Avaliação microbiológica de amostras de mel (Apis mellifera) do município de Santa Helena – Paraná, Sul do Brasil

Luanda Leal das Neves Carvalho1, Douglas Galhardo2, Cibele Regina Schneider3, Bruna Larissa Mette Cerny4, Sandra Mara Stroher5, Regina Conceição Garcia6, Paulo Henrique Amaral Araújo de Sousa7
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RESUMO -

O mel é um produto de origem vegetal/animal, considerado saudável e limpo para consumo humano. O objetivo do estudo foi avaliar a qualidade microbiológica de amostras de mel de Apis mellifera de apicultores dos municípios de Santa Helena-Paraná. As análises microbiológicas dos microrganismos aeróbios mesófilos foram realizadas através da inoculação em Ágar Padrão para Contagem (PCA) e para Clostridium spp, em Reinforced Clostridial Agar, incubadas por 24 a 48 horas. A contagem máxima observada apresentou-se baixa, apesar de não haver uma legislação que determine valores máximos permitidos para microrganismos aeróbios mesófilos e Clostridium spp no mel. O mel produzido pelos apicultores do município de Santa Helena apresentaram-se com boa qualidade microbiológica, não apresentando danos à saúde dos consumidores.

Palavras-chave: aeróbios mesófilos, Clostridium spp, qualidade do mel

Microbiological evaluation of honey samples (Apis mellifera) from the municipality of Santa Helena - Paraná, Southern Brazil

ABSTRACT - Honey is a product of plant / animal origin, considered healthy and clean for human consumption. The objective of the study was to evaluate the microbiological quality of Apis mellifera honey samples from beekeepers from the municipalities of Santa Helena - Paraná. Microbiological analyzes of aerobic mesophilic microorganisms were carried out by inoculation in Standard Agar for Contamination (PCA) and Clostridium spp. In Reinforced Clostridial Agar, incubated for 24 to 48 hours. The maximum observed count was low, although there is no legislation that determines maximum values allowed for aerobic mesophilic microorganisms and Clostridium spp in the honey. The honey produced by the beekeepers of the country of Santa Helena presents with good microbiological quality, not presenting damages to the health of the consumers.
Keywords: aerobic mesophiles, Clostridium spp, honey quality


Introdução

A região Oeste do Paraná, com destaque no município de Santa Helena, vem despontando em relação à produção mel, sendo que nos últimos anos, vários produtores, associações, cooperativas, universidades e parceiros vêm trabalhando em conjunto para melhorias em toda a cadeia agroindustrial do mel, por meio de reuniões, capacitações e palestras aos produtores, implantando as boas práticas apícolas, bem como análises de caracterização e rastreabilidade, garantindo a qualidade do mel da região (RODRIGUES et al., 2015; ARNHOLD, 2016). O mel é um produto de origem vegetal/animal, considerado saudável e limpo para consumo humano. Possui propriedades físico-químicas, tais como baixa atividade de água e alta concentração de açúcar, o que impedem a proliferação ou mesmo a sobrevivência de diferentes tipos de microrganismos. O mel não é totalmente estéril, assim, as principais fontes de microrganismos neste alimento podem vir da coleta do pólen, da microbiota do trato digestivo das abelhas, do solo, água, ar e néctar (GILLIAM, 1971). Tais fontes naturais de contaminação são difíceis de controlar, porém, as secundárias, que estão ligadas à higiene no processamento, como o manejo de coleta a campo, o manuseio e o armazenamento do mel, podem ser minimizadas com a aplicação de boas práticas industriais. Os exames microbiológicos de rotina do mel podem incluir vários ensaios, como a contagem de microrganismos em placas padrão, que fornece informações gerais sobre os microrganismos presentes no mel. Portanto, objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica de amostras de mel de Apis mellifera de apicultores, filiados à Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores do Oeste do Paraná – COOFAMEL, do município de Santa Helena, região Oeste do Paraná.

Revisão Bibliográfica

A análise microbiológica se aplica para qualificar e quantificar os microrganismos presentes, para isso necessita conhecer os processos e condições que o alimento está sendo preparado, esses processos interfere na qualidade do produto, na sua durabilidade nas prateleiras e na saúde do consumidor (JAY, 2012). A contagem total de microrganismo mesófilos aeróbios (35-37ºC) em placas tem sido um indicador microbiológico da qualidade dos alimentos mais comum utilizado, indicando contaminação no processo de coleta do alimento, do processamento, da limpeza, do transporte, armazenamento, etc. Essas análises permitem obter informações sobre alterações nos alimentos, sua provável vida útil, falta de controle de qualidade no armazenamento (NASCIMENTO, 2017).

Materiais e Métodos

As análises microbiológicas foram realizadas no laboratório de Microbiologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon – PR. Avaliou-se 18 amostras de mel do município de Santa Helena (24° 51′ 36″ S, 54° 19′ 58″ W). As análises microbiológicas foram realizadas de acordo com a metodologia descrita por Silva et al. (1997). Adicionou-se 25 g de amostra em 225 mL de água destilada estéril, mantendo em agitação e a partir desta solução foi pipetado 1 mL, em sucessivas diluições de 10-1 a 10-5, utilizando-se tubos de ensaio contendo 9 mL de água destilada.  Posteriormente, a partir dos extratos diluídos realizou-se semeadura nas placas. Para contagem total dos microrganismos aeróbios mesófilos, alíquotas de 1 mL das diluições foram inoculadas em Ágar Padrão para Contagem (PCA), utilizando-se a técnica da semeadura em profundidade e incubadas invertidas a 37°C, por 24 a 48 horas. Para análise de Clostridium, as amostras foram semeadas em superfície, em placas com Reinforced Clostridial Agar, mantidas em incubação anaeróbia utilizando estufa com sistema de gás CO2 a 35°C, por 24 horas. O cálculo da contagem bacteriana foi realizado em contador de colônias digital do tipo Quebec, em placas com 30 a 300 colônias. Nesta análise, a média das contagens de colônias no meio utilizado, multiplicada pelo inverso da diluição, resultou no número de unidades formadoras de colônia (UFC) por mL do produto. Os resultados foram transformados em logaritmos de base 10 e, posteriormente, submetidos à análise descritiva por meio do programa Microsoft Office Excel (2010).

Resultados e Discussão

Os valores médios dos microrganismos aeróbios mesófilos e Clostridium spp obtidos foram de 1,36 e 1,90 log UFC g-1, respectivamente. Apesar de não haver uma legislação que determine valores máximos permitidos destes microrganismos no mel, a contagem máxima observada não é considerada alta, possuindo valores de 3,48 e 5,48 log UFC g-1 para Clostridium spp e aeróbios mesófilos, respectivamente (Tabela 1).   Tabela 1. Incidência de Clostridium spp e Contagem Total de Aeróbios Mesófilos (log UFC g-1) em amostras de mel no município de Santa Helena – Paraná
Variável Média Mínimo Máximo DP
Clostridium spp 1,90 0,00 3,48 1,57
Contagem Total de Aeróbios Mesófilos 1,36 0,00 5,48 1,48
DP: Desvio Padrão   As contagens de bactérias aeróbias mesófilas corroboram com os valores observados por Pereira & Gobbi (2015), ao avaliarem a qualidade físico-química e microbiológica do mel comercializado na cidade de Maringá – PR, onde nenhuma amostra ultrapassou 10,0 log UFC g-1. As ocorrências destes microrganismos no mel podem acarretar em riscos para a saúde pública, pois são considerados patogênicos. A proliferação destas bactérias pode ser ocasionada pela manipulação inadequada no momento da colheita e durante o envase, ou por condições de temperatura nos períodos de produção e conservação deste alimento, e ainda, pode ser acarretada pela utilização de frascos de armazenamento que não são esterilizados (LIMA et al., 2015). Outro fator que pode elevar a quantificação destas bactérias é a localização das colmeias, pois na presença de ventos, insetos e animais, poderá haver aumento na sua proliferação (GROSSO et al., 2002). O mel é considerado um produto estável, apesar de ser facilmente susceptível à contaminação durante a manipulação sem a adoção de medidas higiênicas adequadas, ele não se deteriora pelas bactérias que geralmente são as responsáveis pela deterioração dos demais alimentos (SILVA et al., 2008).

Conclusões

O mel produzido pelos apicultores do município de Santa Helena apresentaram-se com boa qualidade microbiológica, não apresentando danos à saúde dos consumidores.  

Gráficos e Tabelas




Referências

ARNHOLD, E.A. Caracterização físico-química, sensorial e botânica de amostras de mel de Apis mellifera da região Oeste do Paraná, Ortigueira-PR e Palmeiras das Missões-RS. 2016. Dissertação   GILLIAM, Martha; MOFFETT, Joseph O.; KAUFFELD, N. M. Examination of floral nectar of citrus, cotton, and Arizona desert plants for microbes. Apidologie, v. 14, n. 4, p. 299-302, 1983.   GROSSO, G. S.; ROJAS, C. A. H.; MORENO, G. I.; LINA, A. Características microbiológicas de las mieles tropicales de Apis mellifera. Apicultura, Tolima-Espanã, p.1-7, 2002.   JAY, J. M. Modern food microbiology. Springer Science & Business Media, 2012.   LIMA, J.; AROUCHE, M.; PEREIRA, L.; ALVES, L.; COSTA, F.; SILVA, G. A. Condições higiênico-sanitárias do mel produzido por Apis melífera  no estado do Maranhão. REFACER – Revista Eletrônica da Faculdade de Ceres , v.4, n.1, 2015.   PEREIRA, J. D. M.; GOBBI, M. M. B. Análise físico-química e microbiológica de amostras diferentes de mel comercializadas em Maringá (PR). Revista Baiana de Saúde Pública, v.39, n.2, p.356-369, 2015.   RODRIGUES, E. A. G.; DURSO, E. D.; DA ROCHA, W. F. O POTENCIAL PARA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DO MEL NA COSTA OESTE DO PARANÁ: ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA COOFAMEL. Anais-Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Regional, 2015.   SILVA, E. V. C. et al. Avaliação microbiológica e sensorial de méis de abelhas Apis mellifera (africanizadas) e Melipona fasciculata (uruçu cinzenta) in natura e pasteurizado. Higiene Alimentar, v. 22, n. 162, p. 83-87, 2008.   SILVA, N.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F.A. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos. São Paulo: Varela, 295p., 1997.   NASCIMENTO, M.; MONDAL, A. Microbial ecology of confectionary products, honey, sugar, and syrups. Quantitative Microbiology in Food Processing: Modeling the Microbial Ecology, p. 533-546, 2017.