Consumo de pasto e nutrientes de bovinos em regime de pastejo com diferentes níveis de atendimento das exigências de proteína bruta via suplementação

Alvair Hoffmann1, Eduardo Bevitori Kling de Moraes2, Tiago Adriano Simioni3, Diego de Paula4, Leonardo A. Botini5, Daniel M. Meneses6, Heitor Mezzomo da Silva7, Giovani Nunes da Silva8
1 - Unesp/Jaboticabal
2 - UFMT/ campus Sinop
3 - Unesp/Jaboticabal
5 - UFMT/ Campus Cuiaba

RESUMO -

Objetivou-se avaliar o consumo de pasto e nutrientes totais de bovinos em pastejo durante o período seco do ano, recebendo suplementação para atender 50%, 75% e 100% das exigências de proteína bruta (PB), para ganhos de 0,5 kg/dia, predita pelo sistema BR-Corte. Utilizou-se 21 bovinos mestiços castrados, com idade e peso corporal médio (PC) inicial de 30 meses e 434,4 ± 42,6 kg, respectivamente. O suplemento foi fornecido duas vezes ao dia, sendo 6,66 g/kg de PC de concentrado e 5,5 g/kg de PC de silagem de milho com base na matéria seca (MS). O experimento foi estruturado em delineamento inteiramente casualizado (DIC), com três tratamentos e sete repetições. Médias foram comparadas usando o teste de Tukey, adotando-se 0,10 como limite máximo tolerável para o erro tipo I. A diferença no consumo de nutrientes foi reflexo da composição do suplemento. A variação do nível de atendimento das exigências de PB não implica em alterações sobre os consumos de MS de pasto

Palavras-chave: bovinos, pasto, qualidade de forragem, suplementação

Attendance level of crude protein requirements for grazing beef cattle through supplementation: intake of pasture and nutrients

ABSTRACT - The aim was to evaluate the intake of pasture and nutrients of beef cattle during the dry season, receiving supplementation to attend 50%, 75% and 100% of crude protein (CP) requirements, for gains of 0,5 kg/day, predicted by the BR-Corte system. Were utilized twenty one (21) crossbreed, castrated steers, with initial age and average body weight (BW) of 30 months and 434,4 ± 42,6 kg, respectively. The feed, supplied twice daily, consisted of 6,66 g/kg of BW of concentrated supplement and 5,5 g/kg of BW of corn silage based on the dry matter (DM). Trail was conducted according to a completely randomized design with three treatments and seven replications (animal). Means were compared using Tukey test (P<0.10), as the maximum tolerable limit for type I error. The difference in nutrient intake was a reflection of the supplement composition. The variation of the level of attendance of the requirements of PB does not imply changes in pasture DM intake
Keywords: Beff cattle, pasture, forage quality, supplementation


Introdução

O desempenho produtivo dos animais criados a pasto está diretamente relacionado com a qualidade e a quantidade de forragem disponível para o pastejo, sendo estas características com potencial influência no consumo de nutrientes, principal determinante do desempenho do animal. A oferta e a estrutura do pasto (fatores não nutricionais) apresentam maior influência no consumo de forragem. Todavia, durante o período seco do ano, as forrageiras tropicais geralmente apresentam teores inferior a 7,0% de proteína bruta (PB), que segundo Lazarini et al. (2009), pode limitar a atividade de microrganismos, resultando na menor degradação da fração fibrosa da forragem afetando o consumo de nutrientes. O fornecimento de suplementos proteicos durante esse período pode suprir essa demanda, otimizando o consumo e o aproveitamento desses nutrientes. Considerando a qualidade da forragem em condições tropicais, a suplementação com compostos nitrogenados constitui meta prioritária para ampliar a utilização da forragem tropical de baixa qualidade (Detmann et al., 2010). Objetivou-se avaliar o consumo de pasto e nutrientes totais de bovinos mantidos em regime de pastejo durante o período seco, recebendo suplementação para atender 50%, 75% e 100% das exigências de proteína bruta (PB), para ganhos de 0,5 kg/dia, predita pelo sistema BR-Corte.

Revisão Bibliográfica

A suplementação dos animais em pastagens surge como uma ferramenta para o suprimento de nutrientes limitantes, bem como para o aumento da eficiência de utilização das forragens (Poppi e Mclennan, 1995), pois na maioria das situações, a fonte de forragem não contém todos nutrientes essenciais na proporção adequada, de forma a atender integralmente as exigências dos animais (Paulino et al., 2005). O desempenho animal é reflexo da qualidade e quantidade de forragem disponível. O consumo de pasto é regido por fatores nutricionais e não nutricionais. Os fatores nutricionais segundo Reis et al. (2009) são aqueles decorrentes da dieta basal, sendo grande a influência determinada pela fibra insolúvel que participa diretamente no efeito de repleção ruminal. Aos fatores não nutricionais, considera-se o efeito promovido pela estrutura do dossel forrageiro e ao efeito dos animais na seleção da forragem, tamanho e taxa de bocados e tempo de pastejo (Reis et al., 2009). Com baixo consumo de forragem, os animais passam por carências múltiplas, dentre as quais, a proteína (ou compostos nitrogenados) assume papel prioritário, tornando-se necessária a suplementação dos animais. A inclusão de PB na dieta de bovinos criados em regime de pastejo, segundo Figueiras et al. (2010) pode ampliar o consumo de pasto até níveis proteicos próximos a 10% pois a partir deste nível dietético de PB, afirmaram que as exigências microbianas de compostos nitrogenados seriam atendidas e não haveria mais estímulo sobre o consumo. Porém Detmann et al. (2014), revisando trabalhos publicados, afirmaram haver estímulo no consumo de MS até níveis de 14,5% de PB na dieta, o que indica que metabólitos ou efeitos pós-digestivos da proteína afetam positivamente a ingestão, além de seus efeitos sobre a degradação ruminal. A suplementação com fontes de proteína verdadeira também permite corrigir a deficiência de energia, pois promove aumento na proporção de microrganismos no rúmen e consequentemente, eleva a digestibilidade da forragem de menor qualidade e os consumos de MS e energia digestível (Reis et al., 2009). O fornecimento de PB via suplementação possibilita essa otimização do crescimento bacteriano pois disponibiliza nitrogênio para o crescimento microbiano e assim aumenta as taxas de desaparecimento da forragem, influenciando positivamente o consumo e o desempenho produtivo dos animais mantidos a pasto.

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido na Fazenda Mathias, localizada no município de Terra Nova do Norte - MT, durante o período de seca, entre os meses de julho a setembro de 2013. A área foi composta de três piquetes, com 1,5 hectares cada, formados com gramínea Brachiaria brizantha cv. Marandu, com comedouros individuais e bebedouro coletivo. Foram utilizados 21 animais mestiços (Holandês x Nelore), castrados, com idade e peso corporal (PC) de 30 meses e 434,4 ± 42,6 kg, respectivamente. Os animais foram alocados em três lotes composto de sete animais cada. Ao início do experimento, todos os animais foram submetidos ao controle de ecto e endoparasitas. Os animais receberam suplementos de acordo com as exigências de proteína bruta preditas pelo BR-Corte (Valadares Filho et al., 2010), para ganho de 0,5 kg de PC/dia, sendo fornecido aproximadamente 501, 706 e 914 g/PB/dia correspondente a 50%, 75% e 100% do atendimento das exigências do nutriente via suplementação, respectivamente (Tabela 1). O suplemento foi ofertado duas vezes ao dia, às 10:00h e as 14:00h, em quantidade de 6,66 g/kg de PC de concentrado e 5,50 g/kg de PC de silagem de milho para cada animal/dia com base na matéria seca. A cada 14 dias realizou-se amostragem de forragem e procedeu-se o rodízio dos animais entre piquetes, a fim de eliminar possíveis influências da variação na disponibilidade de MS de pasto entre os piquetes. A estimativa do consumo de matéria seca total (CMST) e de pasto (CMSP) foram estimadas com a utilização de indicador externo, óxido crômico (Cr2O3), e interno, fibra em detergente neutro indigestível (FDNi) utilizando os sete animais de cada tratamento avaliado. O experimento foi estruturado em delineamento inteiramente casualizado (DIC), sendo três tratamentos e sete repetições, delimitados por períodos de 28 dias cada, totalizando 84 dias. As medias foram submetidas ao teste de tukey, adotandando-se 0,10 como limite máximo tolerável para o erro tipo I.

Resultados e Discussão

O teor de PB do pasto apresentou média  de 3,72%, inferior a 7,0% relatado por Minson (1990), como mínimo necessário para que os microrganismos tenham condições de utilização dos substratos energéticos fibrosos.  Assim uma possível depressão no consumo de forragens de baixa qualidade poderia ser atribuída à deficiência de nitrogênio (Paulino et al., 2002). Todavia o consumo de MS total e de pasto, não apresentaram diferença (P>0,10) entre os níveis de proteína suplementada (Tabela 2). O consumo de pasto é dependente da quantidade e da qualidade da forragem ofertada. A dieta total apresentou valores de 7,01; 9,78 e 12,15% de PB para os níveis 50, 75 e 100 respectivamente. Assim o suplemento contribuiu para que os valores de PB dietética ficassem acima do mínimo necessário (7% de PB), porém não houve diferença no consumo de pasto (P>0,10). Todavia, Detmann et al. (2014) relataram que até o valor de 14,5% de PB poderia haver estímulo no consumo de pasto. Por outro lado, houve aumento (P<0,10) no consumo de PB em função dos níveis avaliados, apresentando comportamento crescente, em virtude do fornecimento do suplemento. Em pastos de baixa qualidade nutricional, a suplementação proteica pode melhorar a aproveitamento da forragem e potencializar a fermentação da FDN, por disponibilizar nitrogênio para o crescimento microbiano (Lazzarini et al. 2009), todavia não houve diferença no consumo de MS de pasto (P>0,10). Este fato tornaria-se mais evidente quando as exigências de PB do animal fossem atendidas podendo aumentar o consumo de pasto e consequentemente o desempenho dos animais. Porém o  consumo de MS de pasto não foi afetado quando não se atendeu toda a exigência em PB via suplementação (Tabela 2). Observou-se diferença (P<0,10) no consumo de FDN indigestível (Tabela 2). Isso deve-se ao aumento da inclusão da torta de algodão. Os efeitos negativos proporcionados por altos valores de FDNi influem na qualidade nutricional do alimento e no trânsito ruminal de partículas fibrosas. Porém o maior consumo de FDNi não teve reflexo negativo no consumo de MST e de pasto. O consumo de FDNcp foi superior (P<0,10), nos animais que tiveram suas exigências atendidas em 100% via suplementação quando comparado aos que tiveram apenas 50% das exigências atendidas via suplemento (Tabela 2). Isso está relacionado com maior quantidade de inclusão de FDNcp advinda da torta de algodão. O consumo de carboidratos não fibrosos (CNF) diferenciou-se entre os níveis avaliados (P<0,10), apresentando comportamento inverso ao do consumo de PB. Isso pode ser explicado pela maior quantidade de CNF presente no milho.. Comportamento semelhante foi encontrado por Detmann et al. (2004) sendo reflexo da redução na concentração de CNF nos suplementos com a elevação do nível proteico, implicando na redução do consumo destes compostos. Apesar do considerável consumo de CNF (Tabela 2), o efeito carboidrato ou concentrado também não apresentou influência sobre o consumo do pasto pelos animais.

Conclusões

As variações no consumo de nutrientes estão relacionadas com a composição química do suplemento. Independente do nível de atendimento da exigência de proteína bruta, não houve diferença no consumo de pasto. Mais estudos serão necessários em diferentes condições e épocas de pastejo para se determinar a real quantidade de fornecimento da PB via suplementação.

Gráficos e Tabelas




Referências

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