Avaliação das condições ambientais de galpões de diferentes dimensões para frangos de corte

Vinícius de Sena Sales Viana1, Marília Lessa de Vasconcelos Queiroz2, Renan Tinini de Oliveira3, José Antonio Delfino Barbosa Filho4, Daniel de Freitas Brasil5, Maria Simone Mendes Peixoto6, Luanda Rêgo de Lima7, José Freire da Costa Neto8
1 - Universidade Federal do Ceará
2 - Universidade Federal do Ceará
3 - Universidade Federal do Ceará
4 - Universidade Federal do Ceará
5 - Universidade Federal do Ceará
6 - Universidade Federal do Ceará
7 - Universidade Federal do Ceará
8 - Universidade Federal do Ceará

RESUMO -

Para maximização dos lucros na avicultura de corte os produtores têm investido em galpões de maiores dimensões, além de aumentar a densidade das aves, o que pode provocar grave desconforto térmico aos animais, reduzindo o desempenho desses animais. Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi monitorar o ambiente térmico, por meio de aparelhos de precisão, em dois galpões com dimensões diferentes e verificar qual dos dois modelos proporcionam mais conforto térmico a frangos de corte na 6ª semana de vida. O experimento aconteceu nos meses de setembro e outubro do ano de 2011, durante o período seco do ano. Através da avaliação dos dados constatou-se que as temperaturas do galpão G1 foram menores do que as do galpão G2, porém nenhum dos ambientes fornecia a temperatura ideal de acordo com a literatura. Conclui-se que as condições ambientais de temperatura no Galpão G1 são melhores para as aves do que as do Galpão G2.

Palavras-chave: Instalações zootécnicas, estresse térmico, avicultura

Evaluation of the environmental conditions of different size sheds for broiler chickens.

ABSTRACT - To maximize profits in meat poultry production, producers have to invest in larger sheds, in addition to increasing poultry density, which can cause severe thermal discomfort to the animals, reducing the performance of these animals. Knowing all of these, the objective of this work was to monitor the thermal environment, using precision devices, in two different size of sheds and verify which of the two size of shed provide more thermal comfort to broilers in the 6th week of life. The experiment happened on September and October of 2011, during the dry period of the year. Through the data evaluation was possible to see that the temperature of shed G2 was higher than shed G1, but none of them provide an ideal environment temperature. In conclusion the environmental condition of temperature in G1 shed are better for birds than those in G2 shed.
Keywords: Animal facilities, poultry production and thermal stress.


Introdução

A produção de francos de corte é um setor muito importante para os bons resultados do agronegócio brasileiro. Este setor se amplia constantemente e necessita de investimentos na sua modernização. Para maximizar os lucros com a produção de frangos de corte, produtores tem investido em galpões de maiores dimensões, que possam abrigar o maior número de aves possível. Porém, a construção de novos galpões requer elevado investimento financeiro, sendo necessário que previamente a comprovação da eficiência dessas estruturas seja testada, para avaliar a viabilidade da construção. A adoção de inovações tecnológicas gera aumento nos custos de produção e para compensar o aumento nesses custos os produtores tendem a aumentar a quantidade de animais produzidos por galpão. Em busca da elevação dos lucros, afim de recuperar o investido em melhorias, os produtores aumentam a densidade de criação das aves, o que pode provocar grave desconforto térmico aos animais. O desconforto térmico em frangos de corte pode reduzir drasticamente o desempenho desses animais e provocar queda na produção. Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi monitorar constantemente o ambiente térmico, por meio de aparelhos de precisão, em dois galpões com dimensões diferentes e verificar qual dos dois modelos proporcionam mais conforto térmico a frangos de corte na 6ª semana de vida, que é considerada a mais crítica para esta espécie animal.

Revisão Bibliográfica

Costa et al. (2012) relatam que o Brasil fica caracterizado como um país de clima tropical e subtropical, propenso mais para o estresse por calor do que por frio, onde estas condições de “clima ideal”, não existem ou são raras. Os seres vivos de um modo geral necessitam de condições climáticas ótimas para que seus processos fisiológicos, crescimento e desenvolvimento, ocorram dentro da normalidade (DELFINO et al., 2012).

As condições de estresse são muito prejudiciais a produção, pois Baracho et al. (2013) relatam que o desenvolvimento, as respostas e o crescimento das aves são afetados pelas condições internas e externas do ambiente no qual se encontram alojados. Os aspectos construtivos das instalações zootécnicas podem influenciar todo o desempenho zootécnico dos animais, demonstrando sua importância na produção. Além do aspecto construtivo, segundo Silva et al. (2013) outro fator importante para o sucesso da produção avícola é o monitoramento e controle eficiente do ambiente de criação. Pois, como ressaltam Melo et al. (2013) o alto grau de confinamento, associado aos elevados índices de desempenho, trouxe maior vulnerabilidade desses animais a elementos do ambiente.

Neste contexto, a ambiência animal se destaca como ciência que faz o monitoramento de inúmeras variáveis ambientais e as relaciona com os dados de produtividade dos animais, a fim de detectar um ambiente propício para o melhor desempenho. As ferramentas de precisão são importantes para o controle do ambiente, para que o controle da temperatura seja preciso e dentro do limite de conforto das aves. Dentre os fatores ambientais, os que caracterizam o ambiente térmico estão entre aqueles de maior influência sobre a produtividade animal e diante disso é fundamental o conhecimento das condições climáticas do local da edificação, ou agentes ambientais, para o planejamento e execução de um projeto (JENTZSCH et al., 2011).

O conforto térmico das aves fica ainda mais prejudicado quando estas são inseridas em instalações superlotadas e que não favorecem as trocas térmicas necessárias. A elevação na densidade é prejudicial, pois faz com que os animais fiquem muito próximos e aumentem a produção de calor no local. Pilecco et al. (2011) relatam que o aumento da densidade associado às altas temperaturas influenciam diretamente no bem-estar dos animais, principalmente quando os sistemas de criação de aves não proporcionam a estes animais temperaturas corretas para seu manejo adequado.



Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido pelo grupo NEAMBE (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal), da Universidade Federal do Ceará. O experimento aconteceu nos meses de setembro e outubro do ano de 2011, durante o período seco do ano, caracterizado pelo baixo regime de chuvas. As avaliações foram realizadas em uma empresa avícola, localizada no município de Beberibe, no Ceará. As coletas de dados foram realizadas em dois tipos de galpões, durante a 6ª semana de criação de frangos de corte. O galpão 1 (G1) possuía as seguintes dimensões: pé-direito de 2,30 m, cumeeira de 4 m, beiral de 0,9 m, largura de 12 m e 100 m de comprimento. Já o galpão 2 (G2) possuía 2,10 m de pé-direito, cumeeira de 3,20 m, beiral de 1,20 m, 7,20 m de largura e 100 m de comprimento. Ambos os galpões estavam orientados no sentido leste-oeste e foram construídos com os mesmos materiais, inclusive com telhado de telhas coloniais. Os galpões estavam distantes 10 metros um do outro e cercados por vegetação nativa predominantemente rasteira. Durante o experimento as variáveis meteorológicas, temperatura e umidade relativa do ar, foram registradas a cada minuto por meio de miniestações meteorológicas (Data Loggers) instaladas a 0,5 m de altura do piso. Os equipamentos foram instalados próximo à altura dos animais, para que as condições térmicas dos ambientes sejam representadas da forma mais fiel. Inicialmente os dados foram submetidos à estatística descritiva básica para verificar a normalidade de distribuição dos dados. Em caso de normalidade entre os dados, foi feito o teste F, através da análise de variância (ANOVA), para verificar se existia diferença significativa entre as médias dos dados. Como complemento a análise de variância foi feito um teste de comparação de médias, teste de Tukey a 5% de significância.

Resultados e Discussão

Segundo Macari & Furlan (2001) a temperatura do ar ideal para frangos de corte na 6ª semana é de 24 oC. Entretanto, esta é uma condição difícil de ser alcançada no estado do Ceará, onde predominam temperaturas elevadas durante todo o ano. Ainda de acordo com Macari & Furlan (2001) a umidade relativa ótima, para a melhor produção de frangos de corte, está em torno de 60 %, e valores inferiores a 40 % e superiores a 80 % são críticos para os frangos de corte. Na Tabela 1 é possível observar os resultados do teste de médias para as variáveis temperatura e umidade relativa do ar 6ª semana de avaliação. Através da avaliação dos dados das miniestações meteorológicas foi possível constatar que as temperaturas do galpão G1 (28,5 e 27 oC, no turno da manhã e tarde, respectivamente) foram menores do que as do galpão G2 (28,7 e 28,1 oC, no turno da manhã e tarde, respectivamente). Os menores valores de temperatura se devem provavelmente ao pé-direito maior do G1, que favorece a circulação do ar no interior da instalação e favorece o conforto térmico dos animais. Ainda de acordo com os dados foi possível observar que nenhum dos ambientes fornecia a temperatura preconizada pela literatura, causando estresse térmico aos animais. De acordo com Ponciano et al. (2011), animais mantidos nas suas zonas de termoneutralidade evitam o desperdício de energia metabólica contida na ração fornecida, pois praticamente não há gastos para a manutenção da temperatura corporal. Esta afirmação demonstra a importância de minimizar ao máximo o estresse térmico em frangos de corte, a fim de manter bons índices zootécnicos na produção. Apesar de os valores de temperatura serem menores no G1 os valores de umidade relativa do ar no G1 (75 e 83%, no turno da manhã e tarde, respectivamente) foram mais elevados em relação aos do G2 (73 e 77%, no turno da manhã e tarde, respectivamente). Brossi et al. (2009) afirmam que a melhor ferramenta de dissipação de calor utilizada pela ave é a hiperventilação (aumento da taxa respiratória). Desta maneira, os valores elevados de umidade relativa do ar são extremamente prejudiciais as aves, que utilizam a respiração como principal meio para a manutenção da temperatura corporal dentro da faixa de conforto. Os elevados valores de umidade relativa do ar nestes galpões demonstram a necessidade de maior controle da nebulização, afim de reduzir o desconforto para as aves. Outra medida importante a ser tomada é a melhoria da ventilação do ambiente, para auxiliar na circulação do ar e retirada do excesso de umidade.

Conclusões

Assim, podemos concluir que as condições ambientais de temperatura no Galpão 1 (G1) são melhores para as aves do que as do Galpão 2 (G2). Entretanto os elevados valores de umidade relativa do ar devem der controladas no G1, para que este se torne mais confortável aos frangos de corte na 6ª semana de vida.

Gráficos e Tabelas




Referências

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