Avaliação da germinação de quatro acessos de diferentes lotes de sementes de Bromus auleticus

Ingrid Shaianne Lopes Dewes1, Leonardo Luís Artico2, Juliana Furtado Garcia3, Leandro Gonçalves Leite4, Ana Cristina Mazzocato5, Juliano Lino Ferreira6
1 - Embrapa Pecuária Sul
2 - Embrapa Pecuária Sul
3 - Embrapa Pecuária Sul
4 - Embrapa Pecuária Sul
5 - Embrapa Pecuária Sul
6 - Embrapa Pecuária Sul

RESUMO -

Bromus auleticus é uma gramínea nativa do sul do Brasil, possui crescimento hibernal e é perene. Apresenta boa produção de forragem e mesmo produzindo sementes satisfatoriamente, muitas são vazias e deformadas, reduzindo seu potencial reprodutivo. Assim, objetivou-se comparar os resultados da germinação de quatro acessos de B. auleticus, coletados em municípios do Rio Grande do Sul, onde foi mensurada a viabilidade das sementes. O experimento foi desenvolvido na Embrapa Pecuária Sul, onde foram utilizados quatro lotes de sementes (2011, 2013, 2014 e 2015). A germinação foi realizada conforme as Regras para Análise de Sementes utilizando-se quatro repetições com 25 sementes cada. A análise estatística detectou diferenças significativas em todas as variáveis [índice de velocidade de germinação (IVG), comprimento de raiz e parte aérea], sendo que cinco tratamentos não obtiveram sementes germinadas.

Palavras-chave: Cevadilha vacariana, forrageira nativa, viabilidade de sementes, banco ativo de germoplasma (BAG), plântulas

Evaluation of the germination of four accessions of different seed lots of Bromus auleticus

ABSTRACT - Bromus auleticus is a southern Brazilian native grass with perennial and hibernal growth patterns. Generally, present good forage production, however even producing satisfactory amount of seeds, many of them are empty and/or deformed, reducing their reproductive potential. In this context, this study objective was the comparison of four B. auleticus accessions, collected in Rio Grande do Sul cities, in terms of germination results, focusing in seed viability, along four planting seasons. The experiment was carried out at Embrapa Pecuária Sul, where it was collected seeds of four accessions, comprising different seed lots (2011, 2013, 2014 and 2015). The germination procedure was realized according to the Brazilian Seeds Analysis Rules, using four replications with 25 seeds each. The statistical analysis detects significant differences in all variables (germination speed index (GSI), root and shoot lengths), although no seed germinated in five treatments.
Keywords: bromegrass, wild forage, seeds viability, germplasm bank, plantlets


Introdução

O presente trabalho avaliou a germinação de quatro acessos de Bromus auleticus Trin. ex Nees em quatro diferentes lotes de sementes, correspondentes aos anos em que foram coletadas. Dessa forma, obtiveram-se 16 tratamentos (acesso/ano) onde foi avaliada a germinação e realizado o acompanhamento do desenvolvimento das plântulas para sua incorporação no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Forrageiras Nativas do sul do Brasil, pertencente à Embrapa Pecuária Sul. A avaliação foi efetuada mediante a instalação do teste de germinação que teve como objetivo avaliar o índice de velocidade de geminação (IVG), comprimento de raiz e de parte aérea. Os resultados foram utilizados para verificar a viabilidade das sementes de cada acesso em relação ao ano da coleta. Portanto, o objetivo do trabalho foi comparar resultados da germinação de diferentes acessos de B. auleticus, com relação à viabilidade das sementes coletadas em diferentes anos e o desenvolvimento das plântulas.

Revisão Bibliográfica

O gênero Bromus L. possui centenas de espécies, sendo elas anuais e perenes. Tipicamente essas espécies são de estação fria e variam bastante quanto ao seu uso e adaptação (Mabberley, 1997). B.auleticus Trin. ex Nees, também denominado cevadilha vacariana, é uma gramínea nativa do sul do Brasil, Uruguai e Argentina, não apresenta latência estival e possui ótimo valor forrageiro. Pelo fato de ser perene, possui alta possibilidade de fornecer forragem no outono-inverno (Olmos, 1993), além de ser produtiva, palatável e acessível aos animais devido às suas características bromatológicas (Oliveira & Moraes, 1993). A sua alta qualidade de forragem contrasta com a baixa produção de sementes, tornando-se um fator limitante para a domesticação e comercialização da espécie (Burkart, 1969). Nesse sentido, B. auleticus é encontrada principalmente em campos secos, com solos rasos e rochosos, apresenta grande longevidade e resistência a condições climáticas adversas, devido a sua tolerância a altas temperaturas e capacidade de enraizamento profundo (Silva & Moraes, 2009). Segundo Olmos (1993), no primeiro ano, sua produção é menor que de outras espécies, por ter lento desenvolvimento no ano do plantio, já no segundo ano se destaca pela precocidade da produção de forragem e pela produção de sementes, embora apresente espiguetas vazias e deformadas, reduzindo seu potencial reprodutivo. A produção de sementes é um dos principais fatores para a utilização de uma espécie, sendo que fungos e bactérias podem afetar o vigor e a capacidade da germinação. No conceito agronômico ou tecnológico, considera-se germinação a emergência de parte da planta no solo ou a formação de uma plântula vigorosa sobre algum tipo de substrato (Borghetti & Ferreira, 2004).

Materiais e Métodos

O experimento foi desenvolvido na Embrapa Pecuária Sul, Bagé – RS, de 08 de junho a 04 de julho de 2016. Foram utilizados quatro lotes de sementes de B. auleticus coletadas em diferentes municípios do estado de Rio Grande do Sul, nos anos de 2011, 2013, 2014 e 2015, conservados em refrigerador à temperatura de 4° C. A avaliação foi efetuada mediante a instalação do teste de germinação onde foram utilizadas sementes de quatro acessos (6, 8, 19 e 21) de cada lote, totalizando 16 tratamentos diferentes. O experimento foi efetuado com quatro repetições de 25 sementes por acesso, de acordo com as Regras para Análise de Sementes (RAS), as sementes foram semeadas sobre duas folhas de papel filtro e cobertas com outra folha (entre papel – EP), todas umedecidas com água destilada. Após, os papéis foram embrulhados em forma de rolos e armazenados em um saco plástico em posição vertical para manutenção da umidade e crescimento livre das raízes. A contagem de sementes germinadas foi efetuada diariamente por um período de 26 dias, sendo a primeira contagem realizada aos sete dias após a instalação do experimento, obedecendo a um período mínimo de avaliação descrito na RAS. No final da avaliação realizou-se a medida do comprimento de raízes e da parte aérea de plântulas com o auxílio de uma régua milimetrada. Além disso, foi obtido índice de velocidade de germinação, segundo fórmula de Maguirre (1962): IVG = (G1/N1) + (G2/N2) + (G3/N3) + ... + (Gn/Nn) Ao término do experimento, as plântulas desenvolvidas foram transferidas para bandejas de poliestireno e mantidas em casa de vegetação. Os dados foram submetidos à análise de variância e posteriormente o teste comparativo de médias (Scott e Knott 5%) no aplicativo “Genes” v.2013.5.1 (Cruz, 2013).

Resultados e Discussão

A análise de variância revelou que a variável comprimento de raiz teve diferença significativa e as outras duas variáveis, IVG e comprimento de parte aérea, foram altamente significativas (Tabela 1). Durante todo o período do experimento, cinco tratamentos não apresentaram germinação, sendo todos os acessos do lote de 2011 e o acesso 21 do lote de 2013 (Tabela 2), o que indica a perda de viabilidade dessas sementes ao longo do tempo. No IVG destacaram-se os acessos 6 e 8 do ano de 2014. Porém todos os acessos daquele ano obtiveram boa resposta, exceto o 21, por ter apresentado grande quantidade de fungos. Este resultado está de acordo com Olmos (1993) quando se refere ao melhor desenvolvimento de B. auleticus no segundo ano. No caso do presente trabalho, os dados sugerem esta tendência de comportamento. Para a variável comprimento de raiz, o acesso 19 se destacou nos lotes de 2014 e 2013. No comprimento de parte aérea o acesso 6 de 2014 teve a maior média, sendo altamente significativo perante aos demais. No geral, os resultados permitiram verificar que os acessos tiveram diferenças, porém, não se pode afirmar que tiveram influência em função dos anos (lotes), devido à interação dos dados, onde um acesso ranqueia melhor em um lote, mas não necessariamente no outro. Mesmo assim, os resultados indicam uma possível melhor performance das sementes coletas no ano de 2014, como pode ser observado nas médias de IVG, comprimento de raiz e parte aérea. Da mesma forma observa-se uma tendência numérica de que o acesso 19 tenha tido a melhor performance na germinação para todos os anos.

Conclusões

Os resultados permitiram verificar que há uma tendência de sementes armazenadas por dois anos (lote de 2014) serem mais viáveis. Ao passo que, acessos de lotes mais antigos, como um dos utilizados neste estudo (ano de 2011), devem ser renovados, afim de não se perder a total viabilidade das sementes.

Gráficos e Tabelas




Referências

BORGHETTI, F.; FERREIRA, A.F. Interpretação de resultados de germinação. In: FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F (org.). Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre, 2004. BRASIL, 2009. Regras para análise de sementes. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Mapa/ACS, Brasília. BURKART, A. Gramíneas. Flora ilustrada de EntreRíos (Argentina). Colección Científica INTA6(2): 1–551.1969. CRUZ, C.D. GENES: A Software Package for Analysis in Experimental Statistics and Quantitative Genetics. Acta Scientiarum: Agronomy, 35, 271-276. 2013. MAGUIRE, J.D. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling emergence and vigor. Crop Science, 2: 176-177. 1962. MABBERLEY, D.J. The plant-book. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 858p. OLIVEIRA, J.C.P.; MORAES, C.O.C. Distribuição da produção e qualidade de forragem de Bromus auleticus Trinius. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 28, n. 3, p. 391-398, mar. 1993.