Influência de monensina e tanino na concentração de amônia ruminal in vitro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio

JESSICA HALLANA SAMPAIO IBANEZ1, Danielle Dias Brutti2, Nelcino Francisco de Paula3, MICHAEL DOUGLAS DOS SANTOS ARRUDA4, FLAVIA IZABEL GODOES5, ADRIELLE TORRES MUNDIM6, Bruna Gomes Macedo7, Joanis Tilemahos Zervoudakis8
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RESUMO -

Objetivou-se avaliar a influência de monensina e tanino sobre a concentração in vitro de amônia ruminal. Utilizou-se inoculo de dois bovinos nelore com aproximadamente 300 kg de peso corporal com canula ruminal. Os animais permaneceram em pastagem de Urochloa brizantha cv. Marandu suplementados com uma mistura múltipla a 0,3 % do peso corporal. O experimento foi desenvolvido em arranjo fatorial 2×5 em que utilizou-se como substratos Urochloa brizantha cv. Marandu (adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) e monensina (0,02 mg g MS-1). A inclusão de monensina aumentou (P<0,05) o N-NH324 quando comparada ao controle e ao tanino. A redução de nitrogênio amoniacal causado pela inclusão de tanino pode estar associado a capacidade de complexação dos taninos com a proteína.

Palavras-chave: bovinos de corte, incubações, forragem, extratos

Influence of monensin and tannin on in vitro rumen ammonia concentration of Marandu grass fertilized or not with nitrogen1

ABSTRACT - The objective of this study was to evaluate the influence of monensin and tannin on the in vitro concentration of ruminal ammonia. Two nellore cattle with approximately 300 kg of body weight with ruminal cannula were inoculated. The animals remained in the pasture of Urochloa brizantha cv. Marandu supplemented with a multiple blend at 0.3% of body weight. The experiment was developed in a 2x5 factorial arrangement in which Urochloa brizantha cv. Marandu (fertilized and not fertilized with nitrogen), four levels of tannins (0, 2, 4 and 6 mg g MS-1) and monensin (0.02 mg g MS-1). The inclusion of monensin increased (P <0.05) N-NH324 when compared to control and tannin. The reduction of ammoniacal nitrogen caused by the inclusion of tannin may be associated with the capacity of complexing of the tannins with the protein. Keywords: beef cattle, incubations, forage, extracts
Keywords: beef cattle, incubations, forage, extracts


Introdução

A monensina sódica é a mais estudada e empregada nos últimos anos na alimentação animal, porém sua utilização tem sofrido diversas restrições, principalmente pela União Européia, que através do Regulamento nº 1831/2003 determinou a proibição da utilização de antibióticos e cocciodiostáticos como aditivos alimentares para bovinos. Tal medida almeja prevenir os efeitos de uma possível relação entre o aumento da incidência de microrganismos resistentes, observada na medicina humana, e a utilização destas substâncias nas rações animais (Marino et al., 2008). Perante tais restrições, tem crescido o interesse pela utilização de outros aditivos, surgindo então oportunidades para se pesquisar aditivos que ofereçam resultados semelhantes ao dos ionóforos. Os taninos são polímeros fenólicos solúveis em água resultantes do metabolismo secundário das plantas (Archana et al., 2010). Além de reduzir a degradação ruminal da proteína, existem outros efeitos positivos associados às baixas concentrações de tanino condensado na dieta, dentre eles destacam-se a diminuição do desperdício de amônia (Animut et al., 2008). Objetivou-se, portanto, avaliar a influência da monensina e tanino na concentração de amônia ruminal in vitro do capim Marandu adubado ou não com nitrogênio.

Revisão Bibliográfica

Estudos têm demonstrado que o principal mecanismo de ação da monensina para melhorar a eficiência alimentar nos ruminantes está relacionado a mudanças na população microbiana do rúmen, selecionando as bactérias Gram-negativas, inibindo as gram-positivas produtoras de ácido acético, butírico, láctico e H2 ou de ácido succínico (Reis, 2011). A monensina atua sobre as bactérias proteolíticas, diminuindo a degradação desnecessária pelas mesmas o que consequentemente diminui a concentração de N-amoniacal no líquido ruminal (Araujo et al. 2006). Sendo assim, as proteínas de maior valor biológico superior ao das proteínas bacterianas que passam pelo rúmen sem serem degradadas, promovem um ganho adicional ao animal, uma vez que não existem as perdas do processo de proteólise e síntese proteica bacteriana (ZANINE et al., 2006). Seus efeitos são maiores quanto maior o teor de proteína bruta da dieta e as dietas com com elevado teor de nitrogênio não proteico parecem sofrer um efeito menor da monensina do que as dietas com elevado teor de proteína e carência de energia (ZANINE et al., 2006). Os Taninos condensados são polímeros de flavan-3-ols e flavan-3,4-diols unidos por ligações carbono-carbono; possuem estrutura complexa e são resistentes à hidrólise (Costa et al., 2008). Os Taninos hidrolisáveis são constituídos por fenóis simples, galotaninos e elagitaninos, que após hidrólise formam ácido gálico e ácido elágico. (Etuk et al., 2012). Archana et al.(2010) em seus estudos relatou que os taninos condensados que não são degradados por processos enzimáticos naturais e seu alto peso molecular diminui a capacidade de união das enzimas com as proteínas; quando adicionados em dietas de ruminantes, se ligam, principalmente às proteínas, impedindo que ocorra sua degradação total no rúmen, pois os microrganismos não conseguem fermentar os complexos tanino-proteína. Além da complexação a redução da degradabilidade ruminal da proteína no rúmen têm sido parcialmente atribuída à inibição da atividade enzimática microbiana e a possível inibição do crescimento de algumas classes bacterianas (Archana et al., 2010). Isso pode representar efeitos positivos pois estão associados à diminuição do desperdício de amônia; o aumento da absorção de aminoácidos provenientes da dieta no intestino delgado e modificação no perfil de ácidos graxos da carne (Archana et al., 2010).

Materiais e Métodos

O experimento foi conduzido no Laboratório de Nutrição Animal da Faculdade de Agronomia e Zootecnia – FAAZ da Universidade Federal de Mato Grosso, no mês de agosto de 2016. Ocorreu durante quatro semanas consecutivas em arranjo fatorial 2x5, utilizando -se dois substratos (forragem adubada e não adubada com nitrogênio), quatro níveis de taninos (0, 2, 4 e 6 mg g MS-1) e monensina (0,02 mg g MS-1). O tanino foi obtido a partir de uma mistura (Silvafeed-Bypro®, Silvateam-Inudor S.A., Argentina) e a monensina (Rumensin®Elanco, 20%). O substrato incubado foi a Urochloa brizantha cv. Marandu, proveniente de um estudo anterior em que a cada ciclo de corte as parcelas adubadas recebiam 100 kg de N/ha de sulfato de amônio a 21%, nas quais as amostras utilizadas foram obtidas no quinto corte (maio de 2016). O fluído ruminal foi colhido de dois bovinos Nelore machos inteiros com 300 kg ± 25 kg de peso corporal portando cânulas ruminais, suplementados com uma mistura múltipla a 0,3 % do peso corporal diariamente em um piquete formado por Urochloa brizantha cv. Marandu. Foram adicionados aos frascos 40 mL de solução tampão McDougal (1949), pipetado 0,2 mL do aditivo tanino diluído em água destilada aquecida (60ºC) e a monensina em álcool etílico absoluto P.A, trinta minutos depois foi adicionado 10 ml de líquido ruminal; 0,5 g de cada substrato-forragem adubada ou sem adubação, (exceto brancos e padrões) dispostos aleatoriamente no banho-maria com agitação orbital. Para determinação do N-NH3, foram colhidas amostras de 2 mL de cada frasco nos tempos de 24 horas e 48 horas de incubação, centrifugada a 10000 x durante 10 minutos a uma temperatura de 4ºC e armazenada a - 20ºC para posterior análise da concentração de nitrogênio amoniacal conforme método descrito por Chaney e Marbach (1962).  As variáveis ​​foram analisadas utilizando o procedimento MIXED do SAS (versão 9,3), sendo significativa, foram declaradas a P (<0,05).

Resultados e Discussão

Houve efeito de forragem (P<0,05) para N-NH348 com maiores valores para forragem adubada (Tabela 1). A inclusão de monensina aumentou (P<0,05) o N-NH324 quando comparada ao controle e ao tanino. Segundo Russell & Martin (1984) a monensina diminui o crescimento de bactérias proteolíticas e a degradação de proteína hidrolisada e dietética, isso resultaria em menor produção de amônia no rúmen (Araujo et al. 2006). Resposta semelhante foram encontrados por Ramazin et al. (1997), em vacas em lactação alimentadas com dietas com 30 ou 50% de concentrados verificaram efeitos nos quais houve aumento do nitrogênio amoniacal. A diminuição do nitrogênio amoniacal pode estar associado com a capacidade de união do tanino com a proteína através de ligações de hidrogênio formando o complexo tanino-proteína, resistindo à degradação microbiana (Mezzomo et al., 2011) que segundo Cruz et al., (2007) em concentrações entre 3 e 4% de taninos na MS ocorre a proteção da proteína alimentar contra a excessiva degradação ruminal; diminuição do desperdício de amônia e aumento da absorção de aminoácidos no intestino delgado. Respostas semelhantes in vivo foram obtidas em estudos de Bhatta et al. (2013), tornando as proténas indisponíveis a ação de microrganismos ruminais, ao passo que diminuem a concentração de N-NH3.

Conclusões

A inclusão de tanino diminui os níveis de nitrogênio amoniacal independentemente do tipo de forragem utilizada.  

Gráficos e Tabelas




Referências

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