0,908% de lisina digestível para peso de carcaça e um rendimento médio de 65,44%.

Os melhores resultados obtidos para peso e rendimento de peito foram obtidos com valores de lisina de digestível de 1,04% (Ŷ = - 422,96x2 + 966,4x – 54,76; R2 = 0.98) e 0,98% (Ŷ = -9,0876x2 + 19,633x + 18,129; R2 = 0,80), respectivamente. De acordo com Rezaei et al. (2004) alterações nos níveis de lisina digestível nas dietas podem afetar o rendimento de carne de peito, pois este esse corte contém elevada quantidade deste aminoácido.

O aumento no rendimento até o valor encontrado com ótimo para maximização desta variável pode ser explicado, em parte, pelo fato deste aminoácido ter como principal função a deposição de proteínas na carcaça, sendo o constituinte de maior participação nas proteínas musculares, pois de acordo com Leclercq (1998), o peito é o tecido muscular que mais aproveita o aumento dos níveis de lisina, em virtude da quantidade fibras presente neste músculo. Enquanto que a diminuição dos rendimentos após os valores estimados, podem ter ocorridos em decorrência do excesso de lisina, que pode acarretar na diminuição da eficiência de utilização desse aminoácido. O valor estimado para máximo peso do peito está acima do reportado por Rosa et al. (2014), que encontraram um valor de 0,916% de lisina.

O peso do fígado e da moela foram influenciados pelo aumento de lisina nas rações, entretanto, não houve diferença estatística para os pesos relativos. Dessa forma, pode-se inferir que as diferenças encontradas entre os pesos absolutos e relativos em relação aos valores de lisina foram atenuados, pois de acordo com Carew et al. (2005) a deficiência de lisina pode ter pouca influencia no desenvolvimento desses órgãos, sendo as variações entrados em pesos absoluto e relativo relacionado ao desempenho do animal.

O valor estimado para menor deposição de gordura abdominal neste estudo foi estimado em 1,004% (Ŷ = 47,405x2 - 87,979x + 90,286; R2 = 0.94) de lisina digestível na ração. A variação nos pesos de gordura em relação aos diferentes valores de lisina estudada pode estar relacionado ao imbalanço dos aminoácidos, pois a falta ou excesso de aminoácidos podem causar desequilíbrios metabólicos e levem a diferentes taxas de deposição de gordura.



Conclusões

Podem ser recomendados para frangos de corte de menor potencial genético, criados semiconfinados, abatidos aos 70 dias de idade, 1,080 e 0,986% de lisina digestível para o maior peso de carcaça e maior rendimento de peito.

Gráficos e Tabelas




Referências

BAKER, D. H. Utilization of precursors for L-amino acids.  In: D’MELLO, J. P. F.  Amino acids in farm animal nutrition. New York: CAB International, 1994. P.37-62. CAREW, L.; MCMURTRY, J.; ALSTER, F. Effects of lysine deficiencies on plasma levels of thyroid hormones, insulin-like growth factors I and II, liver and body weights, and feed intake in growing chickens. Poultry Science, v. 84, n.7, p. 1045-1050, 2005. CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A; FERRIER, D. R.  Bioquímica ilustrada. 4 ed.  –  Porto Alegre: Artmed, 2009. FARIDI, A. et al. Study of broiler chicken responses to dietary protein and lysine using neural network and response surface models. British Poultry Science, 54 (4): 524-530, 2013. FIGUEIREDO, E. A. P. de et al. Frango de corte colonial Embrapa 041. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Suínos e Aves, Concórdia: EMBRAPA, 2006. 1-8. LANA, S. R. V.; OLIVEIRA, R. F. M.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; VAZ, R. G. M. V.; RESENDE, W. O. Níveis de lisina digestível em rações para frangos de corte de 22 a 42 dias de idade, mantidos em ambiente de termoneutralidade. RevistaBrasileira de Zootecnia, v.34,n.5, p.1624-1632, 2005. LECLERCQ B. Specific Effects of Lysine on Broiler Production: Comparison with Threonine and Valine. Poultry Science, v. 77, n. 1, p. 118–123, 1998. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M.  Principles of Biochemestry. 2 ed. New York: Worth, 1993. p.1013. MATTEWS, J. C. Amino acid and peptide transport systems I. In: D’MELLO, J. P. F.  Farm Animal Metabolism and Nutrition. New York: CAB International, 2000. NASCIMENTO, D. C. N. et al. Exigências de lisina digestível para aves de corte da linhagem ISA Label criadas em semiconfinamento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 61, n. 5, p. 1128-1138, 2009. OLIVEIRA, H. G. et al. Lisina digestível em dietas de baixa proteína para frangos de corte tipo caipira de um aos 28 dias. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 65, n. 2, p. 497-504,2013. REZAEI, M. et al. The effects of dietary protein and lysine levels on broiler performance, carcass characteristics and N excretion. International Journal of Poultry Science, v.3, n.2, p.148-152, 2004. ROSA, E. P. M. et al. Níveis de lisina digestível para frangos de corte tipo caipira de 28 a 56 dias de idade. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, 15 (4): 872-880, 2014. SANDEL, L. J.; DANIEL, J.C. Effects of ascorbic acid on collagen mRNA levels in short term chondrocyte cultures. Connective tissue research, v. 17, n. 1, p. 11-22, 1988. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA – UFV. 2000. SAEG – Sistema de análise estatísticas e genéticas. Viçosa, MG.