Crescimento de folhas de leguminosas forrageiras em estabelecimento submetidas à doses de nitrogênio

Fabio Pinese1, Suleize Rocha Terra2, Samantha Helen Paulino3, Flavia Maria de Andrade Gimenes4, Alessandra Aparecida Giacomini5, Linda Monica Premazzi6, Waldssimiler Teixeira de Mattos7, Karina Batista8
1 - Instituto de Zootecnia
2 - Instituto de Zootecnia
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RESUMO -

A hipótese desse trabalho foi de que o fornecimento de nitrogênio (N) poderia acelerar o crescimento de folhas de leguminosas durante o estabelecimento. O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Instituto de Zootecnia (IZ) em Nova Odessa, SP, Brasil. Os tratamentos corresponderam a 3 espécies de leguminosas forrageiras Macrotyloma axillare, Neonotonia wightii e Arachis pintoi e 3 doses de N (0, 40 e 80 kg/ha de N), fonte nitrato de amônio, aplicadas no plantio, em delineamento em blocos casualizados e 3 repetições (vasos de 5,1 kg de solo/cada). Duas vezes por semana foram realizadas as mensurações das folhas de um ramo secundário em fevereiro de 2017. O comprimento final do pecíolo aumentou com o fornecimento de N e variou entre as espécies. O comprimento final de folíolo e sua largura final variaram apenas entre as espécies. As taxas de crescimento de folíolo (comprimento e largura) foram superiores em Arachis pintoi e menores e semelhantes para M. axillare e N. wightii.

Palavras-chave: Arachis pintoi, Macrotyloma axillare, morfogênese, Neonotonia wightii, nutrição mineral

Growth leaves in a forage legumes under establishing subjected to nitrogen doses

ABSTRACT - The hypothesis of this study was that the supply of nitrogen (N) could accelerate the growth of legume leaves during the establishment. The experiment was conducted in a greenhouse at the Instituto de Zootecnia (IZ) in Nova Odessa, SP, Brazil. The treatments corresponded to 3 species of forage legumes Macrotyloma axillare, Neonotonia wightii and Arachis pintoi and 3 doses of N (0, 40 and 80 kg / ha of N), ammonium nitrate source, applied in planting, in a randomized block design and 3 replicates (pots of 5.1 kg soil / each). Twice weekly the leaf measurements of a secondary branch were carried out in February 2017. The final length of the petiole increased with the supply of N and varied among species. The final leaflet length and final width varied only among species. The leaflet growth rates (length and width) were higher in A. pintoi and smaller and similar for M. axillare and N. wightii.
Keywords: Arachis pintoi, Macrotyloma axillare, morphogenesis, mineral nutrition, Neonotonia wightii


Introdução

O estabelecimento inicial lento em relação à gramíneas tropicais limita o uso de leguminosas forrageiras em sistemas de pastagens. Sales et al. (2012) concluíram que para o estabelecimento de Arachis pintoi cv. Belmonte (amendoim forrageiro), o fornecimento de N aumentou a produção de folhas e estolões, e a velocidade de colonização da área. No entanto, não é comum a utilização de nitrogênio em leguminosas, uma vez que essas plantas fixam biologicamente este nutriente no solo, porém, estes mesmos autores sugerem que seu uso pode ser ferramenta para aumentar velocidade de estabelecimento dessas plantas. Para gramíneas já está estabelecido na literatura que o fornecimento de nitrogênio altera o ritmo morfogênico de crescimento das plantas, tornando o estabelecimento da forragem mais rápido. Para gramíneas o fornecimento de N acelera as características morfogênicas como o alongamento de folhas e aparecimento de folhas (Braz et al., 2011), alterando o tamanho final da folha e densidade de perfilhos. Porém ainda não há estudos sobre o efeito do nitrogênio nas demais leguminosas forrageiras. Por isso, o objetivo desse trabalho foi avaliar o crescimento de folhas e seus componentes e o aparecimento de folhas das leguminosas Arachis pintoi cv. Belmonte e dos acessos considerados promissores do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) do Instituto de Zootecnia, macrotiloma (Macrotyloma axillare NO 279)  e  soja perene (Neonotonia wightii NO 2348).

Revisão Bibliográfica

O estudo morfogênico,  é definido como a dinâmica da geração e expansão da planta no espaço (Lemaire e Chapman, 1996) e fornece informações detalhadas do crescimento vegetal, possibilitando a elaboração de estratégias de manejo para aumentar a eficiência do sistema solo-planta-animal (Gomide et al., 2006). É uma ferramenta bastante utilizada no estudo de gramíneas forrageiras (Braz et al., 2011; Zanini et al., 2012), porém com poucos resultados para leguminosas forrageiras, destacando-se o estudo com estilosantes Mineirão (Stylosanthes guianensis var. vulgaris cv. Mineirão)  de  Sousa (2012) e amendoim forrageiro  de Fialho (2015). Dentre as leguminosas forrageiras para uso em sistemas de pastagens de regiões tropicais, três foram consideradas promissoras para o presente estudo. O Arachis pintoi cv. Belmonte é uma planta herbácea, perene de trópico e subtrópico úmido, de crescimento rasteiro e estolonífero, lançando densas quantidades de estolões ramificados, que se enraízam até 1,50 m horizontalmente em todas direções (Nascimento, 2006). Sales et al. (2012), avaliaram o uso de quatro doses de N (zero, 40, 80 e 120 kg/ha) no estabelecimento de amendoim forrageiro e relataram um aumento na massa seca de folhas verdes e estolões, sendo o maior comprimento de estolão obtido na dose de 86 kg N/ha e maior densidade entre 78 e 82 kg N/ha. A soja-perene é uma leguminosa perene, herbácea, rasteira, volúvel, com folhas trifolioladas (Veasey et al., 1993). A macrotiloma é uma planta perene, herbácea, trepadora volúvel, com folhas trifoliadas (Veasey et al., 1999). Colozza et al. (2002) trabalharam com os 25 acessos mais promissores dos apontados por Veasey et al. (1999) avaliados em consorciação com capim Aruana (Panicum maximum Jacq. cv. Aruana) sob pastejo, e constataram que acessos de macrotiloma apresentaram uma maior velocidade de estabelecimento, com maior freqüência de ocorrência na consorciação, e os acessos de soja perene apresentaram boa persistência sob pastejo. Em sequencia, Gerdes et al. (2009), estudaram quatro acessos de leguminosas forrageiras consorciadas com capim Aruana, em pastejo com ovinos, e constataram que os acessos Macrotyloma axillare NO 279  e a Neonotonia wightii NO 2348 apresentaram as maiores proporções no total de massa de forragem do pasto, com respectivamente 43,2% e 42,2%. Indicando que esses acessos tem potencial para uso em sistemas de pastagens em consórcio com gramíneas necessitando de mais estudos.

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado na casa de vegetação do Instituto de Zootecnia em Nova Odessa, SP, Brasil.  O solo utilizado foi um Argisolo Vermelho Amarelo coletado de 0-20 cm. Em 22/11/2016 foi realizado o plantio de 30 sementes por vaso com 5,1 kg de solo/cada. Em 09/12/2016 foi realizado o desbaste restando 2 plantas por vaso Macrotyloma axillare, Neonotonia wightii e Arachis pintoi e 3 doses de N (0, 40 e 80 kg/ha de N), fonte nitrato de amônio, aplicadas no plantio, em delineamento em blocos casualizados e 3 repetições (vasos). As plantas escolhidas tiveram todas de um ramo secundário numeradas com caneta permanente preta. Foram mensurados com uma régua o comprimento e a largura do limbo foliar e o comprimento do pecíolo do folíolo lateral direito de cada folha. A largura foi medida na parte mais desenvolvida do limbo do folíolo, para o comprimento seguiu a nervura central de uma ponta a outra do folíolo e a medida do comprimento do pecíolo foi realizada da inserção do nó do ramo principal até a inserção do folíolo do central. As mensurações foram realizadas duas vezes por semana no período de 17/02/2017 a 09/03/2017 totalizando 21 dias de avaliação. Foram determinados os comprimentos finais de pecíolo e folíolo e a largura final de folíolo (mm), dividindo-se o valor final obtido em cada folha já expandida pelo número de folhas do ramo.  E calculadas as taxas de crescimento média (mm/dia de crescimento) de folíolos (em comprimento e largura) e crescimento de pecíolo das folhas de cada ramo mensurado. As analises de variância dos dados foram realizadas utilizando o PROC GLM do pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System), versão 9.1. As médias dos efeitos principais e das interações serão comparadas pelo teste de Tukey(P<0,05).

Resultados e Discussão

  O comprimento final de pecíolo diferiu com as doses de N (P=0,0324) e espécie (P<0,001). O maior comprimento foi para dose de 40 kg/ha de N (36,04 mm) que não diferiu da dose de 80 kg (32,81 mm) e esta foi semelhante `a dose zero (29,0 mm). Entre as espécies a soja perene apresentou o maior comprimento de pecíolo (37,95 mm) , seguida da macrotiloma e amendoim forrageiro com 35,42 e 25,08 mm, respectivamente (Tabela 1).O comprimento final de folíolos variou apenas entre as espécies (P<0,001), sendo maior na macrotiloma e soja perene e menor que as demais no amendoim forrageiro (20,40 mm) (Tabela 1). A largura final dos folíolos também diferiu apenas entre as espécies (P<0,001) (Tabela 1). A maior fonte de variação entre os tamanhos finais de pecíolos e folíolos pode ser atribuída às características genéticas de cada espécie, pois apenas o comprimento final do pecíolo aumentou pelo fornecimento de N. Não houve variação na taxa de crescimento média de pecíolos entre doses ou espécies com média de 1,59 mm/folíolo.dia. Para amendoim forrageiro manejado em diferentes intensidades de pastejo houve diferenças no alongamento de pecíolos variando de de 0,49 e 0,11 cm.estolão-1.dia-1 no verão e inverno, respectivamente (Fialho, 2015), indicando essa variável ser sensível às condições ambientais. A taxa de crescimento média do comprimento dos folíolos variou entre as espécies (P<0,0001), sendo maior no amendoim forrageiro (2,66 mm/dia.folíolo) e menor na soja perene (1,10 mm/dia.folíolo) e macrotiloma (1,06 mm/dia.folíolo) que não diferiram entre si. A taxa de crescimento em largura dos folíolos também diferiu apenas entre as espécies (P=0,0137), sendo maior no amendoim forrageiro (1,65 mm/dia.folíolo) e menor na macrotiloma (0,84mm/dia.folíolo) e soja perene (0,96 mm/dia.folíolo). Para gramíneas o nitrogênio traz forte influencia no ritmo morfogênico das plantas, acelerando-o (Braz et al., 2011). Fialho (2015) conclui que o amendoim forrageiro apresentou resultados das variáveis morfogências análogas às obtidas para gramíneas, sendo influenciado pelas condições climáticas e de manejo do pasto (frequência e intensidade de desfolhação). Da mesma forma Sousa (2012) descreveu influência de doses de fósforo (P) no crescimento de folíolos de estilosantes mineirão. Já o presente estudo foi realizado em uma estação do ano (verão) e sem desfolhação,  pois o objetivo foi avaliar a morfogênese de folhas durante estabelecimento. Nesse período não houve influencia significativa das doses de N aplicadas no crescimento dos folíolos, o que indica que pode haver diferenças entre gramíneas e leguminosas dos fatores que afetam o ritmo morfogênico.

Conclusões

O fornecimento de nitrogênio não afetou o crescimento inicial de folíolos das leguminosas forrageiras avaliadas, exceção ao tamanho final dos pecíolos que foi maior nas maiores doses de N (40 e 80 kg/ha de N) em relação ao não fornecimento (zero). Houve diferenças marcantes na morfologia e  taxas de crescimento entre espécies, sendo que as maiores taxas ocorreram no amendoim forrageiro, enquanto a soja e macrotiloma de forma geral foram semelhantes entre si.

Gráficos e Tabelas




Referências

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