Consumo e disgestibilidade de dietas para ovinos com níveis crescentes de farelo de girassol

Raquel Gonçalves Oliva1, Diego Santana Costa2, Sarah Silva Santos3, Sérgio Murilo Duarte4, Laís Trindade de Castro Ornelas5, Neyton Carlos da Silva6, Débora Evellin Gonçalves França7, Luciana Castro Geraseev8
1 - Universidade Federal de Minas Gerais
2 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
3 - Universidade Federal de Minas Gerais
4 - Universidade Federal de Minas Gerais
5 - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
6 - Universidade Federal de Minas Gerais
7 - Universidade Federal de Minas Gerais
8 - Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO -

Objetivou-se avaliar a inclusão do farelo de girassol sobre o consumo e digestibilidade de nutrientes de dietas para ovinos. Foram utilizados 24 cordeiros distribuídos em delineamentos de blocos casualizados. Os blocos foram divididos de acordo com o peso corporal inicial dos animais. Os tratamentos avaliados consistiram na inclusão de 0, 100, 200 e 300 g kg-1 de matéria seca no concentrado adicionado à silagem de milho. O período experimental teve duração de 60 dias, divididos em três períodos de vinte dias, sendo em cada período 15 dias destinados a adaptação dos animais e 5 dias de coleta. Posteriormente foram realizadas análises bromatológicas para determinação dos teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN). O uso do farelo de girassol não influenciou o consumo de MS e MO (P>0.05), sendo as medias encontradas de 612,425 g/dia; 50,48 g/UTM/dia; 565,81 g/dia; 46,64 g/UTM/dia respectivamente. Com a inclusão do FG, o consumo de carboidratos não fibrosos reduziu linearmente (P<0.05) e o consumo diário de FDN e FDA aumentaram linearmente (P<0.05). A digestibilidade da MS, MO, FDN e dos carboidratos não fibrosos também foram reduzidas linearmente (P<0.05). O farelo de girassol quando incluído em até 300 g kg-1 na dieta de ovinos não altera o consumo dos animais, entretanto reduz a digestibilidade dos carboidratos.

Palavras-chave: coprodutos, Helianthus annuus L., ovinocultura.

Consumption and disgestibility of diets for sheep with increasing levels of sunflower meal

ABSTRACT - This work was carried out to evaluate the inclusion of sunflower meal in the diet on intake of lambs and digestibility of nutrientes. Twenty four lambs distributed in randomized block designs were used. The blocks were divided according to the initial body weight of the animals. The treatments were differents levels of sunflower meal inclusion: 0, 100, 200 and 300 g kg-1 of dry matter. The experimental period lasted 60 days, divided into three periods of twenty days, in each period 15 days for the adaptation of the animals and 5 days of collection. The analysis of the dry matter (DM), mineral matter (MM), crude protein (CP), acid detergent fiber (ADF) and neutral detergent fiber (NDF) were performed. The use of sunflower meal did not influence the DM and MO intakes (P> 0.05), with averages of 612.425 g / day; 50.48 g / UTM / day; 565.81 g / day; 46.64 g / UTM / day respectively. The intake of non-fibrous carbohydrates reduced linearly (P <0.05) with the inclusion of SM, and daily intake of NDF and ADF increased linearly (P <0.05). The digestibility of DM, OM, NDF and non-fibrous carbohydrates was also linearly reduced (P <0.05). The sunflower meal when included in up to 300 g kg-1 in the sheep diet does not alter the consumption of the animals, however it reduces the digestibility of the carbohydrates.
Keywords: by-products, Helianthus annuus L., sheep.


Introdução

Os ovinocultores na tentativa de alcançar níveis mais elevados de produção e afim de diminuir custos com suplementação, vêm utilizando coprodutos na alimentação animal, procurando viabilizar cada vez mais a exploração. Os coprodutos obtidos na fabricação de biodiesel apresentam características nutricionais desejáveis, podendo substituir total ou parcialmente alimentos tradicionais como o milho e o farelo de soja (ABDALLA, et al., 2008). A utilização do girassol (Helianthus annuus L.) surge como alternativa na alimentação animal uma vez que esta é a quarta oleaginosa mais cultivada no mundo e muito utilizada na fabricação de biodiesel no Brasil (PERSON, 2013). Após a extração do óleo, o girassol, gera coprodutos como a torta e farelo, que apresentam potencial nutricional para os ruminantes. O farelo de girassol proveniente de resíduos agroindustriais é usado como fonte de alimento proteico em dietas para ovinos, permitindo o aumento na produção e redução dos custos com rações (GARCIA, et al., 2004). Dessa forma, é necessário realizar pesquisas que avaliem o valor nutricional do farelo de girassol para recomendar sua utilização na dieta de ovinos.

Revisão Bibliográfica

O Brasil está na 18º colocação no ranking do rebanho de ovinos no mundo, e segundo o MAPA (2016), o rebanho nacional em 2016 registrava aproximadamente 14 milhões de animais no País. Isto se deve a ovinocultura ser uma importante atividade no seguimento econômico-social e exercida devido a facilidade dos animais em se adaptar aos diversos sistemas de criação, apresentando grande potencial de exploração, despertando interesse em muitos produtores rurais (VIANA, REVILLION, SILVEIRA, 2008). O biodiesel é um combustível gerado a partir da transesterificação do óleo de plantas oleaginosas com o etanol ou metanol, na presença de catalisador básico (DABDOUB, 2009). A criação do Programa Nacional de Produção do Biodiesel, em 2004, graças ao elevado potencial brasileiro em produção de oleaginosas, permitiu aumentar a oferta dos produtos gerados a partir da extração do seu óleo (KOHLHEPP, 2010). Os resíduos agroindustriais provenientes da produção de biodiesel, surgem como alternativa alimentar, podendo ser utilizados em substituição parcial ou total dos alimentos proteicos e energéticos convencionais nas formulações de dietas (BOSA et al, 2011).  Os coprodutos são utilizados nas formulações de dietas visando aumentar a produtividade dos animais ou como alternativa economicamente viável aos produtos que passam por oscilações de preços no mercado devido a estacionalidade da produção. O girassol (Helianthus annuus L.) é uma oleaginosa que se destaca em produção de área cultivada, a safra 2015/16 deve ultrapassar 111,5 mil hectares (CONAB, 2016). Sua utilização na alimentação animal pode ser feita por uso do grão inteiro, ou por coprodutos gerados a partir da extração do óleo como a torta ou farelo que resulta em um produto com boa fonte proteica e energética (BETT et al., 2004). Estudos caracterizam o farelo de girassol como fonte nutricional altamente degradável e digestível quando comparada a fontes tradicionais (GOES, 2010). Porém a falta de padronização do produto devido a diversidade de variedades de grãos, pode interferir na digestibilidade e consequentemente no valor nutritivo do alimento (OLIVEIRA, 2008). A substituição dos alimentos comumente utilizados nos concentrados das dietas por coprodutos, visa a redução de custos, no entanto, são escassos trabalhos mostrando o teor correto de inserção do alimento na dieta e seus resultados sob o consumo, digestibilidade, produção e rentabilidade, sendo necessária a realização de pesquisas voltadas ao uso de resíduos do beneficiamento do girassol (ABDALLA et al., 2008).

Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida no setor de Ovinocultura do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais (ICA/UFMG), no município de Montes Claros, região norte de Minas Gerais, no período de abril a junho de 2016. Foram utilizados 24 cordeiros mestiços (Santa Inês x Dorper), machos, não castrados e com idade de aproximadamente 4 meses, distribuídos em delineamentos de blocos casualizados, sendo três blocos com quatro tratamentos e seis repetições. Os blocos foram definidos de acordo com o peso corporal inicial dos animais, sendo no primeiro bloco, a média de peso vivo de 30,91±2,36kg, no segundo, 27,83±1,04kg, e no terceiro, 24,78±0,98kg. No período pré-experimental os animais foram pesados, vermifugados e vacinados contra clostridioses e, durante o experimento, alojados em gaiolas metabólicas individuais, com comedouros, bebedouros e coletores de fezes e urinas. Os tratamentos avaliados consistiram na inclusão de 0, 100, 200 e 300 g kg-1 de matéria seca no concentrado adicionado à silagem de milho. As dietas foram balanceadas de acordo o NRC (2007), isonitrogenadas, fornecida na proporção concentrado:volumoso 60:40 (Tabela 1). Os animais foram alimentados duas vezes ao dia (8h00 e 16h00). O período experimental teve duração de 60 dias, divididos em três períodos de 20 dias, sendo 15 de adaptação dos animais à dieta e ao manejo e cinco dias para coleta e amostragem das fezes para posteriores análises bromatológicas e determinação dos teores de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB), fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN) conforme Detmann et al., (2012). A porcentagem dos carboidratos não fibrosos foi obtida de acordo com a seguinte equação: CNF = 100 – (PB + MM + EE + FDN). O consumo de MS foi determinado pela relação entre a quantidade de MS fornecida e a MS das sobras. A ingestão de nutrientes foi calculada pelas suas relações com a MS e seus teores na ração e sobras. A digestibilidade dos nutrientes (DN) foi obtida pela seguinte fórmula: [DN= (MS ingerida x % Nutriente) – (MS excretada x % Nutriente) x 100]/ (MS ingerida x % Nutriente). Os dados foram submetidos à análise de regressão por meio do procedimento o PROC REG do software estatístico Statistical Analysis System (SAS, 2004).

Resultados e Discussão

O uso do farelo de girassol não influenciou (P>0,05) o consumo de MS e MO, que pode ser observado nas médias encontradas que são de 612,425 g/dia; 50,48 g/UTM/dia; 565,81 g/dia; 46,64 g/UTM/dia respectivamente (Tabela 2). Segundo Allen (2000) a ingestão de matéria seca é limitada quando ocorre maior ingestão das frações fibrosas, na presente pesquisa o aumento na fração fibrosa da dieta com inclusão do coproduto não alterou o consumo de matéria seca.  Segundo Silva (2012), o farelo de girassol por possui alto teor de fibra, pode limitar ingestão de matéria seca, porém a digestibilidade da matéria seca e proteína bruta do coproduto é alta, não prejudicando a taxa de passagem da fibra, não diminuindo consumo mesmo em dietas com maior nível de inclusão do farelo. O uso do coproduto afetou (P<0,05) o consumo diário de FDN e FDA, apresentando comportamento linear crescente em g/UTM/dia. O resultado pode ser explicado pelo aumento da fibra com a inclusão do FG na dieta. Garcia et al (2006), avaliaram a inclusão de níveis crescentes de farelo de girassol (0%, 15%, 30% e 45%) em substituição ao farelo de soja no concentrado fornecido para bovinos da raça Holandesa em fase de crescimento. Os autores relataram aumento linear para o CFDN com média de 34,13 g/UTM/dia, justificando este comportamento em razão do teor de fibra presente no farelo de girassol. Com o aumento dos níveis de inclusão do FG, o consumo de carboidratos não fibrosos reduziu linearmente (P<0,05), reflexo da concentração desta fração no coproduto. A inclusão de farelo de girassol reduziu (P≤0,05) linearmente a digestibilidade da MS e MO. Isto se deve ao fato de que com o aumento do nível de inclusão do farelo de girassol houve aumento na fração fibrosa e redução dos carboidratos não fibrosos (CNF). A redução no teor de CNF das dieta pode ter comprometido o aporte de energia para crescimento microbiano resultando em redução da digestibilidade. A inclusão do farelo de girassol reduziu linearmente (P≤0,05) a digestibilidade da FDN (Tabela 3), sendo encontrado um valor médio de 53,8% de digestibilidade da fraçñao fibrosa. A qualidade da fibra do coproduto e redução da fração de CNF nas dietas com o aumento na inclusão do FG explicam este resultado. Resultados semelhantes foram encontrados por Leira et al. (2010), que ao avaliaram a digestibilidade em caprinos recebendo dietas isonitrogenadas, com diferentes proporções do farelo de girassol e milho triturado. Os autores concluíram que a digestibilidade da FDN reduziu com o aumento da inclusão do FG. A inclusão do FG reduziu linearmente (P<0,05) a digestibilidade dos carboidratos não fibrosos. Esse comportamento pode estar correlacionado com redução no consumo de CNF (Tabela 2), bem como redução do NDT (Tabela 1), uma vez que, o aumento do teor energético das dietas pode ter favorecido a digestibilidade dos nutrientes.

Conclusões

A inclusão de farelo de girassol até 300 g kg-1 na dieta de ovinos não altera o consumo dos animais, entretanto reduz a digestibilidade dos carboidratos.

Gráficos e Tabelas




Referências

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