AVALIAÇÃO DE UM SUPLEMENTO PROTEICO POR ABELHAS AFRICANIZADAS EM CONFINAMENTO: CONSUMO E LONGEVIDADE

Luiz Arthur dos Anjos Lima1, Roger Nicolas Beelen2, Patrícia Mendes Guimarães Beelen3, Hemilly Marques da Silva4, Lucas da Silva Gonzaga5
1 - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
2 - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
3 - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
4 - Universidade Federal de Alagoas - UFAL
5 - Universidade Federal de Alagoas - UFAL

RESUMO -

Objetivou-se avaliar uma dieta proteica de confecção artesanal por abelhas africanizadas em confinamento. A dieta foi preparada com ingredientes que atendessem às exigências nutricionais das abelhas e fossem palatáveis. Foram utilizadas 9 gaiolas experimentais, cada uma contendo 50 abelhas. Sendo três gaiolas por tratamento. O tratamento I recebeu a suplementação experimental, o tratamento II recebeu suplementação convencional, e o tratamento III recebeu apenas xarope de açúcar. Todas as gaiolas receberam suplemento alimentar energético. Para avaliar a dieta foram mensurados o consumo e a longevidade das abelhas. O consumo no tratamento I foi superior em relação ao consumo no tratamento II. Em relação à longevidade, houve a mesma tendência observada para o consumo, ou seja, as abelhas do tratamento I sobreviveram por mais tempo. Portanto, conclui-se que a dieta experimental apresenta boa palatabilidade e demonstra ter bom potencial nutritivo melhorando a longevidade das abelhas.

Palavras-chave: Apis mellifera, alimentação suplementar, apicultura

EVALUATION OF A POLLEN SUPPLEMENT BY CAGED AFRICANIZED HONEYBEES: CONSUMPTION AND LONGEVITY

ABSTRACT - The present study aimed at evaluating a homebrew pollen supplement by caged Africanized honeybees. The supplement was prepared using ingredients that meet the nutritional requirements of bees, are palatable and easy to obtain. Nine experimental cages, each containing 50 newly emerged bees were used. The 9 cages were divided in three treatments. Treatment I received the experimental pollen supplement, treatment II received a pollen substitute based on commercial pollen and sugar 1:1 w/w, and treatment III received only sugar syrup. Supplement consumption and the longevity of the bees in each treatment was recorded daily. The consumption of the pollen supplement (T1) was significantly higher in relation to the consumption of the pollen substitute (T2). The same trend was observed for longevity, bees of T1 had a better survival rate. Therefore, it can be concluded that our pollen supplement has good palatability and provides adequate nutrition increasing the longevity of the bees.
Keywords: Apis mellifera, supplementary feeding, apiculture


Introdução

As abelhas exigem, logo após sua emergência, diferentes nutrientes para completar o desenvolvimento final dos tecidos, músculos e glândulas do seu corpo (HERBERT, 1997). Visando o pleno desenvolvimento das abelhas em suas fases iniciais, assim como o sucesso da colônia como um todo, esses nutrientes precisam estar sempre disponíveis para as abelhas. Sendo assim, em períodos de escassez de alimento, período em que a reserva de alimento e os recursos naturais disponíveis são limitantes, requer-se o fornecimento de uma suplementação alimentar visando minimizar os danos causados pela carência de nutrientes. Ensaios com suplemento proteico desenvolvido no Laboratório de Abelhas, Centro de Ciências Agrárias – UFAL  foram realizados a nível de campo, obtendo resultados bastante promissores (LIRA, 2014). O suplemento proteico desenvolvido  apresentou-se palatável as abelhas, além de ter demonstrado ser eficiente no desenvolvimento da colônia. Constituindo, portanto, uma boa ferramenta para suplementação de apiários em períodos de escassez de alimento. Visando complementar a avaliação do suplemento proteico desenvolvido seria interessante testá-lo em condições de confinamento, ou seja, sem qualquer aporte de alimento externo suplemento. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a eficiência de um suplemento proteico, de confecção artesanal, por abelhas africanizadas em confinamento.



Revisão Bibliográfica

Assim como os demais animais, as abelhas necessitam de alimentos essenciais para que haja seu completo desenvolvimento, sua sobrevivência e consequente desenvolvimento da colônia. Os nutrientes procurados pelas abelhas na natureza são basicamente três: néctar, pólen e água (SOMERVILLE, 2005). O néctar floral é uma secreção aquosa da planta que contém de 5 a 80% de açúcar, e é de onde as abelhas obtém a maior parte da energia de que precisam pra realizar suas atividades (WINSTON, 2003). Ao encontrar uma fonte de alimento, as abelhas forrageadoras coletam néctar nos nectários florais. O néctar é levado até o ninho para que haja seu processamento. São adicionadas, durante a coleta, enzimas das glândulas hipofaríngeas. Essas enzimas quebram os açúcares em formas simples que são mais facilmente digeridas pelas abelhas e protegem também o mel armazenado de ataques bacterianos (WINSTON, 2003). O pólen é o segundo alimento procurado pelas abelhas. Este é a fonte natural de proteína e aminoácidos das abelhas (NOGUEIRA-COUTO e COUTO, 2006). As abelhas forrageadoras saem em busca de pólen nas plantas poliníferas, elas trazem os grãos de pólen coletados no androceu das plantas nas suas pernas traseiras, em estruturas denominadas corbículas. Ao depositarem o pólen na colmeia, as operárias que estão em seu interior começam o processo digestivo e o preparam para armazenamento por longo prazo (WINSTON, 2003). A água é considerada um elemento vital para a vida das abelhas, tanto nos processos digestivos quanto no seu próprio metabolismo, para manter a temperatura e umidade relativa da colônia. (HERBERT, 1992). Dessa forma, apicultura é uma atividade dependente dos recursos naturais, e em decorrência deste fator possui oscilação de produção de acordo com as condições ambientais encontradas em cada região. Na ausência de floradas, quando o alimento e as reservas da colônia são insuficientes, é recomendável o fornecimento de alimentação artificial às abelhas (WIESE, 1986). Sem essa alimentação suplementar, quando se inicia a florada, os enxames necessitam de 50 dias para se fortalecer e começar o aproveitamento dos recursos naturais disponíveis, causando dessa forma prejuízos ao apicultor (RAAD, 2002). Vários tipos de suplementos têm sido elaborados. Entretanto, na maioria das vezes são oferecidos suplementos sem atentar para os cuidados relativos à formulação da dieta, à sua deterioração, à atratividade para as abelhas e os custos (HERBERT JR et al, 1977).

Materiais e Métodos

O experimento foi realizado no Laboratório de Abelhas do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal de Alagoas. As abelhas recém-emergidas foram transferidas para as gaiolas experimentais (12,5 x 15 x 8 cm). Foram utilizadas 9 gaiolas com 50 abelhas alojadas em cada gaiola, sendo três gaiolas por tratamento. No primeiro tratamento (T1), as três gaiolas receberam o suplemento proteico experimental e xarope de açúcar. As gaiolas pertencentes ao segundo tratamento (T2) receberam um suplemento a base de pólen comercial e xarope de açúcar (controle positivo). O T3 recebeu apenas xarope de açúcar (controle negativo). Os suplementos proteicos foram preparados criteriosamente seguindo os dados contidos na Tabela 1, ofertados entre duas folhas de papel manteiga, e foram denominados de sanduíche proteico. A oferta das dietas ocorria a cada dois dias, de forma igual em todos os tratamentos, sendo 10 gramas de suplemento proteico e 5 ml de xarope de açúcar. As nove gaiolas foram dispostas dentro de uma incubadora artesanal confeccionada em madeira contendo duas lâmpadas nas laterais, para aumentar e estabilizar a temperatura ambiente. Foram mensurados a taxa de consumo das dietas e a longevidade das abelhas. Para a determinação da taxa de consumo, os sanduíches proteicos de peso inicial conhecido eram novamente pesados no segundo e sétimo dia após seu fornecimento com o auxílio de uma balança analítica. A taxa de consumo sendo obtida pela diferença de peso. Para a determinação da longevidade das abelhas, todos os dias, no mesmo horário, eram removidas de dentro das gaiolas todas as abelhas mortas, as quais eram contadas, isto até que não houvesse mais sobreviventes. Os dados colhidos no decorrer deste estudo foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e Discussão

Durante os 28 dias do ensaio observou-se maior taxa de consumo no tratamento I (suplemento proteico experimental). Observou-se igualmente que o maior consumo ocorreu nos primeiros 10 dias de vida das operárias, apresentando um pico de consumo ao sétimo dia, onde obteve-se uma média de consumo de 1,49 g (Figura 1). Segundo estudos realizados por Winston (2003) o consumo de pólen é importante durante os primeiros 5 a 10 dias de vida das operárias, para que haja um desenvolvimento glandular normal e o perfeito crescimento das estruturas internas. SZYMAS et al., (1996) verificaram que a adição de pólen nas formulações aumenta a palatabilidade. Sendo o alimento natural das abelhas esperava-se que o suplemento a base de pólen comercial oferecido no tratamento II fosse mais atrativo e palatável do que o suplemento de pólen experimental (T1).  O fato dos ingredientes do suplemento proteico experimental terem sido cuidadosamente triturados e homogeneizados em moedor de café, e não apresentarem resíduos indigestíveis da exina do pólen, pode ter contribuído para que as partículas se apresentassem menores e mais acessíveis às abelhas, melhorando assim o seu consumo. A adição de óleos no suplemento de proteico experimental pode também estar na origem do melhor consumo observado em T1. Alguns autores atribuem a palatabilidade dos substitutos proteicos a presença de lipídeos, os quais seriam componentes fagoestimulantes. As taxas médias de sobrevivência das abelhas em T1, T2 e T3 foram de 33,67%, 23,33% e 20,33%, respectivamente ao longo do ensaio.  Observa-se maior longevidade das abelhas recebendo o suplemento proteico experimental (T1), o que demonstra o seu potencial nutritivo. Entretanto, não foi possível manter as abelhas em confinamento por períodos superiores a 30 dias em nenhum dos tratamentos. Sabe-se que o tempo de desenvolvimento e a qualidade da abelha adulta emergida dependem dos fatores ambientais, sobretudo da temperatura, assim como de uma complexa interação entre as demais abelhas da colônia. O desenvolvimento das abelhas em gaiolas experimentais se torna provavelmente limitante quando fatores ambientais, tais como temperatura inadequada, diminuem a capacidade de homeostase, o que é corroborado provavelmente pela ausência de abelhas-ama ou pelo número reduzido de operárias em condições de confinamento.

Conclusões

Conclui-se que o suplemento proteico experimental apresenta boa palatabilidade sendo mais consumido pelas abelhas que o substituto de pólen de abelhas comercial, e demonstra ter bom potencial nutritivo melhorando a longevidade das abelhas.

Gráficos e Tabelas




Referências

ALMEIDA, Joyce Mayra Volpine de. Efeito da fermentação induzida sobre o valor nutritivo de dietas protéicas para abelhas Apis mellifera. Dissertação de Mestrado. Ribeirão Preto, 2013.   FREITAS, B.M., 2004. Apicultura no nordeste do Brasil: uma história de sucesso com futuro promissor.   HAYDAK, M. H. Changes in total nitrogen content during the life of the imago of the worker honeybee. J. Apic. Res. 49:21-28, 1970.   HERBERT, E. W. Vitamin C enhancement of brood rearing by caged honeybees fed a chemically difined diet. Arch. Insect Brochem Physiol. 2:27-29, 1997.   .............................. Honey bee nutrition. In:The Hive and The Honey Bee. Graham, J. M. (ed), Dadant & Sons. Hamilton, Illinois,p. 197-233. 1992.   LIRA, T. S. Suplemento proteico artesanal para abelhas africanizadas. Dissertação de Mestrado. Rio Largo, 2014.   NOGUEIRA-COUTO, R. H.; COUTO, L. A. Apicultura: manejo e produtos. 3. ed. Jaboticabal: Funep, 2006.   RAAD, R.S. Alimentação dos enxames com uso de ração protéica seca Coapivac e líquida estimulante. Rio de Janeiro: Coapivac,. 7p. 2002.   SEREIA, Maria Joseane. Suplementos protéicos para abelhas africanizadas submetidas à produção de geléia real. Tese de doutorado em Zootecnia. Maringá, 2009.   SZMYAS, B.; WILKANIEC, Z.; WOJTOWSKI, F. Utilization of protein feeds in nutrition of honey bees. Wykorzystanie pasz Bialkowych w Zywieniu Szczol Miodnych, v. 119, n. 2, p. 291-295, 1996.   SOMERVILLE, D. Fat Bees Skinny Bees - A manual on honey bee nutrition for beekeepers. Rural Industries Research and Development Corporation, 138p. 2005.   TOMÁS, A. V. F. Pão de abelha do Nordeste Transmontano: caracterização química, nutricional e atividade antioxidante. Dissertação de Mestrado. Bragança, 2013.   WIESE, H. (Coord.). Nova apicultura. 6.ed. Porto Alegre: Agropecuária, 1985. 493p   WINSTON, Mark L. The biology of the honeybee. Porto Alegre, 2003.