Descrição da distribuição da massa de forragem de uma pastagem natural manejada sob pastoreio rotativo na estação quente

Pedro Luiz do Nascimento1, Luciana Marin2, João Victor Pacheco Mombelli3, Bernardo Bopp Seeger4, Cassiane Soares Bolzan5, Tiago Vicari6, Rafael Diovani Lubin7, Fernando Luiz Ferreira de Quadros8
1 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
3 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
4 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
5 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
6 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
7 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
8 - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

RESUMO -

O objetivo desse ensaio foi descrever a distribuição da massa de forragem e altura de uma pastagem natural, manejada com distintos intervalos de descanso pelo método de pastoreio rotativo no período de primavera/verão de 2016/2017. O manejo do pastoreio foi aplicado com intervalos de descanso baseados nas somas térmicas acumuladas de 375 ou 750 graus dia (GD), definindo os tratamentos. As avaliações de massa de forragem foram realizadas através de estimativa visual com dupla amostragem e estratificadas nos estratos touceira e não touceira e as alturas do dossel de cada estrato, foram medidas com régua graduada. Os tratamentos de pastoreio aplicados apresentaram a distribuição da massa de forragem semelhantes porém diferentes entre os estratos. A altura foi menor no tratamento 375 GD independente dos estratos, dessa forma podemos concluir que a densidade da massa de forragem no período de descanso 375 GD foi maior que com 750 GD.

Palavras-chave: estrutura da pasto, bioma Pampa, campo nativo

Description of forage mass distribution in natural grassland managed under rotational grazing in warm season

ABSTRACT - The objective of this trial was to describe forage mass and height distribution of a natural grassland, managed with different rest intervals by rotational grazing method in spring summer season of 2016/2017. Grazing method was applied with rest intervals based on accumulated thermal sums of 375 or 750 degrees day (DD), defining the treatments. Forage mass evaluations were performed by visual estimation with double sampling and stratified in clump and non-clump stratum and the canopy heights of each stratum were measured with a graded ruler. The grazing treatments presented similar forage mass distribution, but different among the stratum. However, the height was lower in the 375 DD independent of the strata, so we can conclude that forage mass density in the rest period 375 DD was higher than 750 DD.
Keywords: grassland structure, Pampa biome, grassland


Introdução

A pecuária no Rio Grande do Sul (RS) representa uma das principais atividades econômicas do Estado, atividade caracterizada na maioria das vezes como extensiva, com uma baixa produtividade e baixa rentabilidade (Nabinger et al., 2009). A principal fonte de alimento para os rebanhos gaúchos são pastagens naturais do Bioma Pampa, que possuem uma alta biodiversidade florística, Segundo Boldrini (2009), as pastagens naturais do RS são compostas por aproximadamente 520 espécies pertencentes a família Poaceae (Gramíneas) e 250 espécies pertencentes a família Fabaceae (Leguminosas) principais espécies forrageiras. Devido a alta heterogeneidade dessas pastagens, o manejo de utilização  exerce  grande importância na manipulação da estrutura, pois este pode moldar as características da pastagem, visando um melhor aproveitamento da mesma e consequentemente um melhor desempenho animal. Objetivou-se no presente trabalho descrever a distribuição da pastagem natural da Depressão Central do Rio Grande do Sul através de valores de massa de forragem e altura nos estratos de touceira e não touceira, quando manejada com intervalos de descanso  de 375 e 750 GD durante a primavera verão de 2016/17.

Revisão Bibliográfica

A criação de bovinos de corte no Rio Grande do Sul é conduzida basicamente em pastagens naturais do bioma Pampa o qual compreende cerca de dois terços do Estado brasileiro do Rio Grande do Sul, todo o Uruguai, além de parte da Argentina (SUERTEGARAY; SILVA, 2009) Boldrini (2009) identificou 520 espécies de gramíneas e 250 espécies de leguminosas nas pastagens naturais do sul do brasil, o que caracteriza uma alta biodiversidade florística dessas pastagens. Segundo Nabinger et al (2009), ainda que as pastagens naturais possuam uma capacidade de suporte mais baixa quando comparadas a pastagens cultivadas adubadas, estas ainda são a forma mais econômica de se produzir pecuária de corte, nesta região do país, desde que devidamente manejadas. O manejo do pastoreio em pastagens tão heterogêneas pode causar uma distinção em sua estrutura física, devido, principalmente, à predominância de espécies em cada alternativa de manejo. Uma das alternativas para manejar essa complexidade poderia ser um manejo de pastoreio baseado nas características ecofisiológicas das espécies, como a duração de vida foliar. Um intervalo de descanso de cerca de 375 GD poderia favorecer a predominância das espécies dos tipos funcionais A e B (espécies características do estrato baixo), representadas por Axonopus affinis e Paspalum notatum, respectivamente. Um intervalo de 750 GD poderia favorecer a maior participação de espécies dos tipos funcionais C e D (espécies características do estrato de touceiras), representadas por Andropogon lateralis e Aristida leavis respectivamente (QUADROS et al. 2009).

Materiais e Métodos

O estudo foi realizado em uma área experimental pertencente a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Esta área é constituida por pastagem natural localizada na Depressão Central do Rio Grande do Sul. As espécies que predominam na área são Aristida laevis, Axonopus affinis, Andropogon lateralis e Paspalum notatum. A área experimental possuia 24 hectares, dividida em 42 piquetes. O manejo realizado foi o pastoreio rotativo, baseado no período de descanso determinado por duas somas térmicas em graus dia (GD). As diferentes somas térmicas definiram os tratamentos 375 e 750 GD, as quais corresponderam à duração da elongação foliar das principais gramíneas pertencentes aos grupos funcionais A e B (dominantes no estrato não touceira) ou C e D (dominantes no estrato touceira) respectivamente (Quadros et al., 2011). Cada tratamento possuia três repetições, nas quais foram alocadas novilhas da raça Braford com carga ajustada para um consumo de 70% das folhas acima de uma massa de 1000 kg ha-1. Em cada repetição foi definido um piquete que representou os demais da mesma repetição para as avaliações de massa de forragem. As avaliações foram realizadas na primavera/verão de 2016/2017 no período de 22/09/16 a 09/03/17. A massa de forragem foi estimada em kilogramas de matéria seca por hectarie (kgMS/ha) através do método estimativa visual com calibração por dupla amostragem, onde foi utilizado um quadro de metal com uma área de 0,25 m². A altura de dossel foi medida com uma régua graduada. Foi realizado um caminhamento para que as amostras fossem representativas da area, nesse caminhamento foram avaliados 30 pontos por piquete, dos quais 10 foram cortados, além de identificar os estratos (touceira e não touceira) caracterizados pela disposição e espécie da forragem. As amostras foram levadas para estufa de ar forçado a 65° C até peso constante. A análise de variância foi realizada com comparação de médias através de um teste de aleatorização utilizando o software Multiv.

Resultados e Discussão

A altura do dossel foi diferente entre os tratamentos assim como para os estratos (Tabela 1). O tratamento 750 GD apresentou uma maior altura em relação ao tratamento 375 GD e o mesmo ocorreu quando foram comparadas as alturas dos estratos da pastagem (touceira e não touceira). O tratamento 750 apresentou uma maior altura em ambos os estratos (touceira e não touceira), com alturas médias de 40,3 cm e 25,9 cm para os estratos touceira e não touceira respectivamente. A menor altura no 375 pode ser explicada  pelo menor tempo de descanso quando comparado ao 750 e consequentemente uma maior freqüência de utilização que provavelmente levou a maior acessos dos animais em ambos os estratos. A massa de forragem não apresentou diferença entre os tratamentos, já quando comparados os diferentes estratos  houve uma maior massa no estrato touceira da pastagem (Tabela 2.). A diferença na altura de dossel e a não diferença da massa de forragem entre os tratamentos, considerando que a frequência de touceiras foi semelhante, com média de 48%, pode ser atribuída a densidade da massa de forragem que apresentou valores de 1694g/m³ e 1484g/m³ respectivamente para 375 e 750 estatisticamente diferentes.

Conclusões

Os diferentes intervalos de descanso da pastagem natural interferem na estrutura da forragem moldando a densidade  dos estratos.

Gráficos e Tabelas




Referências

BOLDRINI, I. L. A flora dos campos do Rio Grande do Sul. In: Pillar V.P. de; Müller S.C.; Castilhos Z. M. S.; Jaques A. V. A. (Ed.). Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília-DF: Ministério do Meio Ambiente, 2009. p.63-77.   NABINGER, C.et al. Produção animal com base no campo nativo: aplicações e resultados de pesquisa. In: Pillar V.P. de; Müller S.C.; Castilhos Z. M. S.; Jaques A. V. A. (Ed.).Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade.Brasília-DF: Ministério do Meio Ambiente, 2009. p. 175-198.   QUADROS, F. L. F. et al. A abordagem funcional da ecologia campestre como instrumento de pesquisa e apropriação do conhecimento pelos produtores rurais. In: Pillar V.P. de; Müller S.C.; Castilhos Z. M. S.; Jaques A. V. A. (Ed.). Campos sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2009. cap. 15, p. 206-213.   QUADROS, F. L. F. et al. Utilizando a racionalidade de atributos morfogênicos para o pastoreio rotativo: experiência de manejo agroecológico em pastagens naturais do Bioma Pampa. Cadernos de Agroecologia, v. 6, n. 1, 2011.   SUERTEGARAY, D. M. A. et al. Tchê Pampa: histórias da natureza gaúcha. In: Pillar V.P. de; Müller S.C.; Castilhos Z. M. S.; Jaques A. V. A. (Ed.). Campos Sulinos: conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2009. p. 42-59.